sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ALVARO LOPES



ALVARO LOPES

Prosseguindo o caminho de quem envelhece, vou perdendo lentamente meus parentes e amigos mais queridos deixando marcas e cicatrizes no meu já cansado coração.
Há dias, encerrando sua missão aqui na Terra, nos deixou meu bom amigo Álvaro Lopes de tantas boas lembranças. Desde 1967 desfrutei de sua amizade, inclusive pelo Rio de Janeiro onde eu morava e ele cursava a Faculdade de Direito.
Inteligência acima da média e raciocínio rápido vencia todos os torneios de jogo de dama e xadrez que participasse. Tinha grande intimidade com o tabuleiro quadriculado.
Desapegado com coisas materiais, possuía um fusca que todos conheciam, pois estava sempre com os vidros abertos e a tranca não tinha a menor utilidade. Invariavelmente a chave ficava introduzida no contacto.
Do Álvaro guardo como lembrança a história mais engraçada que ouvi na esquina do Kibon e que não me canso de contar.
Disse-me, que numa manhã de segunda feira em São Paulo, onde estava morando, acordou com uma grande ressaca moral e também, com muita saudade de São João. Pensou:
- Vou até o Banco de Crédito Real e talvez encontre alguém de lá da “terrinha” que me traga notícias frescas.
E assim fez.
Chegou ao Banco e foi logo examinando as caras daqueles que esperavam por atendimento nas grandes filas.
Eis que se deparou com uma cara conhecida e pensou com seus botões:
- Eu sabia que encontraria alguém de São João!
Aproximou-se daquele cidadão, cumprimentou-o dizendo:
- E aí? Como vai nossa terra?
- Qual terra? Respondeu intrigado o interrogado.
- Ora! São João del-Rei!
- Não. Não conheço São João del-Rei. Nunca estive lá.
- Como não? E de onde é que te conheço então?
- Que é isso Álvaro? Não lembra? Sou seu companheiro de quarto na república do Largo do Arouche.
Álvaro desconversou, saiu de fininho e foi curtir sua saudade no bar da esquina.
Dos amigos prefiro guardar as lembranças mais alegres dos tempos felizes que convivemos.
O resto fica por conta do tempo, o mestre do mundo que ameniza nossas tristezas e não deixa que vivamos num vale de lágrimas.
Pedro Parente
pedroparentester@gmail.com

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