sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O SEPTUAGENÁRIO

O SEPTUAGENÁRIO

Parece que foi ontem que escrevi uma crônica com o título “O Sexagenário” referindo-me a idade que tinha aquela época.

Para minha surpresa, hoje, após dez anos, escrevo O Septuagenário.

Muitas mudanças.

No entardecer da vida as perdas são freqüentes.

Muitos amigos vão tombando nessa luta desenfreada pela sobrevivência.

Cada perda uma ferida, com o tempo uma cicatriz, porém aquela marca não desaparecerá e nosso coração se transforma num imenso cemitério de recordações.

Saudade do que passou.

Meu filho a quem, de mãos dadas, ensinava os caminhos mais suaves pelas trilhas tortuosas da vida, hoje rapaz, me ensina suas modernidades e com ele aprendo seu novo palavreado.

Fiquei velho.

As dores físicas vão travando uma intensa luta com as dores morais do meu consciente.

A artrose me corroendo os joelhos e minha mente reflexiva vai me interrogando se errei muito. Se fui injusto? Se ofendi alguém?

Essas reflexões me levam a crer que se prejudiquei alguém, foi involuntariamente e peço perdão. Jamais o faria premeditadamente.

Os amores? Ah! Os amores!

Velhos amores, velhas recordações.

O viço cedeu lugar ao torpor, ao desalento e aos poucos vamos ingressando no exército dos invisíveis. Não somos mais notados. Ninguém nos vê e o que mais machuca é a indiferença de quem um dia nos amou e trilhou caminhos difíceis ao nosso lado.

Com razão 70 anos não são 70 dias.

Daquela imagem jovem e vigorosa, restou apenas um espectro claudicante e cabisbaixo.

Dessa caminhada inglória rumo à sepultura, resta um tesouro conquistado passo a passo, copo a copo, gota a gota: os amigos.

Por eles valeu a angústia de envelhecer.

É prazeroso tê-los sempre em meus pensamentos e se possível à minha ilharga.

Hoje nos confraternizaremos pela passagem dos aniversariantes do mês de outubro, uma tradição da Turma do Buneko e me parece um recorde, pois já ultrapassam 80 reuniões com essa finalidade.

Lá estaremos todos alegres e felizes esquecendo por momentos nossas tristezas e abrindo espaço para um efêmero entusiasmo jovial, exarcebando naquilo que nos resta: os prazeres da boca.

Nesse imenso algodoal de têmporas encanecidas, não haverá espaço para tristeza.

Amanhã estaremos um dia mais velhos.

Disse-me meu amigo José Norberto: “Para não envelhecer, basta morrer novo”.

Vida que segue!

Pedro Parente.

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito deste texto.
Por que tanta melancolia. Não deve se achar um espectro, pois ainda terá muitos anos pela frente. Não esmoreça. Tenho fé em Deus que ainda vamos nos ver pessoalmente.
Muita saúde, paza e felicidades.

Andréa Cecilio disse...

Toas as suas páginas são ótimas.Esta, sem comentários. Legal demais.
Andréa Cecilio