domingo, 20 de novembro de 2016

LEMBRANÇAS

Lá, por volta de 1962, cheguei ao Rio de Janeiro, oriundo de Belém do Pará.
Ainda se respirava o romantismo dos "Anos Dourados".
Tempos maravilhosos!
Até os tiroteios na Cruzada São Sebastião, eram  inocentes.
Num sábado a tarde, meu amigo Sabará, amigo de fé, me levou juntamente com mais dois amigos da praia,   ao seu apartamento onde morava com Dª Ana, sua esposa e mais três filhos.
Devido ao tamanho do apartamento, as camas das crianças dormirem, eram embutidas na parede.
Mesmo com essa exiguidade toda arrumava-se espaço suficiente, pra rolar um samba de primeira qualidade.
Dª Ana tinha umas amigas... de dar água na boca. Corpo torneado, pouca roupa, suor de esguicho, samba no pé e sorriso cativante.
Tudo de bom!
Feijão gordo com farinha e cachaça que jorrava em abundância.
Só alegria!
Eis que, de repente, estampido de tiros lá debaixo, pois estávamos no segundo andar.
Dª Ana aflita desgrenhando os cabelos, gita pelo Carlinhos, nome pelo qual atendia o Sabará:
- As crianças estão brincando lá em baixo!
Desce todo mundo numa correria desabalada.
Sabará aos berros:
- Para com isso aí!
Os obedientes meliantes, assim procederam. Pararam de atirar de detrás das pilastras.
Sabará passou as mãos nas crianças retirando da área de perigo e mandou:
- Podem mandar bala!
Protegidos pelos pilares do prédio, cada hora era um que atirava.
Devido o preço da munição e sem ninguém ferido o tiroteio não foi longe, porém o samba foi madrugada a dentro. Sem bronca dos vizinhos nem dos "homens" do pisca pisca vermelho.


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