domingo, 18 de outubro de 2020

O CANTOR

 O CANTOR

Nas minhas andanças por este mundo sem fronteiras, sempre fui chegado ao botequim. Ali todos se abraçam, se beijam, se respeitam ou não respeitam, algumas vezes saem no tapa, enfim, um lugar ultra democrático, mas tem uma coisa muito respeitada e que acaba com qualquer discussão e todos o reverenciam que é o violão.
Quando entra o violão na conversa, o tom e o som do barulho diminuem drasticamente e o tocador se torna figura respeitável no boteco.
Minha relação com esses menestréis sempre foi admirável, como diziam os antigos "amizade de trançar pratos".
Normalmente oriundos da periferia das cidades, tem uma vida difícil e fazem do seu dom em tocar violão, uma forma de angariar algum dinheirinho para sua manutenção e suas pingas, como participante quase diário de suas vidas de necessidades, sempre os ajudo a divulgar seus trabalhos.
Assim foi que uma pessoa de certa posse, sabendo da minha intimidade com esses tocadores, pediu que levasse um deles à sua residência, pois adorava serestas e que remuneraria seu trabalho.
Pensei logo no mais necessitado dos violonistas e levei-o até o local previsto.
Uma boa e confortável casa que abrigava naquela noite, muitos amigos do anfitrião que havia feito propaganda do "fulano", famoso na cidade, iria fazer uma "tocada" lá.
Quando chegamos, muito bem recebidos,alguns aplaudiram e encheram os copos.
Fiquei feliz com a recepção e por ter encontrado entre os comensais, vários amigos de minhas relações boemias.
Nosso violonista, possuidor de ótima voz, para esconder sua inibição, deu um acorde no violão e anunciou que cantari ADEUS uma composição da época da morte do Francisco Alves ou Chico Viola.
Empunhou o violão e mandou:
- " ADEUS, ADEUS, ADEUS O I T O LETRAS QUE CHORAM!"
Passou despercebido pela maioria, no final, como gozava de grande amizade do amigo, após ter recebido a remuneração pelo seu trabalho, discretamente dentro do carro, informei-o de que ADEUS se escreve com cinco letras e não oito!
Agradeceu-me e paramos num boteco pra tomar mais duas "chavetadas" como dizia o nosso querido "Mangão".
18/10/20
Pedro Parente

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