sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

CARA DE PAU

 CARA DE PAU

Numa das minhas viagens de carro a Belém em visita à família, aconteceu um fato inusitado.

Ainda foi no século passado, lá pelos idos de 1993. 

As coisas não eram tão fáceis quanto hoje. Menos tráfego nas estradas, raros postos de abastecimento, consequentemente, policiamento precário.

Após dias agradáveis em Mosqueiro curtindo aquelas águas mornas da Praia Grande onde tínhamos uma casa de veraneio, acompanhado da minha mulher que carregava em seu ventre meu filho Pedro hoje com trinta anos, trazendo comigo as iguarias da “terrinha” empreendi meu caminho de volta.

Com o coração partido ao deixar minha mãe, papai e irmãos, acelerei pela Belém/Brasília rumo a São João del-Rei onde resido. Saímos cedinho. Teria que rodar três mil quilômetros.

Nas proximidades da cidade de Imperatriz no Estado do Maranhão, fui parado pela polícia militar. Numa área deserta não dava pra saber se eram policiais de verdade.

Naquela época a cidade ainda engatinhava, Hoje tem hotéis cinco estrelas aos montes, é talvez a cidade mais importante do Maranhão. 

Se dirigiu a mim que dirigia um Verona? Ou Versailles? Não lembro, sei que apresentei os documentos e ele mandou que descesse do carro. 

Já fiquei de orelha em pé!

Ao abrir a porta do carro o samango botou o olho em uma faca de cabo de osso e bainha de couro que eu carregava.

Essas facas eram muito cobiçadas e representavam um certo status a nossa classe social.

O recruta ficou louco em pensar em ascender mais um degrau em sua escala social.

- O senhor está portando uma faca. Isso é ilegal!

- Moço a serventia dela é para descascar algum fruto para minha mulher que está grávida. (aquela altura de sete meses).

O olho do guarda faiscava de alegria!

- Se fosse um facão não teria problema!

Que incoerência!

Minha mulher ficou nervosa me chamou para sairmos daquele ermo.

Aí resolvi tirar um sarro com a cara e dificultar as coisas.

- Então quero um Auto de Apreensão da arma, pois pretendo recuperá-la. É presente do meu pai!

Talvez não conhecesse a expressão foi perguntar ao sargento.

Já voltou com a negativa, lógico nunca iria abdicar daquela joia.

- Pois bem, disse eu, a faca está presa, porém a capa não representa rico para a sociedade, ela é minha.

O sujeito ficou na dúvida, porém não poderia contestar.

Então desembainhei a faca.

Para surpresa dele, tinha apenas um pedacinho da lâmina que eu usava para apertar algum parafuso.

Olhei fixamente sua cara de decepção para não esquecer!

Gargalhei por dentro como o cachorro do Dick Vigarista.

“QUE OS OLHOS NÃO VÊM O CORAÇÃO NÃO PEDE”

16/02/2024

Pedro Parente





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