segunda-feira, 22 de julho de 2019

A PESCARIA


A PESCARIA

A turma era animada. Não tinha tempo ruim, nem sovinice todos perdulários e destemidos.
O motivo não interessava, mas era festa todos os dias da semana na “mesa zero” da Cantina Calabresa.
Numa noite, alguém sugeriu uma pescaria no “Velho Chico”. Na mesma hora foram traçados os planos e já saímos dali, cada um com uma ideia na cabeça. Os telefones fixos não paravam. Não havia celulares. Até que chegasse a noite seguinte.
Pronto! Tudo pronto! Sem dificuldade os empecilhos foram todos resolvidos. Nosso amigo Ibsen gerente do Banco Real possuía uma casa em São Romão às margens do rio São Francisco.
Sendo a turma muito grande, lá naquele Banco financiamos um ônibus usado que comportasse a turma, a tralha, o freezer lotado de latas de cerveja e alguns garrafões de cachaça, que não poderiam faltar. Vários assentos tiveram que ser removidos para que coubesse tudo.
Dia marcado, em frente a igreja de São Gonçalo, encostou a viatura. No comando o Waldemar profissional do ofício e que transportava combustível para o posto de gasolina ao lado do Edifício São João. Ele tinha muitos quilômetros rodados e de pouco beber bebida alcoólica, principalmente dirigindo. Estávamos em boas mãos.
Após algumas paradas efêmeras para ligar o freezer e abastecê-lo de energia, conseguimos chegar a Pirapora.
Combinamos que devido à distância que a percorrer, 140 km de estrada de terra, era só almoçar rapidamente e seguiríamos em frente.
Quem disse?
A turma que não podia ver mesa, bom tira gosto e especialmente boa pinga, se esquecia do tempo. Não deu outra.
A primeira garrafa foi consumida numa rodada só. Outras foram vindas. As luzes da cidade acenderam e começou um forró em frente ao restaurante. Na praia cercado de bambus alguns dançarinos foram exibir suas qualidades de “moço da cidade” e se enfaceirar com as “canelinhas” alcunha das morenas de lá.
Os mais responsáveis começaram a ficar impaciente querendo prosseguir viagem, inclusive por causa do sono do motorista.
Após muita conversa e os comensais já lotados de tira gosto e pingas, aquiesceram.
Vamos embora!
Após rodarmos uns vinte quilômetros no asfalto, entramos na estrada de terra. Estreita e eucaliptos de ambos os lados.
Guilherminho substituiu o Waldemar na direção do “grizú”, (apelido do ônibus) e conseguimos chegar em São Romão com o raiar do sol.
Uma trabalheira louca para colocar as coisas no lugar. Éramos 17 homens.
A casa do nosso amigo era boa espaçosa. Ela tinha uma varandinha que antigamente chamavam de alpendre com um telhadinho apoiado em uma das pontas por um barrote de madeira. Meu amigo Robenson foi se apoiar quase o telhado veio ao chão. O barrote estava solto.
Calor insuportável, mosquito borrachudo a vontade, não estava confortável. Ao lado do freezer ficamos por ali aproveitando uma aragem desgarrada. De vez em quando o ruído singular de mais uma lata de cerveja aberta. O garrafão de pinga parecia estar furado, baixando numa velocidade frenética.
Nô Carbajal figura conhecidíssima do povo ligado à música e a boêmia era fundamental na turma. Inteligente e exímio cavaquinhista nos dava muita alegria com seus toques e trejeitos. Naquele momento começou a executar uma de suas músicas prediletas aí se somou uma timba, violão do Murilo e a gaita do Asa Quebrada.
Eis que surge de dentro da casa Maurilúcio por todos conhecidos como “Cafezinho”. Figura formidável. Amigo nota mil. A figura personificada do mineirinho sestroso, maneiro que gosta de bater uma catira e de jogar conversa fora. Um figuraço!
Trazia nas mãos a vara com molinete a caixa de metal com separadores, cheia de anzóis e as coisas de pescaria cuidadosamente arrumadas pelo Claro. Na cabeça, um capacete de segurança encontrado na casa. Disse:
- Agora que terminei meus afazeres, vou pescar!
Era só atravessar a rua e a barranca do rio estava ali.
E lá se foi o Café todo lépido.
Em seguida ouvimos seu grito pedindo ajuda. Corremos em seu socorro lá vinha ele subindo a barranca aos trancos e barrancos com os anzóis esparramados pelo mato, braços e peito cortados pelos espinhos de japecanga, uma trepadeira própria da barranca  com cara de espanto contou que tropeçou numa raiz aqui em cima e foi parar dentro do rio. Cheio de sangue ficou com medo de ser devorado pelas piranhas.
De resto o capacete de obra flutuando na correnteza do “Velho Chico” como o cesto de Moisés.
Vida que segue!
22/07/2019
Pedro Parente.

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