sábado, 5 de janeiro de 2019

O BONDE


ALDEIA DO LEBLON


Edifício dos Jornalistas – Naquele tempo, o Bairro do Leblon no Rio de Janeiro, era uma pacata e bucólica aldeia. Lá por volta de 1956 o IAPC – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários resolveu construir três edifícios para vender a seus associados, privilegiando a categoria dos jornalistas. Daí seu nome. São três prédios de doze andares com dois blocos cada um. Uma construção tão imponente que servia como orientação aos navios que adentravam a barra do Rio de Janeiro.
Depois de ocupados, devido ao grande número de apartamentos, formou-se uma nova comunidade formada por pessoas vindas de bairros aleatórios de todos os recantos do Rio trazendo consigo um grande número de jovens adolescentes.
Sem ninguém determinar nada, aquela rapaziada escolheu um ponto para o bate-papo, em frente ao primeiro prédio.
A turma não era pequena e logo surgiram as lideranças pela espiritualidade e genialidade de alguns que possuíam o dom do bom humor.
Eram vários, mas tenho na memória um em especial. Acho que não dormia porque ficava matutando qual seria a pegadinha do dia seguinte. Por sua semelhança fisionômica com “O Corvo” apelidaram-no de “Lacerda”. Esse cara era genial!
Num desses dias resolvemos ir à praia do Arpoador já famosa pela frequência de celebridades e o mais importante, já usavam “maiô de duas peças”.
Na volta, entramos na Rua do Bar 20. Naquele ponto havia uma manobra nos trilhos do bonde para que retornassem como determinava sua linha.
Pois bem, era comum o motorneiro, aquele que dirigia o bonde, saltar e ir até o boteco fazer um lanche ou tomar um cafezinho. Tirava o manete que acelerava o bonde, colocava em seu bolso e desligava a lança, peça que faz o contato com a rede elétrica, puxando uma corda amarrada na traseira.
Esses cidadãos trabalhavam uniformizados inclusive de quepe parecendo até um guarda civil. A firma era inglesa. Não precisa falar mais nada.
Naquele dia, o motorneiro era meio displicente e deixou tudo ligado. Foi fazer seu lanche sossegado exatamente na hora em que a turma chegava.
Sorrateiramente um dos nossos assumiu o comando do bonde. Todos pularam dentro e o piloto improvisado acelerou. O trilho já estava na posição para voltar e assim foi.
O pobre do motorneiro quando viu a cena, desesperado, largou tudo e saiu disparado atrás do bonde. O quepe foi o primeiro que caiu da sua cabeça em seguida para alegria da molecada, moedas em profusão voaram dos bolsos do seu dólmã.
Nosso heroico motorneiro parou o bonde em frente ao Edifício dos Jornalistas e desaparecemos entre as colunas com o coração saindo pela boca.
Haja adrenalina!
Pedro Parente
05/01/2019

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