sábado, 15 de maio de 2010

DE VOLTA AO PASSADO

DE VOLTA AO PASSADO.

Havia muito tempo que sonhava em voltar à minha terra e rever meus parentes e o lugar onde passei minha feliz infância.

Certo dia quando em frente ao computador, navegando na grande rede, recebi uma oferta de passagem aérea com desconto muito atrativo.

Fiz meus cálculos, contei minhas migalhas, tomei coragem e comprei a passagem de ida e volta para minha saudosa Belém do Pará.

Nessa situação foi inevitável reconstruir meus castelos erguidos na infância. Como num sonho revi imagens e cenas acontecidas quando ainda usava calças curtas e meus bolsos carregavam apenas baladeira e bolas de gude.

Tomado de ansiedade cheguei ao aeroporto de Val-de-Cães.

Diferente daquele que deixei para trás pela primeira vez, hoje muito bonito, moderno, com status de aeroporto internacional ainda pude identificar, entre sombras, a imagem esmaecida da velha construção de outrora.

Dalí eu parti, cheio de vigor e ilusão para o Rio de Janeiro, a fim de disputar uma competição de remo, defendendo meu Estado e com o propósito de voltar na semana seguinte. Isso foi há 50 anos. Continuo aqui pelo sudeste, emaranhado nas teias que eu mesmo teci.

Meus sobrinhos me esperavam e me conduziram à casa deles no bairro da Cremação.

No trajeto pude observar a substituição do casario antigo por arranha-céus modernos que adentram pelo céu.

As ruas são as mesmas, porém o tempo é outro. A minha saudade é do tempo que ficou para trás.

O progresso é irreversível e salutar.

Não gostaria que mumificassem minha cidade, mas gostaria que minha memória apagasse, evitando a angústia de não poder rever minha mãe, meu pai e todos os outros queridos que já partiram.

É querer demais!

Fui recebido pela minha família com o carinho e hospitalidade peculiar ao povo de Belém.

Na mesa, a tradicional comida sui generis de lá. Nada parecido! Fartei-me!

Quanto carinho. Quanta emoção.

Fui rever a casa onde passávamos as férias escolares na Praia Grande em Mosqueiro.

Levava comigo a imagem daquela aconchegante casa de madeira, toda avarandada, ornada de flores silvestres e árvores frutíferas. Local preferido para nossas brincadeiras de criança quando mamãe não nos deixava ir à praia.

Que tristeza!

Minha casa, minha velha amiga já não estava mais lá. E aquela frondosa mangueira que me viu nascer e com quem eu conversava? Para onde foram?

Não as verei mais. Não tenho mais com quem conversar e confessar minhas fraquezas.

O terreno fora vendido, restando um pedaço para mim.

Numa rápida reflexão, senti falta do dinheiro.

Compraria tudo de volta, reconstruiria minha velha casa, colocaria a mangueira lá de volta.

Não.

Infelizmente não tenho mais tempo de vida para vê-la crescer produzir sombras e frutos e voltarmos a conversar.

Com os olhos fixos no horizonte daquelas águas turvas da Bahia de Santo Antonio, disfarcei minhas lágrimas e dei meu último adeus aquele lugar onde conheci a felicidade.

Alguém já disse: “Nunca se deve voltar ao lugar onde se foi feliz”.

ADEUS!

Pedro Parente

pedroparentester@gmail.com