POROROCA - No início do século XIX, os invasores portugueses na ânsia de povoarem o território brasileiro recentemente usurpado da nações indígenas que aqui habitavam, passou a distribuir enormes glebas de terra àqueles que quisessem enfrentar as intempéries da Amazônia.
Foi assim que através do governo brasileiro, meu avô materno, lusitano de nascimento, recebeu uma quantidade enorme de terras lá para as bandas da cidade de Capim e São Miguel do Guamá no alto Rio Guamá que banha Belém capital do Estado do Pará.
Construiu uma casa grande às margens do rio e tornou-se Cel. da Guarda Nacional título honorífico comprado do governo do Brasil. O documento ainda existe e doei à minha sobrinha mais velha.
Ao tornar-se membro da Guarda Nacional, assumia o compromisso de manter a ordem nas vastidões de suas terras. Para isso a "Casa Grande" dispunha até do famoso "tronco" para açoitar os escravos.
Ali criou sua família e por consequência nós, netos, passamos a usufruir daquela bucólica paisagem com direito a banho de rio e frutas de todas as espécies.
Já não tinha mais o tal do "tronco" e alguns escravos remanescentes tornaram-se colonos morando em suas casa e com direito a cultivo de suas hortas e plantações.
O que mais nos impressionava era o fenômeno da pororoca e que impunha um respeito quase que macabro aos moradores da fazenda. Homens fortes de porte atlético, porém quando o assunto era pororoca, parecia que se falava do satanás.
De fato um fenômeno assustador!
No rio Guamá, a maré enche e vaza num espaço de seis horas. Nas marés de lua, nos meses que tem "r", é infalível, principalmente na lua cheia de março.
A fazenda chamava-se Canta Galo.O rio naquele local, tem a largura de uns 4km de uma margem à outra.
Na virada da maré, na baixa mar, um silêncio intimidativo, se abatia sobre a floresta.
De repente, da cabeceira do trapiche, há alguns quilômetros rio abaixo, via-se o banzeiro principal. Mantendo as proporções um pequeno tsunami fluvial.Estava na ponta do lugar chamado Bujarú. Até chegar aqui onde estávamos demorava uma hora.
As embarcações procuravam segurança adentrando nos igarapés.
No peral ou canal, onde o rio é mais fundo, passava somente a força da água, porém na outra margem, no razo, a coisa é feia. Arvores gigantescas arrancadas como se fossem palito de fósforos. Normalmente são três ondas gigantes que não respeitam nada em sua frente.
Assombroso!
Em minutos as terras da fazenda estavam inundadas e voltava a calmaria.
Aí sim um espetáculo deslumbrante.
Aproveitávamos para matar o calor com aquelas águas mornas do rio Guamá!
Fui muito feliz! Infância e juventude sadia.
15/01/2018
Pedro Parente