domingo, 3 de maio de 2020

O CARECA

36 min · Público
O CARECA.
Houve um tempo em que o lotação Estrada de Ferro/Leblon fazia ponto em frente ao Hotel Ipanema do Jesus casado com a Fany morador do B2 905 (?).
O Hotel era em frente ao Jorna na esquina.
Os motoristas vinham fazer lanche ou tomar um café, no bar do Seu Antonio debaixo do A2.
Entre eles havia um "gente boa", já meio coroa que se chegou na rapaziada e gostava de arrastar um papo da malandragem tipo Bezerra da Silva.
Muito legal o cara! Logo levou o apelido de "Careca".
Eu e Maurício curtíamos muito ele.
Numa noite erramos a mão no bar do Seu Antonio que era nosso reduto principalmente no final do mês onde os trocados já haviam terminado e fomos ficando.
Não tínhamos alternativa! Dali para a cama.
Eis que entra o Careca pra tomar café.
  • Senta aqui! Vamos tomar uma!
  • Só vim tomar um café pois já vou recolher. Tenho que ir pra garagem em Vicente Carvalho!
  • Vou tomar só um conhaque!
  • Um conhaque ninguém toma, principalmente quando senta se à mesa. Conhaque é pra tomar em pé no balcão. E assim foi um, mais um e outro.
  • Lá pras tantas Seu Antonio já abrindo a boca querendo dormir, sentimos que estava na hora de fechar a conta.
  • Eu e Maurício ainda tínhamos gás pra queimar e juntos não ia dar certo.
  • Tínhamos uma amiga que gostava de aventuras perigosas. Era seu prazer. Desprovida de preconceitos. Gostava de viver no fio da navalha.
  • Sempre disponível a convidamos para irmos passear de lotação. Aceitou imediatamente. Era nossa amiga mas eventualmente nos amava. (Quero fazer um aparte: o Maurício não estava namorando ninguém).
  • Pegamos um litro de rum e uma mortadela fatiada, fiado no seu Antonio e fomos fazer turismo em Vicente de Carvalho já de madrugada.
  • O Careca fechou a porta do lotação e eu e Maurício fomos revezando satisfazendo os prazeres da moça. Quando descansava dava uma tragada no rum e mandava pra dentro um pedaço de mortadela.
  • O Careca dirigia lentamente e ia contando sua vida sofrida para o que estava de plantão ao seu lado.
  • Olha! Vicente de Carvalho é longe! Até hoje não sei para que lado fica.
  • Finalmente chegamos à garagem.
  • Já era muito tarde ou cedo? Chegou a vez do Careca.
  • Não sei porque falou que já era muito tarde e a patroa estava esperando, saiu batido mas antes avisou ao vigia que nós estávamos lá dentro do lotação.
  • Acabamos de tomar o rum, destruir a mortadela e dormimos ali mesmo.
  • Dia seguinte. Sol a pino. Saímos os três sob o olhar de censura dos motoristas chegando pra trabalhar.
  • E agora? Onde estamos? Não fazíamos ideia!
  • Sem nada no bolso. Duro num local inimaginável. Garotão da Zona Sul em Vicente Carvalho? Não dá! Hoje seria um mico.
  • Só tem uma saída!
  • TAXIIIIIIIII ! Nos leva no Leblon!
  • Seu Antonio me dá um dinheiro pra eu pagar o táxi.
  • Na hora!
  • Beijinho, beijinhos e até já!
  • 03/05/2020
  • Pedro Parente

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