domingo, 24 de maio de 2020

MEDITAÇÃO


MEDITAÇÃO.


Chuva mansa caindo aqui na Colônia tempo cinzento, umidade alta, a serra escondida entre nuvens baixas reflete no âmago da minha alma me tornando taciturno e meditabundo.
Sem outra opção, me entrego ao monólogo com o teclado do computador procurando um ombro para repartir meu abatimento também motivado por uma obrigatória reclusão.
O pensamento vagueia por tempos pretéritos quando os músculos e as articulações ainda funcionavam em sua plenitude me brindando com uma disposição incrível e alegria de viver sempre sorrindo e vivendo a vida de forma intensa.
Apesar disso busco sempre bons momentos. Tempos felizes!
Recentemente encontrei um site do prédio em que morei dez anos no Rio de Janeiro e encontrei alguns remanescentes de minha época e outros descendentes de antigos companheiros com os quais dividi o prato e o copo.
Cheguei a perder o sono de emoção de tê-los encontrado após tantos anos. Gargalhamos demais relembrando as brincadeiras no Edifício dos Jornalistas no Leblon na década de sessenta.
Porém, existe um pensamento de um mestre chinês, talvez Confúcio que aconselha não voltar ao lugar onde se foi feliz.
Na ânsia de encontrar a todos, estabeleci contato com o mais criativo dos moleques que conheci. Moleque no bom sentido.
Liguei para ele com o coração quase saindo pela boca de emoção. Fui recebido por uma voz soturna e intermitente. Lembrou-se de mim e deu uma notícia desanimadora que estava cego e que na sua trajetória de vida havia perdido seus três filhos.
Desmoronei!
Mesmo assim insisti, conversando com outra  amiga soube que perdeu o filho de 43 anos afogado na praia em Arraial do Cabo.
Tragédia!
Fiquei na dúvida se valeu a pena.
Antes tivesse ficado com a imagem de felicidade deles quando convivíamos naqueles tempos.
Agora que a chuva parou, vou despertando do meu sonho efêmero ao lugar onde fui feliz, tentando me ater somente aos bons momentos,
Minha cachorra pachorrenta também desperta do seu sono aconchegante à beira do “fogão de lenha” e vem em minha direção fazendo festa, parece até que viajou comigo.
Juntos vamos à mesa porque ela sabe que sempre lhe será servido um pequeno manjar.
Uma pinga, feijão com torresmo e uma boa costelinha de porco, encerro meu domingo, a final também tenho direito.
Uma boa soneca e se não me incomodarem, nos veremos na segunda.
Bom domingo.
24/95/2020
Pedro Parente,

terça-feira, 5 de maio de 2020

SAMBA NA CRUZADA


SAMBA NA CRUZADA.
Na nossa rede de vôlei na praia tínhamos amigos de todo tipo, entre eles o Sabará que eu admirava muito e fizemos uma amizade porreta.
Num sábado, chegou e falou que dona Ana sua patroa tinha feito uma feijoada e mandou me convidar. Pra reforçar o convite falou que a "fulana" uma morena cor de canela perfeita, parecia uma boneca de madeira feita no torno por Leonardo Davinci, estaria lá.
Antecipamos o final da nossa participação na rede e rumamos para o ap do Sabará.
Fomos recebidos pelo carinho de Dª Ana e suas três crianças.
Para aumentar o espaço exíguo do conjugado, as camas eram de armar e ficavam presas à parede.
A radiola com os Lps ao lado da nossa mesa. Mesinha de duas tábuas de um metro, suficiente para colocar o prato do tira gosto.
Pinga pra lá, cerveja pra dentro o samba foi esquentando.
A morena sambava com manimolência e me deixava louco.
No auge do samba, Dª Ana aos berros:
Carlinhos (Sabará) as crianças estão lá em baixo e os meninos estão trocando tiros!
Sabará desceu alucinado e gritou para os meliantes:
Para!
Pararam de atirar. O Sabará pegou os dois filhos no colo, e falou:
Podem continuar!
O samba reiniciou e "entre mortos e feridos salvaram-se todos!"
05/05/2020
Pedro Parente.

domingo, 3 de maio de 2020

O CARECA

36 min · Público
O CARECA.
Houve um tempo em que o lotação Estrada de Ferro/Leblon fazia ponto em frente ao Hotel Ipanema do Jesus casado com a Fany morador do B2 905 (?).
O Hotel era em frente ao Jorna na esquina.
Os motoristas vinham fazer lanche ou tomar um café, no bar do Seu Antonio debaixo do A2.
Entre eles havia um "gente boa", já meio coroa que se chegou na rapaziada e gostava de arrastar um papo da malandragem tipo Bezerra da Silva.
Muito legal o cara! Logo levou o apelido de "Careca".
Eu e Maurício curtíamos muito ele.
Numa noite erramos a mão no bar do Seu Antonio que era nosso reduto principalmente no final do mês onde os trocados já haviam terminado e fomos ficando.
Não tínhamos alternativa! Dali para a cama.
Eis que entra o Careca pra tomar café.
  • Senta aqui! Vamos tomar uma!
  • Só vim tomar um café pois já vou recolher. Tenho que ir pra garagem em Vicente Carvalho!
  • Vou tomar só um conhaque!
  • Um conhaque ninguém toma, principalmente quando senta se à mesa. Conhaque é pra tomar em pé no balcão. E assim foi um, mais um e outro.
  • Lá pras tantas Seu Antonio já abrindo a boca querendo dormir, sentimos que estava na hora de fechar a conta.
  • Eu e Maurício ainda tínhamos gás pra queimar e juntos não ia dar certo.
  • Tínhamos uma amiga que gostava de aventuras perigosas. Era seu prazer. Desprovida de preconceitos. Gostava de viver no fio da navalha.
  • Sempre disponível a convidamos para irmos passear de lotação. Aceitou imediatamente. Era nossa amiga mas eventualmente nos amava. (Quero fazer um aparte: o Maurício não estava namorando ninguém).
  • Pegamos um litro de rum e uma mortadela fatiada, fiado no seu Antonio e fomos fazer turismo em Vicente de Carvalho já de madrugada.
  • O Careca fechou a porta do lotação e eu e Maurício fomos revezando satisfazendo os prazeres da moça. Quando descansava dava uma tragada no rum e mandava pra dentro um pedaço de mortadela.
  • O Careca dirigia lentamente e ia contando sua vida sofrida para o que estava de plantão ao seu lado.
  • Olha! Vicente de Carvalho é longe! Até hoje não sei para que lado fica.
  • Finalmente chegamos à garagem.
  • Já era muito tarde ou cedo? Chegou a vez do Careca.
  • Não sei porque falou que já era muito tarde e a patroa estava esperando, saiu batido mas antes avisou ao vigia que nós estávamos lá dentro do lotação.
  • Acabamos de tomar o rum, destruir a mortadela e dormimos ali mesmo.
  • Dia seguinte. Sol a pino. Saímos os três sob o olhar de censura dos motoristas chegando pra trabalhar.
  • E agora? Onde estamos? Não fazíamos ideia!
  • Sem nada no bolso. Duro num local inimaginável. Garotão da Zona Sul em Vicente Carvalho? Não dá! Hoje seria um mico.
  • Só tem uma saída!
  • TAXIIIIIIIII ! Nos leva no Leblon!
  • Seu Antonio me dá um dinheiro pra eu pagar o táxi.
  • Na hora!
  • Beijinho, beijinhos e até já!
  • 03/05/2020
  • Pedro Parente