segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

É BRINCADEIRA

É BRINCADEIRA - O governo brasileiro vai doar
R$ 792.000,00 para restauração da Basílica da Natividade em Belém no Estado da Palestina.
Soa como mais uma prov
ocação ao povo miserável do Brasil.
Esse bandido que está lá obedecendo ordens, parece querer que o povo reaja para ser dizimado.
Assisto na TV campanhas publicitárias apelando para o sentimento do nosso povo maravilhoso, no sentido de fazer doações para as crianças africanas.
E porque não fazem em benefício das nossas crianças? Aqui não tem fome?
Havia diminuído. Havíamos saído do Mapa da Fome da FAO durante os governos de Lula/Dilma. Agora voltamos.
Essa cruel elite só produz miséria.
Sobra alimento no mundo, no entretanto o exército de famintos só aumenta.
Isso é crueldade.
A imprensa é culpada pela divisão do país. Famílias já não se falam, amigos já não se abraçam, tudo por causa de uma campanha infame promovida com o objetivo de discórdia entre as pessoas por razões políticas.
Surpreendente é que a imprensa conseguiu seu objetivo separou-nos.
Perdi bons amigos. Já não tenho mais onde ir. Corro o risco de ser admoestado devido minha posição em favor dos menos protegidos pela sorte.
O que mais me assusta é que aqueles para quem o Lula mais trabalhou, lhes viraram as costas preferindo aplaudir as elites de quem são escravos.
29/01/2018

Pedro Parente

domingo, 28 de janeiro de 2018

candinho




CANDINHO



            Desde a mais tenra idade, com poucos meses de nascido, mamãe me levava em seus braços e me banhava nas águas mornas da baía de Santo Antônio, na ilha de Mosqueiro, no estuário do rio Amazonas.
            Papai, a conselho médico, comprara aquela pequena propriedade defronte à Praia Grande, como terapia coadjuvante no tratamento de uma doença tropical chamada beribéri que se apoderou de meu irmão.
            Felizmente, meu irmão sarou e tornou-se um jovem saudável.
            Aquela ilha bucólica, pela minha ótica, é o paraíso - não fossem algumas tristes recordações que, creio, existem até no reino de Deus.
            De remédio para o mal que afligia meu irmão, aquela pequena propriedade a que minha mãe dera o nome de Pindorama, Terra das Palmeiras em tupi, tornou-se nossa inseparável fonte de lazer. Todos os anos, nas férias escolares, pelo menos quatro meses nós passávamos ali. Desta forma nos tornamos íntimos dos ilhéus, participando de suas vidas.
As crianças são as primeiras a se relacionar. Desprovidas de qualquer preconceito, de alma pura, cativam todos, principalmente os de sua idade.
Comigo não foi diferente, porém um menino em especial chamou-me atenção. De olhar opaco e triste, tez pálida, com uma tosse intermitente que não o deixava concluir uma frase. Dentes podres, cabelos lisos escorridos sobre a fronte, aquela criatura esquálida de respiração ofegante não dizia, mas eu pressentia a inveja que sentia de nós, quando corríamos atrás da bola na areia fofa da praia.
Tínhamos todo o cuidado com ele, trazendo-o num carrinho de mão e acomodando-o à sombra de uma frondosa mangueira. Sua posição lembrava uma gárgula. De cócoras, os braços abraçando as pernas, permanecia ali, quieto em silêncio, divagando, pensando, quem sabe, na imagem de um menino saudável, participando daquela pelada.
Não, a vida não fora justa com ele. Nasceu para sofrer. Vítima de uma tuberculose galopante, restava-lhe esperar pela sua hora final. Chamava-se Cândido. Candinho para nós. Por pura empatia, talvez pela sua fragilidade, dele me apiedei. Tornei-me seu maior admirador. Na minha imaginação de criança, sempre que o encontrava, imaginava encontrar-me com um santo prestes a defrontar-se com Deus.
Sua casa miserável, de chão batido e pau-a-pique, coberta de paxiúba, agravava ainda mais a doença. Lá dentro, os ataques de tosse e, por vezes, as hemoptises, eram mais freqüentes.
Seu pai, homem rude pela lida com o mar, pouca atenção lhe dava, talvez para não ser traído por uma lágrima. Sua mãe desdobrava-se entre o fogão e a bacia de roupas, restando-lhe pouco tempo para assistir o filho doente. Remédios? Somente os dos raizeiros e pajés, ou alguns que papai levava de Belém. Em casa, as coisas de melhor que tínhamos para comer, como maçãs e biscoitos, sorrateiramente, eu subtraía para levar ao meu amigo Candinho. Mamãe não podia saber. Ela não permitia o contato com ele. Amedrontada pelo contágio da doença, ameaçava me bater, como o fez algumas vezes, apesar de que asa de anjo não ofende ninguém. E assim fui assistindo meu amigo se desmilingüir, esvaindo-se em sangue.
Num final de tarde, véspera de Natal, quando preparávamos nossa ceia para aguardar a chegada do Papai Noel, vi a mãe de Candinho aflita, conversando com minha mãe à entrada da porteira. Esgueirei-me entre as árvores. Ainda deu para ouvir o final da conversa: Candinho mandara me chamar. Sem que ninguém visse, em desabalada carreira, cheguei à beira de seu catre pobre e mal cheiroso. Com os olhos semicerrados, estendeu-me a mão. Tentou apertá-la, mas não tinha mais força. Esboçou um sorriso; uma imagem de dor tomou-lhe a face. Estava morto, ali na minha frente, meu inesquecível amigo.
Ainda hoje, já velho, nas noites de Natal, quando todos esperam por um presente – ouro, incenso, mirra – durmo na esperança de que Papai Noel me conceda a graça de apertar a mão do Candinho pela última vez.

sábado, 27 de janeiro de 2018

O BOTO

O BOTO - Lá no alto rio Guamá, nas terras do coronel Hilário, meu avô materno, muitas histórias povoavam minha cabeça de menino.
Distante de Belém seis horas de barco rio acima, no meio da floresta e à beira do rio ficava a casa grande onde meu pai e Feliciano, sua pessoa de confiança, administravam aquela vastidão de terras. Por isso tinham muitos empregados braçais que moravam ali mesmo.
Após o jantar em volta da mesa grande onde sentavam o velho e seu capataz, num banco corrido, sentavam-se os auxiliares. Tudo à luz tosca de lamparinas à querosene.
Nesse clima, começavam as histórias tenebrosas da mata e seus duendes.
Menino, eu ficava de olhos arregalados e coração apertado ouvindo aqueles homens destemidos contarem de seus medos. Muitas histórias. Curupira, Anhangá,
Matinta Perêra, Buiuna, Cobra Grande e etc...
Numa dessas noites chamou-me a atenção a história do Boto encantador de moças.
Contada nas entrelinhas em respeito à minha inocência, pude perceber o seguinte.
As moças que apareciam grávidas sem pai, a família constrangida, atribuía aquela infelicidade ao Boto.
Contavam que nas noites de festa, aparecia um moço bonito de terno claro e de chapéu.
Exímio dançarino encantava as moças que ali estavam. O detalhe é que nunca tirava o chapéu da cabeça, pois boto tem um buraco no meio da cabeça que faz parte do seu sistema respiratório.
Repentinamente desaparecia deixando sua parceira de dança amargurada.
Meses depois o resultado daquele encontro nascia.
Ouvia aquilo tudo com a maior atenção e de boca aberta, naturalmente.
O que hoje me admira é que essas histórias eram contadas por homens sérios, austeros chefes de família incapazes de mentir.
Um deles, Simão me contou que certa noite, muito calor sem sono saiu de sua rede e foi admirar o luar na cabeceira do trapiche.
De longe avistou um cidadão encostado num esteio. Pensou consigo em bater um papo com ele.
Quando foi chegando perto, o homem pulo dentro do rio. No mesmo instante boiou um boto que deu aquela respirada pelo suspiro da cabeça.
Pedro Parente
27/01/2018

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

MUNDO EM MOVIMENTO

MUNDO EM MOVIMENTO - Foi criada há nove anos uma moeda digital que está promovendo uma revolução no sistema monetário internacional.
É investimento de risco.
Como não entendo nada de dinheiro, pois nem gastar sei direito, procurei a opinião de quem conhece muito de virtual o dono da Microsoft Bill Gates.
Em entrevista no YouTube, afirmou que a moeda virtual veio para ficar e que desta vez os pobres também serão beneficiados.
Sim ela não será controlada por ninguém. Assim sendo todos os compradores não pagarão impostos nem taxas a Bancos centrais como também a políticos corruptos.
Os banqueiros estão temerosos. Não é para menos. As moedas virtuais já tiraram do controle deles bilhões de dólares.
Atualmente as taxas de serviços cobradas de clientes que lhes entregam seu dinheiro gratuitamente é uma exorbitância.
Para transferir cem reais do Itaú para o Bradesco, que é só atravessar a ponte do Teatro, pago dez reais. Se fosse de táxi seria mais barato. O que é pior, quem faz a operação sou eu. Uso apenas o computador deles. Não ocupo nenhum funcionário.
Pois bem, o Bitcoin está rendendo 1,3% ao dia aproximadamente.
É RISCO! Mais já fez uma montanha de milionários, principalmente essa garotada que interage bem com as modernidades da internet.
Tô nessa!
É O RATO QUE RUGE!
26.01.2018
Pedro Parente

sábado, 20 de janeiro de 2018

MATINTA PERÊRA

MATINTA PERÊRA - 

Lá nos latifúndios do meus avós maternos à margem direita do alto rio Guamá, coronel da guarda nacional Hilário Pedro, de quem herdei o nome, estabeleceu-se em uma casa grande e confortável e a chamou de Canta Galo.
Oriundo de Portugal, ali criou sua família, incluindo minha mãe Leopoldina ou simplesmente Leo.
Sua prole era generosa e todos moravam ali.
No meio da floresta amazônica, ainda hoje mata fechada.
A floresta traz consigo muito mistério, lendas e fetiche. 
 Por lá, o mais corriqueiro e respeitado mistério é a Matinta Perêra. 
 Trata-se de um sibilo forte aqui e em sequência, voz cavernosa acolá, como se viesse de dentro de um túmulo pronunciando "Matinta Perêra!'.
O caboclo lhe dedica respeito profundo. Muitos tem medo apavorante.
Escutei muitos casos acontecidos por lá, porém o que minha mãe contava era o que mais me assustava.
Contava ela que uma determinada noite, antes de dormir, em seu quarto iluminado apenas pela luz tosca de uma lamparina à querosene. Sentada em sua rede com outras duas irmãs, cada uma na sua, durante a oração que faziam antes de deitar. Ali no meio delas o sibilo estridente e em seguida já vindo de longe, a voz cavernosa "Matinta Perêra".
Assustadíssimas com a voz baixinha perguntaram entre si: Fostes tu?
Naquela noite meus avós dormiram acompanhados das três meninas apavoradas.
O tempo passou meu pai assumiu o comando da fazenda que chamavam sítio. Trabalhava em Belém e nos finais de semanas íamos num barco dele que fazia o transporte das mercadorias do sítio para a feira. 
Tinha como objetivo administrar um pequeno negócio que abastecia os colonos de víveres feitos à base do escambo.
Mantinha uma escrivaninha em um cômodo grande que usava para fazer as contas. Ali dormia seu homem de confiança chamado Feliciano.
Numa madrugada meu pai acendeu um potente candeeiro Petromax a querosene e de camisinha. Luz forte e ofuscante pela alça colocou-o do lado de fora da casa iluminou a campina toda e murmurou:
- Agora queria ver a tal Matinta Perêra!
Inexplicavelmente a luz do candeeiro foi diminuindo e ele bombando freneticamente o recipiente próprio, não adiantou, apagou.
No mesmo instante a Matinta soltou seu assobio ensurdecedor.
Feliciano esticado em sua rede presenciara tudo, falou:
- É seu Timótheo, Matinta lhe deu uma nota!
No dizer deles "Tirou um sarro".
Como se tratava de homens cascudos, restou a risada.

20/01/2018
Pedro Parente




quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A FLOR DO GUAMÁ



A FLOR DO GUAMÁ

Lá para as bandas do rio Guamá, rio caudaloso que banha a cidade de Belém do Pará, meu pai possuía uma grande quantidade de terras, advindas das sesmarias de meu avô materno “Coronel da Guarda Nacional”.
Ali havia um casarão com dependências comuns a todo tipo de residência com um enorme trapiche onde os barcos atracavam e um pequeno comércio dirigido pelo meu pai e seu fiel escudeiro seu Feliciano.
Esse era o sítio “Canta Galo” de onde trago saudosas memórias.
Os caminhos da Amazônia eram feitos apenas de hidrovias e picadas abertas rusticamente a golpes de facões.
Meu pai encomendou a um dos seus empregados, chamado Adélio, carpinteiro naval de grande prática, um barco a vela.
Adélio conhecia quase todos os segredos da floresta.
Procurou e encontrou a árvore que queria uma maçaranduba de seus 20 metros de comprimento.
Aquela era a madeira ideal para fazer a quilha, devido a sua robustez e quanto ao peso e resistência.
Os nativos da floresta sabem como ninguém o manejo das árvores.
Num dia determinado pela fase da lua, tomando todo cuidado na derrubada, a fim de não ofender outras espécies de árvores preciosas e mais novas, promoveram a queda daquele monstro secular.
Após um ano com a madeira já curtida, começou o trabalho de entalhar e dar forma a madeira, tudo de maneira muito rudimentar, porém com muito carinho. As ferramentas eram: machados, terçados e enxós.
Aquela peça enorme e pesada foi arrastada sobre roletes de madeira até a beira do rio, onde foi construído um estaleiro para conclusão da obra.
Após calçada, escorada e aprumada a quilha, foi sendo encaixado o cavername, aquelas peças que dão forma ao barco e que recebem as falcas.
Muito trabalho árduo, de sol a sol, num calor escaldante e o tormento dos mosquitos picando e zunindo ao seu ouvido.
Isso é a floresta úmida tropical. Poucos resistem. Devido tantas intempéries, a expectativa de vida daqueles caboclos é muito baixa.
Finalmente Adélio e seus ajudantes concluíram a primeira etapa. Agora era calafetar o casco com mechas de pano embebido em breu derretido no fogo com ajuda de talhadeira e marreta, iam cunhando entre as falcas.
Agora a expectativa se o barco ao flutuar não pendia para nenhum dos lados, o que seria um grave erro de construção e um grande demérito para o mestre Adélio.
Na preamar da maré de lua cheia, finalmente o casco foi “lançado ao mar” termo de marinharia, pois ali a água é doce.
Sucesso! Permaneceu flutuando no prumo, isto é, não pendeu para nenhum dos lados, nem para bombordo nem para boreste.
Agora é colocar a tolda, o leme, o mastro, as enxárcias, os moitões, as vergas: superior e inferior, colocar a vela mestra e a bujarrona; a escota, pintar e batizar.
Recebeu uma vela estilo grega, de lona, tingida com casca de jatobazeiro que lhe deu uma tonalidade marrom escuro.
É uso naquelas bandas pintar o nome da embarcação na ilharga da tolda, e como era desejo do velho aquela obra de arte recebeu o nome de Flor do Guamá.
Tornou-se famosa. Ninguém a vencia. Deixava para trás todas aquelas outras embarcações a vela que tentassem porfiar.
Pilotar um barco daquele tamanho, com uma área de vela imensa, na cana do leme, teria que ter habilidade e muita força.
Era linda aquela vigilenga!
Enfrentava o Guamá encapelado com galhardia e destemor.
Pilotada pelas mãos calejadas e firmes do Coló, João Marinho ou do Nicolau fazia as viagens entre Belém e o Canta Galo sempre que a carga estava completa. Durante a safra não tinha descanso. Trazia de tudo, especialmente farinha, cacau, arroz e frutas que era vendido na feira do Ver-o-Peso.
Passaram-se os anos, meu pai envelheceu e a Flor do Guamá também. Passou a não ser tratada com o carinho que papai lhe dava. Talvez por isso e também paixão, numa dessas viagens com o vento geral soprando com toda força, carregada de farinha, não resistiu. A verga inferior juntou-se a superior numa refrega mais forte do vento e ela partiu-se ao meio perdendo toda a carga. Com vento forte, é perigoso navegar de “vento em popa” é preferível com o vento de través.
Eu preferia quando praticava barco a vela.
Felizmente nossos heróis tripulantes foram salvos após ficarem a deriva agarrados a pedaços de destroços durante toda noite.
Daquele dia em diante notei mais tristeza no semblante do meu velho que nunca mais quis falar da Flor do Guamá.
17/01/2018
Pedro Parente



segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

POROROCA

POROROCA - No início do século XIX, os invasores portugueses na ânsia de povoarem o território brasileiro recentemente usurpado da nações indígenas que aqui habitavam, passou a distribuir enormes glebas de terra àqueles que quisessem enfrentar as intempéries da Amazônia.
Foi assim que através do governo brasileiro, meu avô materno, lusitano de nascimento, recebeu uma quantidade enorme de terras lá para as bandas da cidade de Capim e São Miguel do Guamá no alto Rio Guamá que banha Belém capital do Estado do Pará.
Construiu uma casa grande às margens do rio e tornou-se Cel. da Guarda Nacional título honorífico comprado do governo do Brasil. O documento ainda existe e doei à minha sobrinha mais velha.
Ao tornar-se membro da Guarda Nacional, assumia o compromisso de manter a ordem nas vastidões de suas terras. Para isso a "Casa Grande" dispunha até do famoso "tronco" para açoitar os escravos.
Ali criou sua família e por consequência nós, netos, passamos a usufruir daquela bucólica paisagem com direito a banho de rio e frutas de todas as espécies.
Já não tinha mais o tal do "tronco" e alguns escravos remanescentes tornaram-se colonos morando em suas casa e com direito a cultivo de suas hortas e plantações.
O que mais nos impressionava era o fenômeno da pororoca e que impunha um respeito quase que macabro aos moradores da fazenda. Homens fortes de porte atlético, porém quando o assunto era pororoca, parecia que se falava do satanás.
De fato um fenômeno assustador!
No rio Guamá, a maré enche e vaza num espaço de seis horas. Nas marés de lua, nos meses que tem "r", é infalível, principalmente na lua cheia de março.
A fazenda chamava-se Canta Galo.O rio naquele local, tem a largura de uns 4km de uma margem à outra.
Na virada da maré, na baixa mar, um silêncio intimidativo, se abatia sobre a floresta.
De repente, da cabeceira do trapiche, há alguns quilômetros rio abaixo, via-se o banzeiro principal. Mantendo as proporções um pequeno tsunami fluvial.Estava na ponta do lugar chamado Bujarú. Até chegar aqui onde estávamos demorava uma hora.
As embarcações procuravam segurança adentrando nos igarapés.
No peral ou canal, onde o rio é mais fundo, passava somente a força da água, porém na outra margem, no razo, a coisa é feia. Arvores gigantescas arrancadas como se fossem palito de fósforos. Normalmente são três ondas gigantes que não respeitam nada em sua frente.
Assombroso!
Em minutos as terras da fazenda estavam inundadas e voltava a calmaria.
Aí sim um espetáculo deslumbrante.
Aproveitávamos para matar o calor com aquelas águas mornas do rio Guamá!
Fui muito feliz! Infância e juventude sadia.
15/01/2018
Pedro Parente


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

CONFLITOS D'ALMA


CONFLITOS D'ALMA - O tempo, mestre do mundo e quem põe tudo em seus devidos lugares é um grande mestre.
Nascemos com a indiferença pela morte, pois ela está muito longe não perdemos tempo em dedicar-lhe atenção. Saudáveis, nos achamos imbatíveis. Somos indiferentes a tudo em nossa volta. Não temos olhos para as dificuldades alheias O mundo é um mar de rosas.
A medida que o tempo passa nos tornamos mais contemplativos, meditabundos e reflexivos a ponto de nos voltarmos para dentro de nós mesmos.
Isso não é uma regra pétrea, existem alguns que enxergam a vida de outra forma e se dedicam às causas humanitárias mais cedo.
Estou apenas generalizando e tomando-me como exemplo.
Pois bem, na minha idade vetusta, abdiquei do meu ceticismo e voltei-me às minhas dores d'alma.
Fugindo de profunda depressão, procurei abrigo com pessoas humildes seguidoras do kardecismo.
Não sou mediúnico, porém já havia presenciado situações inusitadas embora cético.
A salvação da humanidade é que existe muito mais pessoas boas do que más.
Infelizmente a imprensa induziu-nos apreciar o que é mau.
Encontrei um oásis para minhas mazelas espirituais.
Pessoas humildes aliviando a cruz de quem as procura.
Não houve uma noite sequer que saísse dali pior. Pelo contrário. Saio sempre melhor do que entrei.
Novamente minhas lágrimas de outrora, deram vez ao meu sorriso e trouxeram de volta a alegria de tocar a vida em frente.
Sem nada requintado nem pagamento de dízimos, aprendo com aquelas pessoas singelas o que é caridade e solidariedade.
Muito obrigado.
12/01/2018
Pedro Parente

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

ANGÚSTIA



ANGÚSTIA

- Vem logo, pai!
Acelerei o mais que pude.
Estranhei aquele apelo do meu filho de apenas 16 anos, via telefone móvel, ao sair de um show às 2,30 h.
Percebi que sua voz não estava normal. Às pressas cheguei ao local combinado.
Nunca mais sairá da minha memória aquela cena: meu filho embriagado, apoiado por seu companheiro de infância que estava perfeitamente sóbrio.
Não sabia o que fazer. Perdi o chão.
Ao longo da minha vida me deparei com situações inusitadas, constrangedoras e embaraçosas. Delas me livrei com tranqüilidade. Agora estava eu ali, atônito.
Que fazer? Não sei.
Sentei-o a meu lado, abri o vidro do carro para que recebesse a fresca da madrugada. Com uma das mãos ao volante do carro e a outra apoiando sua cabeça enquanto regurgitava para fora do veículo, andando lentamente fui tentando concatenar minhas idéias e acalmar minha fúria instintiva de castigá-lo severamente.
Não. A prudência recomenda que não. Esperaria o efeito do dia seguinte.
O carro deslizava suavemente pelo asfalto, enquanto as luzes amarelas da rua pareciam sóis esmaecidos a me queimarem por dentro.
Sua imagem lívida me impôs uma dúvida: para casa ou para o hospital?
Reportei-me à minha juventude quando o mesmo aconteceu comigo e optei por levá-lo para casa.
Sua mãe o acolheu como é próprio delas, com carinho e com perdão.
Dormiram abraçados envolvidos pelo manto do amor fraterno.
Uma noite terrível. Não esquecerei nunca.
O efeito no dia anterior foi didático, entre lágrimas, arrependeu-se e pediu desculpa.
Um sintoma de quem tem bom caráter.
Que a sorte o proteja!
Pedro Parente