segunda-feira, 9 de novembro de 2020

SÉRGIO VELHO

 SÉRGIO VELHO

A turma do Edifício dos Jornalistas no Jardim de Alah no Leblon, era muito grande, pois o conjunto de seis prédios de 16 andares abrigava 420 apartamentos, segundo nosso amigo Paulo Issa.

Além dos moradores haviam muitos agregados que se tornavam membros da patota. Moradores de outros prédios e casas adjacentes, conviviam conosco na maior harmonia. 

Um desses chamava-se Sérgio Sparnazi (?). Morava no redondo da rua Gal. San Martin. 

Pessoa muito reservada e de humor variável. Metia a mão no bolso parcimoniosamente. 

Jogava vôlei na nossa rede na praia, porém se alguém passasse uma bola errada para ele, se transformava! Aquele cara discreto de pouco falar, se transformava. Tirava o chapéu de marujo que usava, fornecido pelo “Turquinho”, jogava no chão sapateava em cima ao som de sonoros palavrões que chamava atenção até de quem caminhava pela calçada.

Por causa das suas idiossincrasias, transformou-se em “Sérgio-Velho”.

Era frequentador assíduo do Jockey, principalmente se tivesse uma “barbada” que era fornecida por gente lá de dentro, diziam “barbada de cocheira”.

Aconteceu, naquela época, foram morar no B2 dois jóqueis que montavam cavalos de ponta nas corridas. A turminha chagada nas patas dos cavalos, tratou de fazer amizade com eles. Se não me engano eram A. Barroso e J. Souza.

Numa reunião noturna, me parece da quinta feira, um dos jóqueis deu uma “barbada imperdível” para o Sérgio.

Naquele dia ele tornou-se perdulário, enfiou a mão no bolso e apostou alto.

Chegou a hora do páreo e o Sérgio aflito com seu guarda-chuva, olhando de soslaio para aquele bando de otário que não tinha a dica que o deixaria folgado por um tempo, sentou-se na arquibancada meio retirado, ao seu estilo e o locutor oficial mandou lá no microfone:

- Partida boa para o quinto páreo! Largaram todos!

O Sérgio pensou: 

- Graças a Deus o meu também largou!

O locutor continuou:

- Assume a ponta Gualixo e vai deixando dois corpos de vantagem para o segundo lugar!

O Sergio não acreditava, vermelho quase tendo um troço. Andando dum lado ao outro.

- Contornam a turma de chegada, Gualixo não perde mais!

Sérgio já comemorava. Deixou seu jeito reservado de lado, fez o guarda chuva de estandarte e sambou como mestre-sala.

Eis, porém, que de repente o cavalo caiu morto, fulminado, pois tinha sido dopado até os miolos. 

Num gesto de desespero, estraçalhou o guarda-chuva contra a arquibancada, sentou-se com a cabeça entre as mãos, chorando soluçando, balbuciava:

- Só comigo! Só acontece comigo!

09/11/2020

Pedro Parente.



NB – O nome do cavalo é fictício.


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