segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

ROTINA BOÊMIA


ROTINA BOÊMIA
TURMA DO JORNALISTA – Assim era conhecida a turma da qual eu participava quando morava no Rio de Janeiro, Leblon.
A turma era enorme e passava a noite conversando fiado debaixo da janela do Vasco um cidadão amigo a quem eu admirava. Jornalista trabalhava de noite numa Agência de Notícias, me parece a United Press, assim sendo chegava muito tarde, já com os alvores do dia. Diziam que além de sair tarde do trabalho ainda dava uma esticada no carteado. Claro que esse detalhe a patroa desconhecia. Quando o aglomerado era grande a conversa subia o tom atrapalhando o sono do nosso bom amigo que chegava à janela e com cortesia pedia que a turma conversasse mais baixo. No que era prontamente atendido.
Detalhe: esse cidadão chamava-se Raimundo Vasco, mas pelo amor de Deus, nunca o chamasse pelo seu primeiro nome. O xingamento com palavrão vinha na hora.
- Meu nome é Vasco!
Nesse clima de harmonia a vida passava feliz, boêmia, romântica e sensual. O Rio era glamoroso na época dos Anos Dourados.
A vida da rapaziada era difícil. Não existia policiamento intelectual nem o tal assédio sexual. Namorava-se respeitosamente e se o cidadão tentasse ser mais ousado levando a mão aonde não devia, corria o risco de levar uma tapa e no dia seguinte seu nome ser tachado como tarado. Não conseguia mais ninguém.
Dessa maneira o ritual era um cineminha, beijinhos, abraços e 22 horas deixava-se a moça em casa. Nessas alturas quem levava vantagem eram as domésticas, pois era a hora que acabavam de arrumar tudo nas casas e após um bom banho, todas cheirosas descerem para a paquera. Aí os moços iam deitar-se na areia da praia e “apreciar o luar”.
Na avenida beira-mar tinham umas profissionais que faziam ponto por ali. Eu, Maurício Arruda e mais um, nos tornamos amigos delas. Dinheiro curto, tanto nosso quanto delas, em algumas noites comprávamos numa lojinha do posto de gasolina, um litro de rum, Coca-Cola e mortadela. No banco da praia fazíamos nossa farra.
A ronda noturna na praia era feita por policiais à cavalo. Já éramos conhecidos e algumas vezes algum deles filava nosso rum. Tudo civilizadamente como manda o bom costume.
Certa noite substituíram a dupla de cavaleiros e em seu lugar colocaram dois novatos desconhecidos. Nosso amigo que descontraidamente namorava próximo à água, foi surpreendido por eles que o enquadraram em “atentado ao pudor”.
Deu-nos trabalho para provar que nariz de porco não é tomada!
07/01/2019
Pedro Parente


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