sexta-feira, 20 de maio de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
AJUDA AO PLANETA
AJUDA AO PLANETA
Nasci em 1940.
De lá para cá muitas coisas mudaram. Umas para melhor e, a maioria, para pior.
A rua era lugar de criança brincar, jogando pelada com bola de meia, soltando pipa, bolinha de gude e, como disse Ataulfo Alves na sua linda melodia Tempos de Criança: “jogo de botões pelas calçadas/ eu era feliz e não sabia”.
Hoje isso é impossível.
Não existe mais terreno baldio onde a garotada dava preferência para suas peladas. Ali ficavam protegidas, pois a pelada não era interrompida para passagem de ciclistas, carroças ou algum raro automóvel.
As coisas eram mais simples.
Na ida à taberna comprar alguma mercadoria para casa, tínhamos que levar nossa sacola de pano onde se agasalhavam os produtos normalmente embrulhados em “papel de açougue”.
Na taberna as mercadorias como açúcar, sal, arroz e feijão, eram guardados em um grande depósito de madeira, com tampa e eram pesadas à vista do freguês numa balança de dois pratos.
Havia figuras românticas que faziam parte do nosso cotidiano, hoje algumas extintas. Quem não se lembra do funileiro, aquele que consertava panelas de alumínio; do amolador de facas, tesouras e outros utensílios domésticos; do carvoeiro que entregava carvão a granel na porta de nossas casas; o leiteiro que entregava leite em casa no vasilhame próprio, um vidro de
Na minha velha Belém, lá na Cidade Velha, havia uma figura lendária com o apelido de Ioiô.
Era um vendedor ambulante. Vendia mingau de farinha de tapioca e de milho branco, chamado lá para aquelas bandas de munguzá. Transportava duas enormes panelas em um carrinho de mão. Levava, também, uma lata d’água onde lavava as cuias que servia o mingau.
Passava sempre à noite por volta das 21 horas.
Não me sai da memória sua voz suave e melancólica dentro da noite anunciando:
- VAI PASSANDO O IOIÔ!
As pessoas corriam com suas vasilhas para comprar suas delícias.
Nada disso gerava lixo. O planeta agradecia.
Quanta saudade!
A vida seguia mansamente.
Ninguém tinha pressa.
A herança desses hábitos me parece ter sido assimilada de nossos ancestrais europeus, especialmente dos portugueses.
O tempo passou.
O Brasil deixou de ser um país europeizado.
Ao abdicar dessa maneira sensata de viver, nos entregamos aos desvairo do consumismo praticado pelos estadunidenses.
Hoje é tudo descartável.
As gerações futuras morrerão asfixiadas pelo lixo, principalmente pelo lixo plástico.
Protestando com essa situação e dando vazão ao meu inconformismo, hoje quando compro alguma coisa que posso carregar sem uso da maldita sacola plástica, o faço.
Não me conformo, por exemplo, com os barbeadores descartáveis feitos de plástico.
A fim de fazer minha parte ajudando o planeta, estou me barbeando com meu antigo aparelho que troca somente a lâmina de aço, facilmente absorvida pela natureza.
Convoco as pessoas de bom senso que o façam.
A natureza agradecerá.
Pedro Parente
pedroparentester@gmail.com
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
MEMÓRIA
Memória, essa nossa companheira inseparável que nos acompanhará na nossa trajetória de vida. As vezes amena, em outras severa, porém, sempre melancólica e triste.
A medida que o tempo passa, nosso arquivo da memória aumenta.
Quando menino, nossa memória não ultrapassa os dez anos, mas na velhice ocorre o contrário. São dezenas e dezenas de anos acumulados cheios de recordações e principalmente de saudades.
Infeliz do homem sem memória.
Pensava Marcel Proust, romancista francês: “ O mundo é a idéia que cada qual tem dele, e, assim a vida tem que ser vivida através da memória, pois só no passado é que se encontra a essência da personalidade. A memória funde a experiência do passado, que não está morto, mas apenas em estado latente, e precisa ser reacordado, unido-se ao presente.” ( Enciclopédia Barsa ).
Pois é.
Concordo plenamente com Proust, e assim é que sempre estou fazendo incursões pelo labirinto da minha memória em busca de respostas no passado para problemas do presente.
É intuitivo sempre buscarmos lembranças alegres, deixando as mais tristes em um arquivo separado num cantinho do inconsciente.
Todos têm uma concepção do fato de envelhecer.
Eu, particularmente, não tenho dúvida, de que o maior tesouro que levamos no decorrer dos anos é a nossa própria memória, que alguns preferem chamar de experiência.
Por esses meandros, voltei até 1959.
Dia de regata na baia de Guajará em Belém do Pará.
Festa.
A baia enfeitada de pequenas embarcações engalanadas, decoradas com bandeiras multicolores.
Nas grandes barcaças vindas do Mississipi, e de propriedade da Port of Pará, impulsionadas por aquelas imensas rodas traseiras, muito conhecidas nos filmes de New Orleans, ali aconteciam grandes bailes durante a realização da regata. Cada clube alugava a sua.
Tudo com muito glamour, com direito ao suave balanço da maré e à brisa vinda do leste.
Não imaginava o que me esperava, naquela manhã festiva.
Minha guarnição de remo, composta de quatro remadores e um timoneiro, correria dois páreos, sendo que num deles o troféu vinha sendo disputado haviam 19 anos. A posse definitiva só aconteceria no caso de três vitórias consecutivas, que era o caso daquela manhã.
Eu estreava na posição de voga, aquele que sob a orientação do timoneiro, comanda o ritmo das remadas. Nossa guarnição estava muito bem preparada. Nosso forte era a remada picada, rápida.
Alinhamos. A baia estava revolta. Foi dada a partida e eu caí num ritmo lento de remada para reservar as forças para o final.
Nosso timoneiro não orientou corretamente, porém quando percebi que não havia mais ninguém atrás de nós, alterei o ritmo.
Já era tarde. Perdemos o páreo. Foi a maior decepção da minha vida no esporte.
No páreo seguinte, com os mesmos concorrentes, ganhamos com sobra.
De um páreo para o outro já estava mais maduro. Havia aprendido a lição que minha memória me ensinou.
O esporte é, sem dúvida, um grande conselheiro. Com ele aprendemos a conviver pacificamente com sucesso e derrota.
Uma parte da minha personalidade e do meu caráter foi fundida com a prática do esporte, que exigindo muito do físico, não abre espaço para outros caminhos que degeneram a juventude, principalmente as drogas.
Pedro Parente