sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ANGÚSTIA



ANGÚSTIA

- Vem logo, pai!
Acelerei o mais que pude.
Estranhei aquele apelo do meu filho de apenas 16 anos, via telefone móvel, ao sair de um show às 2,30 h.
Percebi que sua voz não estava normal. Às pressas cheguei ao local combinado.
Nunca mais sairá da minha memória aquela cena: meu filho embriagado, apoiado por seu companheiro de infância que estava perfeitamente sóbrio.
Não sabia o que fazer. Perdi o chão.
Ao longo da minha vida me deparei com situações inusitadas, constrangedoras e embaraçosas. Delas me livrei com tranqüilidade. Agora estava eu ali, atônito.
Que fazer? Não sei.
Sentei-o a meu lado, abri o vidro do carro para que recebesse a fresca da madrugada. Com uma das mãos ao volante do carro e a outra apoiando sua cabeça enquanto regurgitava para fora do veículo, andando lentamente fui tentando concatenar minhas idéias e acalmar minha fúria instintiva de castigá-lo severamente.
Não. A prudência recomenda que não. Esperaria o efeito do dia seguinte.
O carro deslizava suavemente pelo asfalto, enquanto as luzes amarelas da rua pareciam sóis esmaecidos a me queimarem por dentro.
Sua imagem lívida me impôs uma dúvida: para casa ou para o hospital?
Reportei-me à minha juventude quando o mesmo aconteceu comigo e optei por levá-lo para casa.
Sua mãe o acolheu como é próprio delas, com carinho e com perdão.
Dormiram abraçados envolvidos pelo manto do amor fraterno.
Uma noite terrível. Não esquecerei nunca.
O efeito no dia anterior foi didático, entre lágrimas, arrependeu-se e pediu desculpa.
Um sintoma de quem tem bom caráter.
Que a sorte o proteja!
Pedro Parente

Nenhum comentário: