quinta-feira, 16 de maio de 2019

PAISE NO PIDAL


“PAISE NO PIDAL”.
Naqueles tempos em São João del-Rei, as opções de lazer não eram muitas e a rapaziada usufruía intensamente de todas elas.
Durante o dia, em época de calor era mais fácil com a opção de várias cachoeiras, poços e as Águas Santas.
A noite se resumia em menos alternativas e as pessoas escolhiam o que lhes mais agradava.
Os bares já existiam em menos quantidade e de maneira mais formal. Não ficava barato frequentá-los diariamente.
Alguns rapazes amantes do jogo se deliciavam nos ótimos salões de bilhar e sinuca que àquela época era um grande atrativo.
Mesas grandes forradas de pano verde, iluminadas por lâmpadas que desciam do teto até próximo à mesa, protegidas por plafonier para não encandear os jogadores. Silêncio absoluto. Só ouvia-se o barulho do taco de madeira jogando bolas pesadas uma contra outras em direção à caçapa. Muita fumaça de cigarros que ajudavam os jogadores manterem a calma.
As apostas eram feitas em surdina, pois era proibido “jogo a dinheiro”.
Outros preferiam a Rua da Cachaça onde iam cortejar as moças da “vida fácil”.
A outra opção era a sala de cinema.
Já existia o Cine Glória. Esta era a mais procurada opção desde que passasse um filme com atores renomados. As chanchadas da Atlântica faziam um sucesso absoluto. Faziam-se filas imensas para aquisição dos ingressos.
O charme do cinema era a sala de espera. Normalmente um ambiente espaçoso onde todos caprichavam no figurino e ficavam fazendo pose, moças e rapazes se entreolhando. Os casados, normalmente sérios para impor respeito.
Por ser um lugar muito movimentado, exigia certos requisitos para atender às necessidades dos frequentadores qual seja sanitário e água potável.
Certa noite o proprietário substituiu a velha talha de barro por um moderno bebedouro elétrico com esguicho de água gelada. Uma novidade!
Todos ficaram desconfiados sem saber como acionar aquela geringonça. Um funcionário percebeu e explicou a todos que era só pisar no pedal, pois estava lá escrito em alto relevo.
Logo depois da explicação, entrou um cidadão acompanhado de um amigo. Ele tinha o hábito de ler tudo com sotaque da língua inglesa, esbanjando desta forma sua cultura poliglota.
Ao deparar-se com a máquina que todos chamam bebedouro, desconfiado e com a mão no queixo, olhou para o pedal da máquina e mandou alto e bom som com o sotaque carregado para que todos ouvissem: “PAISE NO PIDAL”. PISE NO PEDAL com sotaque britânico.
Ficou sem beber água!
16/05/2019
Pedro Parente

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