quinta-feira, 18 de abril de 2024

Dª CELUTA

 Dª CELUTA.

Tornou-se tradição aos sábados à tarde nossa pelada entre atletas de final de semana, para essa prática, escolhemos um campinho à margem direita do Córrego da Água Limpa no bairro operário da Vila Santa Terezinha em São João del-Rei.

O campinho pertencia ao Siderúrgica Futebol Clube que o administrava precariamente com recursos de alguns abnegados. Muita dificuldade, tanta que era cercado apenas com arame farpado e a grama aparada pelo apetite dos vorazes pangarés de carroceiros associados.

Com o incentivo das peladas os vizinhos começaram a participar da torcida e também dos times escolhidos ali na hora. O movimento foi aumentando a ponto de vender chupe-chupe geladinho para a torcida o que já era um avanço.

Não existia vestiário, trocávamos de roupa debaixo de uma árvore de cedrinho sob olhares furtivos de algumas moças mais audaciosas. 

Após o jogo, suados, pulávamos todos no córrego que já naquela época, tinha cheiro de querosene vindo canalizado de um posto de gasolina na redondeza resultado da lavação de autos com produtos químicos

Certo dia um problema parou o jogo. 

A bola caiu no telhado da Dona Celuta moradora que fazia divisa com o campo. Ela prendeu a bola e xingou a todos nós ostensivamente. Alguns mais revoltados devolveram as agressões com palavrório rasteiro e aí tive que intervir.

- Calma!

Me dirigi até aquela velhinha negra com as faces sulcadas pelas intempéries de muitos anos vividos e ouvi suas queixas.

Convidou para que entrasse em sua minúscula casinha de dois cômodos. Uma sala de chão batido com um fogão de lenha, um catre e um espaço exíguo do banheiro com vaso sanitário. O banho que tomava era com água tirada manualmente do córrego e não tinha luz elétrica. A iluminação era feita por lamparina. 

Protegemos a casinha dela com alambrado de arame após recompormos o telhado, evitando que a bola não mais quebrasse suas telhas. 

Instalamos água encanada e luz elétrica vinda de nosso Padrão para não onerar a pobre senhora.

Certo dia, quando sentado em uma cadeira na pista do Posto de Gasolina conversando com meu amigo Kito, surge Dª Celuta com seu andar socado, com vestidinho de chita e um belo embrulho nas mãos adornados com um grande laço de fita dourado. Trêmula, entregou meu presente de Natal.

O melhor da minha vida!

Uma bela camisa social que guardei anos a fio como troféu por ter participado de um momento de alegria daquele doce e grata criatura, invisível aos olhos dos poderosos.

01/03/2021

Pedro Parente.





segunda-feira, 15 de abril de 2024

REGATA

 REGATA

No final da década de 50, Belém vivia tempos românticos embalada por canções inesquecíveis e com resquícios de cidade europeia.

O cais do porto, havia sido construído por empresa inglesa de capital privado e com direito à exploração do mesmo sob nome de “Port of Pará”. 

Com essa expansão vieram algumas modernidades entre elas novos navios vindos de vários países, pois nossa indústria naval de grande calado, praticamente não existia. 

Nessa leva vieram dos Estados Unidos grandes barcaças de dois andares movidas por rodas d’água instaladas na popa que foram protagonistas de muitos filmes feitos no rio Mississipi chegadas por lá em 1850.

Eram de baixo calado e por isso mesmo não corriam risco de encalharem nos rios amazônicos de baixa profundidade.

Quando chegaram, o brasileiro não perde o censo de humor, às apelidaram de “chatas” pois não tinham quilha, o fundo delas era liso.

As regatas de barcos a remo, esporte trazido, também pelos ingleses e absorvidos pelos brasileiros, ali em Belém, as datas para competições eram combinadas de acordo com a lua e a força da maré que deveria começar a encher pela manhã por volta das nove horas.

Pois bem, cada clube alugava sua “chata” a enfeitava toda, distribuía os convites. No dia marcado elas ancoravam próximo a raia da competição e começava a festa. 

Bebidas a vontade, as pessoas muito bem vestidas bailavam ao som da orquestra de baile que dava o chame do acontecimento. Quando os páreos estavam correndo, faziam soar seus apitos a vapor dando impulso aos atletas. Uma festa!

Numa dessas regatas nossa guarnição composta de quatro remadores e um timoneiro, disputava um troféu havia dezenove anos e seria posse definitiva para o meu clube do Remo no caso de vitória.

Meu pai conseguiu tirar minha mãe de casa e a levou em seu barco para assistir minha participação visto que ele fora atleta emérito do Remo.

Nossa guarnição estava na “ponta dos cascos”, porém, eu iria correr pela primeira vez na voga, posição do remador que dá ritmo às remadas na embarcação além do mais com o remo de bombordo ao qual não tinha hábito. Conclusão: inexperiente.

Demos a largada e eu entrei num ritmo que não era o nosso, tentando deixar as reservas físicas para a chegada.

Quando percebi não tinha ninguém atrás de nós, estávamos fechando a raia. Acelerei o ritmo, ultrapassamos alguns, mas não deu para chegarmos em primeiro lugar.

Foi a maior desilusão da minha vida! Após 62 anos ainda sonho com isso até hoje. Chorei no rebocador até chegar o páreo seguinte.

Fomos correr contra as mesmas guarnições adversárias e mais uma representando Manaus.

Demos a largada no ritmo ao qual estávamos acostumados. Chegamos em primeiro lugar deixando o segundo colocado havia uma distância de cinquenta metros.

O esporte é uma escola. Nos ensina a perder também.

Pela vida afora, acumulei várias derrotas e parcas vitórias, mas não perdi a cabeça! 

Aprendi muito!

14/01/2021

Pedro Parente







sexta-feira, 5 de abril de 2024

OSCAR JORNA 56

 “OSCAR JORNA 56”

Anos 60. 

Nossa turma continuava “ativa e operante” jogando bola num campo improvisado dentro da área comum dos prédios, de vez em quando uma vidraça quebrada pela falta de perícia de algum dos atletas. Só acontecia nos apartamentos mais baixos pois faltava força para chegar ao 16° andar. Não havia discussão no dia seguinte o nosso Djalma já estava lá colocando outro vidro. As mães preferiam os filhos ali na pelada do que alçando voo em aventuras distantes. 

A maioria dos competidores era estudante, como eu era operário não podia participar, pois nos finais de semana os times já estavam formados. Todos unidos, inflação de alegria, abraços e sorrisos.

Nesse clima vivia a maioria dos moradores. Os prédios muito cobiçados pela construção sólida e apartamentos amplos servidos por elevadores de alta qualidade. Por eles passaram inúmeras personalidades de poetas como Paulo Mendes Campos a jogadores de futebol como Newton Santos. Foi então que budou-se para o B1 um produtor cinematográfico chamado João, João de Deus (acho). Era amigo do nosso amigo Carlinhos Raposo, boa pinta, extrovertido, bom de pelada na areia onde fazia companhia para o Estradinha e outros do prédio.

O João (de Deus?) pediu ao Carlinhos que arrumasse alguns coadjuvantes para filmar uma cena de seu filme. O Carlinhos seria o ator principal.

Tudo combinado. O título do filme: JUVENTUDE TRANVIADA. Naquela época identificava os “bad boys”. A cena foi filmada na Sorveteria Kidy’s onde hoje é o Garden Bar.

Naquela época foi uma das primeiras sorveterias daquela área com balcão frigorífico. A noite transformava-se num bar soturno, pouca luz com lâmpadas fracas e ainda servia cachaça no balcão. Convite aos delinquentes e meliantes.

Na noite da filmagem a turma ficou alvoroçada e algumas famílias dos participantes também. Foram todos assistir a filmagem. Sob aplauso chegaram os atores.

Confusão de fios para os canhões de iluminação, o cinegrafista coitado com uma câmara jurássica tentava os melhores ângulos num sacrifício hercúleo. 

Cena principal, Carlinho sentado a uma mesa de pés de ferro muito enferrujada, blusa aberta em desalinho, pernas esticadas numa posição totalmente relaxada. O detalhe era o cigarro no canto da boca e olhos semicerrados. Deu trabalho para deixar transparecer que fosse de maconha. Algum prático consumidor o fez com habilidade.

Lançamento no Cinema em tela Cinemascope. Plateia lotada na maioria por familiares dos atores inclusive os austeros pais do Carlinhos para prestigiar a desenvoltura de seu filho, apesar de não saberem qual era o enredo.

Passado uns dias, chega o Carlinhos ainda com algumas marcas da surra que levou dos pais por ter fumado maconha.

Carreira efêmera de um de um promissor ator cinematográfico.

05/04/2004

Pedro Parente


quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

DUAS HISTORINHAS

DUAS HISTORINHAS 05/03/2001

Há alguns dias atras, estávamos sentados à mesa em nosso já tradicional foro de debates, na Confeitaria da Vovó e da conversa participavam Judas, Demônio, Gafanha e nosso glorioso Miguelzinho com a peculiaridade de, caso crescesse mais alguns centímetros, talvez alcançasse a estatura de 1 (um) metro de altura.
Contam que o Miguelzinho fora um habilidoso ponta direita do Atletic tendo jogado também em outras equipes de renome em Minas Gerais. Sua maior honra é ser afilhado de casamento do grande meio-campista do Cruzeiro, Zé Carlos que fazia ala com Dirceu Lopes.
O assunto era futebol quando começamos a lembrar de alguns cognomes de grandes jogadores do passado: Leônidas - o “Diamante Negro”; Ademir - o “Queixada”; Didi - o “Príncipe Etíope”; Nilton Santos - o “Enciclopédia”; Garrincha - a “Alegria do Povo”; Orlando - o “Pingo de Ouro”; Baltazar - o “Cabecinha de Ouro”; Pepe - o “Dama Patuda”; Danilo - o “Príncipe”; Gerson - o “Canhotinha de Ouro”; Amarildo - o “Possesso”; Jairzinho - o “Furacão da Copa”; Raul - o “Wanderléia”; Rivelino - a “Patada Atômica”; Almir - o “Pernambuquinho”; Silva - o “Batuta”; Zico - o “Galinho de Quintino”; Roberto - o “Dinamite”; Caio - o “Cambalhota”; Fio - “Maravilha”; Pelé - o “Rei” e os nossos Renato - o “Espingarda”; Wilson - o “Vedete” e, finalmente, Miguelzinho - o “Pigmeu das Alterosas”, batizado com essa pérola de antonomásia, naquele instante, pelo espirituoso Judas.
----XXX----
Certo dia, uma segunda feira, quando morava em uma república de solteiros em São Paulo, meu amigo Álvaro, levantou-se de manhã com uma pequena ressaca moral e uma grande saudade de nossa boa terra.
Já havia acontecido em ocasiões anteriores e buscou consolo numa agência do Banco de Crédito Real naquela cidade.
Pensou:
- Vou ver se encontro algum conhecido para me dar notícias frescas de São João!
Assim fez. Chegando naquele estabelecimento bancário, deparou com longas filas, o que é comum em se tratando de uma segunda feira.
Procurou, procurou até que descobriu uma cara conhecida.
De alma nova, cheio de ânimo dirigiu-se àquele cidadão que pacientemente aguardava sua vez em frente ao caixa.
Num gesto amigo, bateu no ombro do rapaz e falou:
- Que bom te encontrar! Como vai São João?
- São João? Intrigado respondeu o rapaz.
- É sô! São João del-Rei, nossa terra. Insistiu Álvaro.
- Não, nunca estive em São João?
- Uai! De onde então eu te conheço?
- Sou teu companheiro de quarto na república do Largo do Arouche.
( Feche-se o pano, correndo! )

Pedro Parente

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

FÓRMULA ZERO

 FÓRMULA ZERO’

Na década de 60 eu fazia parte de uma turma imensa de jovens moradores do Edifício dos Jornalistas no Leblon – Rio de Janeiro.  Eram três prédios com dois blocos de dezesseis andares que abrigavam noventa e seis famílias aproximadamente.

Era uma turma querida que além dos moradores, também recebia os namorados das moças da patota, claro, se fossem bem comportados.

Entre esses visitantes, havia um que no volante do carro dele, não tinha nada de comportado, mas sim de audacioso. Muito simpático era um dos nossos. O pai dele era dono do “Super Mercado Mar e Terra” na Ataulfo de Paiva. Chamava-se Wilson, Wilsinho pra nós.

Certo dia eu estava a toa entre um sub emprego e outro, chegou com seu Karman Ghia vermelhinho e mandou eu entrar no banco do carona. Sentei ali todo prosa desfrutando do carrão, pois nós começando a vida, não tínhamos nem bicicleta.

A rua paralela a que estávamos, desciam os famigerados lotações no sentido de Ipanema. Corriam desesperados disputando passageiros, pois o Wilsinho entrou de vez na contra mão desviando dos alucinados que passavam gritando impropérios e ele morrendo de rir. Só pensei no chope gelado do Clipper. Que pena!

Conseguimos sair vivos.

Tempos depois convidou a todos nós para prestigiarmos uma corrida de carros que seria disputada num circuito na Barra, não era o Circuito da Gávea, pois tinha uma lagoa logo depois da reta de largada. Nessa corrida estaria o famoso Chico Landi e então muita gente foi para assisti-lo em seu Porsche.

Após muito sacrifício para chegar lá, pois ainda não tinha o túnel e todo mundo duro, houve gente que foi a pé ver o Wilsinho.

Todos alinhados, nosso herói ao lado do Chico Landi na “pole position”. 

Nós esfregando as mãos, suor pingando, sol de verão, uma festa!

Foi dada largada! Saíram todos queimando pneus e levantando poeira. 

Wilsinho para nossa alegria, até que largou bem, porém não conseguiu fazer a curva e foi parar no fundo do lago.

Alguém gritou:

- Acode que o homem não sabe nadar!

Decepcionados empreendemos o caminho de volta.

23/02/2024

Pedro Parente.



sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

CARA DE PAU

 CARA DE PAU

Numa das minhas viagens de carro a Belém em visita à família, aconteceu um fato inusitado.

Ainda foi no século passado, lá pelos idos de 1993. 

As coisas não eram tão fáceis quanto hoje. Menos tráfego nas estradas, raros postos de abastecimento, consequentemente, policiamento precário.

Após dias agradáveis em Mosqueiro curtindo aquelas águas mornas da Praia Grande onde tínhamos uma casa de veraneio, acompanhado da minha mulher que carregava em seu ventre meu filho Pedro hoje com trinta anos, trazendo comigo as iguarias da “terrinha” empreendi meu caminho de volta.

Com o coração partido ao deixar minha mãe, papai e irmãos, acelerei pela Belém/Brasília rumo a São João del-Rei onde resido. Saímos cedinho. Teria que rodar três mil quilômetros.

Nas proximidades da cidade de Imperatriz no Estado do Maranhão, fui parado pela polícia militar. Numa área deserta não dava pra saber se eram policiais de verdade.

Naquela época a cidade ainda engatinhava, Hoje tem hotéis cinco estrelas aos montes, é talvez a cidade mais importante do Maranhão. 

Se dirigiu a mim que dirigia um Verona? Ou Versailles? Não lembro, sei que apresentei os documentos e ele mandou que descesse do carro. 

Já fiquei de orelha em pé!

Ao abrir a porta do carro o samango botou o olho em uma faca de cabo de osso e bainha de couro que eu carregava.

Essas facas eram muito cobiçadas e representavam um certo status a nossa classe social.

O recruta ficou louco em pensar em ascender mais um degrau em sua escala social.

- O senhor está portando uma faca. Isso é ilegal!

- Moço a serventia dela é para descascar algum fruto para minha mulher que está grávida. (aquela altura de sete meses).

O olho do guarda faiscava de alegria!

- Se fosse um facão não teria problema!

Que incoerência!

Minha mulher ficou nervosa me chamou para sairmos daquele ermo.

Aí resolvi tirar um sarro com a cara e dificultar as coisas.

- Então quero um Auto de Apreensão da arma, pois pretendo recuperá-la. É presente do meu pai!

Talvez não conhecesse a expressão foi perguntar ao sargento.

Já voltou com a negativa, lógico nunca iria abdicar daquela joia.

- Pois bem, disse eu, a faca está presa, porém a capa não representa rico para a sociedade, ela é minha.

O sujeito ficou na dúvida, porém não poderia contestar.

Então desembainhei a faca.

Para surpresa dele, tinha apenas um pedacinho da lâmina que eu usava para apertar algum parafuso.

Olhei fixamente sua cara de decepção para não esquecer!

Gargalhei por dentro como o cachorro do Dick Vigarista.

“QUE OS OLHOS NÃO VÊM O CORAÇÃO NÃO PEDE”

16/02/2024

Pedro Parente





quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

CAVALO ARREADO

 CAVALO ARREADO

Manhã de sábado, Parecia que havia engolido uma fogueira tal a ressaca, porém o dever me chamou. Tinha que fechar o caixa do Posto conferindo os encerrantes (números acumulados) das bombas para os frentistas que chegavam em um novo turno. O escritório era uma salinha de vidro transparente na própria pista de atendimento.

A concentração estava péssima! Onde era 96 lia 69 e tinha que refazer a soma toda, Difícil!

Lutando com os números numa batalha insana, chega um motoqueiro com sua moto toda equipada quase que entrou no escritório só não o fez por causa da largura do guidão.

Pensei que fosse um assalto mas logo percebi que se tratava do meu amigo carioca Carlão, amigo de grandes noitadas.

- Vim te ver! Aproveitei a viagem para irmos em Prados trocar um par de botas que comprei lá!

Pensei: Agora danou-se, pois nunca nos encontramos na igreja, sempre nos bares!

Dito e feito! Deixou sua moto no Posto, peguei minha preciosidade, um Landau 78 cinza e teto vinil preto. 

Enquanto Carlão trocava suas botas, já o esperei no boteco ao lado. Como sempre fui bem chegado fez-se logo uma chacrinha na porta e dela participaram o maestro da Orquestra de Prados, acho que o tratávamos de “Vademazinho” ou “Ademazinho”  cultura refinada conhecia de um tudo, inclusive música. 

O atendente do bar, também meu amigo, chamava-se Tiãozinho. Já me recebeu com uma boa pinga especial que mantinha escondida sob o balcão e servia só para os amigos, na outra mão um torresmo também especial.

A prosa estava uma delícia e eu já havia digerido a fogueira do meu estômago mandando a ressaca para o espaço quando o Tiãozinho me chamou em particular:

- “Pedrão pra fazè uma intera no salário, escrevo Jogo do Bicho, dá uma força aí.”

A pule onde escrevia o jogo era numerada. Sem palpite pedi que jogasse o número da pule. Não expliquei direito pedi que fizesse outro jogo. Rasgou aquele bilhete e jogou o número da pule rasgada seco e cercado. O fiz mais com o sentido de ajudar no seu salário. Conversamos mais um pouco e viemos para São João direto para a Cantina do Ítalo.

Na Cantina outro cambista. Meu amigo “Tesourinha” aposentado de uma fábrica de tecidos onde trabalhamos juntos, também usava daquele artifício pelo mesmo motivo “uma intera”. Falou:

- Ainda não fiz nada hoje! Nenhum jogo!

No intuito de ajuda-lo joguei o número da pule de Prados que estava comigo. Enchi a mão, isto é, joguei pesado.

Isso era sábado, acho que corria pela Loteria Federal.

Não lembrei mais, Consciência tranquila de ter ajudado dois amigos

O domingo passou, segunda feira cheguei cedo no “batente”. Muito entretido com os caixas de sábado e domingo, eis que chega o “Tesourinha” até pálido. Sussurrou:

- Você ganhou!

- Então foi coisa boa!

Era tanto dinheiro que dei 10% a ele, comprei passagem de avião e fiquei 30 dias em Belém com carro alugado.

Voltei duro!

Tesourinha falou que reformou a casa dele com os 10%. 

Hoje carrego comigo um bastão que ele, bom marceneiro confeccionou para mim.

Lá se vão quarenta anos!

01/02/2024

Pedro Parente


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

PAOLO CALIARI

 



Paolo Caliari Veronese (Verona, cerca de 1528 — Veneza, 19 de abril de 1588) foi um importante pintor maneirista da Renascença italiana.

Nosso Brasil sempre foi muito procurado desde a invasão pelos “colonizadores”. Em determinada época muitas famílias europeias migraram para cá em busca de novas aventuras e oportunidades, pois as terras férteis faziam parte das conversas entre ricos e pobres.
Sendo assim, nossa população é composta por pessoas com antepassados de outras plagas, pois os legítimos habitantes foram dizimados. 
Nessa miscigenação me incluo. Corre no meu sangue vestígios de italianos, portugueses, espanhóis e índios. Minha parte italiana tem origem em Verona, Veneza e Trento da minha avó;  de Marsico Nuovo na Basilicata meu avô.
Tenho como ascendente Paolo Calliari – o Veronese que possui essa tela no Museu do Louvre em Paris ao lado da Mona Lisa,
Claro que tenho orgulho de pertencer à linhagem do Veronese apesar de ser um simples plebeu.
Trago na memória, lá pelos anos 50, ainda menino as histórias de minhas tias que haviam voltado de um passeio à Itália quando visitaram nossos parentes.
Contaram que visitaram em Verona a casa do Paolo Veronese tendo sido recebidas com banda de música, homenagem do prefeito da cidade.
Meu bisavô Nicola Maria Parente trabalhou com seus amigos Irmãos Lumiére que o consideravam gênio, quando  construiram o primeiro cinematógrafo que daria início ao cinema em movimento, pois até então as imagens projetadas não se moviam eram estáticas, apenas fotos.
Com um cinematógrafo e sua trupe entraram no Brasil pelo Rio Grande do Sul em Taquari. 
Não sei como, vieram fazendo cinema itinerante pelas cidades que passavam. Fizeram grande sucesso e os membros de sua comitiva a medida que avançavam rumo Norte iam ficando com as namoradas e ajudando a povoar nosso país.
Conseguiram chegar a Abaetetuba no interior do Pará onde se estabeleceram definitivamente.
Hoje peço desculpa mas minha memória, provocada pela perda de meu primo Wagner, voltou-se há tempos idos assunto e este assunto constante de nossas prolongadas prosas.
É da índole de muitas pessoas, escrever e exaltar os feitos dos que prosperaram, infelizmente os humildes são esquecidos e não deixam rastro. 
Vida que segue!
24/01/2004
Pedro Parente

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

MINEIRO

 



MINEIRO.

Esse povo singular que habita Minas Gerais tem peculiaridades próprias.

Laboriosos, altamente financistas que alguns despeitados chamam de “pão duro”, sistemáticos que é uma palavra muito usada por essas bandas onde moro, que designa metódico ou intransigente, de um modo geral muito reservados.

Dentro dessas características, tive o prazer de disfrutar da amizade de Donato, Waldo e Nézio. Três pretos que lhes tenho apreço mais do que irmãos.

Pois bem, Donato era motorista profissional trabalhava numa empresa de transportes com viagens contínuas à São Paulo. Adorávamos sua prosa no bar após o consumo de umas e outras.

Num desses encontros, já entusiasmado, com seu jeito manso de falar, contou que estava numa via movimentada daquela metrópole dirigindo o Mercedes 1113 da empresa que trabalhava, quando ouviu o som de sirenes na sua lateral. Eram motoqueiros batedores na frente de um automóvel Mercedes do ano. 

Encostou bem para a direita para dar passagem, quando de dentro do carro um cidadão negro no banco de trás, botou o braço para para foro e acenou amistosamente gritando:

- Tudo bom Donato?

Surpreso, custou reconhecer, era o PELÉ!

Aplausos!

31/12/2023

Pedro Parente


SARAU EM IPANEMA

 SARAU EM IPANEMA


Quando morava no Rio, frequentava um bar e restaurante de nome Garden. Seu proprietário italiano de Trieste, permitia que minha despesa ficasse no “prego”, isto é fiado, caso contrário com o salário que ganhava, não poderia passar nem na porta.

Aquele lugar servia de ponto de encontro de jornalistas renomados, intelectuais e lógico muitos boêmios. O atendimento muito bom, tanto na parte de restaurante quanto na bebida, A serpentina do chope uma beleza sempre super gelado Depois de algum tempo os garçons eram todos nossos amigos e dividiam com a gente seus problemas reciprocamente.

Lá conheci um grande cara. Voz muito bonita e exímio tocador de violão. Bom paraibano que atendia pelo apelido de Tatô. Nos tornamos “corda e caçamba”, como dizia minha sogra: “amizade de trançar prato”.

Era costume, nas noites de sexta feira os mais abonados de dinheiro, receberem em suas residências, tocadores do quilate do Tatô. O cachê para retribuir os menestréis era acepipes de fino gosto e bebida de primeira qualidade para todos os gostos.

Certa noite, Tatô me chamou para acompanha-lo à residência de um casal morador ali próximo no Jardim de Alah. Por pura amizade e para descansar sua voz se o sarau entrasse pela madrugada.

Pois bem, chegamos lá, Um amplo e muito bem decorado apartamento. O homem era um gringo endinheirado. Achamos que íamos tirar a barriga da miséria e tudo que consumíssemos ali, seria menos uma conta pra pendurar no Garden.

Olhamos em volta e sobre uma mesa redonda no canto da sala, uma garrafa de pinga de chapinha e uns pratinhos com azeitonas.

Nos entreolhamos, cantamos umas poucas melodias, pedimos desculpas que tínhamos outro compromisso. Mais que depressa batemos em retirada.

No elevador Tatô com seu sotaque de bom nordestino saiu com esta pérola:

- “Pedinho” se esse homem colocar um dente de ouro na boca vai dormir num cofre!

Às gargalhadas fomos para o Garden aumentar o faturamento do italiano.

08/01/2024

Pedro Parente



domingo, 14 de janeiro de 2024

BANZO

 

BANZO

Por que os escravos sofriam do mal de banzo?

Nas palavras de Oliveira Mendes, o banzo era uma das principais moléstias de que sofriam os escravos, uma "paixão da alma" a que se entregavam e que só se extinguia com a morte, um entranhado ressentimento causado por tudo o que os poderia melancolizar: "a saudade dos seus, e da sua pátria; o amor devido a alguém;...

Pois bem, esse mal não atacava somente os negros escravizados, arrancados de suas pátrias, vendidos como matériaa braçal que viria encher os bolsos dos barões e milionários escravagistas.

Não sei se pela miscigenação mas acho que é inerente ao ser humano e sabe-se lá, a todos nós animais.

Na definição de Oliveira Andrade “paixão da alma”. Adorei e adotei.

No nosso maravilhoso Brasil existem vários Brasis com hábitos e culturas diferentes.

Falo aqui do Norte onde nasci na capital do Estado do Pará.

O trânsito é feito por via fluvial onde os rios representam as avenidas e os igarapés as ruas.

Os nativos chamados de caboclos tratam suas canoinhas de montaria, assim como o gaúcho dos pampas da esse tratamento ao seu cavalo.

Dizem que são indolentes e preguiçosos. Teriam motivo para serem, pois estão debaixo do Trópico do Equador o calor e a umidade exige demais das pessoas.

Existem diversos tipos como em todo lugar, uns querem acumular e outros querem apenas viver, pois tem o rio que lhes dá o peixe e a floresta que lhes dá as frutas e os produtos da roça.

Aqueles que não tem pretensão em melhorar de vida, ancoram a montaria no meio do rio e jogam a linha na água, se o peixe morder ele tira, troca a metade por farinha e o resto leva ora casa. Vive de acordo com a pressa do rio que se esparrama pela planície, porém o povo que abastece o mundo de açaí começa na madrugada etregando a safra da véspera aos “atravessadores” que levam para feira em Belém Esses tem a vida dura, acho que não têm tempo para o banzo.

Deles herdei o banzo que no meu ocaso tornou-se frequente.

Agradeço a solidariedade dos amigos e lhes peço desculpas.

 

14/01/2024

Pedro Parente.

 

domingo, 7 de janeiro de 2024

ADEUS MANO

 

ADEUS MANO

 

Nascido em uma prole de cinco, todos do sexo masculino, meu companheiro de infância e juventude era aquele que tinha menos idade, isto é que nasceu mais próximo de mim.

Com apenas dois anos de diferença entre nós, participávamos das mesmas brincadeiras: empinar papagaio, rodar pião, bola de gude, peladas e natação; por fim estreamos na regata de 1958 pelo Clube do Remo em Belém.

Nosso páreo era disputado num barco iole a quatro remos e um timoneiro. Eu ocupava a sota-voga e meu irmão a proa

Lembro-me ainda o nome do nosso barco Tuchaua.

A baia estava revolta e a disputa foi acirrada, felizmente vencemos com galhardia, para euforia da torcida que prestigiava do cais e de navios embandeirados ao som de orquestras dançantes, comes e bebes para sócios endinheirados.

Nas peladas nas areias de Mosqueiro, algumas vezes adversários, pois a escolha era feita na hora no “par ou ímpar”. Ao final um bom banho nas águas mornas da baia e uma longa caminhada até nossa casa na Praia Grande onde mamãe nos esperava sentada a mesa para uma boa refeição.

No Colégio do Carmo onde estudávamos, tinha um galalau que gostava de me bater, até um dia que o mano viu e me defendeu surrando o cara.

Quando voltávamos da Vila, o bairro que era o ponto dos veranistas nas férias, a luz dos postes competiam, as vezes perdiam, com a brasa de cigarro.

Era uma aventura! O medo dos duendes da noite como a tal Matinta Perera e o Anhangá nos punha pra correr tropeçando nos pedregulhos da estradinha sem calçamento.

Vivemos dias muito felizes e não percebíamos que o tempo passava e nós envelhecíamos. Quis o destino que nos separássemos com minha vinda para o sul.

Apesar do pouco contato sabia que ele ali estava. Aquilo me confortava. Quando nos falávamos a emoção era a mesma.

Nascemos trazendo alegria, mas a vida madrasta nos castiga, não sei porque, substituindo as ilusões pelos desenganos.

Hoje meu querido irmão Fernando nos deixou:

Estou muito triste!

07/01/2024

Pedro Parente

 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

SALVE 2024

 SALVE 2024!


Nascido em 1940 recebo a graça de forças superiores que permitiram a mim chegar até aqui.

Esse é um detalhe extrassensorial o qual não tenho domínio, porém, quanto a matéria carnal tenho absoluta certeza que devo minha vida ao meu querido amigo Zé Flávio (Zequinha) que entre grandes virtudes é médico. Não fosse ele com sua competência e generosidade certamente não estaria escrevendo estas “mal traçadas linhas”. Não somente à ele mas também ao carinhoso e árduo trabalho de toda equipe da UTI da Santa Casa da Misericórdia com que me identifiquei inteiramente. Desde as pessoas que desinfectam o ambiente evitando infecção hospitalar, os técnicos e as carinhosas enfermeiras que em sua faina estressante, ainda acham palavras de incentivo para levantar o moral dos pacientes.

Fiquei entubado no auge da epidemia, retiraram 800ml de água do meu pulmão e recebi seis bolsas de plasma, pois havia um sangramento no meu estomago.

Eu estava sereno e indiferente à vida. Se tivesse ido, acho que não ficaria por aqui atormentando ninguém. Seria voo direto, sem escala, talvez parasse no Purgatório para tomar uma água, pois a sede era muito grande., aliás o único desconforto que tive.

Um dia, após vários exânime, despertei e pude sentir a presença de meus filhos. Achei que deveria alegra-los com mais um tempo junto a eles. Decidi reagir e optar pela vida.

A recuperação foi longa, hoje que estou me sentindo em condições de digitar o computador.

Não tenho palavras para agradecer o carinho recebido de todos.

Embora o final de vida seja melancólico ao ver diariamente um amigo partindo, luto com minha consciência para retribuir com alegrias aos que me cercam.

Para todos nós

FELIZ ANO DE 2024.

 03/01/2024

Pedro Parente.



segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

ANO NOVO

 

 

 

ANO NOVO

Feriado universal homenagem a Confraternização dos Povos.

Aqui em casa, regozijo-me também com a chegada da chuva. Mansa, prolongada e revigorante.

A natureza agradece. Parece que ouço o sorriso das plantas manifestando o prazer de tão abençoado banho.

No fogão a lenha ao crepitar do fogo, cozinha um feijãozinho incrementado com torresmo, focinho e orelha de porco caipira.

Duas cachorras minhas companheiras fingem descansar tirando uma boa soneca para compensar a noite de horror que passaram com o estampido dos foguetes do réveillon. Uma é caipira, “negra como as asas da graúna” a outra é meio-sangue, por isso mesmo, menos inteligente. Qualquer movimento nas panelas, ambas levantam as orelhas imediatamente.

No alto da Serra São José observo há anos uma pequena árvore que insiste em sobreviver as queimadas que ocorrem ocasionalmente, muitas vezes por autocombustão.

Nesse ambiente, embalado pela chuva, me aprofundo em meus pensamentos e sinto meus fantasmas levitarem ao meu redor.

Aproveito a deixa e no meu copinho tradicional coloco uma dose da pura cachaça da nossa região. Pequenas doses, repetidas vezes.

Hora do almoço. Feijão, angu, verdurinha e carne cozida.

Uma boa sesta na rede que trouxe de Belém e esperar a entrada do próximo ano de 2025.

Também, não sou de ferro!

1º/01/2024

Pedro Parente

 

 

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

JUÁ

 JUÁ

Quando o Leblon ainda tinha muitas lembranças do seu antigo casario que começava a ser demolido para dar lugar aos requintados arranha-céus, ainda se mantinha como cartão postal na subida da Avenida Niemayer no final da Delfim Moreira o impávido Hotel Leblon. Ponto de referência de todos nós.
Não havia túnel, o acesso à São Conrado e Barra era feito através de uma sinuosa e perigosa estrada que contornava a montanha.
Na metade do caminho tinha um aconchegante barzinho preferido pelos casais enamorados donde assistiam ao por do Sol.
Não havia nada mais romântico do que o Juá, só que o acesso além de perigoso era frequentado por clientes motorizados.
Eu era louco para ir até lá.
Primeiramente teria que ter uma companhia condizente, com meu salário irrisório teria que resolver dois problemas, a companhia e o dinheiro.
Vida seguindo e eu com aquela ideia na cabeça até que um dia de emprego e desemprego fui trabalhar em um Banco. Ali resolvi os dois problemas, comecei a namorar a secretária do presidente do estabelecimento. Passo seguinte um empréstimo.
A moça tinha situação financeira melhor que a minha e possuía uma Kombi novinha, veículo de trabalho do pai dela. Arquitetei meu plano e num momento de audácia, convidei-a para irmos ao Juá assistir o pôr do Sol.
Comprei roupa nova, brilhantina Glostora nos cabelos, sapato mocassim e com um certo tremor nas pernas, sentei no banco do carona e fomos direto ao Juá sem antes ter passado por alguns sustos naquela via estreita e sem sinalização.
Já vi meu Brasil por vários ângulos, porém aquela tarde foi inesquecível. Tivemos o privilégio de assistir o Sol entrar no mar com nossos corações acelerados de tanta emoção.
Bebericamos uns drinks especiais da casa e a noite caiu de vez. Naquele enlevo perdemos a hora. Já cansados, paguei a conta e fomos ao carro.
Surpresa! Pneu furado!
Lá fui eu trocar pneu! Me lambuzei todo de graxa. Tive vontade de chorar, pois não havia pago nem a primeira prestação do crediário.
Por fim acho que deixei boa impressão, pois namorei a moça por algum tempo. Ela progrediu mais do que eu e passou a desfilar num programa de TV chamado Noite de Gala.
Somos bons amigos até hoje.
Lembranças!
20/12/2023
Pedro Parente
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Pedro Parente

domingo, 17 de dezembro de 2023

LARGO DA SÉ

 


 

LARGO DA SÉ

Esse primeiro prédio de dois andares foi construído pelo meu avô materno oriundo de Portugal que trouxe consigo suas irmãs e bastante dinheiro. Seguiram os passos de nosso “Rei Fujão” pelo mesmo motivo: medo do comunismo.

É uma grande construção confinando seu fundo com a Baia de Guajará onde foi construído, também um trapiche para atracação de sua lancha Leopoldina que transportava gêneros de sua propriedade no Alto Rio Guamá. Na parte de baixo do prédio acontecia a administração e o refeitório da família, Na parte superior haviam dois grandes salões de festas onde eram comemorados aniversários e datas especiais como o Círio de Nazaré, Natal e Ano Novo.

Eram lindas festas! Delas participavam autoridades e a alta sociedade paraense.

Os tempos passaram e aquele prédio serviu de abrigo para sua família até que o Quartel ao lado resolveu se apossar daquela área indenizando a família de forma irrisória.

Restaram lembranças maravilhosas dali.

O prédio foi construído no Largo da Sé, da catedral de onde sai todos os anos a extraordinária procissão do Círio de N.S.de Nazaré padroeira de Belém.

Na família aquele prédio era chamado de Sobrado ou a “Casa da Dindinha” onde minha tia Maria morava com suas irmãs. Por ser professora, na parte de baixo fundou o Externato Barroso que administrava o Curso Primário. Lá estudei, claro que levei vantagem sendo sobrinho da professora...

O Largo era ornado por várias e frondosas mangueiras centenárias. Uma de cada qualidade. Nunca vou esquecer o canto alegre dos bem-te-vis que lá se alimentavam daqueles frutos deliciosos.

A noite Dindinha me levava pelas mãos para a as novenas da Sé onde ela fazia parte do coro entoado as musicas sacras. Na saída um bom sorvete de frutas regionais.

Exausto de tanto brincar nada melhor que uma boa rede e um sono inocente e reparador. Na parede um quadro com a imagem de Santa Terezinha que com seu olhar acompanhava meus balanços.

Só alegria!

17/12/2023

Pedro Parente

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