sábado, 27 de março de 2021

31 DE DEZEMBRO

 31 DE DEZEMBRO



 

Vivíamos os “anos dourados” década de 60 no Rio de Janeiro.

O obscurantismo se mantinha recluso nos esgotos e submundo. A alegre população da cidade que a cognominou de Cidade Maravilhosa, tinha vistas  para as alegrias de carnaval e também do futebol. 

O povo era muito feliz e eu tive a graça de viver aqueles tempos apesar da ditadura.

O carnaval ainda era realizado na Av Rio Branco e tive a oportunidade de ver mil e quinhentos figurantes do Bloco Bafo da Onça fantasiados de um traje de onça e tamanco de madeira, batendo os pés marcando o compasso do samba 

De arrepiar!

O outro adversário de destaque era O Cacique de Ramos, também deslumbrante.

O Centro do Rio exorbitava na construção de arranha-céus: Edifício Menezes Cortes, Marquês do Herval, De Paoli e o famoso Avenida Central que surgiu no lugar do badalado Café Nice onde a alta boemia se reunia e que serviu de inspiração para um lindo samba do Chico Anísio.  

Dentre as inúmeras efemérides comemorativas, havia uma espontânea da qual todos trabalhadores da região central do Rio participavam, a chuva de papel picado n dia 31 de dezembro, o derradeiro dia do ano velho!

Emocionante!

O ápice da festa era meio dia quando se encerrava o expediente dos escritórios. 

Haviam alguns que colecionavam papel picado durante o ano todo para participar com euforia daquela festa contagiante. 

Eu ficava extasiado pelo clima que envolvia a todos, de fato uma Confraternização Universal! Todos se abraçavam e acarinhavam. Muitos escritórios promoviam um sambão da pesada com direito a uísque e outros bichos mais.

Houve anos em que eu era bancário, tinha que participar da festa e voltar para o trabalho, pois teria que contabilizar os juros nas contas dos clientes que eram remunerados com 1% aa de juros. 

Saíamos do Banco de madrugada, exaustos!

Era comum no último dia do ano os correntistas presentearem a nós funcionários com uma lembrancinha, normalmente uma garrafa de bom vinho, naquele dia o Sr Osvaldo T. judeu que tinha um comércio de pedras preciosas decidiu nos presentear com dinheiro em espécie. Pela ética do Banco somos proibidos de aceitar.

O subgerente contestou com o homem, porém ele não cedeu e ameaçou tirar a conta da agência.

Deu um envelope fechado para cada um de nós com uma quantia suficiente para uma boa ceia de fim de ano, porém o dinheiro foi parar na semana seguinte nos cabarés da Rua Alice.

Numa dessas datas, adiantamos nosso serviço nas contas correntes e saímos do Banco às 15 horas.

Tomei um táxi levando comigo algumas garrafas de vinho presenteadas pelos clientes.

O motorista um moço de seus trinta anos levou-me até o Garden Bar no Leblon onde eu fazia ponto. Convidei-o para sentar-se à minha mesa. Concordou, sentou-se e sorvemos todas as garrafas que eu havia levado e mais algumas de propriedade do bar.

Às 23horas pediu licença para cear com sua família e me deixou só, continuei minha ceia com os garçons de plantão.

Adorava o Rio e vivia intensamente seu fetiche!

27/o3/2021

Pedro Parente.

 




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