segunda-feira, 29 de março de 2021

ROTATÓRIA

 Em frente ao portão da minha casa na avenida Luiz Giarola 3570 construíram uma rotatória que é um monumento ao mau gosto para a engenharia urbana, além do perigo que expôs os transeuntes.

Grande parte da avenida não tem meio fio e os pedestres são obrigados a usar o leito da avenida para caminhar.
Com uma iluminação medíocre já aconteceram vários atropelamentos fatais.
No caso da rotatória, desviaram o tráfego da avenida para uma entrada de condomínio.
O que era uma avenida passou a ser via secundária.
Creio que tudo de acordo com as normas de tráfego da engenharia municipal.
Pois bem, ontem de madrugada um cidadão endinheirado, transformou seu automóvel caríssimo em avião.
Não viu aquela aberração no meio da estrada e entrou com tudo, nem marca de freios no chão deixou.
Segundo soube, o bólido estava trafegando a 180 kmh.
Simplesmente decolou!
Parece que o piloto não tinha prática em aterrissagem, foi largando os pedaços daquela preciosidade pelo caminho.
Tinha até jardim de para-choques!
Minha cunhada e minha nora tinham entrado havia alguns minutos.
Espero que os acidentes por aqui não compitam com as mortes pelo vírus do COVID.
27/03/21
Pedro Parente.

sábado, 27 de março de 2021

31 DE DEZEMBRO

 31 DE DEZEMBRO



 

Vivíamos os “anos dourados” década de 60 no Rio de Janeiro.

O obscurantismo se mantinha recluso nos esgotos e submundo. A alegre população da cidade que a cognominou de Cidade Maravilhosa, tinha vistas  para as alegrias de carnaval e também do futebol. 

O povo era muito feliz e eu tive a graça de viver aqueles tempos apesar da ditadura.

O carnaval ainda era realizado na Av Rio Branco e tive a oportunidade de ver mil e quinhentos figurantes do Bloco Bafo da Onça fantasiados de um traje de onça e tamanco de madeira, batendo os pés marcando o compasso do samba 

De arrepiar!

O outro adversário de destaque era O Cacique de Ramos, também deslumbrante.

O Centro do Rio exorbitava na construção de arranha-céus: Edifício Menezes Cortes, Marquês do Herval, De Paoli e o famoso Avenida Central que surgiu no lugar do badalado Café Nice onde a alta boemia se reunia e que serviu de inspiração para um lindo samba do Chico Anísio.  

Dentre as inúmeras efemérides comemorativas, havia uma espontânea da qual todos trabalhadores da região central do Rio participavam, a chuva de papel picado n dia 31 de dezembro, o derradeiro dia do ano velho!

Emocionante!

O ápice da festa era meio dia quando se encerrava o expediente dos escritórios. 

Haviam alguns que colecionavam papel picado durante o ano todo para participar com euforia daquela festa contagiante. 

Eu ficava extasiado pelo clima que envolvia a todos, de fato uma Confraternização Universal! Todos se abraçavam e acarinhavam. Muitos escritórios promoviam um sambão da pesada com direito a uísque e outros bichos mais.

Houve anos em que eu era bancário, tinha que participar da festa e voltar para o trabalho, pois teria que contabilizar os juros nas contas dos clientes que eram remunerados com 1% aa de juros. 

Saíamos do Banco de madrugada, exaustos!

Era comum no último dia do ano os correntistas presentearem a nós funcionários com uma lembrancinha, normalmente uma garrafa de bom vinho, naquele dia o Sr Osvaldo T. judeu que tinha um comércio de pedras preciosas decidiu nos presentear com dinheiro em espécie. Pela ética do Banco somos proibidos de aceitar.

O subgerente contestou com o homem, porém ele não cedeu e ameaçou tirar a conta da agência.

Deu um envelope fechado para cada um de nós com uma quantia suficiente para uma boa ceia de fim de ano, porém o dinheiro foi parar na semana seguinte nos cabarés da Rua Alice.

Numa dessas datas, adiantamos nosso serviço nas contas correntes e saímos do Banco às 15 horas.

Tomei um táxi levando comigo algumas garrafas de vinho presenteadas pelos clientes.

O motorista um moço de seus trinta anos levou-me até o Garden Bar no Leblon onde eu fazia ponto. Convidei-o para sentar-se à minha mesa. Concordou, sentou-se e sorvemos todas as garrafas que eu havia levado e mais algumas de propriedade do bar.

Às 23horas pediu licença para cear com sua família e me deixou só, continuei minha ceia com os garçons de plantão.

Adorava o Rio e vivia intensamente seu fetiche!

27/o3/2021

Pedro Parente.

 




segunda-feira, 22 de março de 2021

REFORMA MACABRA DA PREVIDÊNCIA.

 REFORMA MACABRA DA PREVIDÊNCIA.



 


Segundo as mais recentes estatísticas, esta semana atingiremos a marca de 300 mil mortes por COVID 19.

Segundo as mesmas 96% das vítimas eram pensionistas do INSS.

Se consideramos a grosso modo, sem cálculos sofisticados que uma parte continuará recebendo em forma de hereditariedade e que alguns ganhavam mais de um salário mínimo, chegaremos a um valor que o Governo Federal deixará de desembolsar a favor dos beneficiários. 

As mortes não cessarão, consequentemente os valores, também aumentarão para regozijo sinistro do governo maquiavélico que comanda nossa infeliz nação.

 


Atualíssimo Rui Barbosa sabia de que falava, parecia premonição.

Nosso país entregue nas mãos de um genocida permite que aconteçam milhares de mortes que poderiam ser evitadas.

Não existe um poder da República ocupado por pessoas de bem que possa salvar nosso povo e nossa Nação!

Melancólico nosso destino!

Os invasores que aqui chegaram dizimaram, estupraram, seviciaram e cometeram toda sorte de crimes hediondos contra a heroica nação nativa, implantaram na nossa cultura o ódio e a indiferença pelos nossos semelhantes.

A maioria não tem olhos para o desespero de um chefe de família ao ver os filhos chorarem de fome. 

Toda prosperidade será em vão se existir um só ser humano que não tenha direito de se alimentar.

Inacreditável que uma parte dos habitantes do Brasil, fanáticos, sigam essa alma das trevas que veio para infelicitar nosso país.

“BRASILEIRO PROFISSÃO ESPERANÇA.”

A maioria de nossa gente acredita que sobreviveremos.

Faço parte dela, tenho esperança de rever no próximo verão, minhas paineiras floridas!

23/03/2021

Pedro Parente


sexta-feira, 19 de março de 2021

VER O PESO


 

VER-O-PESO.

O Mercado Ver-o-Peso ou Mercado Municipal Bolonha de Peixe ou Mercado de Ferro ou somente Ver-o-Peso, é um mercado público inaugurado em 1625, pertencente ao Complexo do Ver-o-Peso, situado na cidade ... Wikipédia

No início dos anos 50 o destino quis que fossemos morar na doca do Ver-o-Peso cartão postal de Belém do Pará

É um sobrado de três andares que corresponde em tempos modernos talvez a um prédio de 4 ou cinco andares tal a altura do pé direito, isto é, a distância entre o piso e o teto da casa. Sendo Belém muito quente, debaixo da linha do Equador as casas eram construídas de maneira que fossem ventiladas.

Minha mãezinha já me parecia velhinha, hoje ultrapassei os anos de sua vida em que me presenteou com sua presença. Era uma pessoa inteiramente dedicada às tarefas da casa.

Formou-se em professora e também, na Escola de Belas Artes e com isso tornou-se excelente pintora de telas.

Dela minha herança se compõe a saudade e uma tela que presenciei sua feitura.

Na sala do sobrado a vi rascunhar a vista exposta à nossa frente através da janela do último andar.

Em um cavalete com a tela, palheta, pincel e suas mãos habilidosas ia dando vida e cores à sua obra.

Era comum pedir para eu ir ao Armazém Âncora comprar bisnagas de tinta que ainda lembro da exigência das marcas: verde Águia, azul Le Franc e etc...

Na minha inocência de menino, intrigado, acompanhava ela transportar para a tela uma visão detalhada daquilo que estava à nossa frente, inclusive incluindo meu pai de pé apoiado em um guarda chuvas.

Quando faleceu fui ao seu enterro e num canto da casa encontrei aquela tela enrolada e esquecida.

Trouxe-a comigo. Restaurei-a e coloquei numa moldura que hoje é meu altar onde me penitencio por tê-la deixado e vindo correr mundo.

Parece que ainda sinto o cheiro das tintas e o aroma do talco que usava feito de pau d’Angola sentada na sua tradicional cadeira de palinha.

Obrigado mãezinha!

19/03/2021

Pedro Parente

 

 

 

 

segunda-feira, 8 de março de 2021

A LIDA DIÁRIA.

 


A LIDA DIÁRIA

Acabei de tomar café, cedo para aproveitar meu dia de férias na ilha de Mosqueiro no Pará, uma colônia de pescadores onde nos integrávamos, pelo menos durante quatro meses nas férias escolares.

Soprava uma brisa fresca das bandas do poente, meia maré vazante, do alto do barranco avistei Adamor, Crisóstomo e Chico três intrépidos pescadores com as peles embrutecidas pela lida do dia a dia, enfrentando aquele marzão de água doce, arrastando sua canoa de falcas altas e por isso mesmo pesada, com destino à água.

O objetivo era buscar o peixe, alimento para suas famílias. Iam despescar o espinhel feito de várias cabaças de flutuação, uma corda de bacalhau onde eram amarrados vários anzóis iscados. Nas pontas, duas âncoras.

Deixavam de um dia para o outro. Quando eram felizes na pesca, tiravam o alimento da família e o restante era vendido aos ilhéus e veranistas. 

Para comunicar que tinha peixe para venda, usavam um pequeno chifre de boi com um furo onde sopravam ecoando um som alto e rouco pela ilha a fora.

Todos corriam para pegar a melhor parte. Para o final já não prestava, normalmente só a carcaça e a cabeça que serviam para sopa.

A vazante acabou, fenômeno que ocorre de 6 em 6 horas com 8 minutos de baixa mar e 8 minutos de preamar, começou a enchente quando a água corre do mar para dentro do rio. Nessa hora virou o vento Geral vindo do Leste com grande violência. 

O mar tornou-se perigoso demais.

A tarde foi se acabando dando lugar às sombras lúgubres da noite. 

As famílias dos pescadores começaram a chegar cheias de preocupação com o destino deles.

A noite caiu por inteiro. Nem sinal da embarcação.

O desespero tomou conta das famílias. Colocaram velas dentro de cuias e lançaram ao mar. Diziam que quando a cuia parasse na superfície da correnteza, ali em baixo no fundo da baia estava o corpo de um náufrago.

Nada aconteceu. As mães levando suas crianças pelas mãos não sabiam o que responder à pergunta inquietante delas:

- Cadê papai?

A Praia Grande chorou! A buzina do peixe silenciou!

Nunca mais soube-se do paradeiro de nossos queridos amigos.

Guardo suas imagens numa pelada disputada na areia da praia. É a maneira carinhosa que encontrei de jamais esquecê-los.

08/03/2021

Pedro Parente.




quarta-feira, 3 de março de 2021

CASA DE CABOCLO

 CASA DE CABOCLO


Dentre as histórias que ouvi meu amigo Flávio contar tem uma interessante que vou dividir com vocês.

Outrora quando a vida passava lentamente os recursos eram escassos, as pessoas tinham que se virar e fazer uso de sua intuição e criatividade para sobreviver.

Eram tempos românticos onde sobressaiam os cantores com suas vozes poderosas. 

A turma de compositores desconhecidos descia o morro com suas poesias muitas vezes escritas no papel de embrulhar pão e tentava a sorte oferecendo aos cantores de sucesso.

As transações eram feitas na porta da Gravadora Odeon na rua Visconde de Inhaúma, no Café Nice na avenida Rio Branco ou na loja de instrumentos musicais Guitarra de Prata na rua da Carioca.

Uma tarde já próxima ao final de semana, um lusitano aflito procurou e encontrou o Luís Peixoto próximo à Guitarra de Prata e lhe contou que estrearia uma casa de dança sábado na Tijuca e que pagaria por uma música inédita para sua inauguração. 

Luís confirmou lhe que por coincidência tinha a música pronta em sua casa., que não se preocupasse na hora combinada estaria lá. Tudo combinado preço e hora, despediram-se.

Luís correu atrás do Hekel Tavares que também era pianista e compositor e foram filar um piano numa casa que os vendia situada em frente ao Obelisco da Avenida Rio Branco e me parece que se chamava Carlos Weiss, próximo à Espaguetilândia. 

Começaram do zero, pois o Luís não tinha música nenhuma. A inauguração seria no dia seguinte.

No dia e hora marcados chegou o Luís com a música. Aproveitaram o nome da casa de dança e compuseram uma das joias da música popular brasileira CASA DE CABOCLO.


03/03/2021

Pedro Parente.


terça-feira, 2 de março de 2021

TIO GALILEU

 

 

TIO GALILEU.

Quando vim para o Rio de Janeiro, trouxe no bolso entregue pelo meu pai, o endereço de seu primo Gladstone que à época da guerra haviam servido como soldados no Regimento Sampaio.

Morava na Rua Farahni em Botafogo e formara-se em médico psiquiatra catedrático da UFRJ.

Durante os anos que ali morei, fiz parte de sua encantadora família. Era rotina nos finais de semana, atravessarmos as Barcas para Niterói e rumarmos para Iguaba Grande no interior do Estado do Rio, próximo à Lagoa de Araruama onde o Gladstone possuía uma boa casa de veraneio.

Gladstone era filho do Tio Galileu irmão de meu avô Garibaldi. Morava no Andaraí numa casa baixa.

Era um personagem do bairro, todos o admiravam e reverenciavam por ser muito receptivo e ágil, tanto que se orgulhava de saltar do bonde ainda em movimento.

Tio Galileu gostava de ser chamado de “Voltaire”. Era intelectual e ao contrário do resto de sua família não quis ficar em Abaetetuba, me parece que era piloto da Marinha Mercante e estabeleceu-se inicialmente em Fortaleza. Possuía dotes extra sensoriais, praticava o espiritismo e era vidente.

Certa noite, o Gladstone convidou-me a visita-lo em sua casinha. Recomendou-me que não falasse que seu irmão Garibaldi havia falecido.

Feita as apresentações, tio Galileu perguntou pelo Garibaldi, seu irmão. Informei-o de que estava bem e lhe mandava lembranças.

- Estranho! Há dias passou aqui, despediu-se de mim e comunicou que já estava indo!

Coisas do imponderável!

02/03/2021

Pedro Parente

 

segunda-feira, 1 de março de 2021

Dª CELUTA

 Dª CELUTA.

Tornou-se tradição aos sábados à tarde nossa pelada entre atletas de final de semana, para essa prática, escolhemos um campinho à margem direita do Córrego da Água Limpa no bairro operário da Vila Santa Cruz em São João del-Rei.

O campinho pertencia ao Siderúrgica Futebol Clube que o administrava precariamente com recursos de alguns abnegados. Muita dificuldade, tanta que era cercado apenas com arame farpado e a grama aparada pelo apetite dos vorazes pangarés de carroceiros associados.

Com o incentivo das peladas os vizinhos começaram a participar da torcida e também dos times escolhidos ali na hora. O movimento foi aumentando a ponto de vender chupe-chupe geladinho para a torcida o que já era um avanço.

Não existia vestiário, trocávamos de roupa debaixo de uma árvore de cedrinho sob olhares furtivos de algumas moças mais audaciosas. 

Após o jogo, suados, pulávamos todos no córrego que já naquela época, tinha cheiro de querosene vindo canalizado de um posto de gasolina na redondeza resultado da lavação de autos com produtos químicos

Certo dia um problema parou o jogo. 

A bola caiu no telhado da Dona Celuta moradora que fazia divisa com o campo. Ela prendeu a bola e xingou a todos nós ostensivamente. Alguns mais revoltados devolveram as agressões com palavrório rasteiro e aí tive que intervir.

- Calma!

Me dirigi até aquela velhinha negra com as faces sulcadas pelas intempéries de muitos anos vividos e ouvi suas queixas.

Convidou para que entrasse em sua minúscula casinha de dois cômodos. Uma sala de chão batido com um fogão de lenha, um catre e um espaço exíguo do banheiro com vaso sanitário. O banho que tomava era com água tirada manualmente do córrego e não tinha luz elétrica. A iluminação era feita por lamparina. 

Protegemos a casinha dela com alambrado de arame após recompormos o telhado, evitando que a bola não mais quebrasse suas telhas. 

Instalamos água encanada e luz elétrica vinda de nosso Padrão para não onerar a pobre senhora.

Certo dia, quando sentado em uma cadeira na pista do Posto de Gasolina conversando com meu amigo Kito, surge Dª Celuta com seu andar socado, com vestidinho de chita e um belo embrulho nas mãos adornados com um grande laço de fita dourado. Trêmula, entregou meu presente de Natal.

O melhor da minha vida!

Uma bela camisa social que guardei anos a fio como troféu por ter participado de um momento de alegria daquele doce e grata criatura, invisível aos olhos dos poderosos.

01/03/2021

Pedro Parente.