TRABALHO BRAÇAL
Na década de 70 durante a época do “Milagre Brasileiro”, o Governo Federal do alto da sua incompetência e corrupção, criou a Ferrovia do Aço – a obra dos mil dias.
Seu traçado passava próximo a São João del-Rei, tornando-se assim uma excelente cidade como ponto de apoio para engenheiros e funcionários da administração das empreiteiras executoras da obra.
A cidade foi invadida. Os aluguéis de casas e apartamentos dispararam. Todos lucraram, como o comércio em geral e proprietários de imóveis. Os bares, a noite, ficavam lotados.
Dentre os vários engenheiros com quem convivi, um deles, contou-me que sua empreiteira pegou uma obra no Iraque, lá no meio daquele deserto insólito.
Para trabalhar naquelas condições inóspitas, era comum buscarem mão de obra barata e que suportasse o calor do deserto, então iam ao interior do nordeste onde a seca sacrificava seus habitantes que pediam socorro e os recrutavam.
Certa feita, numa dessas empreitadas, dois amigos, dando graças pelas vagas, aceitaram o serviço. Se despediram e foram para o aeroporto.
Muito desconfiados entraram no avião, sentando-se um ao lado do outro.
Seu contrato de trabalho era para fazer massa, isto é, misturar o cimento, areia e brita. Um serviço braçal extenuante.
Depois de muito voar atravessando o Atlântico, o avião se preparou para aterrissar sobrevoando o campo de pouso no meio do deserto com imensas dunas.
Os dois, olhando pela janela e vendo aquelas montanhas de areia, um deles falou naquele sotaque carregado do sertanejo:
- SEVERINO! QUANDO CHEGÁ O CEMENTO NÓIS TÁ FERRADO!
03/02/2023
Pedro Parente
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