sexta-feira, 20 de novembro de 2020

ADEUS BELÉM DO PARÁ

 ADEUS BELÉM DO PARÁ.

Minha guarnição de remadores, quatro com patrão, disputou a eliminatória para o Campeonato Brasileiro de Remo de 1960 na Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de janeiro pelo Estado do Pará e venceu.

Esporte amador sobrevive com muita dificuldade muitas vezes com doações generosas de aficionados. 

No nosso caso o avião que nos transportou para o Rio era um bimotor Beechcraft de 7 lugares, sendo 2 lugares ocupados pelos pilotos, coronéis da FAB que faziam horas de voos. Pousava com uma rodinha traseira e os trens tradicionais sob as asas. Sua autonomia de voo era pequena não lhe permitia percorrer grandes distâncias. Qualquer campo de futebol para peladas que via, descia.

Éramos jovens e nunca extrapolado as fronteiras de nosso Estado, por tanto sem nenhuma experiência. 

O novo assusta! 

A expectativa nos deixou agitados, intrigados e principalmente apreensivos em deixar nossas famílias pra trás.

Nos preparávamos para dormir na sede náutica do Clube do Remo, quando o telefone tocou e comunicou que havia um avião para transportar 5 atletas por ordem da CBD Confederação Brasileira de Desportos rumo ao Rio de Janeiro. A partida seria às 5 horas da manhã da Base Aérea de Val-de-Cães.

Muito triste quando comuniquei a minha mãe que iria para o Rio. Coração de mãe não se engana. Implorou ao meu pai que não me deixasse ir. Meu pai austero lhe falou: 

- Ele venceu tem que ir!

Ela previu naquele momento que eu não voltaria! Era um adeus!

Às cinco da manhã conforme combinado, chegamos à Base e embarcamos na aeronave com muita dificuldade. Espaço exíguo. Apenas 5 poltronas individuais.

Poucas horas no ar e aterrissamos numa clareira para reabastecer.

A comitiva de recepção era de índios portando arco e flecha, alguns trazendo galinhas tentando arrecadar algum dinheiro. Uma pobreza de dar dó.

O Comandante nos preveniu que eram inofensivos.

A parada foi efêmera. Não deu negócio entre nós, pois não tínhamos nada para trocar e muito menos dinheiro para comprar as bugigangas deles. Mesmo decepcionados não pouparam seus acenos quando o avião decolou.

Subimos e descemos várias vezes até pousarmos em uma pista secundária, no aeroporto do Galeão às 17,30 h. 12 horas de viagem e se o veto tivesse soprando contra, acho que ainda estaríamos voando até hoje,

A pista era ladeada de capim alto dando impressão de desleixo. 

Pensei: 

- Isso que é o Rio? Um matagal danado!

Fiquei decepcionado.

Pegamos um táxi e o companheiro informou o endereço, Hotel Ipanema no Leblon.

Mal sabia que ali estava escrito meu destino, pois levava comigo o endereço de minha tia Ataulfo de Paiva 50 B2 ap.904

Quando o taxi entrou em Copacabana já com os neons acesos, meu queixo caiu. Fiquei extasiado e lá por dentro senti que não voltaria mais para minha terra. Tinha apenas 19 anos. O Rio era o sonho dourado de todos.

No hotel, de curiosidade, perguntei onde era aquele endereço que eu levava no bolso?

O dono do hotel Sr. Jesus, espanhol fumante de cachimbo, mostrou-me o Edifício dos Jornalistas exatamente do outro lado da rua. Foi só atravessar.

Passei 15 dias no hotel até o final da competição de remo. Conseguimos um honroso quarto lugar no nosso páreo.

Nossas condições esportivas eram muito adversas. Além do Sudeste ser mais desenvolvido e consequentemente seus remadores mais bem treinados, lá remávamos em água doce e corrente, na Lagoa a água é parada e salgada. Faz uma diferença brutal no peso das pás dos remos. Nosso ritmo de remadas completamente diferente. Enfim, entre dez competidores nos saímos bem.

Fiquei um tempo morando na sede náutica do Vasco e depois atendi o pedido de minha tia e fui lhe fazer companhia no Edifício dos Jornalistas.

Foi o que de melhor aconteceu. Pude viver os melhores anos da minha vida junto com aquela turma maravilhosa do hoje lendário prédio do Leblon.

Essas lembranças perdurarão indeléveis em meu coração até a morada final.

20/11/20

Pedro Parente








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