terça-feira, 6 de outubro de 2020

LAMBRETAS

 

 


 LAMBRETAS

Naqueles “Anos Dourados” o Rio de Janeiro era um charme e o Hotel Copacabana Palace cobiçado pela maioria do “Jet Set” internacional.

Por lá passaram reis, rainhas, atores de Holywood, play boys internacionais e etc...

Copacabana tornara-se a “Princesinha do Mar” na voz de Dick Farney, Lúcio Alves e Cil Farney fazia sucesso no cinema contracenando com Fada Santoro.

Havia um bar famoso na NS de Copacabana em frente à rua Inhangá que vendia (na moita) calças contrabandeadas Lewis, azul; branca, Lee. Só para aqueles que tinham bala na agulha ou papai rico.

Os sapatos masculinos eram fabricados de couro cru sob medida por um sapateiro habilidoso chamado Mota que se instalou em uma lojinha na NS de Copacabana próximo ao Cinema Bruni. Conquistou tanto sucesso que teve que expandir seu negócio e trocou de nome para Loja do Motinha e posteriormente Motex, já mais sofisticada.

Copacabana não dormia, tanto que o Bar Bico no Posto 6 não tinha portas. Durante a noite servia chopes e salgados, quando amanhecia mudava o cardápio e virava para “média com pão e manteiga” fresquinhos.

Acompanhando o clima charmoso do Rio, surgiram as Lambretas importadas da Itália. Verdadeiras joinhas cobiçada por toda juventude, porém usada por poucos moços abastados.

Tornou-se uma febre!

Não demorou muito tempo para que os rapazes proprietários dessas cobiçadas motonetas passassem a se reunir no bar Snack na rua Sá Ferreira. Ficavam ali fazendo pose de artistas. Uns de sapatos do Motinha, calças Lee, jaqueta de couro e todos com os cabelos emplastrados de brilhantina Glostora.

A noite saiam em bando e iam exibir suas máquinas e seu charme pessoal, desfilando pela avenida beira-mar. Iam até o final da Av Delfim Moreira no Hotel Leblon e voltavam pela outra pista.

Aquilo foi aguçando a curiosidade na “Turma do Jornalistas” edifício famoso na Av Ataulfo de Paiva 50.

A turma não era menos famosa, pois na 14ª DP no Jóquei, havia um mapa dependurado na parede com o contorno da jurisdição da mesma. Lá um X vermelho marcava as turmas de esquina comuns à época. No caso da turma do Jornalistas ao invés de um insignificante X havia uma enorme bola vermelha.

Não era para menos, a turma era muito grande, pois compunha a rapaziada que habitava o conjunto de três prédios compostos por dois blocos com dezesseis andares cada um.

Um dos líderes dessa imensa turma, Sérgio “Lacerda” (devido a semelhança fisionômica com o Corvo) era uma das pessoas mais espirituosas e molecas que já ouvi falar. Sempre pensando em fazer “arte” nada que prejudicasse alguém. De bom caráter e ótima cultura.

Numa noite de verão, muita gente na roda, o “Lacerda” convocou a turma para ir à beira mar.

Chegando lá, na hora dos motoqueiros passarem, expos o plano. Distribuiu a turma, metade na calçada da praia e a outra no jardim central que divide as pistas.

Tudo combinado, lá vem os boys. Passaram na direção do final do Leblon e a rapaziada fingindo que “não tô nem ai”, na verdade morrendo de inveja se preparou para a volta.

Não deu outra.

Lá vem os caras! Faróis acesos numa velocidade de passeio, vieram se aproximando e a turma posicionada, metade de um lado outra metade do outro.

Quando estavam bem próximo o “Lacerda” gritou:

- AGORA!

E os dois lados fizeram menção de puxar uma corda imaginária entre eles, esticando-a no meio da pista.

Foi um tal de meter o pé no freio, uns desviando dos outros que se tocavam.

Quando perceberam que não havia nenhuma corda, ficaram com cara de tacho. Alguns quiseram encarar, mas pelo volume da turma, desistiram e aceleraram o que puderam saindo dali no limite da máquina.

Acabou o corso de Lambretas no Leblon!

06/10/20

Pedro Parente

 

 

 

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