terça-feira, 10 de novembro de 2020

SILENCE

 SILENCE

Quando cheguei ao Rio, após disputar um Campeonato de Remo, resolvi ficar.

Minha bagagem era pouca, duas mudas de roupa, o terno do meu pai e o sapato de uso, tudo transportado numa sacola de alças com uma delas arrebentada. 

O problema era achar emprego. Sem formação acadêmica ou profissional, teria que entrar no mercado de trabalho pegando o que aparecesse.

Assim foi que, por intermédio de um parente da minha mãe consegui lugar em um escritório onde o rapaz que fazia o serviço morreu de repente.

Ali reuniam-se os proprietários e diretores das empresas distribuidoras de gás de botijão. 

Só milionários! 

Nos dias de reunião, sentavam-se em volta de uma enorme mesa e discutiam os problemas afetos aos derivados de petróleo.

Éramos apenas dois funcionários, Dª Iracema que conduzia a reunião, redigia a ata e eu que servia o cafezinho. 

Numa bandeja de prata com bule e xícaras de porcelana, para mim era uma grande responsabilidade. Trêmulo, pensava: 

- Se derramar café no terno de um desses homens terei de trabalhar de graça a vida inteira para pagar o desastre.

Morava no Edifício dos Jornalistas no Leblon. Quase todas as manhãs quando saia para o trabalho, encontrava no elevador com um senhor miudinho muito bem arrumado de terno impecável com um sorriso cativante, sempre me cumprimentava cordialmente.

Com meus, botões ficava lisonjeado pelo tratamento a mim dispensado. Passei a admirá-lo com muito respeito.

Certo dia nosso escritório iria promover um evento e por uma questão de civilidade e boa vizinhança decidiram convidar os vizinhos de andar. O incumbido de entregar os convites formais fui eu. O último a ser entregue seria para a representação da revista Time/Life.

Fui recebido por uma moça de traje azul marinho e salto alto que me adentrou ao recinto.

O convite era direcionado ao superintendente.

Fiquei acanhado de ver quanto luxo. Havia um pequeno mezanino com duas escadas laterais em curva, corrimãos de madeira e uma imensa escrivaninha. Do teto pendurada por duas correntes de metal, uma placa escrita em inglês SILENCE.

Subi a escada temeroso. Ao chegar no nível do assoalho pude ver sentado quase sumindo no comando daquele tanto de gente, o senhor que descia comigo diariamente no elevador.

Levantou-se gentilmente com seu sorriso e simpatia habituais, mandou servir um cafezinho.

Sai encantado!

Naquela hora, tornei-me mais amigo do admirável Jayme Dantas, uma personalidade moradora do hoje lendário Edifício dos Jornalistas.

10/11/2020

Pedro Parente


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