segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

CANOA A VELA

CANOA A VELA
Final da década de 50 com a energia dos meus dezessete anos, praticava o esporte de remo olímpico no Clube do Remo em Belém do Pará
O esporte exigia que as cinco da manhã os barcos e seus remadores estivessem, literalmente, dentro d’água, assim, imposto pelo horário, todos dormíamos na Sede Náutica.
Ali eram guardados os barcos, que após o uso eram colocados em seus cavaletes, por isso chamávamos de “garagem”.
Um primo de minha mãe, ex-remador, deixou ali guardado uma canoa a vela para ele passear aos domingos na baia de Guajará.
Na monotonia dos dias de semana, quando não tinha parceiro pra jogar sinuca, a cabeça ficava girando procurando uma arte ou uma aventura.
Assim é que chamei meu amigo Batalha, para dar “um bordo” na canoa do primo.
Colocamos a canoa n’agua instalamos a vela, o leme com o respectivo encordoamento e partimos.
Soprava um vento leste no través. Maré de meia enchente, parti no sentido contrário, pois se faltasse vento a correnteza nos traria de volta
A canoa de bom velame corria mansa sobre as pequenas ondas transportando dois marinheiros de primeira viagem. 
Estava me sentindo o machão, quando, de repente o vento mudou a intensidade que refletiu na vela e consequentemente no mastro. Nesse instante, um enorme estalo.
Meu sangue foi para os pés. Achava que ia soçobrar e o medo aumentou quando lembrei que meu amigo não sabia nadar. 
Imaginei que o mastro havia quebrado. 
Rezei para todos os santos!
Cheguei a pedir socorro para outra embarcação que passou por nós que nos respondeu com um aceno pensado que eu estava cumprimentando-os.
Quando a adrenalina baixou, percebi que o mastro estava inteiro. Deduzi que o estalo foi provocado pela acomodação da carlinga – peça onde o mastro se encaixa.
Passado o susto, cambei o bordo e ajudado pelo vento em popa, chegamos rapidamente ao Clube.
Como nada fica escondido, no domingo seguinte o dono da canoa queria saber quem havia mexido no seu barco.
Cara de paisagem e silêncio profundo foi a minha resposta.
Aff...
27/02/2023
Pedro Parente. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

IMPRUDÊNCIA

 IMPRUDÊNCIA


Após a construção de uma rotatória imprudente na avenida Luiz Giarola a transformando em obstáculo para motoristas conscientes,

O efeito foi contrário para aqueles que não temem por sua vida e põe em risco a vida alheia. 

Motos e carros transformam-se em verdadeiros bólidos. 

Numa dessas madrugadas um desses irresponsáveis, atropelou a rotatória e foi parar no outro lado com um carro de alto valor todo danificado, felizmente o anjo da guarda do audacioso piloto estava de plantão o protegendo da morte. 

Antes que seja tarde, a fim de proteger as famílias e os transeuntes que por aqui trafegam, alguns trabalhadores que usam bicicletas e outros desportistas, torna-se urgente a instalação de redutor de velocidade eletrônico, os “pardais” para conter o ímpeto desses inconsequentes.

Paralelo a esse perigo, agora uns motoqueiros resolveram empinar suas motos, na rua que dá acesso ao condomínio Capanas del Viento”.

Incrível a falta de respeito com os moradores daqui onde ates era um lugar calmo e bucólico.

A “força do progresso” derrubou uma floresta que está sendo substituída por mansões de concreto daqueles protegidos pela sorte.

Dizia Nelson Gonçalves em uma de suas belas canções:

“O que fazer?

Não pode haver retrocesso

Ante a força do progresso

Meu violão silencia.”

20/02/2023

Pedro Parente


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

PORTA AVIÕES SÃO PAULO

PORTA AVIÕES SÃO PAULO.
As Forças Armadas são generosas em suas compras. Além de comprarem uísque, leite condensado, Viagra, prótese peniana que nos leva a pensar nos quartéis e bases, como verdadeiros prostíbulos. 
Não dá para empenhar o serviço das moças que ganham a vida vendendo o corpo, porque não emitem Nota Fiscal. Nesse caso são feitos malabarismos e o cartão corporativo paga.
Quão generoso é o gerente do cofre de plantão.
Recentemente uma dessas compras desastrosas o Porta-avião São Paulo, nau capitânia da gloriosa esquadra da Marinha do Brasil por absoluto obsoletismo, foi sepultado no fundo do Atlântico após navegar puxado por um potente rebocador, sendo rejeitado por vários países.
Seu destino seria o Líbano ou a Síria que o adquiriu como sucata para indústria siderúrgica daquele país. Por se tratar de um equipamento muito antigo, foram empregados em sua construção, diversos materiais altamente poluentes como amianto, chumbo, mercúrio e outros mais.
Não entendo por que compramos esse tipo de navio de guerra!
No caso do S. Paulo, já havia servido à Marinha francesa durante quarenta anos. Quer dizer, chegou aqui ultrapassado. Não sei de nenhuma missão que haja participado, se o fez, foi somente para aumentar o prejuízo, pois sua tripulação era em torno de 1.300 homens e algumas toneladas de combustíveis.
Ficou atracado ao cais da Ilha das Cobras no Rio de Janeiro e nunca o vi em movimento.
Os franceses morreram de rir. Resolveram um problema onde depositar aquela sucata e ainda levaram um bom dinheiro do povo brasileiro.
A outra nave desse tipo, me parece que teve o mesmo destino e a mesma inutilidade.
Acho que foi comprado na época do JK.
Naquela época tínhamos nosso “menestrel” Juca Chaves. Compositor excêntrico, muito inteligente, tocava um alaúde e só andava descalço. Manifestou-se compondo uma melodia que dizia assim:
“Brasil já vai a guerra
Comprou porta-aviões
Palminhas pra Inglaterra
Oitenta e dois milhões.
Mas que ladrões!
Porém tem uma peninha
É meu diz a Marinha
É meu diz Aviação.
Que confusão”
A Marinha queria colocar seus pilotos e a Aeronáutica bateu os pés e não aceitou.
Agora a solução foi encontrada, afundaram o S. Paulo no mar, em águas brasileiras, transformando o oceano num enorme lixão.
Brilhante a cabeça responsável!
Vida que segue!
21/02/2023
Pedro Parente






 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

EM NOME DO PROGRESSO

 EM NOME DO PROGRESSO.

Quando comprei o terreno onde construí minha casa, achei que havia acertado com a escolha do local.

Terreno de meia-encosta onde havia apenas capim brabo, cascalho, cercado com arame farpado surrado e enferrujado  pelas intempéries. 

Na frente, uma mata fresca, uma estradinha de terra, serventia de algumas reses que transitavam à procura de pasto e alguns raros automotivos. 

O tesouro do terreno é uma cisterna que comporta setenta mil litros d’agua potável produzida por três nascentes naturais que já encontrei e foi incluída na compra.

Pois bem, nesse ambiente bucólico, comecei a urbanizar o local para construir minha casa que depois de alguns anos conclui.

O tempo passa e com ele vem o progresso avassalador que não olha onde pisa. 

Asfaltaram a estradinha que virou avenida e a mata exuberante que existia foi derrubada para dar lugar ao concreto de um condomínio de luxo. Onde os semoventes caminhavam preguiçosamente, transformou-se em pista de corrida para carros e motos desafiarem as leis de trânsito abusando do excesso de velocidade expondo a vida em risco de pedestres desatentos, pois ali não tem meio-fio.

Em frente ao portão da minha casa, construíram uma rotatória de mau gosto e super dimensionada privilegiando a entrada do condomínio. Estreitaram a pista e o que era avenida virou rua.

Há algum tempo, um automóvel de alto custo dirigido por um jovem milionário atropelou a rotatória em alta velocidade. Voou e caiu do outro lado com muitas avarias no bólido. Felizmente era de madrugada e a cidade dormia.

Antes que seja tarde alguma providência tem que ser tomada. Ou se refaz o projeto da rotatória ou se coloque um redutor eletrônico de velocidade. 

Não quebra-molas que ajudam a punir aqueles que trafegam dentro da lei danificando seus veículos.

Esta é minha visão que compartilho com meus amigos.

08/02/2023

Pedro Parente


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

 


TRABALHO BRAÇAL

Na década de 70 durante a época do “Milagre Brasileiro”, o Governo Federal do alto da sua incompetência e corrupção, criou a Ferrovia do Aço – a obra dos mil dias.

Seu traçado passava próximo a São João del-Rei, tornando-se assim uma excelente cidade como ponto de apoio para engenheiros e funcionários da administração das empreiteiras executoras da obra.

A cidade foi invadida. Os aluguéis de casas e apartamentos dispararam. Todos lucraram, como o comércio em geral e proprietários de imóveis. Os bares, a noite, ficavam lotados.

Dentre os vários engenheiros com quem convivi, um deles, contou-me que sua empreiteira pegou uma obra no Iraque, lá no meio daquele deserto insólito.

Para trabalhar naquelas condições inóspitas, era comum buscarem mão de obra barata e que suportasse o calor do deserto, então iam ao interior do nordeste onde a seca sacrificava seus habitantes que pediam socorro e os recrutavam.

Certa feita, numa dessas empreitadas, dois amigos, dando graças pelas vagas, aceitaram o serviço. Se despediram e foram para o aeroporto.

Muito desconfiados entraram no avião, sentando-se um ao lado do outro.

Seu contrato de trabalho era para fazer massa, isto é, misturar o cimento, areia e brita. Um serviço braçal extenuante.

Depois de muito voar atravessando o Atlântico, o avião se preparou para aterrissar sobrevoando o campo de pouso no meio do deserto com imensas dunas.

Os dois, olhando pela janela e vendo aquelas montanhas de areia, um deles falou naquele sotaque carregado do sertanejo:

- SEVERINO! QUANDO CHEGÁ O CEMENTO NÓIS TÁ   FERRADO!

03/02/2023

Pedro Parente



TRABALHO BRAÇAL

 

 

TRABALHO BRAÇAL

Na década de 70 durante a época do “Milagre Brasileiro”, o Governo Federal do alto da sua incompetência e corrupção, criou a Ferrovia do Aço – a obra dos mil dias.

Seu traçado passava próximo a São João del-Rei, tornando-se assim uma excelente cidade como ponto de apoio para engenheiros e funcionários da administração das empreiteiras executoras da obra.

A cidade foi invadida. Os aluguéis de casas e apartamentos dispararam. Todos lucraram, como o comércio em geral e proprietários de imóveis. Os bares, a noite, ficavam lotados.

Dentre os vários engenheiros com quem convivi, um deles, contou-me que sua empreiteira pegou uma obra no Iraque, lá no meio daquele deserto insólito.

Para trabalhar naquelas condições inóspitas, era comum buscarem mão de obra barata e que suportasse o calor do deserto, então iam ao interior do nordeste onde a seca sacrificava seus habitantes que pediam socorro e os recrutavam.

Certa feita, numa dessas empreitadas, dois amigos, dando graças pelas vagas, aceitaram o serviço. Se despediram e foram para o aeroporto.

Muito desconfiados entraram no avião, sentando-se um ao lado do outro.

Seu contrato de trabalho era para fazer massa, isto é, misturar o cimento, areia e brita. Um serviço braçal extenuante.

Depois de muito voar atravessando o Atlântico, o avião se preparou para aterrissar sobrevoando o campo de pouso no meio do deserto com imensas dunas.

Os dois, olhando pela janela e vendo aquelas montanhas de areia, um deles falou naquele sotaque carregado do sertanejo:

- SEVERINO! QUANDO CHEGÁ O CEMENTO NÓIS TÁ   FERRADO!

03/02/2023

Pedro Parente