domingo, 15 de novembro de 2020

NERTHAN

 NERTHAN

Na minha passagem pelo Rio de Janeiro na década de 60, morei no lendário Edifício dos Jornalistas no Leblon.

Foram anos felizes que usufrui da amizade de grandes pessoas, dentre elas o Nerthan que não era morador de lá, porém visitava sempre seu irmão que ocupava um apartamento no décimo andar do Bloco B1.

Paraibano dos bons! Destemido, brabo, forte, não aturava desaforo, por menor que fosse, mas tinha um coração gigante.

Num sábado pela manhã, o vento sudoeste soprou feroz e impediu nosso vôlei, como praxe, desci e já me entoquei no botequim do seu Antônio e dona Maria. Uma cerveja, pois não vendia chope, pinga e um pernilzinho fresquinho para abrir os “trabalhos”.

O boêmio é especial, mesmo sem GPS sabe exatamente onde encontrar guarida para seus encantos e desencantos. 

O bar é o lugar exato.

Eis que entra Nerthan já com os olhos cheios d’água. Me deu um abraço sentido e pediu uma dose de Melnhaque, conhaque com mel. Acho que era o único consumidor daquela mistura. 

Surpreso, perguntei-lhe do acontecido e ele me relatou, com seu sotaque carregado.

- “Pedinho, separei da mulher! Lhe disse que na minha casa só admitia mulher apaixonada por mim. Como prova do meu amor, deixo aqui na sala, aquilo que mais amo depois de você, meu violão!”

Jogou o conhaque na garganta, pegou o violão da casa, que dedilhava com carinho e começou a “Missa de Réquiem”. Cada canção mais triste que a outra. Acho que o conhaque saiu todo pelo canal lacrimal. Chorava lágrimas de esguicho!

Aos poucos o boteco foi enchendo entre os circunstantes o irmão dele Thompson.

Lá para as tantas seu Antônio precisava fechar o bar. Pagamos a conta e fomos fazer seresta nos bancos de cimento em frente ao B1. 

Thompson gritou para Deusa sua esposa:

- Mande duas cervejas e uns copos!

Lá veio a moça secretária de serviços gerais trazendo o pedido que seria repetido até o dia amanhecer.

O surpreendente é que não houve nenhuma reclamação dos vizinhos, sinal de que acalentamos o sono de muita gente.

Como ninguém é de ferro, um bom banho, uma soneca e de volta ao boteco. Seu Antônio ficava feliz!

15/11/20

Pedro Parente.

 

 


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