domingo, 23 de agosto de 2020

INFÂNCIA

 INFÂNCIA

Ao chegarmos ao mundo quando nascemos, recebemos a vida de presente. Sinto-me infeliz em pensar que alguns desprotegidos vem à vida para sofrer. Felizmente tive uma infância feliz ao lado de meus pais e irmãos sempre protegido pelas asas de minha mãe, meu anjo de guarda.

Dando meus primeiros passos claudicantes nas areias mornas da Praia Grande em Mosqueiro -PA vivi maior parte de meus momentos inocentes e felizes naquela ilha com meus amigos crianças também, filhas dos pescadores locais.

O ano letivo era menos severo e podíamos gozar longas férias colegiais. O mês de julho e três meses no fim de ano. 

Era só felicidade.

O trajeto para ilha era feito através de um pequeno navio a vapor e a vigem durava em torno de duas horas.

Só a viagem já era um passeio muito agradável, vendo o talha-mar da embarcação singrando aquele mundo de água. Navegávamos margeando a floresta bucólica com alguns animais a vista. Contando com a sorte, algumas vezes, os botos nos acompanhavam fazendo seu bailado tradicional e exibindo sua perícia em velocidade.

Era um longo ritual, mas não cansativo. 

A estrada da ilha era de terra. Havia um só coletivo pequeno para transportar os passageiros que moravam mais retirados do centro. Como nossa família era numerosa, cinco irmãos, nossos pais, duas cozinheiras e os amigos dos filhos, esperávamos o retorno do ônibus para levar-nos à nossa casa.

A chegada era uma alegria só. Alguns vizinhos iam no receber e a garotada chegava junto. Imediatamente trocávamos a roupa e iniciávamos o racha na praia com uma bola nova que o papai nos dava.

Após a exaustiva pelada já com o sol se pondo, caíamos naquela água tépida e subíamos para jantar.

Na mesa grande, após a janta ouvíamos as histórias contadas pelo meu pai ou algum visitante.

Normalmente as conversas eram sobre duendes da floresta muito comuns naquela região. Matinta Perera, Curupira, Anhangá, Buiúna, Mapinguari e etc...

fazem parte do imaginário daquela gente.

Com os olhos arregalados e com as pernas tremendo, esperava mamãe deitar na sua rede no centro do quarto e eu no canto me espichava na minha balançando de leve para chamar o sono, enquanto na parede uma gravura de Santa Terezinha me seguia com seu olhar de paz.

Um sono inocente numa alma pura!

23/08/20

Pedro Parente


Nenhum comentário: