ALVARO LOPES
Prosseguindo o caminho de quem envelhece,
vou perdendo lentamente meus parentes e amigos mais queridos deixando marcas e
cicatrizes no meu já cansado coração.
Há dias, encerrando sua missão aqui na
Terra, nos deixou meu bom amigo Álvaro Lopes de tantas boas lembranças. Desde
1967 desfrutei de sua amizade, inclusive pelo Rio de Janeiro onde eu morava e ele
cursava a Faculdade de Direito.
Inteligência acima da média e raciocínio
rápido vencia todos os torneios de jogo de dama e xadrez que participasse.
Tinha grande intimidade com o tabuleiro quadriculado.
Desapegado com coisas materiais, possuía um
fusca que todos conheciam, pois estava sempre com os vidros abertos e a tranca
não tinha a menor utilidade. Invariavelmente a chave ficava introduzida no
contacto.
Do Álvaro guardo como lembrança a história
mais engraçada que ouvi na esquina do Kibon e que não me canso de contar.
Disse-me, que numa manhã de segunda feira em São Paulo, onde estava
morando, acordou com uma grande ressaca moral e também, com muita saudade de
São João. Pensou:
- Vou até o Banco de Crédito Real e talvez
encontre alguém de lá da “terrinha” que me traga notícias frescas.
E assim fez.
Chegou ao Banco e foi logo examinando as
caras daqueles que esperavam por atendimento nas grandes filas.
Eis que se deparou com uma cara conhecida e
pensou com seus botões:
- Eu sabia que encontraria alguém de São
João!
Aproximou-se daquele cidadão,
cumprimentou-o dizendo:
- E aí? Como vai nossa terra?
- Qual terra? Respondeu intrigado o
interrogado.
- Ora! São João del-Rei!
- Não. Não conheço São João del-Rei. Nunca
estive lá.
- Como não? E de onde é que te conheço
então?
- Que é isso Álvaro? Não lembra? Sou seu
companheiro de quarto na república do Largo do Arouche.
Álvaro desconversou, saiu de fininho e foi
curtir sua saudade no bar da esquina.
Dos amigos prefiro guardar as lembranças
mais alegres dos tempos felizes que convivemos.
O resto fica por conta do tempo, o mestre
do mundo que ameniza nossas tristezas e não deixa que vivamos num vale de
lágrimas.
Pedro Parente
pedroparentester@gmail.com