A VOLTA - Após um mês em Belém com o heroico fusca que conseguiu vencer a Belém/Brasília de terra, tinha que voltar para meu modesto trabalho no cais do porto no Rio de Janeiro.
Pensei bastante na viagem por terra e decidi, com ajuda de meu pai, voltar de avião.
Deixei o carrinho com meu irmão mais velho para buscá-lo na próxima férias.
Assim foi.
Um ano passa rápido e eis que chegou a almejada férias e, finalmente, poderia ir buscar meu fusquinha.
Desta vez meu companheiro foi o Mário Wilson. Amigo dos bons, aventureiro irresponsável igual a mim, porém tinha um detalhe, ele era habilitado a dirigir automóveis.
Teríamos que ir de ônibus, pois a grana era muito curta e ainda tínhamos a volta.
Pegamos um ônibus para Brasília. Lá, no dia seguinte, fomos para a Rodoviária pegar o ônibus que iria para Belém.
Enquanto esperávamos pelo coletivo, aproximou-se de mim um cidadão negro com uma carteira de identidade na mão onde lia-se de longe a palavra POLÍCIA.
Dirigiu-se a mim e pediu que abrisse minha mala.
Meu mundo despencou, pois carregava lá dentro, em cima das roupas, meu revólver SW 32.
A minha maleta e a do Mário Wilson estavam uma ao lado da outra. Numa atitude de puro reflexo, passei a mão na alça da maleta do Mário Wilson e me retirei como se procurasse algo para colocar a maleta em cima e abri-la em seguida.
O Mário percebeu e sumiu no meio do povo com a minha mala.
Achei um banco. Ali mesmo abri a mala e o o policial verificou que estava tudo certo.
Passado o susto pegamos nosso ônibus. Por acaso nesse dia eram dois devido o transporte da delegação masculina de vôlei do Pará que voltava da disputa de um torneio.
Os dois ônibus lotados. Sem ar condicionado o que refrescava eram as janelas abertas. Entrava o vento acompanhado de uma poeira infernal.
Em determinado momento, o ônibus parou e um cidadão suplicou para que o motorista o levasse pra ver a mãezinha dele.
A turma toda deu força. Ele entrou com a malinha, colocou no fim do corredor e se tornou a maior distração nossa com suas histórias engraçadíssimas.
Viagem que segue!
Os dois ônibus em comboio.
Ao cair da noite, parámos num povoado. Ali deveríamos pernoitar e seguir no dia seguinte, pois o trecho era muito perigoso.
Reunimos os passageiros e fizemos um trato.
Os solteiros destemidos passaram todos para um ônibus só. O dinheiro que pagaríamos pelo pernoite oferecemos aos dois motoristas para que tocassem o ônibus a noite inteira.
Toparam na hora. Aí, sentaram a bota!
Coisa de rapaziada irresponsável é assim mesmo! A água foi acabando, a fome chegando e ninguém tinha se prevenido. Aquele era o trecho mais deserto.
As horas passando, não se via um resquício de civilização. Nem uma luzinha, nada.
Nessas horas, cada um tem uma reação. Uns de mal humor, outros choramingando, outros rezando e o pau quebrando.
De repente, uma luzinha.
Paramos. Era um casebre com uma vendinha na frente.
- Moço! Que tem aí pra comer?
- Tem nada não. Tô fechando!
- Isso o senhor não vai fazer não! Tâmo com fome!
Conclusão. O homem matou trees galinhas. Fez com um caldo grosso e encheu de farinha.
Que delícia.
Pagamos tudo, aí o moço falou:
- Ocês tão doido? Os índios tão atacando aí na Ladeira do Sabão!
Era uma ladeira sinuosa que servia de apoio para a construção da rodovia principal.
Vários acidentes. Os caminhões que ali caiam, nem as cargas não recuperavam.
Naquele ponto, os motoristas avisaram:
- Vou subir com a porta aberta. Se não der, vocês pulam!
O ônibus era um Alfa Romeu bastante judiado. A turma falava "Sobe chorando e desce rezando'.
Na subida não tinha força, na descida não tinha freio.
Aqui em baixo, o motorista afundou o pé no acelerador e deu tudo o que tinha de impulso.
Começou a subir, foi reduzindo até chegar na primeira marcha.
O bicho pegou!
A turma se amontoou na porta aberta e só se ouvia nome de Santo! A escuridão era total!
E foi! O Alfa gemendo. Parecia que não era um gemido e sim um derradeiro suspiro!
Até que chegou no topo e o motorista pode engrenar a segunda marcha começando a descer.
Parecia que tínhamos ganho a copa do mundo de tanta alegria.
Rezas, beijos e abraços chegamos sãos a Belém.
Ufa!
Pedro Parente
5/9/17

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