quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

JUÁ

 JUÁ

Quando o Leblon ainda tinha muitas lembranças do seu antigo casario que começava a ser demolido para dar lugar aos requintados arranha-céus, ainda se mantinha como cartão postal na subida da Avenida Niemayer no final da Delfim Moreira o impávido Hotel Leblon. Ponto de referência de todos nós.
Não havia túnel, o acesso à São Conrado e Barra era feito através de uma sinuosa e perigosa estrada que contornava a montanha.
Na metade do caminho tinha um aconchegante barzinho preferido pelos casais enamorados donde assistiam ao por do Sol.
Não havia nada mais romântico do que o Juá, só que o acesso além de perigoso era frequentado por clientes motorizados.
Eu era louco para ir até lá.
Primeiramente teria que ter uma companhia condizente, com meu salário irrisório teria que resolver dois problemas, a companhia e o dinheiro.
Vida seguindo e eu com aquela ideia na cabeça até que um dia de emprego e desemprego fui trabalhar em um Banco. Ali resolvi os dois problemas, comecei a namorar a secretária do presidente do estabelecimento. Passo seguinte um empréstimo.
A moça tinha situação financeira melhor que a minha e possuía uma Kombi novinha, veículo de trabalho do pai dela. Arquitetei meu plano e num momento de audácia, convidei-a para irmos ao Juá assistir o pôr do Sol.
Comprei roupa nova, brilhantina Glostora nos cabelos, sapato mocassim e com um certo tremor nas pernas, sentei no banco do carona e fomos direto ao Juá sem antes ter passado por alguns sustos naquela via estreita e sem sinalização.
Já vi meu Brasil por vários ângulos, porém aquela tarde foi inesquecível. Tivemos o privilégio de assistir o Sol entrar no mar com nossos corações acelerados de tanta emoção.
Bebericamos uns drinks especiais da casa e a noite caiu de vez. Naquele enlevo perdemos a hora. Já cansados, paguei a conta e fomos ao carro.
Surpresa! Pneu furado!
Lá fui eu trocar pneu! Me lambuzei todo de graxa. Tive vontade de chorar, pois não havia pago nem a primeira prestação do crediário.
Por fim acho que deixei boa impressão, pois namorei a moça por algum tempo. Ela progrediu mais do que eu e passou a desfilar num programa de TV chamado Noite de Gala.
Somos bons amigos até hoje.
Lembranças!
20/12/2023
Pedro Parente
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Pedro Parente

domingo, 17 de dezembro de 2023

LARGO DA SÉ

 


 

LARGO DA SÉ

Esse primeiro prédio de dois andares foi construído pelo meu avô materno oriundo de Portugal que trouxe consigo suas irmãs e bastante dinheiro. Seguiram os passos de nosso “Rei Fujão” pelo mesmo motivo: medo do comunismo.

É uma grande construção confinando seu fundo com a Baia de Guajará onde foi construído, também um trapiche para atracação de sua lancha Leopoldina que transportava gêneros de sua propriedade no Alto Rio Guamá. Na parte de baixo do prédio acontecia a administração e o refeitório da família, Na parte superior haviam dois grandes salões de festas onde eram comemorados aniversários e datas especiais como o Círio de Nazaré, Natal e Ano Novo.

Eram lindas festas! Delas participavam autoridades e a alta sociedade paraense.

Os tempos passaram e aquele prédio serviu de abrigo para sua família até que o Quartel ao lado resolveu se apossar daquela área indenizando a família de forma irrisória.

Restaram lembranças maravilhosas dali.

O prédio foi construído no Largo da Sé, da catedral de onde sai todos os anos a extraordinária procissão do Círio de N.S.de Nazaré padroeira de Belém.

Na família aquele prédio era chamado de Sobrado ou a “Casa da Dindinha” onde minha tia Maria morava com suas irmãs. Por ser professora, na parte de baixo fundou o Externato Barroso que administrava o Curso Primário. Lá estudei, claro que levei vantagem sendo sobrinho da professora...

O Largo era ornado por várias e frondosas mangueiras centenárias. Uma de cada qualidade. Nunca vou esquecer o canto alegre dos bem-te-vis que lá se alimentavam daqueles frutos deliciosos.

A noite Dindinha me levava pelas mãos para a as novenas da Sé onde ela fazia parte do coro entoado as musicas sacras. Na saída um bom sorvete de frutas regionais.

Exausto de tanto brincar nada melhor que uma boa rede e um sono inocente e reparador. Na parede um quadro com a imagem de Santa Terezinha que com seu olhar acompanhava meus balanços.

Só alegria!

17/12/2023

Pedro Parente

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LARGO DA SÉ

  

LARGO DA SÉ

Esse primeiro prédio de dois andares foi construído pelo meu avô materno oriundo de Portugal que trouxe consigo suas irmãs e bastante dinheiro. Seguiram os passos de nosso “Rei Fujão” pelo mesmo motivo: medo do comunismo.

É uma grande construção confinando seu fundo com a Baia de Guajará onde foi construído, também um trapiche para atracação de sua lancha Leopoldina que transportava gêneros de sua propriedade no Alto Rio Guamá. Na parte de baixo do prédio acontecia a administração e o refeitório da família, Na parte superior haviam dois grandes salões de festas onde eram comemorados aniversários e datas especiais como o Círio de Nazaré, Natal e Ano Novo. 

Eram lindas festas! Delas participavam autoridades e a alta sociedade paraense. 

Os tempos passaram e aquele prédio serviu de abrigo para sua família até que o Quartel ao lado resolveu se apossar daquela área indenizando a família de forma irrisória.

Restaram lembranças maravilhosas dali.

O prédio foi construído no Largo da Sé, da catedral de onde sai todos os anos a extraordinária procissão do Círio de N.S.de Nazaré padroeira de Belém.

Na família aquele prédio era chamado de Sobrado ou a “Casa da Dindinha” onde minha tia Maria morava com suas irmãs. Por ser professora, na parte de baixo fundou o Externato Barroso que administrava o Curso Primário. Lá estudei, claro que levei vantagem sendo sobrinho da professora...

O Largo era ornado por várias e frondosas mangueiras centenárias. Uma de cada qualidade. Nunca vou esquecer o canto alegre dos bem-te-vis que lá se alimentavam daqueles frutos deliciosos.

A noite Dindinha me levava pelas mãos para a as novenas da Sé onde ela fazia parte do coro entoado as musicas sacras. Na saída um bom sorvete de frutas regionais.

Exausto de tanto brincar nada melhor que uma boa rede e um sono inocente e reparador. Na parede um quadro com a imagem de Santa Terezinha que com seu olhar acompanhava meus balanços.

Só alegria!

17/12/2023

Pedro Parente

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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

BAIRRO DA VILA

 BAIRRO DA VILA

O bairro principal da ilha de Mosqueiro, chama-se Vila que concentra o comércio onde todos vão buscar mantimentos para o suprimento de suas casas, por não ter geladeiras para conservar perecíveis, as compras teriam que ser diárias. Por isso aquele local era a parte mais movimentada da cidade, antes do almoço.

Dois amigos Rauland e Mansur sonorizaram a praça usando cornetas alto-falantes fixadas nos postes da “rede elétrica”. Não se perdia nenhuma música gerada em um estúdio precário no quiosque da prefeitura. Muito trabalhoso, pois tudo era feito manualmente. Acabava um LP que hoje chamam “bolachão”, entrava a voz impostada de um dos sócios fazendo reclame do patrocinador. Era época dos “Anos Dourados” e as músicas muito românticas, algumas vindas de Cuba e do Caribe, criavam um clima propício ao namoro e as paixões arrebatadoras dos jovens corações adolescentes.

Havia um salão de danças, comum à época, chamado Praia Bar. Ali os dançarinos exibiam seus passos requintados com suas hábeis damas. Quem não soubesse dançar somente assistia com inveja. Nesse ofício era exigido muita destreza.

É comum nesses arrabaldes seus tipos inesquecíveis. Cada qual com sua peculiaridade; fazia parte desse grupo a Paula. Uma mulher generosa. Ela acolhia aqueles boêmios que prolongavam a esbórnia. Os acolhia em sua casa servindo a eles uma sopa substancial, acompanhada pela “marvada pinga” Com eles amanhecia o dia participando ativamente das conversas. Por ter se prostituido cedo possuía grande experiência no trato com a turma. Não fazia distinção com ninguém e não havia abuso. Todos a respeitavam e acarinhavam. 

Ali havia uma figura muito querida com o apelido de Manteiga. Na época das férias mudava-se de sua casa em Belém para a casa da Paula em Mosqueiro. Trazia a roupa do corpo, a rede e um calção de banho que não tirava durante o tempo que estivesse por ali como hóspede.

Meu amigo Napoleão, companheiro de juventude e que passava as férias conosco, lembrou da “Sopa do Padre Serra”. De padre não tinha nada, a não ser o nome, talvez porque recuperasse o estado normal daqueles que erravam a mão na pinga durante a madrugada.

Cinco da manhã íamos deixar o papai na Vila para pegar o navio que o levava a Belém para trabalhar. Quando voltávamos a pé para casa teríamos que levar temperos e peixes para o almoço, porém antes, uma generosa sopa no Pe. Serra. Não podíamos esquecer de levar o pão para a mamãe.

Após o café da manhã sob austera administração da mamãe, maré cheia, água fresca e uma boa pelada na areia. 

Depois, lauto almoço. Normalmente peixe fresco e de sobremesa um bom açaí. 

Uma boa sesta numa rede na varanda recebendo a brisa fresca vinda das bandas do Marajó.

Não percebia que a vida passava e a felicidade não é perene.

13/12/2023

Pedro Parente


segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

VILA DE MOSQUEIRO

 

VILA DE MOSQUEIRO

No dicionário Mosqueiro significa local de muitas moscas, porem a origem do nome dado à ilha, onde passei parte da minha infância, está relacionado a Moquém, uma grelha de paus sobre o lume onde se assam ou secam peixes.

Os índios que ali habitavam  tinham o costume de se reunirem na praia, todos da tribo e promoviam uma imensa pescaria. O produto, normalmente, de bastante volume, contendo quantidade abundante de peixes de todas as espécies. Cabia às mulheres a tarefa de limparem as vísceras e brânquias do pescado. Sendo grande quantidade, a tribo teria que secar os peixes que abasteceriam a aldeia por algum tempo.

Na praia erguiam os moquéns promovendo a secagem. Até hoje por lá se usa o termo “peixe moqueado” que corresponde a “peixe defumado”.

Sendo uma ilha escolhida pela elite, tornou-se muito procurada por turistas que dali fizeram seu passeio de férias e finais de semana. Construíram seus adoráveis chalés de madeira em seus arborizados quintais, cada um mais bonito que o outro.

Por se tratar de ilha sua comunicação e abastecimento com o continente era feita por via marítima. Sua porta de entrada, um trapiche enorme baía adentro onde encostavam embarcações e, principalmente o navio a vapor que trazia moradores e veranistas.

Nas generosas férias escolares o movimento da ilha crescia demais, mantendo as devidas proporções. Ruas de terra, apenas um pequeno ônibus que fazia duas viagens, uma quando o navio chegava e outro quando ia embora.

Ali na frente junto ao trapiche todos chamavam o bairro de Vila, onde tinha o Mercado Municipal. Em frente várias barraquinhas onde as artesãs locais comerciavam seus deliciosos e singelos produtos culinários  como mingaus, tapioquinha, café e mil e uma quitandas

Na minha inocência, achava que ali era o céu!

A tarde tradicionalmente é a hora do tacacá. Um tipo de caldo quente de origem indígena consumido na cuia. Feita com goma de polvilho, tucupi que é o suco extraído da mandioca brava, jambú uma folha que deixa a boca meio anestesiada e camarão seco.

Uma delícia insuperável!

Num quiosque da Prefeitura Tia Raimunda servia em sua banca o tacacá mais famoso e saboroso por isso mesmo muito disputado. Tia Raimunda de seus quarenta anos e talvez cento e cinquenta quilos, sorriso franco, turbante na cabeça, querida de todos. Com todos esses predicados tornou-se conselheira espiritual dos jovens desencantados com seus efêmeros namoricos. Em volta de sua banca tinha sempre uma alegre roda de rapazes e moças alegres como um bando de maritacas.

Tempos felizes!

11/12/2023

Pedro Parente

 

 

 

 

 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

MOSQUEIRO

 MOSQUEIRO

Não sei em que século, a Amazônia na região norte do Brasil, houve uma ‘corrida em busca do tesouro”, no caso, tratava-se da borracha extraída de uma planta, a seringueira, nativa daquela região. 

Iniciava-se a explosão industrial com o Henry Ford, nos Estados Unidos, fabricando automóveis em série. Equipados com quatro pneus e um sobressalente aqueceu em demasia o consumo da borracha.

Logo chegaram os empresários, na maioria portugueses, para explorar aquele nicho de mercado. Adquiriram imensos latifúndios, empregaram ribeirinhos e nordestinos que fugiam da seca num regime de escravidão sujeito a todo tipo de intempéries e doenças tropicais como malária, febre terçã, impaludismo causando a morte de um exército de temerários. 

Os patrões logo multiplicaram seus lucros. Muitos cometendo exageros perdulários chegando a queimar dinheiro. Contam que para fazer bonito na presença de cortesãns acendiam charutos cubanos com uma cédula de quinhentos mil reis, a maior da época.

Junto com esse esbanjamento vieram boas novidades como a arquitetura de casas requintadas que algumas recebiam o nome de palácio. A cidade de Belém foi premiada com esse casario. Ainda existem alguns remanescentes de muito bom gosto. Distingue-se aqui o belo Teatro da Paz que abrigou a apresentação das maiores empresas de espetáculo daquele tempo.

Essas famílias abastadas devido ao calor tropical inclemente, gostavam de sair e usufruir de igarapés ou praias de areia. A moral era severa e os patriarcas não gostavam nem um pouco de expor suas mulheres e filhas ao olhar indiscreto de outros banhistas. Elegeram a Ilha de Mosqueiro sua predileta. Ali levaram a opulência de grandes chalés de madeira de lei com arte rebuscada nos detalhes do alpendre.

De colônia de pescadores aquele povoado passou a ser muito procurado por veranistas, tornando-se famoso. Apesar dessa frequência endinheirada até hoje não perdeu seu apodo de “Bucólica”. 

Sendo uma ilha seu acesso era somente via marítima. Tinha um navio ainda a vapor, que fazia o trajeto partindo de Belém. Chegava ao cair da noite em Mosqueiro e voltava de madrugada levando os trabalhadores.. 

Meu pai trabalhava para um banqueiro muito rico que veio de Portugal com sua família fugindo do “comunismo” que comia crianças. (hoje matam as crianças e não comem. A noite estão orando na sinagoga ou na Meca).

Nós éramos cinco irmãos. O terceiro foi atacado por uma moléstia chamada beribéri. A medicina era incipiente. Meus pais desesperados foram aconselhados pelo médico da família a leva-lo para Mosqueiro, pois o clima de lá talvez o salvasse.

Meu pai adquiriu um terreno na Praia Grande e lá construiu uma casa avarandada onde assistimos o milagre da recuperação de meu irmão Guilherme  

As férias escolares gozávamos as delícias daquela aldeia. Eu e meus irmãos passamos a fazer parte da família daquela gente humilde e hospitaleira. Eu era mais um entre eles.

Maré baixa era hora da pelada. Aproveitávamos que a areia ficava certinha. Fincávamos dois sarrafos marcando a trave e o pau quebrava. Os pescadores adultos participavam também. Não tinha nada de aliviar. Certo dia o Chinês errou a bola e acertou a canela do Adamor. Jogo interrompido. Canela quebrada. 

Naquela semana Adamor não pescou. Chinês foi no seu lugar com Crisóstomo e Chico buscar os peixes.

07/12/2023

Pedro Parente