segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O ESTRADINHA

 O ESTRADINHA

Segundo nosso amigo Paulo Issa, o conjunto de prédios que compõe o Edifício dos Jornalistas no Leblon, precisamente no Jardim de Alah, na confluência dos bairros de Ipanema e Leblon no Rio de Janeiro, possui 420 apartamentos.

Se considerarmos que em cada apartamento morava pelo menos um jovem adolescente, há de se imaginar o tamanho da nossa turma na década de 60. Os prédios foram construídos em 1956 e eu tive a felicidade de morar ali durante 10 anos. 

A densidade demográfica de gente boa que ali habitava, dava banho em Bangladesh. Era uma aldeia romântica e feliz!

As histórias são muitas, algumas muito interessantes com personagens sui generis e seus hábitos de vida.

No Boco em que eu morava, B2 lá para o 14º andar vivia um grande amigo que se chamava Alfredo Cardoso, contador do Banco de Crédito Real, na esquina da Bartolomeu Mitre com Ataulfo de Paiva na Pça Antero de Quental.

Estatura baixa, pernas arqueadas, era um terror no futebol de areia. Na ponta direita ninguém o marcava tal a sua velocidade. 

Imediatamente colocaram-lhe o apelido de “Estrada de Ferro” em alusão aos micro ônibus da época chamados de lotações, pois não transportavam passageiros em pé e faziam a linha Estrada de Ferro/Leblon. Eram reconhecidos pela velocidade que andavam. Muitas pessoas deixavam de usá-lo de medo.

De “Estrada de Ferro” como é habito do carioca abreviar os nomes, passou a ser tratado apenas como “Estradinha”.

Ali no B2 tinha uma senhora de cabelos brancos que deixava as panelas queimarem no fogão, para vigiar quem entrava e saia no prédio. Ficava o tempo que podia na portaria vigiando algum destemido que ousasse entrar com uma companheira estranha com propósitos “indecentes”.

O Estradinha tinha um apetite sexual de dar inveja em coelhos.

A noite, ele já tinha sua turminha de doméstica que após a lida diária desciam de banho tomado e perfumadas. Todas as noites elas iam ao seu encontro e não negava fogo, subia com uma, mais tarde outra e assim ia. Nunca vi igual.

Numa dessas noites no plantão daquela senhora moralista, quando o Estradinha se aprontava para subir com a segunda namorada, foi barrado.

- Isto aqui é um prédio familiar, não um prostíbulo!

- Desculpe, minha senhora, sou solteiro e o apartamento é de minha propriedade. Se tiver paciência a senhora pode ser a próxima!

Daquela noite em diante acabou-se a fiscalização voluntária daquela senhora.

09/11/2020

Pedro Parente


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