domingo, 31 de março de 2019

REPRESSÃO

REPRESSÃO - Uma certa tarde de segunda feira,na década de 60 eu trabalhava numa agência bancária na Rua 7 de Setembro esquina de Gonçalves Dias no Centro do Rio de Janeiro.
Era uma época de insegurança total para quem não rezasse na cartilha dos famigerados militares que nos impunham uma vergonhosa ditadura, como sempre através de golpe.
O expediente corria normalmente e eu era atendente no balcão das contas corrente.
Eis que surgem dois cidadãos e a mim se dirigiram procurando por um colega que hoje já não me lembro seu nome, acho que chamava-se Cláudio.
Estava estampado na cara daqueles cães de caça que se tratava de "gorilas" alcunha adotada para identificar militares subalternos à paisana que se prestavam para o serviço imundo de conduzir coercitivamente aqueles que se opunham às ordens dos ditadores.
Diante da pergunta pelo paradeiro do colega, imediatamente respondi que não o conhecia.
Na minha memória passou o filme em segundos.
Cláudio o cidadão procurado era negro, cursava Direito na Faculdade do largo de S. Francisco e ali exercia a função de presidente do Diretório Acadêmico. Se o delatasse seria seu fim, pois ele estava no segundo andar prestando serviço na secção de Duplo Controle.
O sub-gerente da Agência, pessoa medíocre que a tudo assistia, interveio na conversa e conduziu os "gorilas" até à presença´do Cláudio que foi levado e nunca mais foi visto.
Sua esposa, pessoa humilde, no dia seguinte, com quatro filhos pequenos, sendo um de colo foram procurar pelo chefe da família que não voltou para casa.
Falei-lhe que perguntasse aquele sub-gerente ralé de ser humano.
Ele ficou meio sem graça e desconversou.
Durante semanas ela não desistiu, ia para a porta do Banco na esperança de vê-lo voltar. 
Triste engano!
Por causa da minha atitude com os "gorilas" aquele cafajeste me mandou embora do Banco.
Vida que segue! 
Espero que esteja ardendo nas profundas do inferno.

31/03/2019
Pedro Parente

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