quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

PADRE LOPES


 PADRE LOPES

Numa pacata cidade do interior de Minas chamada São Sebastião da Vitória distrito de São João del-Rei, morou o Padre Lopes.

Uma pessoa lendária, mesmo porque fora responsável pela ampliação da capela tendo a transformada em matriz por autorização do bispo de Mariana.

Era uma unanimidade entre todos cristãos ou não, pela sua simpatia e comunicabilidade!

A casa paroquial a qual habitava era em frente a igreja. Confortável onde atendia os membros carentes da comunidade e também seus amigos e comensais que como ele eram apreciadores das boas bebidas e comidas. Era tradicional o frango ao molho pardo acompanhado por uma boa pinga local sem rótulo e tampada com sabugo de milho.

Muitas vezes as espórtulas destinadas à igreja lhes eram trazidas em forma de galinhas, porcos e outros animais domésticos assim sendo sua mesa era sempre farta.

Eis que em determinada época a inexorável marcha do progresso mostrou sua presença atingindo a cidadezinha calma e pachorrenta.

Foram instaladas torres altíssimas para uso da Embratel como repetidoras de sinal de TV. No final das torres, lá em cima já entre nuvens, um circulo enorme de metal côncavo deixou a população intrigada.

A cidade que já era calma, parou. Todo mundo com o olhar fixo naquela estrutura gigantesca. 

Os diagnósticos eram os mais variados. Alguns até diziam que era pra localizar discos voadores.

Mas, como em todo lugar tem alguns mais observadores e críticos que outros, os dois compadres se encontraram na porta do botequim e enquanto mastigavam pão de queijo, confabulavam num bom dialeto mineiro do interior.

- Ô Sô! Esse padi Lopes é danado! Ninguém agora nos arto da montanha, podi dizê qui num uviu a missa dele, ó o tamanho dos arto-falante qui ele botô!

Vida que segue!

28/01/2021

Pedro Parente


domingo, 24 de janeiro de 2021

TRANSPLANTE

TRANSPLANTE
Corria uma história lá entre a turma da equina da qual eu participava, que um certo morador da cidade muito vaidoso, de repente ficou careca. 
Para ele foi a morte. Não se conformou. 
Resolveu implantar cabelos com o intuito de pelo menos, disfarçar a calvície, para isso tornou-se econômico até em demasia e passou a ser qualificado como “Careca Pão Duro”.
Após muito tempo de sacrifício, conseguiu amealhar o capital suficiente para a execução do transplante, porém, esse procedimento não era feito em sua cidade e teria que ser em Juiz de Fora que possui mais recursos técnicos.
E lá se foi nosso careca entusiasmado com a vitória de ter conseguido o dinheiro e voltar cheio de cabelos na testa sobre os olhos.
Internou-se na clínica e lá ficou o tempo necessário para o implante e adubagem na expectativa das mudas vicejarem. 
O tempo exigido passou e algumas toiças já se consolidavam no couro cabeludo quando recebeu a visita de um amigo da sua cidade.
De alta programada para a parte da tarde e na expectativa de economizar o dinheiro da passagem de ônibus, convenceu o amigo a espera-lo.
De tarde, após a alta da clínica, montaram em uma Brasília usada e pegaram a estrada rumo à casa.
Viagem tranquila, conversa animada, o motorista distraiu-se e deu um golpe agudo na direção do veículo.
No acidente, o recém implantado desmaiou com um corte na cabeça exatamente no local do transplante.
Desacordado, deu entrada no hospital. 
Obedecendo ao procedimento de rotina para esses casos, o enfermeiro imediatamente, munido de um aparelho de barbear e sabão com espuma, raspou todos os cabelos em volta do ferimento.
Já suturado após o atendimento, ainda na maca, despertou.
Levou a mão a cabeça. Sentido o enorme curativo no local do implante, desmaiou novamente.
Salvou a vida, mas perdeu o dinheiro a vaidade e continuou como “Careca Pão Duro”. 
A vida é madrasta!
23/01/2021
Pedro Parente

sábado, 16 de janeiro de 2021

PASTELARIA OK

 PASTELARIA OK.


Em São João del-Rei no quarteirão da “muvuca” onde antigamente, devido à concentração de bons bares e da Cantina Calabresa, havia um em especial, que atraia a atenção das pessoas a Pastelaria Ok. Nome sofisticado para a época quando não era comum estabelecimento com expressões de outras línguas em seus anúncios. Um baiano desavisado achou que OK era Zero Kilometro!

Ali era uma comunidade formada por pessoas de diversas qualificações isentas de preconceitos e por isso mesmo todos viviam em harmonia.

O estabelecimento era pequeno. Tipo uma garagem de automóvel, um retângulo de porta larga. Um balcão pintado de azul marinho e fechado na frente por vidros transparentes que serviam com expositor, aliás, ali só me lembro de ter visto uma caixa de chicletes que permaneceu intacta até o fim do estabelecimento. Nunca foi consumido um único Chicletes os frequentadores não faziam uso a preferências era o pastel. Seis pessoas lotavam o bar e pela marca do cotovelo do freguês, já se sabia de quem era aquele lugar

Tornou-se famoso pela qualidade dos pastéis fritos na hora, apenas de queijo, carne moída e pela pinga com mel feita pelo proprietário Pedro Pasteleiro que passou a ter a alcunha como sobrenome.

Cidadão correto, trabalhador, falava baixinho e de pouca conversa, porém muito respeitoso e atencioso. Abria o estabelecimento cedinho e começava sua lida esticando a massa em um par de rolos mecânico até ficar finíssima. Trabalhava sem ajudante, eventualmente seu pai. Chegava pilotando sua Rural impecável. Até hoje deve estar do mesmo jeito.

Devido sua posição no quarteirão, possuía uma peculiaridade, servia de ponto de observação das moças descuidadas que saíam do colégio das freiras com seus uniformes de saia de alças e blusa que ao chegarem ali, eram surpreendidas por um vento indiscreto colocando suas vestes íntimas expostas aos olhares cobiçosos dos transeuntes e frequentadores do bar.

Entre os frequentadores haviam dois padres. Um negro alto e forte, óculos de grau verde com arco de casco de tartaruga, admirado e querido de todos. Só usava batina cinza, aliás, raridade. O amigo dele e nosso também, era mais requintado, andava à paisana e fumava com piteira.

Num desses dias passou caminhando displicentemente pela calçada do bar, uma morena de vestido curto e o corpo escultural em cima de dois sapatos de salto alto provocativa deixando a moçada alucinada. Logo todos correram para a porta da pastelaria a fim de curtir mais um pouquinho aquele show de sensualidade.

Os dois vigários, solidários com a turma também foram “pescoçar” aquela visão que poderia ser da virgem, ou não!

Sem perceber, a moça virou a esquina e desapareceu.

Os dois sacerdotes se entreolharam e um deles falou, em bom “minerês”:

- Uai cumpadi. Si num tivé céu nós levô manta!

- Pasteleiro. Bota mais uma!

16/01/2021

Pedro Parente.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

REGATA

 REGATA

No final da década de 50, Belém vivia tempos românticos embalada por canções inesquecíveis e com resquícios de cidade europeia.

O cais do porto, havia sido construído por empresa inglesa de capital privado e com direito à exploração do mesmo sob nome de “Port of Pará”. 

Com essa expansão vieram algumas modernidades entre elas novos navios vindos de vários países, pois nossa indústria naval de grande calado, praticamente não existia. 

Nessa leva vieram dos Estados Unidos grandes barcaças de dois andares movidas por rodas d’água instaladas na popa que foram protagonistas de muitos filmes feitos no rio Mississipi chegadas por lá em 1850.

Eram de baixo calado e por isso mesmo não corriam risco de encalharem nos rios amazônicos de baixa profundidade.

Quando chegaram, o brasileiro não perde o censo de humor, às apelidaram de “chatas” pois não tinham quilha, o fundo delas era liso.

As regatas de barcos a remo, esporte trazido, também pelos ingleses e absorvidos pelos brasileiros, ali em Belém, as datas para competições eram combinadas de acordo com a lua e a força da maré que deveria começar a encher pela manhã por volta das nove horas.

Pois bem, cada clube alugava sua “chata” a enfeitava toda, distribuía os convites. No dia marcado elas ancoravam próximo a raia da competição e começava a festa. 

Bebidas a vontade, as pessoas muito bem vestidas bailavam ao som da orquestra de baile que dava o chame do acontecimento. Quando os páreos estavam correndo, faziam soar seus apitos a vapor dando impulso aos atletas. Uma festa!

Numa dessas regatas nossa guarnição composta de quatro remadores e um timoneiro, disputava um troféu havia dezenove anos e seria posse definitiva para o meu clube do Remo no caso de vitória.

Meu pai conseguiu tirar minha mãe de casa e a levou em seu barco para assistir minha participação visto que ele fora atleta emérito do Remo.

Nossa guarnição estava na “ponta dos cascos”, porém, eu iria correr pela primeira vez na voga, posição do remador que dá ritmo às remadas na embarcação além do mais com o remo de bombordo ao qual não tinha hábito. Conclusão: inexperiente.

Demos a largada e eu entrei num ritmo que não era o nosso, tentando deixar as reservas físicas para a chegada.

Quando percebi não tinha ninguém atrás de nós, estávamos fechando a raia. Acelerei o ritmo, ultrapassamos alguns, mas não deu para chegarmos em primeiro lugar.

Foi a maior desilusão da minha vida! Após 62 anos ainda sonho com isso até hoje. Chorei no rebocador até chegar o páreo seguinte.

Fomos correr contra as mesmas guarnições adversárias e mais uma representando Manaus.

Demos a largada no ritmo ao qual estávamos acostumados. Chegamos em primeiro lugar deixando o segundo colocado havia uma distância de cinquenta metros.

O esporte é uma escola. Nos ensina a perder também.

Pela vida afora, acumulei várias derrotas e parcas vitórias, mas não perdi a cabeça! 

Aprendi muito!

14/01/2021

Pedro Parente