sábado, 9 de agosto de 2008

GERALDO PATUSCA

São João del-Rei, cidade da música.

Segundo o mestre Abgar Campos Tirado, “um instrumento de certa forma pouco acessível no que tange a música erudita, goza, entretanto, em nossa São João del-Rei, de bastante popularidade. Trata-se do violino...” a quem nosso mestre Abgar, em sua matéria para o Jornal da ASAP classifica-o, carinhosamente, como “Um porta-voz da beleza”.
Esse instrumento para ser executado, requer muita habilidade, sensibilidade e vigor físico no trato com o arco.
Com tantos requisitos especiais impostos aos que a ele se dedica, nossa cidade foi presenteada, entre outros, com esse virtuoso Geraldo Ivon da Silva, o GERALDO PATUSCA.
Nascido no Tejuco a 10 de julho de 1916 completou recentemente 92 anos de vida voltada à música.
O cognome Patusca, advém do local próximo a Dores de Campos, chamado Arraial Patusca onde se originou sua família. Filho de João e Maria Albertina da Silva, aos 10 anos de idade ganhou das mãos de seu pai um violino modesto que o guarda com muito carinho.
A relação de intimidade entre o executor e o instrumento, é de amor fraternal. Geraldo se empolga quando relata algumas histórias sobre seu violino.
Numa delas, conta, que aos 11 anos, quando estudava violino com o maestro João Pequeno no Largo do Rosário, lá aprendia, também, uma aluna já mais adiantada e pertencente à uma família muito rica, que se encantou com a afinação e o som de seu instrumento. Ela fez uma proposta para comprá-lo por um alto preço, porém, Geraldo não hesitou em negar-se a vender-lhe, pois o violino representa o seu maior tesouro.
Conversando animadamente, disse que precisa de dinheiro, porém se lhe oferecessem R$ 5.000,00 ainda assim não se desfaria do seu velho amigo.
Na sua memória, mantém viva a lembrança do local em que passou sua infância lá no bairro do Tejuco e sente muito não ter sido preservado.
Se Deus lhe desse o dom de pintar, faria uma tela daquele lugar.
Lembra-se que possuía um portão largo e lá dentro um terreno grande com várias casas esparramadas à sombra de frondosas árvores. Chamavam de aldeia ou vila. Ali as crianças brincavam despreocupadas no terreiro de chão batido.
Infelizmente sobreviver financeiramente da música é para poucos privilegiados pela mídia.
Geraldo Patusca vive modestamente no que chama de “meu château”- (palavra francesa que significa castelo e que foi muito usada nos anos 30/60) no antigo Beco do Salto, próximo à igreja do Carmo.
Exerceu o ofício de alfaiate e aposentou-se como funcionário do Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier, onde trabalhou durante 33 anos, sendo admitido inicialmente, como afinador.
Foi também, durante vários anos, espala da Orquestra Lira Sanjoanense, onde ingressou em 15 de setembro de 1930.
São tantas as histórias de uma vida longa que seu relato, sem dúvida, daria um belo livro de muitas páginas, porém, o que impressiona é não falar de tristeza. Em nenhum momento se queixou de nada. Uma bela história confinada e relegada ao ostracismo.
Para se despedir de nós, de pé, regulou o pedestal, escolheu a partitura de uma bela valsa de Ernesto Nazareth, sem óculos, com muito vigor no braço, empunhou o arco e acariciou nossos ouvidos com sua exibição de afinação irretocável.
BRAVO!

Pedro Parente

2 comentários:

Antonio Emilio da Costa disse...

Belíssimo texto, parabéns. Conheci Geraldo Patusca e ele era exatamente como você, com muita poesia,descreve. Posts assim chamam a atenção para preciosidades da cultura erudita e popular de nossa terra!

Um abraço.

Emilio.

Antonio Emilio da Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.