quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020

 2020


Ano atípico!

Não sei a quem responsabilizar. 

Não sei se alguma energia negativa cobriu nosso planeta em um eclipse de tristeza dizimando nossa população e como é praxe, penalizando cruelmente os menos protegidos pela sorte. 

No nosso Brasil as consequências foram maiores, pois além de perdermos mais de duzentos mil irmãos, fomos castigados com o Governo de um verme genocida que destruiu todas as conquistas civilizatórias adquiridas ao longo de vários anos à custa do suor, sangue e lagrimas dos brasileiros.

Enquanto não tínhamos petróleo os olhos gananciosos dos “piratas do mundo” não nos enxergavam, porém como prêmio ao esforço de nossos cientistas da Petrobras que desenvolveram tecnologia própria, descobrimos o pre-sal uma das maiores reservas petrolíferas do mundo.

A partir daquele momento a cobiça desse tesouro inestimável por parte dos estadunidenses, tornou-se o objetivo principal de sua tomada.

Contando com a conivência de maus brasileiros, fardados, togados e civis, arquitetaram um golpe, depuseram a presidente honrada e colocaram em seu lugar um traidor rábula comprometido com a estratégia de Washington.

Em seguida numa eleição fraldada, a burguesia burra substituiu o rábula por um energúmeno.

De um Brasil pujante cuja economia disputava o quinto lugar pari passu com o Reino Unido e França foi defenestrada para décima segunda no ranking global.

Tudo contra nós!

Nunca imaginei na minha vida assistir um general do “glorioso” Exército Brasileiro ser humilhado em público por um oficial subalterno que fora expulso do quartel por terrorismo, chamando-o de “meu gorducho predileto”.

Enquanto o governo da Argentina libera a canabis, o aborto, taxa as grandes fortunas e vacina sua população, nós insignificantes, vamos assistindo a marcha macabra de nossa população rumo à sepultura por indiferença e inoperância de nossos poderes constituídos.

O Brasil terá que ser repensado. 

O ensino terá que ser modificado em sua base. As escolas terão que mostrar quem foram nossos heróis e não exaltar em seus compêndios os invasores que promoveram verdadeira chacina nas populações habitantes do nosso continente.

Mostrar a covardia que foi cometida com os negros arrancados de suas terras na África e vendidos como escravos aos senhores de engenho.

As escolas militares tem que mudar seu método de lavagem cerebral daqueles jovens patriotas que ali prestam exames com o objetivo de defender seu país e se transformam em algozes.

Com uma despesa inútil de mais de R$ 100 bi anuais para as Forças Armadas sem guerrear com ninguém e sem cumprir sua missão de defender nossas riquezas e território pátrio poderiam desocupar seus quartéis e transformá-los em universidades, escolas ou hospitais prestando desta maneira serviço muito mais relevante à população brasileira.

Aos 80 anos, decepcionado deixo para meus filhos, um país destruído pela insanidade do Presidente sob aplausos de uma plateia inconsequente.

Salve-se quem puder! 

30/12/2020

Pedro Parente


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

PÉROLAS MUSICAIS

PÉROLAS MUSICAIS Hoje acordei com uma saudade amiga e a imagem inesquecível de certa noite no programa que eu transmitia através da Rádio São João, chamado Pérolas Musicais. Tive o privilégio de ter em minha volta três amigos extraordinários, Não pelo poder e pela força do capital mas sim pela generosidade, simplicidade e habilidade em dedilhar seus instrumentos. Naquele momento deixava que os acordes produzidos pelo Chico, Renato e Cipó inebriassem as ondas sonoras que se espalhavam pelas casas humildes e no aconchego das montanhas de Minas, num velho aparelho de rádio que captasse ondas curtas num canto da cozinha abraçado pelo calor do fogão de lenha. Fui muito feliz e privilegiado por aquele momento. Restou a lembrança e amizade dessas pessoas generosas que tive o prazer de desfrutar de suas companhias. Hoje restou saudades! A peste juntou as famílias confinando-as , mas afastou os amigos. Que Deus os proteja. 14/12/2020 Pedro Parente

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

HISTÓRIAS DO GARIMPO

HISTÓRIAS DO GARIMPO Entre os pesadelos que me acompanham pela vida que levei sempre no fio da navalha, surgem algumas lembranças de fatos bizarros e às vezes nem tanto e que tento dividir com os amigos que me leem. Quando morava no lendário Edifício dos Jornalistas no Leblon no Rio na década de 60, eu fazia parte de uma turma gente boa. Um desses era meu amigo inseparável que chamava-se Nerthan. Companheiro fiel. Forte como um touro, paraibano macho de olhos azuis, descendente de barão. Muito solícito, gentil até a página dois. Por pouca coisa transformava-se num Miúra, aqueles das touradas de Madri. Convivendo com ele, ouvi sua história de vida. Formou-se em ciências contábeis que todos tratam como contador e resolveu correr mundo. Sumiu! A família preocupada, tentou encontra-lo, não tendo êxito, mandou rezar uma missa em sua intenção dando-o como morto. Ele, por sua vez, foi encarando qualquer tipo de trabalho, inclusive braçal, chegando a ser “chapa” de caminhão. Lá pras bandas do Mato Grosso, certa noite em uma birosca, misturado com motoristas e “calungas” segundo ele, apareceu um negrinho carioca que era motorista do caminhão de um garimpo pesado no meio da floresta. Nerthan entusiasmou-se em conhecer o garimpo Mal sabia a fria que estava entrando. O motorista ganhava uma gratificação do patrão por cada peão que conseguisse para o trabalho escravo na área de produção. Fez sua cabeça dizendo que poderia sair do garimpo milionário. Sentou-se na boleia ao lado do motorista e se socaram pelo meio da mata até o local da jazida. De cara Nerthan percebeu a arapuca em que se meteu. Um córrego a céu aberto centenas de garimpeiros bateando nas águas cristalinas em busca de diamantes. Nas encostas jagunços fortemente armados vigiavam a turma. Qualquer movimento suspeito de qualquer peão era averiguado, pois corria o risco de algum engolir uma preciosidade. Assim que o caminhão parou vieram três jagunços recebe-los. Levaram Nerthan ao capataz que lhe deu as ordens. - Aqui a produção é paga em dinheiro descontada a comida que nós fornecemos. Não tente besteira que daqui não sai ninguém vivo. Indicaram um barraco coberto de lona preta e a parede de bambu. Deram-lhe uma bateia e mandaram começar a trabalhar. Não tinha alternativa ou obedecia ou morria! Nerthan era feroz, mas não era burro, pelo contrário. Passou a tratar todos com respeito e observando a maneira de ser de cada um. Certo dia, o capataz chegou na barraca dum velho garimpeiro e lhe disse: - Seu Zé o senhor já tá velho e não produz nada, passe sua mulhé pra João que ele é novo e dá produção! - Faça isso não moço, trabalho o resto da vida de graça pro senhor, mas não me tire a mulhé! Arrancou a mulher e levou pro barraco do outro. No dia seguinte seu Zé amanheceu pendurando por um arame no pescoço. Era comum garimpeiro que achava coisa boa, pedir para ir embora. O capataz fazia questão de pagar na frente de todos, porém como só tinha uma saída no meio da mata, matavam o peão e traziam o dinheiro de volta. Nerthan sabia que sair dali só tinha um jeito, o caminhão. Então passou a conversar mais com o motorista e aproximou o cearense para sua companhia formando assim uma trinca. Passaram a ser confidentes! Elaboraram um plano. Espalharam no garimpo que estava atacando uma peste que se batesse ali naquela multidão não sobraria ninguém, pois era altamente contagiosa. Quando a notícia já estava bastante divulgada e os homens temerosos, os três começaram a observar uma hora oportuna para fazer uma encenação. Chegou o dono do garimpo. Os puxa-sacos logo correram para perto dele ficando os três em espaço limpo. Eles se entreolharam e o cearense caiu se debatendo no meio do barro. Os capangas correram junto com o feitor pra ver o que estava acontecendo. Nerthan gritou: - Não cheguem perto. Pode ser essa doença que anda rondando o garimpo e que acaba com a gente! O capataz pra fazer bonito: - Levem essa desgraça daqui! Manda o médico examinar! O motorista falou que ia levar o Nerthan para ajudá-lo. Montaram no caminhão, passaram o povoado até acabar o combustível. Largaram o caminhão e sumiram no mundo! Depois de alguns dias Nerthan conseguiu chegar na terra de sua mãe. Após anos ligou pra ela: - Mãe? É Nerthan! - Venha pra casa! Austeridade própria do nordestino 09/12/2020 Pedro Parente Entre os pesadelos que me acompanham pela vida que levei sempre no fio da navalha, surgem algumas lembranças de fatos bizarros e às vezes nem tanto e que tento dividir com os amigos que me leem. Quando morava no lendário Edifício dos Jornalistas no Leblon no Rio na década de 60, eu fazia parte de uma turma gente boa. Um desses era meu amigo inseparável que chamava-se Nerthan. Companheiro fiel. Forte como um touro, paraibano macho de olhos azuis, descendente de barão. Muito solícito, gentil até a página dois. Por pouca coisa transformava-se num Miúra, aqueles das touradas de Madri. Convivendo com ele, ouvi sua história de vida. Formou-se em ciências contábeis que todos tratam como contador e resolveu correr mundo. Sumiu! A família preocupada, tentou encontra-lo, não tendo êxito, mandou rezar uma missa em sua intenção dando-o como morto. Ele, por sua vez, foi encarando qualquer tipo de trabalho, inclusive braçal, chegando a ser “chapa” de caminhão. Lá pras bandas do Mato Grosso, certa noite em uma birosca, misturado com motoristas e “calungas” segundo ele, apareceu um negrinho carioca que era motorista do caminhão de um garimpo pesado no meio da floresta. Nerthan entusiasmou-se em conhecer o garimpo Mal sabia a fria que estava entrando. O motorista ganhava uma gratificação do patrão por cada peão que conseguisse para o trabalho escravo na área de produção. Fez sua cabeça dizendo que poderia sair do garimpo milionário. Sentou-se na boleia ao lado do motorista e se socaram pelo meio da mata até o local da jazida. De cara Nerthan percebeu a arapuca em que se meteu. Um córrego a céu aberto centenas de garimpeiros bateando nas águas cristalinas em busca de diamantes. Nas encostas jagunços fortemente armados vigiavam a turma. Qualquer movimento suspeito de qualquer peão era averiguado, pois corria o risco de algum engolir uma preciosidade. Assim que o caminhão parou vieram três jagunços recebe-los. Levaram Nerthan ao capataz que lhe deu as ordens. - Aqui a produção é paga em dinheiro descontada a comida que nós fornecemos. Não tente besteira que daqui não sai ninguém vivo. Indicaram um barraco coberto de lona preta e a parede de bambu. Deram-lhe uma bateia e mandaram começar a trabalhar. Não tinha alternativa ou obedecia ou morria! Nerthan era feroz, mas não era burro, pelo contrário. Passou a tratar todos com respeito e observando a maneira de ser de cada um. Certo dia, o capataz chegou na barraca dum velho garimpeiro e lhe disse: - Seu Zé o senhor já tá velho e não produz nada, passe sua mulhé pra João que ele é novo e dá produção! - Faça isso não moço, trabalho o resto da vida de graça pro senhor, mas não me tire a mulhé! Arrancou a mulher e levou pro barraco do outro. No dia seguinte seu Zé amanheceu pendurando por um arame no pescoço. Era comum garimpeiro que achava coisa boa, pedir para ir embora. O capataz fazia questão de pagar na frente de todos, porém como só tinha uma saída no meio da mata, matavam o peão e traziam o dinheiro de volta. Nerthan sabia que sair dali só tinha um jeito, o caminhão. Então passou a conversar mais com o motorista e aproximou o cearense para sua companhia formando assim uma trinca. Passaram a ser confidentes! Elaboraram um plano. Espalharam no garimpo que estava atacando uma peste que se batesse ali naquela multidão não sobraria ninguém, pois era altamente contagiosa. Quando a notícia já estava bastante divulgada e os homens temerosos, os três começaram a observar uma hora oportuna para fazer uma encenação. Chegou o dono do garimpo. Os puxa-sacos logo correram para perto dele ficando os três em espaço limpo. Eles se entreolharam e o cearense caiu se debatendo no meio do barro. Os capangas correram junto com o feitor pra ver o que estava acontecendo. Nerthan gritou: - Não cheguem perto. Pode ser essa doença que anda rondando o garimpo e que acaba com a gente! O capataz pra fazer bonito: - Levem essa desgraça daqui! Manda o médico examinar! O motorista falou que ia levar o Nerthan para ajudá-lo. Montaram no caminhão, passaram o povoado até acabar o combustível. Largaram o caminhão e sumiram no mundo! Depois de alguns dias Nerthan conseguiu chegar na terra de sua mãe. Após anos ligou pra ela: - Mãe? É Nerthan! - Venha pra casa! Austeridade própria do nordestino 09/12/2020 Pedro Parente

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

DE VOLTA A SAQUAREMA

 DE VOLTA À SAQUAREMA

Semana Santa chegando, nos reunimos no Garden Bar para mais uma noitada e combinarmos eu, Estradinha e Nerthan nossa volta à Saquarema.
O carnaval tinha deixado boas lembranças e saudades daquela gente humilde e acolhedora daquele local.
Desta vez tomamos o cuidado de comprar as passagens com antecedência. Mordomia, o ônibus nos deixou na porta da casa do pai do Estradinha a quem já chamava de “Seu Rodovia”.
Era uma figura admirável! Morava sozinho. Destemido, desses que não tem a palavra medo no seu dicionário. Bom contador de “causos”.
Disse que certa madrugada, estava deitado, percebeu um vulto sentar-se em sua cama. No escuro, do jeito que estava, de lado, com o travesseiro debaixo da cabeça, falou:
- “Se for mulher pode ficar!”
Sentiu o colchão voltar ao normal e foi-se embora, chegando a conclusão que o fantasma era homem e obediente.
Conhaque debaixo braço, dessa vez Nerthan levou estoque do seu Melnhaque, rumo à birosca na praia.
Agulha e Sabará já estavam lá, como sempre. Uma festa só! Muitos abraços, declarações, peixe frito e cachaça.
Uma novidade na praia. Um rapaz improvisou e fez de um paraquedas a cobertura do seu bar na areia. Fui lá visita-lo.
De repente uma correria e gritos vindos da beira da praia. Uma moça estava se afogando, puxada por forte correnteza no final da enseada.
Faz parte da minha personalidade não conviver com covardia e situações semelhantes. Não tinha ninguém ali que pudesse ajuda-la. Fatalmente morreria.
Corri em seu socorro. Levei comigo um pedaço de isopor, resto de uma prancha.
Entrei na “boca” o nome que dão à correnteza. Rapidamente cheguei até ela, dei-lhe o pedaço de isopor, aumentando assim sua flutuabilidade e acalmei-a:
- Sou o salva-vidas da área!
Tomei o cuidado de pegar seu braço pelas costas junto as axilas, evitando que ela, em desespero me agarrasse e fossemos os dois para o fundo. Nadei em diagonal a correnteza e sai da “boca”. Como o mar não estava feroz, pudemos chegar à praia numa boa.
Fui ovacionado!
Haha! Tive meu dia de glória! (cabotinismo).
O bom é que a mãe da moça em retribuição deixou umas cervejas pagas. Não iria fazer desfeita, porém como não sou cervejeiro, chamei a turma da birosca e dividi com ela o prêmio.
Mais um dia de alegria em Saquarema!
20/11/20
Pedro Parente

MISSISSIPI EM CHAMAS

 Em 1988 Assisti um filme com Gene Hackman e chamava-se Mississipi em Chamas.

Saí do cinema revoltado de tanta covardia praticada pelos estadunidenses contra os negros.
Pensei que felizmente no Brasil há respeito entre as diferentes raças que promovem nossa miscigenação.
Me parece que o único lugar do mundo que árabes e judeus convivem em harmonia é na rua da Alfândega no Rio de Janeiro onde o comércio dos rivais os aproxima.
Brutal engano! Infelizmente!
A população negra está sendo massacrada pela polícia que deveria protegê-los.
Importamos do hemisfério norte o que há de pior. A discriminação racial.
Lá eles são apenas 12% da população, ao contrário do Brasil que é mais de 50%.
Aqui não é lugar de KuKluxKan assassina.
É uma aberração vista em nenhum lugar do mundo, policial negro matando seu irmão de cor sem ter cometido crime!
A justiça não pode perdoar esse tipo de gente.
Essa sociedade vil e calhorda tem que reagir. Ao invés de ficar lotando templos pedindo a Deus em seu favor e enchendo os bolsos dos vendilhões da cruz, reajam e ajudem os menos protegidos pela sorte.
20/11/20
Pedro Parente

ADEUS BELÉM DO PARÁ

 ADEUS BELÉM DO PARÁ.

Minha guarnição de remadores, quatro com patrão, disputou a eliminatória para o Campeonato Brasileiro de Remo de 1960 na Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de janeiro pelo Estado do Pará e venceu.

Esporte amador sobrevive com muita dificuldade muitas vezes com doações generosas de aficionados. 

No nosso caso o avião que nos transportou para o Rio era um bimotor Beechcraft de 7 lugares, sendo 2 lugares ocupados pelos pilotos, coronéis da FAB que faziam horas de voos. Pousava com uma rodinha traseira e os trens tradicionais sob as asas. Sua autonomia de voo era pequena não lhe permitia percorrer grandes distâncias. Qualquer campo de futebol para peladas que via, descia.

Éramos jovens e nunca extrapolado as fronteiras de nosso Estado, por tanto sem nenhuma experiência. 

O novo assusta! 

A expectativa nos deixou agitados, intrigados e principalmente apreensivos em deixar nossas famílias pra trás.

Nos preparávamos para dormir na sede náutica do Clube do Remo, quando o telefone tocou e comunicou que havia um avião para transportar 5 atletas por ordem da CBD Confederação Brasileira de Desportos rumo ao Rio de Janeiro. A partida seria às 5 horas da manhã da Base Aérea de Val-de-Cães.

Muito triste quando comuniquei a minha mãe que iria para o Rio. Coração de mãe não se engana. Implorou ao meu pai que não me deixasse ir. Meu pai austero lhe falou: 

- Ele venceu tem que ir!

Ela previu naquele momento que eu não voltaria! Era um adeus!

Às cinco da manhã conforme combinado, chegamos à Base e embarcamos na aeronave com muita dificuldade. Espaço exíguo. Apenas 5 poltronas individuais.

Poucas horas no ar e aterrissamos numa clareira para reabastecer.

A comitiva de recepção era de índios portando arco e flecha, alguns trazendo galinhas tentando arrecadar algum dinheiro. Uma pobreza de dar dó.

O Comandante nos preveniu que eram inofensivos.

A parada foi efêmera. Não deu negócio entre nós, pois não tínhamos nada para trocar e muito menos dinheiro para comprar as bugigangas deles. Mesmo decepcionados não pouparam seus acenos quando o avião decolou.

Subimos e descemos várias vezes até pousarmos em uma pista secundária, no aeroporto do Galeão às 17,30 h. 12 horas de viagem e se o veto tivesse soprando contra, acho que ainda estaríamos voando até hoje,

A pista era ladeada de capim alto dando impressão de desleixo. 

Pensei: 

- Isso que é o Rio? Um matagal danado!

Fiquei decepcionado.

Pegamos um táxi e o companheiro informou o endereço, Hotel Ipanema no Leblon.

Mal sabia que ali estava escrito meu destino, pois levava comigo o endereço de minha tia Ataulfo de Paiva 50 B2 ap.904

Quando o taxi entrou em Copacabana já com os neons acesos, meu queixo caiu. Fiquei extasiado e lá por dentro senti que não voltaria mais para minha terra. Tinha apenas 19 anos. O Rio era o sonho dourado de todos.

No hotel, de curiosidade, perguntei onde era aquele endereço que eu levava no bolso?

O dono do hotel Sr. Jesus, espanhol fumante de cachimbo, mostrou-me o Edifício dos Jornalistas exatamente do outro lado da rua. Foi só atravessar.

Passei 15 dias no hotel até o final da competição de remo. Conseguimos um honroso quarto lugar no nosso páreo.

Nossas condições esportivas eram muito adversas. Além do Sudeste ser mais desenvolvido e consequentemente seus remadores mais bem treinados, lá remávamos em água doce e corrente, na Lagoa a água é parada e salgada. Faz uma diferença brutal no peso das pás dos remos. Nosso ritmo de remadas completamente diferente. Enfim, entre dez competidores nos saímos bem.

Fiquei um tempo morando na sede náutica do Vasco e depois atendi o pedido de minha tia e fui lhe fazer companhia no Edifício dos Jornalistas.

Foi o que de melhor aconteceu. Pude viver os melhores anos da minha vida junto com aquela turma maravilhosa do hoje lendário prédio do Leblon.

Essas lembranças perdurarão indeléveis em meu coração até a morada final.

20/11/20

Pedro Parente








quarta-feira, 18 de novembro de 2020

SAQUAREMA

 SAQUAREMA

Num carnaval nos anos 60, meu amigo Alfredo, o Estradinha, vizinho no Bloco B2 do Edifício dos Jornalistas no Leblon, entre um chope e outro no Garden Bar, convidou-me para visitarmos seu pai morador em Saquarema no Estado do Rio.

Chamei Nerthan e fomos os três para a Rodoviária. Sábado, não tinha mais passagem para Saquarema e tomamos o ônibus de Bacaxá cidade vizinha há alguns quilômetros.

Chegamos no ponto final, descemos e empreendemos nossa caminhada, não sem antes comprar uma garrafa de conhaque Palinha. Nerthan não encontrou o seu preferido Melnhaque. 

Sol a pino conseguimos chegar com o conhaque saindo pelos poros encharcados de suor.

Estrada nos apresentou seu pai. Diferente dele, alto, forte de chapelão, exercia uma função pública no município, acho que escrivão juramentado.

Morava sozinho e nos recebeu com muito carinho e educação Sua casinha era muito aconchegante, de duas águas, muito comum na roça.

Saquarema era uma colônia de pescadores cativante. Não possuía nada de moderno. Cheiro de mar misturado com mato formavam uma essência comum em frascos franceses. 

Inebriante!

Demora pouca. Rumo ao boteco.

Na praia tinha uma birosca na ponta da enseada de pedra onde existia uma casa cuja piscina era alimentada pela água do mar na maré alta. Nunca imaginei.

Internamos ali na birosca e Nerthan com seu violão atraiu a maioria dos pescadores que estavam nas adjacências. Em pouco tempo havíamos amealhado muitos amigos. Ótimos todos simples e solidários. Não sabiam que fazer para nos agradar. Entre eles lembro-me bem do Agulha e do Sabará. Adoravam seresta. A noite foi passando e se tornou amanhecer.

Deitamos numa canoa que estava puxada na praia e dormimos o sono dos justos até que o sol nos acordasse.

O pior de tudo é equacionar a volta para casa, cheio de ressaca e saudade daquele momento.

Nos comprometemos a voltar! E voltamos!

18/11/2020

Pedro Parente


 


domingo, 15 de novembro de 2020

NERTHAN

 NERTHAN

Na minha passagem pelo Rio de Janeiro na década de 60, morei no lendário Edifício dos Jornalistas no Leblon.

Foram anos felizes que usufrui da amizade de grandes pessoas, dentre elas o Nerthan que não era morador de lá, porém visitava sempre seu irmão que ocupava um apartamento no décimo andar do Bloco B1.

Paraibano dos bons! Destemido, brabo, forte, não aturava desaforo, por menor que fosse, mas tinha um coração gigante.

Num sábado pela manhã, o vento sudoeste soprou feroz e impediu nosso vôlei, como praxe, desci e já me entoquei no botequim do seu Antônio e dona Maria. Uma cerveja, pois não vendia chope, pinga e um pernilzinho fresquinho para abrir os “trabalhos”.

O boêmio é especial, mesmo sem GPS sabe exatamente onde encontrar guarida para seus encantos e desencantos. 

O bar é o lugar exato.

Eis que entra Nerthan já com os olhos cheios d’água. Me deu um abraço sentido e pediu uma dose de Melnhaque, conhaque com mel. Acho que era o único consumidor daquela mistura. 

Surpreso, perguntei-lhe do acontecido e ele me relatou, com seu sotaque carregado.

- “Pedinho, separei da mulher! Lhe disse que na minha casa só admitia mulher apaixonada por mim. Como prova do meu amor, deixo aqui na sala, aquilo que mais amo depois de você, meu violão!”

Jogou o conhaque na garganta, pegou o violão da casa, que dedilhava com carinho e começou a “Missa de Réquiem”. Cada canção mais triste que a outra. Acho que o conhaque saiu todo pelo canal lacrimal. Chorava lágrimas de esguicho!

Aos poucos o boteco foi enchendo entre os circunstantes o irmão dele Thompson.

Lá para as tantas seu Antônio precisava fechar o bar. Pagamos a conta e fomos fazer seresta nos bancos de cimento em frente ao B1. 

Thompson gritou para Deusa sua esposa:

- Mande duas cervejas e uns copos!

Lá veio a moça secretária de serviços gerais trazendo o pedido que seria repetido até o dia amanhecer.

O surpreendente é que não houve nenhuma reclamação dos vizinhos, sinal de que acalentamos o sono de muita gente.

Como ninguém é de ferro, um bom banho, uma soneca e de volta ao boteco. Seu Antônio ficava feliz!

15/11/20

Pedro Parente.

 

 


terça-feira, 10 de novembro de 2020

SILENCE

 SILENCE

Quando cheguei ao Rio, após disputar um Campeonato de Remo, resolvi ficar.

Minha bagagem era pouca, duas mudas de roupa, o terno do meu pai e o sapato de uso, tudo transportado numa sacola de alças com uma delas arrebentada. 

O problema era achar emprego. Sem formação acadêmica ou profissional, teria que entrar no mercado de trabalho pegando o que aparecesse.

Assim foi que, por intermédio de um parente da minha mãe consegui lugar em um escritório onde o rapaz que fazia o serviço morreu de repente.

Ali reuniam-se os proprietários e diretores das empresas distribuidoras de gás de botijão. 

Só milionários! 

Nos dias de reunião, sentavam-se em volta de uma enorme mesa e discutiam os problemas afetos aos derivados de petróleo.

Éramos apenas dois funcionários, Dª Iracema que conduzia a reunião, redigia a ata e eu que servia o cafezinho. 

Numa bandeja de prata com bule e xícaras de porcelana, para mim era uma grande responsabilidade. Trêmulo, pensava: 

- Se derramar café no terno de um desses homens terei de trabalhar de graça a vida inteira para pagar o desastre.

Morava no Edifício dos Jornalistas no Leblon. Quase todas as manhãs quando saia para o trabalho, encontrava no elevador com um senhor miudinho muito bem arrumado de terno impecável com um sorriso cativante, sempre me cumprimentava cordialmente.

Com meus, botões ficava lisonjeado pelo tratamento a mim dispensado. Passei a admirá-lo com muito respeito.

Certo dia nosso escritório iria promover um evento e por uma questão de civilidade e boa vizinhança decidiram convidar os vizinhos de andar. O incumbido de entregar os convites formais fui eu. O último a ser entregue seria para a representação da revista Time/Life.

Fui recebido por uma moça de traje azul marinho e salto alto que me adentrou ao recinto.

O convite era direcionado ao superintendente.

Fiquei acanhado de ver quanto luxo. Havia um pequeno mezanino com duas escadas laterais em curva, corrimãos de madeira e uma imensa escrivaninha. Do teto pendurada por duas correntes de metal, uma placa escrita em inglês SILENCE.

Subi a escada temeroso. Ao chegar no nível do assoalho pude ver sentado quase sumindo no comando daquele tanto de gente, o senhor que descia comigo diariamente no elevador.

Levantou-se gentilmente com seu sorriso e simpatia habituais, mandou servir um cafezinho.

Sai encantado!

Naquela hora, tornei-me mais amigo do admirável Jayme Dantas, uma personalidade moradora do hoje lendário Edifício dos Jornalistas.

10/11/2020

Pedro Parente


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

SÉRGIO VELHO

 SÉRGIO VELHO

A turma do Edifício dos Jornalistas no Jardim de Alah no Leblon, era muito grande, pois o conjunto de seis prédios de 16 andares abrigava 420 apartamentos, segundo nosso amigo Paulo Issa.

Além dos moradores haviam muitos agregados que se tornavam membros da patota. Moradores de outros prédios e casas adjacentes, conviviam conosco na maior harmonia. 

Um desses chamava-se Sérgio Sparnazi (?). Morava no redondo da rua Gal. San Martin. 

Pessoa muito reservada e de humor variável. Metia a mão no bolso parcimoniosamente. 

Jogava vôlei na nossa rede na praia, porém se alguém passasse uma bola errada para ele, se transformava! Aquele cara discreto de pouco falar, se transformava. Tirava o chapéu de marujo que usava, fornecido pelo “Turquinho”, jogava no chão sapateava em cima ao som de sonoros palavrões que chamava atenção até de quem caminhava pela calçada.

Por causa das suas idiossincrasias, transformou-se em “Sérgio-Velho”.

Era frequentador assíduo do Jockey, principalmente se tivesse uma “barbada” que era fornecida por gente lá de dentro, diziam “barbada de cocheira”.

Aconteceu, naquela época, foram morar no B2 dois jóqueis que montavam cavalos de ponta nas corridas. A turminha chagada nas patas dos cavalos, tratou de fazer amizade com eles. Se não me engano eram A. Barroso e J. Souza.

Numa reunião noturna, me parece da quinta feira, um dos jóqueis deu uma “barbada imperdível” para o Sérgio.

Naquele dia ele tornou-se perdulário, enfiou a mão no bolso e apostou alto.

Chegou a hora do páreo e o Sérgio aflito com seu guarda-chuva, olhando de soslaio para aquele bando de otário que não tinha a dica que o deixaria folgado por um tempo, sentou-se na arquibancada meio retirado, ao seu estilo e o locutor oficial mandou lá no microfone:

- Partida boa para o quinto páreo! Largaram todos!

O Sérgio pensou: 

- Graças a Deus o meu também largou!

O locutor continuou:

- Assume a ponta Gualixo e vai deixando dois corpos de vantagem para o segundo lugar!

O Sergio não acreditava, vermelho quase tendo um troço. Andando dum lado ao outro.

- Contornam a turma de chegada, Gualixo não perde mais!

Sérgio já comemorava. Deixou seu jeito reservado de lado, fez o guarda chuva de estandarte e sambou como mestre-sala.

Eis, porém, que de repente o cavalo caiu morto, fulminado, pois tinha sido dopado até os miolos. 

Num gesto de desespero, estraçalhou o guarda-chuva contra a arquibancada, sentou-se com a cabeça entre as mãos, chorando soluçando, balbuciava:

- Só comigo! Só acontece comigo!

09/11/2020

Pedro Parente.



NB – O nome do cavalo é fictício.


O ESTRADINHA

 O ESTRADINHA

Segundo nosso amigo Paulo Issa, o conjunto de prédios que compõe o Edifício dos Jornalistas no Leblon, precisamente no Jardim de Alah, na confluência dos bairros de Ipanema e Leblon no Rio de Janeiro, possui 420 apartamentos.

Se considerarmos que em cada apartamento morava pelo menos um jovem adolescente, há de se imaginar o tamanho da nossa turma na década de 60. Os prédios foram construídos em 1956 e eu tive a felicidade de morar ali durante 10 anos. 

A densidade demográfica de gente boa que ali habitava, dava banho em Bangladesh. Era uma aldeia romântica e feliz!

As histórias são muitas, algumas muito interessantes com personagens sui generis e seus hábitos de vida.

No Boco em que eu morava, B2 lá para o 14º andar vivia um grande amigo que se chamava Alfredo Cardoso, contador do Banco de Crédito Real, na esquina da Bartolomeu Mitre com Ataulfo de Paiva na Pça Antero de Quental.

Estatura baixa, pernas arqueadas, era um terror no futebol de areia. Na ponta direita ninguém o marcava tal a sua velocidade. 

Imediatamente colocaram-lhe o apelido de “Estrada de Ferro” em alusão aos micro ônibus da época chamados de lotações, pois não transportavam passageiros em pé e faziam a linha Estrada de Ferro/Leblon. Eram reconhecidos pela velocidade que andavam. Muitas pessoas deixavam de usá-lo de medo.

De “Estrada de Ferro” como é habito do carioca abreviar os nomes, passou a ser tratado apenas como “Estradinha”.

Ali no B2 tinha uma senhora de cabelos brancos que deixava as panelas queimarem no fogão, para vigiar quem entrava e saia no prédio. Ficava o tempo que podia na portaria vigiando algum destemido que ousasse entrar com uma companheira estranha com propósitos “indecentes”.

O Estradinha tinha um apetite sexual de dar inveja em coelhos.

A noite, ele já tinha sua turminha de doméstica que após a lida diária desciam de banho tomado e perfumadas. Todas as noites elas iam ao seu encontro e não negava fogo, subia com uma, mais tarde outra e assim ia. Nunca vi igual.

Numa dessas noites no plantão daquela senhora moralista, quando o Estradinha se aprontava para subir com a segunda namorada, foi barrado.

- Isto aqui é um prédio familiar, não um prostíbulo!

- Desculpe, minha senhora, sou solteiro e o apartamento é de minha propriedade. Se tiver paciência a senhora pode ser a próxima!

Daquela noite em diante acabou-se a fiscalização voluntária daquela senhora.

09/11/2020

Pedro Parente


sábado, 31 de outubro de 2020

A REDE

  


A REDE.

Entre as relíquias do nosso tradicional Edifício dos Jornalistas no Leblon – RJ, recebi do meu amigo Carlinhos Raposo essa foto de pessoas queridas que faziam parte, fundadores, da rede de vôlei montada no canal da praia do lado do Leblon.

De pé: 

THOMPSON DO ABIAHI CARNEIRO DA CUNHA – Banco do Brasil (SUMOC) Morador do C1/10 and. Paraibano dos bons. Dedilhava o violão com maestria.

PINGA e seu filho – Exímio jogador de vôlei. Morador do Humaitá. Paraibano dos bons. Ótimo interprete do Altemar Dutra. 

LULU – Luís Mangualde – Fundador da PETROBRÁS – Atuava na área de Desenho Industrial e Mapas Topográficos. Morador da Visconde de Pirajá. Frequentador do Amarelinho no Centro. Ficava escondido no Posto Esso do Paulinho até que a rede estivesse armada, para chegar de mansinho.

SÉRGIO VELHO – Sérgio Sparnazi – O mais ranzinza. Só faltava ter um enfarto quando jogava ao lado do Maneco ou do Turquinho, pois os dois faziam tudo para errar e ver o Sérgio irritado. Grande amigo. Morava no redondo da Gal San Martin. Companheiro de noitadas.

MAZÔ – Era seu apelido – O nome complicado não lembro. Nasceu num dos países baixos. Engenheiro da Wella Cosméticos.

TIO JORGE – Jorge Pena – Nosso líder. Foi técnico de futebol tendo atuado no exterior A rede ficava guardada em sua casa no Jardim de Alah próximo a praia. A rede foi matriculada por ele na Prefeitura com o número 1.


Agachados:

VASCO – Raimundo Vasco – Jornalista da United Press. Morador do A1 exatamente em cima donde a turma reunia pra bater papo. Havia noite que ele não aguentava e pedia para diminuirmos o volume. Sem problema. Todos o adoravam. Um detalhe: se o chamasse pelo primeiro nome, nossa mãe seria exaltada pejorativamente onde estivesse!

SABARÁ – Carlos Nascimento – Motorista da Vale e trabalhou muitos anos com o Carlinhos Raposo. Morador da Cruzada São Sebastião. Adorava o samba na sua casa e os tira gostos da Dona Ana. As cortadas dele no vôlei faziam buracos na areia.

FLÁVIO – Flávio Carneiro da Cunha. Advogado, porém, preferiu ser representante comercial. Morava ao lado do Bar do Veloso na Prudente de Moraes. Meu guru. Extraordinário. Sem ele a rede ficava sem graça. Casado com a Violeta Cavalcanti cantora da Rádio Nacional. Passava a noite tomando cafezinho ou Coca Cola enquanto a Violeta enfiava o pé no conhaque. Dura na queda!

REUBEM – Morador do A1. Grande amigo. Amigo de emprestar dinheiro! Acho que se tornou funcionário da Receita Federal. Numa determinada época fazíamos revezamento com a namorada.

Esses eram alguns dos participantes assíduos da rede, porém havia domingo de ter mais de 50 pessoas que iam ali somente para assistir, prosear e eventualmente morrer de rir da brigalhada “dos velhos”. 

A praia podia estar lotada em dias de sol no verão, mas percebia-se um imenso clarão vazio em torno da rede. As senhoras e suas crianças ficavam longe para que os meninos não aprendessem novos palavrões.

No verão brabo, a gente tinha que enfiar os pés na areia esperando o saque pra não queimar. Nariz descascado. Cabelo queimado ficava louro que nem palha de milho.

Normalmente a última dupla éramos, eu com o Sabará versus Sérgio Velho e Fávio.

Ganhar dos dois era impossível! Flávio metia a mão na rede e não acusava. O Sabará tinha que se matar pra fazer pontos dobrados. Se o Flávio errasse um passe para o Sérgio, danou-se. Tirava o boné, jogava no chão, pisava em cima e esculhambava o Flávio, que quebrava o Velho com seu simpático sorriso.

Nessas alturas já eram 15 horas. Debaixo daquele sol, a língua virava gravata. 

Eu dava um mergulhinho na água fria e nem olhava pra trás, corria para a Clipper. Pedia dois chopes. Seu Joaquim não entendia: 

- Dois “Pidrinho”?

Um pra agora, outro pra depois! Que delícia! O chope gelado descia de uma vez trincando a mucosa da garganta. O outro descia civilizadamente com uma porção do tradicional pernil ou carne assada.

Até completar o tanque, a turma já tinha ido em casa tomado banho e trocado de roupa, ai eu me sentia deslocado, com vergonha ia embora para o bar do Seu Antônio no Jorna. 

As vezes tinha um violão perdido por lá com o Nerthan irmão do Thompson e a farra continuava.

Nossa aldeia era uma festa! Todos se amavam!

31/10/20

Pedro Parente.



quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O GÊNIO

 O GÊNIO

Na nossa turma do Edifício dos Jornalistas no Leblon haviam as figuras mais diferentes umas das outras. Raramente nos desentendíamos. 

Naquele tempo que o leiteiro trazia o leite – Vigor - dentro de uma garrafa de vidro com a boca larga e a colocava na porta de cada apartamento. A mesma coisa era feita pelo padeiro. 

Alta mordomia!

Algumas vezes os produtos não chegavam aos destinatários, sendo interceptados por algum boêmio sonolento e cheio de “larica”.

Entre vários tipos diferentes um se destacava pela sua inteligência e era reverenciado como bruxo. Não sem motivo! 

Chamava-se Murilo, irmão do Carlos Átila moradores do C1.

Diziam que era câmera man. da TV Globo e profundo conhecedor de eletrônica.

Desenvolveu um aparelho, acho que se chamava giroscópio, que representava o drone atual.

Da sua janela botava a geringonça para voar, ia até próximo a Cruzada do D. Elder deixando os moradores encucados. Retornava e pousava suavemente sob seu comando.

Isso acontecia sempre a noite e não eram poucas as histórias inventadas. Muitas senhoras pegavam no terço suplicando pelo sumiço daquela coisa do mal e obra do coisa ruim o cramunhão.

Os papos dez tiravam de letra: “Tô sabendo! É os tar de ovinis”.

Murilo se divertia.

Certo dia na Prudente de Moraes bateu em um poste e quando sua mulher saia do carro desceu um pedaço de concreto que estava solto e atingiu-a deixando-a hemiplégica.

Detonou a vida deles e não tive mais contato.

Lamentável!

28/10/2020

Pedro Parente


terça-feira, 27 de outubro de 2020

SALVITO

 

SALVITO

Quando cheguei a São João del-Rei, não imaginava encontrar tanta gente boa, alegre e feliz. Na força dos meus trinta anos, não foi difícil me adaptar. Comecei a frequentar a esquina do Kibon onde a moçada se reunia.

Ali encontrei joias raras. Um destaque especial para meu amigo SALVITO.

Espanhol de Salamanca, Espanha, me chamou atenção por sua educação refinada e sua alma generosa. Nos tornamos irmãos pela recíproca empatia. Adorava sua companhia, nas minhas festas e empreitadas ousadas ele era o primeiro a ser chamado. Nunca obtive um não.

Contou-me que ao chegar ao Brasil com 8 anos de idade pelas mãos de seu pai, ao subirem a serra de Petrópolis rumo a São João, seu pai entusiasmou-se com as bananas ouro vendidas em profusão naquele local. Parou o carro e juntos detonaram um cacho inteiro. Bem verdade que as bananas são pequenas e o cacho também.

Vivíamos um tempo de bonança. Quando terminava o mês, sobrava dinheiro. Hoje sobra mês e falta dinheiro.

Aproveitando a fase, o lazer era fundamental, de modo que surgiam entretenimentos de toda forma e todos os dias.

Tínhamos uma pelada tradicional no sábado a tarde no campo do Siderúrgica na vila Santa Terezinha, pretexto para a festa após o jogo, quando Nonato nos levava até sua casa para saborearmos os quitutes de sua esposa Dª Clarisse pessoa afável e generosa. O Miltinho representante da Skol gostava, pois reservava em sua câmara frigorífica um barrilzinho de chope com 30 litros e nos cedia a bomba para servirmos.

As pescarias tornaram-se corriqueiras a ponto de compramos um ônibus usado. Juntamos com mais dez amigos. O Guilherminho tirou alguns bancos do “grisu”, colocamos um freezer, as traias e os instrumentos musicais. Da turma fazia parte “nossa orquestra”: Asa Quebrada, Nô Carbajal, Murilo Capacete e Dadá.

De motorista levamos o Waldemar, profissional que puxava gasolina para o Posto do Pedrão. Levava o ofício a sério e não bebia. Para ele um suplício, vendo a turma enchendo a cara e ele de cara limpa.

Salvito ia sentado no primeiro banco ao lado do motorista e quando cruzávamos com outro caminhão, levava a mão na boca num gesto tradicional da comunicação entre profissionais do volante que significa “beleza” “trânsito limpo”.

Uma graça!

Passamos uma semana em São Romão. Não pescamos nada, porém, o dono da vendinha ficou boquiaberto com a quantidade de garrafões de pinga vendidos.

Ora éramos a seleção brasileira de consumo do precioso líquido. Uns mais outros menos, porém, os mais, sai de baixo: Hélio Barreto, Bolão, Dadá, Nô Carbajal, Asa Quebrada.

Salvito, Claro, eu, Guilherminho, Umberto, Erick, Vitorino, Judas, Rubinho, Zé Vitorino, Capacete, Cafezinho éramos mais moderados, alguns dando preferência à cerveja que também serviu para desovar o resto do estoque do moço da venda.

O Erick, na nossa para em Pirapora, contratou uma moça para servir de cozinheira na nossa estada. Chamava-se Rosa. Foi muito prestativa manteve a casa asseada e a cozinha em ordem. De origem muito pobre, ao retornarmos, fomos deixa-la em sua casa.

Um lugar na periferia no limite da extrema pobreza.

Encontramos seus velhos pais emocionados, às lágrimas, pois não sabiam de seu paradeiro.

Voltávamos com um estoque substancial de alimentos que haviam sobrado pelo exagero das compras.

Descarregamos tudo ali para aquela família.

Embarcamos no ônibus! Silêncio sepulcral!

Ouvia-se apenas o som do nariz aspirando o líquido da mucosa produzido por quem chora. Aquele bando de homens emocionado.

Por instantes nosso trajeto transformou-se em séquito silencioso e constrangido.

Mais uma lição que a vida nos impôs!

Nossa rotina continuou até que a vida em seus desígnios, nos foi envelhecendo e a alegria diária foi dando lugar a fisionomia carrancuda de sobrancelhas crispadas reflexo de problemas oriundos de emaranhados das teias que nós mesmos tecemos.

Salvito dividia comigo confidências e muitas vezes eivadas de tristeza. Era uma pessoa reservada e evitava transmitir suas tristezas aos amigos, porém em determinado momento ia até as lágrimas lembrando-se de sua mãe.

Construiu sua família deixando um retrato seu, de sua bondade e simpatia na filha Manuela que tenho a felicidade de ser seu amigo.

Precocemente, certo dia, recebi um telefonema do Judas aos prantos, comunicando que ele havia falecido.

Naquele momento fiquei sem chão! Aquele com quem dividi meus momentos de euforia havia me deixado! Foi como um punhal no meu coração. Dali para a frente, a Cantina onde nos reuníamos, passou a ser um mausoléu.

Espero encontra-lo brevemente num jardim florido com uma grande mesa sentados à seu lado muitos amigos que também já se foram. Aí minha tristeza recôndita dará lugar a uma alegria esfuziante.

Aguarde-me Dodô!

27/10/2020

PedroParente

 

 

 

 

 

 


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O ENGRAXATE

 Nos idos de 60 quando a esquina do Kibon em São João del-Rei era o ponto de encontro da rapaziada de várias tribos, idades e matizes, haviam figuras populares que faziam parte daquele glamuroso cenário. Entre elas havia uma que me chamava atenção, o engraxate.

Naquele tempo não se usava tênis no dia a dia, os calçados eram de couro e quem não estivesse com os seus brilhando era considerado desmazelado.

Menino experto de voz grossa com sua caixinha de engraxate, talvez fabricada pelo próprio. Tinha acabamento de principiante e material de terceira categoria, resto de embalagem de maçãs.

Por ser pequena e portátil engraxava os sapatos das pessoas em qualquer lugar, na rua ou dentro dos bares onde os proprietários permitiam em virtude do admirável esforço pela sua sobrevivência.

Todos o acarinhavam e era comum pagar-lhe um lanche. Educado, alegre e feliz, agradecia.

A vida foi caminhando cada um cumprindo seu mister.

Anos passaram e encontrei-o novamente. Não cresceu tanto. Sua voz continuava mais rouca e forte, porém percebi que havia mudado de vida para melhor pelo estampado do seu traje.

Dê-lhe um abraço saudoso e me contou que, a “duras penas” conseguiu formar-se em advogado já inscrito na OAB vinha conquistando seu espaço no Fórum da cidade, já tendo obtido sucesso em várias causas.

 Havia construído um patrimônio razoável para iniciante e tornou-se defensor dos oprimidos advogando gratuitamente.

Não sei, nasci cheio de perguntas, obtive poucas respostas e acumulei mais perguntas.

Uma delas é sobre a vida do meu amigo Sérgio.

Após tanta luta, quando começou a recolher os frutos da sua persistência, perdeu a vida num acidente idiota no qual foi vítima fatal.

Prefiro guardar na minha lembrança a imagem do menino engraxate que alegrava a “Esquina do Kibon!” 

23/10/2020


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

TREVO NA AV. LUIZ GIAROLA.

 TREVO NA AV. LUIZ GIAROLA.

O Capitalismo selvagem tornou as pessoas insensíveis no respeito ao cidadão e passou a usar do dinheiro como arma para promover atos de selvageria urbana.
Moro na Av Luiz Giarola 3570. Aqui vai meu endereço sem nenhum receio de retaliação, quer seja de parte do poder público, quer por parte dos administradores de um condomínio construído com objetivos unicamente financeiros preterindo o bem estar e modus vivendi da comunidade pacífica do bairro das Águas Santas.
Quando comprei o terreno onde hoje é minha casa, optei pelo lugar silencioso em frente a uma floresta com bioma próprio e com grande reserva de árvores nativas, surgidas de uma antiga plantação de eucaliptos há muitos anos desativada após seu terceiro corte.
Ali viviam vários tipos de animais silvestres como tatu, lagartos, macacos, cobras e vários tipos de aves como tucanos, gaviões: pernaltas como seriemas e saracuras.
Isso tudo desapareceu sob a esteira de assassina de tratores poderosos que em pouco tempo destruiu aquilo que a natureza levou séculos para construir.
O dinheiro e a avareza não tem sensibilidade e nem coração.
No lugar dessa obra da natureza está sendo construído um condomínio moderno, daqueles que aquartelam a sociedade diferenciada dita elitizada.
Muros altos que nem olhar dos mais humildes podem devassá-lo, enfim, tudo indiferente e artificial.
Paralelo a todas essas aberrações, não se sabe a que custo? Em frente ao portão da minha residência, exatamente em frente, construíram um trevo de acesso ao monstrengo de asfalto e concreto.
Sei que meu direito é do portão da minha casa para dentro, porém não concordo com a conivência e leniência do poder público permitir uma agressão ao patrimônio de quem sofre a taxação pesada de Imposto Territorial anualmente.
Com uma frente quilométrica para a avenida Luiz Giarola o condomínio escolheu fazer o monstrengo do trevo em frente à minha porta quando tinha opção de faze-lo em outros locais.
Vai aqui meu protesto e minha indignação, mesmo sabendo que num país sem lei temos que concordar com a "força do progresso".
Espera que tenham sucesso no empreendimento, pois minha tristeza acabará brevemente no meu descanso derradeiro.
22/10/2020

domingo, 18 de outubro de 2020

O CANTOR

 O CANTOR

Nas minhas andanças por este mundo sem fronteiras, sempre fui chegado ao botequim. Ali todos se abraçam, se beijam, se respeitam ou não respeitam, algumas vezes saem no tapa, enfim, um lugar ultra democrático, mas tem uma coisa muito respeitada e que acaba com qualquer discussão e todos o reverenciam que é o violão.
Quando entra o violão na conversa, o tom e o som do barulho diminuem drasticamente e o tocador se torna figura respeitável no boteco.
Minha relação com esses menestréis sempre foi admirável, como diziam os antigos "amizade de trançar pratos".
Normalmente oriundos da periferia das cidades, tem uma vida difícil e fazem do seu dom em tocar violão, uma forma de angariar algum dinheirinho para sua manutenção e suas pingas, como participante quase diário de suas vidas de necessidades, sempre os ajudo a divulgar seus trabalhos.
Assim foi que uma pessoa de certa posse, sabendo da minha intimidade com esses tocadores, pediu que levasse um deles à sua residência, pois adorava serestas e que remuneraria seu trabalho.
Pensei logo no mais necessitado dos violonistas e levei-o até o local previsto.
Uma boa e confortável casa que abrigava naquela noite, muitos amigos do anfitrião que havia feito propaganda do "fulano", famoso na cidade, iria fazer uma "tocada" lá.
Quando chegamos, muito bem recebidos,alguns aplaudiram e encheram os copos.
Fiquei feliz com a recepção e por ter encontrado entre os comensais, vários amigos de minhas relações boemias.
Nosso violonista, possuidor de ótima voz, para esconder sua inibição, deu um acorde no violão e anunciou que cantari ADEUS uma composição da época da morte do Francisco Alves ou Chico Viola.
Empunhou o violão e mandou:
- " ADEUS, ADEUS, ADEUS O I T O LETRAS QUE CHORAM!"
Passou despercebido pela maioria, no final, como gozava de grande amizade do amigo, após ter recebido a remuneração pelo seu trabalho, discretamente dentro do carro, informei-o de que ADEUS se escreve com cinco letras e não oito!
Agradeceu-me e paramos num boteco pra tomar mais duas "chavetadas" como dizia o nosso querido "Mangão".
18/10/20
Pedro Parente

terça-feira, 13 de outubro de 2020

DOMINGO DE SOL.

 Domingo de sol

Certo domingo num “sol de quase dezembro”, Violeta precisava se concentrar para executar para o almoço no fogão de seu apartamento, uma de suas delícias que deveria ser saboreada de joelhos. Maçã ácida, fettuccine e molho de camarão.

Para não se distrair, pediu ao Flavio que levasse suas duas princesinhas à praia.

Flávio relutou um pouco, pois amava jogar seu vôlei na praia nos finais de semana. Pensou e chegou a conclusão que o sacrifício era justo, afinal as meninas estavam a fim de um banho de mar e o almoço seria uma comunhão, porém sabia que não poderia se descuidar das crianças.

Quando Flávio chegava à rede de vôlei com toda sua simpatia e o sorriso cativante, a turma parava e muitas vezes aplaudia.

Naquele domingo não foi diferente! Todos o queriam do seu lado, no seu time.

Percebi a situação de indecisão do meu querido amigo e me prontifiquei a levar as meninas para o mar enquanto ele jogava.

Tomei as meninas Flávia e Renata pelas mãos e fomos até o mar que naquele dia estava calmo. Ficamos brincando na beirinha numas poças comuns naquele trecho da praia.

Foi então que notei a presença de um monumento de mulher de pé com água nos tornozelos com um olhar embevecido em nossa direção. Não demorou para que estivesse fazendo parte de nossa rodinha nadando de mãos dadas conosco.

Linda moça! Seus olhos verdes pareciam muito com os da Renatinha. Porte elegante, cabelos louros naturais e bem tratados.

Meu coração bateu a mil. Disse-lhe alguma coisa bonita r fui recompensado com um belo sorriso.

Já sai da praia acompanhado e com o programa feito para a noite.

Encontramos em frente ao edifício dos Jornalistas. 

Apresentou-se num traje tão exuberante que me senti um andrajo.


terça-feira, 6 de outubro de 2020

LAMBRETAS

 

 


 LAMBRETAS

Naqueles “Anos Dourados” o Rio de Janeiro era um charme e o Hotel Copacabana Palace cobiçado pela maioria do “Jet Set” internacional.

Por lá passaram reis, rainhas, atores de Holywood, play boys internacionais e etc...

Copacabana tornara-se a “Princesinha do Mar” na voz de Dick Farney, Lúcio Alves e Cil Farney fazia sucesso no cinema contracenando com Fada Santoro.

Havia um bar famoso na NS de Copacabana em frente à rua Inhangá que vendia (na moita) calças contrabandeadas Lewis, azul; branca, Lee. Só para aqueles que tinham bala na agulha ou papai rico.

Os sapatos masculinos eram fabricados de couro cru sob medida por um sapateiro habilidoso chamado Mota que se instalou em uma lojinha na NS de Copacabana próximo ao Cinema Bruni. Conquistou tanto sucesso que teve que expandir seu negócio e trocou de nome para Loja do Motinha e posteriormente Motex, já mais sofisticada.

Copacabana não dormia, tanto que o Bar Bico no Posto 6 não tinha portas. Durante a noite servia chopes e salgados, quando amanhecia mudava o cardápio e virava para “média com pão e manteiga” fresquinhos.

Acompanhando o clima charmoso do Rio, surgiram as Lambretas importadas da Itália. Verdadeiras joinhas cobiçada por toda juventude, porém usada por poucos moços abastados.

Tornou-se uma febre!

Não demorou muito tempo para que os rapazes proprietários dessas cobiçadas motonetas passassem a se reunir no bar Snack na rua Sá Ferreira. Ficavam ali fazendo pose de artistas. Uns de sapatos do Motinha, calças Lee, jaqueta de couro e todos com os cabelos emplastrados de brilhantina Glostora.

A noite saiam em bando e iam exibir suas máquinas e seu charme pessoal, desfilando pela avenida beira-mar. Iam até o final da Av Delfim Moreira no Hotel Leblon e voltavam pela outra pista.

Aquilo foi aguçando a curiosidade na “Turma do Jornalistas” edifício famoso na Av Ataulfo de Paiva 50.

A turma não era menos famosa, pois na 14ª DP no Jóquei, havia um mapa dependurado na parede com o contorno da jurisdição da mesma. Lá um X vermelho marcava as turmas de esquina comuns à época. No caso da turma do Jornalistas ao invés de um insignificante X havia uma enorme bola vermelha.

Não era para menos, a turma era muito grande, pois compunha a rapaziada que habitava o conjunto de três prédios compostos por dois blocos com dezesseis andares cada um.

Um dos líderes dessa imensa turma, Sérgio “Lacerda” (devido a semelhança fisionômica com o Corvo) era uma das pessoas mais espirituosas e molecas que já ouvi falar. Sempre pensando em fazer “arte” nada que prejudicasse alguém. De bom caráter e ótima cultura.

Numa noite de verão, muita gente na roda, o “Lacerda” convocou a turma para ir à beira mar.

Chegando lá, na hora dos motoqueiros passarem, expos o plano. Distribuiu a turma, metade na calçada da praia e a outra no jardim central que divide as pistas.

Tudo combinado, lá vem os boys. Passaram na direção do final do Leblon e a rapaziada fingindo que “não tô nem ai”, na verdade morrendo de inveja se preparou para a volta.

Não deu outra.

Lá vem os caras! Faróis acesos numa velocidade de passeio, vieram se aproximando e a turma posicionada, metade de um lado outra metade do outro.

Quando estavam bem próximo o “Lacerda” gritou:

- AGORA!

E os dois lados fizeram menção de puxar uma corda imaginária entre eles, esticando-a no meio da pista.

Foi um tal de meter o pé no freio, uns desviando dos outros que se tocavam.

Quando perceberam que não havia nenhuma corda, ficaram com cara de tacho. Alguns quiseram encarar, mas pelo volume da turma, desistiram e aceleraram o que puderam saindo dali no limite da máquina.

Acabou o corso de Lambretas no Leblon!

06/10/20

Pedro Parente