sábado, 28 de junho de 2008

O ÚLTIMO SERESTEIRO.

O ÚLTIMO SERESTEIRO

Dia 30 de setembro de 1930, nascia em Congonhas do Campo no distrito de Lobo Leite, talvez hoje, o último seresteiro da época romântica de São João del-Rei ALDO LOBO LEITE. Filho de Dagmar de Souza Lobo e José Lobo Sobrinho, este tocador de vários instrumentos musicais de sopro.
Cedo, mudaram-se para a cidade de Jeceaba, onde Aldo passou a infância e parte de sua juventude, tendo estudado em Congonhas e Belo Horizonte.
Possuidor de uma voz peculiar e inconfundível, Aldo Lobo é uma pessoa de personalidade forte e grande talento musical demonstrado quando se acompanha ao som de seu pinho.
Em 1955, já com 25 anos de idade Aldo veio trabalhar na Delegacia da Receita Estadual de São João del-Rei.
Sua primeira residência foi no Hotel Brasil.
Recém chegado saiu à noite para dar uma voltinha na rua e encontrou seu amigo Roberto Santos, o Roberto do Senai com quem compôs varias canções seresteiras, entre as quais a que mais ele gosta chama-se Última Canção, e ressalta que a frase mais feliz é: “... agora nada restou/ agora tudo acabou/ somente esta canção ficou.”.
Com seu talento e sua voz, não faltava convites para serenatas e saraus em todos os lugares.
No auge da Rádio Nacional, o Oranice Franco, ilustre radialista são-joanense que produzia todos os dias A Crônica da Cidade na voz de César Ladeira e também, o próprio Guiaroni responsável pelas novelas; cogitaram de levar o Aldo para a Rádio Nacional.
Logo desistiram da idéia, pois como amigos, sabiam que o Aldo cantava por prazer e não iria ficar preso a compromissos comerciais.
Conta o Aldo que naquela época ele fazia serenata para as freiras e as moças do Colégio Nossa Senhora das Dores. Como não podiam aparecer davam sinal através das luzes que adornavam a santa em seu nicho, piscando intermitentemente.
Freqüentador do Clube dos Sargentos e da boêmia, não lhe faltaram bons companheiros e grandes músicos, como Augusto do Espírito Santo Cardoso, Roberto Santos, Paulo da Clarinda, Zé Feio, Almeida, Lozinho, Valdemarzinho, Frank Caputo e muitos outros.
Casou-se com Maria Antonieta Diláscio Teixeira que todos a chamam carinhosamente de Nieta. Produziram quatro filhos Aldinho (falecido), Flávio, Chico e Rodrigo.
O Chico é o nosso querido músico, compositor, exímio tocador de viola caipira Chico Lobo, admirado e reverenciado por todos nós, orgulho de São João del-Rei. Possuidor de grande sucesso, já lançou seu 5° CD e está de malas prontas para Portugal, onde juntamente com o lusitano Pedro Mestre, recuperam lá o prestígio da viola caniça um tanto esquecida.
No lançamento do primeiro CD do Chico Lobo no teatro municipal de São João del-Rei, o Aldo teve uma participação especial cantando com seu filho, tendo sido ovacionado pela platéia presente num reconhecimento claro ao seu talento e sua voz.
Em um dos CDs do Chico, Aldo participa da música Saudade Matadeira, tendo sido aplaudido de pé no Palácio das Artes em Belo Horizonte.
Que nosso companheiro Aldo fique com agente, ainda por muito tempo.

Pedro Parente
pedroparentester@gmail.com

Causos do Lalado.

"CAUSOS" DO LALADO

No bairro do Bonfim aqui em São João del-Rei, existe uma barbearia de um mestre no ofício de cortar cabelos e, também contar “causos”.
Aconselho àqueles que sofrem de depressão ou de tristeza que experimentem um corte de cabelo ou uma barba com o Lalado.
Tenho certeza que o cidadão sairá de lá, muito mais leve, não só aparentemente com o corte do cabelo, como sairá leve por dentro ao ouvir um causo contado por esse especialista em retratar as figuras do cotidiano.
Num desses dias, fui lá acertar as pontas daquilo que restou da minha cabeleira e contou-me que, em outros tempos, havia um verdureiro na Praça do Bonfim.
Seu estabelecimento era simples, porém muito sortido. Tinha uma peculiaridade, a pinga era da melhor qualidade. Com isso, tinha uma freguesia cativa.
Numa manhã de inverno, uma rapaziada da pesada, filinhos de papai, começou a beber e tirar o gosto com tomate, outros com laranja e mexerica.
Lá pelas tantas quando o consumo da marvada pinga já era exagerado, iniciaram uma guerra de frutas, uns contra os outros.
A coisa tomou grandes proporções e foi parar no meio da rua destruindo o estoque do pobre verdureiro.
O Zé Honorato, um cidadão negro e sestroso, motorista de profissão, pois dirigia um caminhão velho que de tão velho a carroceria tinha somente o assoalho, as laterais e o fundo não existiam mais. O capô não tinha as travas, de maneira que quando o caminhão andava, o capô levantava e caia dando-nos a impressão que aquilo era a boca de um enorme jacaré, ainda mais que a boléia era verde surrado pelo tempo.
Zé Honorato conservava o sotaque de carioca e exagerava nos xis. Isso era sua marca registrada.
Naquele dia subia o morro a pé com destino à sua casa para “traçar uma mistura”, olhou aquela confusão: melancia, laranja, mamão, tomate, tudo voando. Não se fez de rogado e continuou seu caminho dentro de sua calça de linho e blusa branca social.
Ao aproximar-se daquele tumulto, levou um tomate maduro no peito, manchando sua blusa branca de vermelho.
Correu em direção à barbearia do Lalado e lá entrou esbaforido. Sentou-se numa cadeira, pos a mão na mancha vermelha na altura do peito e falou:
“-Lalado , essssssstou ferido, levei um tiro nosssssss peito”. Caprichando no sotaque.
O Lalado muito velhaco, a fim de testar o Zé, disse-lhe:
- Agüenta mão que vou chamar a ambulância.
Zé Honorato deu um salto da cadeira e falou:
- Não precisa meu amigo, a patroa é enfermeira ela faz o curativo com essssssparadrapo.

Pedro Parente
pedroparentester@gmail.com