domingo, 30 de agosto de 2020

FILTRO DE BARRO

 FILTRO DE BARRO


Aos poucos a comunicação entre as pessoas via instrumentos midiáticos aliada ao tal do “mercado” que comanda todos os passos das transações financeiras do mundo, criou a propaganda especializada em anunciar produtos e mercadorias com o objetivo de obter grandes lucros.

Com esse procedimento as pessoas tornaram-se vítimas muitas vezes de propaganda enganosa, levando o consumidor a acreditar em que o produto é verdadeiro e oferece a opção mais saudável ao consumo de sua família. 

Assim foram criados vários “nichos” de mercado.

Incrível!

Passamos a comprar água!

Nesse comércio foram introduzidas várias quinquilharias cada qual mais sofisticada que a outra. Suportes para receber galões de água muitas vezes de procedência duvidosa. Filtros de alta tecnologia e de todos os preços. Imaginem quanto custa só o transporte de um galão de água tirado da “fonte” até a nossa casa. 

Não é barato!

Nasci em 1940. Sou um primitivo!

Nas casas com água encanada, colocava-se um pano amarrado na torneira para filtrar a água consumida pela população. Era colocada num filtro de barro, condenado pelos modernosos vendedores do precioso líquido. Somente o filtro indicado por eles é legítimo.

Os anos passaram e a integridade do filtro de barro foi reestabelecida, tornando-se o melhor equipamento do mundo para deposito de água potável segundo pesquisa publicada recentemente com parecer de autoridades competentes.

Agora é tarde! 

O consumismo foi encrustado no coração da sociedade sendo que se paga aos órgãos municipais para obter água tratada em nossas torneiras.

Mais um custo oneroso para administração da casa dos cidadãos.

30/08/20

Pedro Parente


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

CANALHAS, CANALHAS, CANALHAS!

 CANALHAS, CANALHAS, CANALHAS!


Entronizado na Presidência da República pela elite burguesa reacionária através de eleição fraudada até a medula, o energúmeno comanda o desmonte da nação brasileira sem a menor reação dos poderes constituídos.

Vergonhoso!

Ninguém para levantar a voz a favor do Brasil! Ninguém!

Já fomos um povo feliz e altaneiro. Nos ufanávamos do nosso país. Éramos patriotas!

Na guerra imunda que culminou com o golpe de 1964, apesar dos assassinatos de estudantes, a resistência restante até sequestrou o embaixador dos Estados Unidos em troca da liberdade de parceiros encarcerados nas masmorras da ditadura.

Tínhamos “sangue nos olhos!”.

O foco dos canalhas é privatizar o que o Brasil tem de melhor que são suas empresas de alta lucratividade. 

Por que não privatizam a Transamazônica? 

Criação do “Milagre Brasileiro” na administração do ditador Médici a estrada Transamazônica com 4.260 km cortada em plena floresta está lá abandonada oferecendo risco e desconforto pelos que ousam por ela trafegar. Tem até tratores de esteira de plantão para salvar os caminhões de carga atolados na lama.

Por que não constroem pedágio naquele local. Ninguém quer. Só tem pedágio particular onde o governo investiu com sacrifício do povo em estradas de tráfego intenso, por consequência, de de alta lucratividade.

Deveriam também privatizar as forças armadas que não produzem absolutamente nada ao invés de atacarem acampamentos do MTRST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que produz alimentos sem agrotóxicos sendo exportador de produtos de alta qualificação. Nessa época de pandemia distribuiu toneladas de alimentos aos carentes, enquanto o energúmeno promoveu aumento salarial para os generais em torno de 1.600% (Estadão 30/06/20).

Temos que mudar nossa maneira de encarar esses idiotas trogloditas. Vamos combate-los no nível deles. 

A esquerda civilizada não está reagindo à altura. 

Se é força e violência que eles querem, vamos para cima deles. 

“Proletariado do mundo, uni-vos!”.

27/08/20

Pedro Parente


domingo, 23 de agosto de 2020

INFÂNCIA

 INFÂNCIA

Ao chegarmos ao mundo quando nascemos, recebemos a vida de presente. Sinto-me infeliz em pensar que alguns desprotegidos vem à vida para sofrer. Felizmente tive uma infância feliz ao lado de meus pais e irmãos sempre protegido pelas asas de minha mãe, meu anjo de guarda.

Dando meus primeiros passos claudicantes nas areias mornas da Praia Grande em Mosqueiro -PA vivi maior parte de meus momentos inocentes e felizes naquela ilha com meus amigos crianças também, filhas dos pescadores locais.

O ano letivo era menos severo e podíamos gozar longas férias colegiais. O mês de julho e três meses no fim de ano. 

Era só felicidade.

O trajeto para ilha era feito através de um pequeno navio a vapor e a vigem durava em torno de duas horas.

Só a viagem já era um passeio muito agradável, vendo o talha-mar da embarcação singrando aquele mundo de água. Navegávamos margeando a floresta bucólica com alguns animais a vista. Contando com a sorte, algumas vezes, os botos nos acompanhavam fazendo seu bailado tradicional e exibindo sua perícia em velocidade.

Era um longo ritual, mas não cansativo. 

A estrada da ilha era de terra. Havia um só coletivo pequeno para transportar os passageiros que moravam mais retirados do centro. Como nossa família era numerosa, cinco irmãos, nossos pais, duas cozinheiras e os amigos dos filhos, esperávamos o retorno do ônibus para levar-nos à nossa casa.

A chegada era uma alegria só. Alguns vizinhos iam no receber e a garotada chegava junto. Imediatamente trocávamos a roupa e iniciávamos o racha na praia com uma bola nova que o papai nos dava.

Após a exaustiva pelada já com o sol se pondo, caíamos naquela água tépida e subíamos para jantar.

Na mesa grande, após a janta ouvíamos as histórias contadas pelo meu pai ou algum visitante.

Normalmente as conversas eram sobre duendes da floresta muito comuns naquela região. Matinta Perera, Curupira, Anhangá, Buiúna, Mapinguari e etc...

fazem parte do imaginário daquela gente.

Com os olhos arregalados e com as pernas tremendo, esperava mamãe deitar na sua rede no centro do quarto e eu no canto me espichava na minha balançando de leve para chamar o sono, enquanto na parede uma gravura de Santa Terezinha me seguia com seu olhar de paz.

Um sono inocente numa alma pura!

23/08/20

Pedro Parente


sábado, 22 de agosto de 2020

O BEIJO

 O BEIJO

Quando vim do Rio de janeiro morar em São João del-Rei, fui trabalhar na fábrica São João no bairro de Matosinhos.

A cidade era tradicional fabricante de tecidos chegando a ter em seu parque industrial sete indústrias. 

Era um momento do Brasil industrial.  

Muito comum deparar-se com grandes construções para abrigar o maquinário onde confeccionavam-se vários tipos de panos.

A Fábrica São João onde trabalhei possuía mais de quinhentos funcionários. 

Quando lá cheguei, como sempre, alguns me olharam de soslaio outros, porém como se diz “o santo bateu”. Dalí para a frente, talvez pela minha maneira de ser e viver todos se tornaram meus amigos. 

Quando sai não deixei nenhum desafeto.

Não tinha muito o que fazer, pois nas fábricas quem trabalha são os operários e as máquinas, aliás trabalhavam muito. A maior parte do tempo de pé com um barulho ensurdecedor. 

Como meu serviço era na administração, não fazia quase nada.

Em pouco tempo tinha meu grupinho lá dentro. Todos mais velhos do que eu e cada um com seu tipo característico.

Entre eles havia um diferente. Pouca conversa, acho que nunca vi seus dentes através de um sorriso. Alto, esguio, forte, chapéu e cigarro de palha. Diziam que era capanga do Chico Turco um homem poderoso do bairro da Chácara.

Benjamim de batismo, tornara-se Beijo entre os íntimos. Ele é que possuía as tralhas de pescaria e morava em frente.

Numa tarde, horário de verão quando o sol se esconde mais tarde, combinaram dar lance num córrego a fim de pegar lambaris, um peixinho bom como tira-gosto.

Fui como convidado. Na minha Brasília foram Arthur e o Beijo no banco de trás. No meio da viagem eu acelerando fundo, ouvi o Beijo falar baixinho no ouvido do Arthur:

- “Pede cotela pro seu Pedro!”

Fui rindo até o córrego.

Encontramos com o restante da turma. Entre eles estava o Bajú, apócope de Abajur seu apelido original. Operário fabril que nas horas vagas fazia uma entera de salário atuando como árbitro de futebol.

Magro, baixinho e careca, não tirava o cigarro de palha da boca e não parava de falar. Tagarelando o tempo todo, passou a perturbar o Beijo que pacientemente desembolava a rede de lancear.

- “Vamo logo véio, já vai escurecê e ocê nessa moleza toda?”

O Beijo não contou até dez, deu uma braçada e pegou a costa inteira, de leste a oeste do Bajú que foi de chapa dentro do córrego.

Cena hilária, emergiu já com dedo em riste xingando a pobre da mãe do Beijo, o restante de cabelo escorrido pelas orelhas, porém o cigarrinho de palha encharcado não lhe saiu do canto da boca.

Após encherem os caçuás de peixe, voltamos às gargalhadas.

Não foi uma pescaria e sim uma peça de humor!

22/08/2020

Pedro Parente 



-  


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

PAPAI


 DIA DOS PAIS -

Hoje o calendário destaca como Dia dos Pais. Quero render minha homenagem à essa figura que é o fulcro da família e muitas vezes empanada pelo brilho carismático da mãe.

Batalhador invencível, muitas vezes tendo que "matar um leão por dia" para alimentar os filhos e manter a casa enquanto a mulher se desdobra com os afazeres domésticos.
Oculto no anonimato vai encarando a vida com valentia e altivez.
Não tenho mais o meu! Há muito tempo!
Deixou como herança a imensa saudade que me acompanha diariamente desde que se foi.
Hoje, especialmente as lembranças jorram aos borbotões do fundo da minha alma. Esmaecidas, porém vivas.
Acompanhei sua luta para manter uma prole de cinco homens.
Outros tempos, sem geladeira. A comida teria que ser feita diariamente com produtos vindos frescos da feira e do açougue.
As carnes conservadas na banha.
Quando papai queria tomar um vinho gelado no almoço de domingo, eu ia à Fábrica de Gelo comprar um pedaço. O gelo era mantido em casca de arroz para não derreter sob o infernal calor tropical.
Levava um balaio e vinha depressa para não descongelar.
A nós meninos servia com parcimônia e adicionava açúcar.
Era uma festa.
A marcha inexorável do tempo abateu-se sobre ele que envelheceu. Na vida nada é definitivo.
Certo dia quando cheguei em casa no Bonfim vindo de carro de Belém, recebi o recado pra que voltasse, pois queria se despedir de mim.
Assim o fiz.
Em lá chegando, encontrei-o deitado em sua cama, de pijama.
Sentou-se e deu um inesquecível sorriso de alegria:
- Que bom que você veio, meu filho!
Deitou-se. Como uma vela que se apaga, sua vida foi chegando ao fim.
No seu último estertor, disse:
- Adeus Pedro!
Virou-se de lado e morreu.
Ali. Na minha frente, uma das razões do meu viver, chegara ao fim.
Carrego comigo sua genética e a gratidão por ter me tornado um homem.
A BENÇÃO PAPAI!
12/08/2018
Pedro Parente

sábado, 1 de agosto de 2020

O Mineiro.

O MINEIRO
Mineiro, o cidadão que habita o Estado de Minas Gerais, tem algumas peculiaridades muito interessantes e um modo próprio de ver a vida transformando-a em “causos”.
Vou contar aqui, não é a primeira vez, um desses “causos” acontecido com meu amigo Eduardo. 
Eu acho muito bom e toda vez que estou com a testa franzida de preocupação, lembro-me dele e imediatamente transformo o semblante sério em sorriso.
Proprietário de uma bela pousada campestre contou-me o Edu que resolveu tirar umas férias de uma semana indo para o litoral descansar na praia, tomar banho de mar, água de coco e umas cervejinhas pois ninguém é de ferro. 
Preparou a “tralha” colocou no porta-malas do carro e já ia saindo quando se lembrou de recomendar à Conceição, sua ajudante na lida na pousada, que não se esquecesse de aguar as couves a “menina dos olhos” da horta.
- Não esquece de aguar as couves!!!!!!
- Seu Eduardo o senhor tá levando seu calção de praia?
Cheio de planos partiu em seu Opala novinho, rumo ao Rio de Janeiro.
Céu azul, vento fresco lá foi o Edu.
Chegou ao Rio anoitecendo. No alto da serra presenciou um belo por do sol e dirigiu-se ao hotel em Copacabana.
Desceu, sentou-se num daqueles tradicionais “bar e restaurante” do Calçadão e pediu um chope. 
De repente, virou o tempo. O vento sudoeste chegou com tudo. Ventania e chuva obrigaram-no a entrar para a parte interna do restaurante.
A chuva não parou. Segunda, terça, quarta dentro do hotel sem poder usufruir das maravilhas da cidade e de suas praias. Chovia no Brasil inteiro principalmente em Minas.
Decepcionado Edu resolveu antecipar seu retorno.
- Chuva eu pego em Minas na minha roça!
Logo chegou na pousada e a Conceição veio recebe-lo com guarda chuva, muito preocupada com a recomendação do Eduardo, justificou-se:
- “Seu Eduardo a marvada chuva num deu trégua pra eu aguar as couve!”
01/08/2020
Pedro Parente