quarta-feira, 27 de outubro de 2010

FILHO

São João del-Rei, 18 de junho de 1997.

Meu filho.

Ao sentir aproximar-se o final da minha jornada, gostaria de deixar consignadas, algumas considerações úteis na tua caminhada que se inicia.
Peço-te perdão pela ousadia de te colocar no mundo sem ouvir tua opinião.
Assumo metade da culpa.
Pela tua herança genética, certamente lidarás com muitos defeitos e algumas virtudes de teu pai.
O dia em que nascestes foi um dia de grande alegria e profunda reflexão.
Ser teu pai com a idade já avançada seria irresponsabilidade ou desafio?...
Talvez certo egoísmo.
Usufruir do teu sorriso inocente, do teu terno abraço, da tua pequenez angelical.
Vieste preencher minha vida.
Gostaria de te falar muitas coisas que nossa diferença de idade não permite.
Um momento só e uma folha de papel não bastam.
Gostaria de caminhar a teu lado, às vezes contigo no colo, sangrar com prazer, pisando nos espinhos que por ventura a vida te reserve.
Faz da vida, uma trajetória de sorrisos.
Deixa que as pessoas te procurem pela tua alegria e não te evitem pelas tuas tristezas.
Nunca sejas subserviente.
Caminha de cabeça em pé.
Não aceita humilhação e nem abdica do teu direito.
Protege tua mãe.
Não deixa que a façam infeliz.
Ela enfrentou a maledicência de uma sociedade vil e austera para te ter.
Se a indagares se valeu a pena?
Certamente não hesitará em te abraçar e sem palavras, sentirás suas lágrimas umedecerem teu ombro.
Se puderes ter dinheiro, será bom, porém se faltar não te maldiga, ele é o grande culpado das mazelas do mundo; em pessoas fracas acaba por eliminar aquilo que o ser humano tem de mais admirável que é a dignidade.
Respeita os idosos.
Quando por eles passares, reverencia-os.
Ali vão anos de experiência vencidos pelo tempo.
Quando fores senil, lembrarás do que hoje te falo.
Somente aí, nessa época, entenderás.

Ti amo.

Teu pai.

Pedro Parente

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