sábado, 27 de junho de 2020

REFLEXÕES


REFLEXÕES.
No atual confinamento, sem muitas opções dentro de casa, a não ser visitas mais frequentes a cozinha num exercício mórbido para aumentar a circunferência abdominal, me ponho a pensar transportando algumas reflexões para o papel a quatro mãos com minha solidão.
Apesar da monotonia os dias passam céleres como se os ponteiros do relógio virassem pás de ventilador.
Hoje é sábado.
Não percebo mais a chegada dele pois acabaram-se as sextas feiras dia consagrado ao deus Baco protetor dos boêmios embriagados pela volúpia do prazer da bebida, do amor e da alegria aos quais me incluo.
Com minha idade provecta e ameaçado por uma pandemia devastadora, meu futuro é cada dia mais o presente, isto é, meu futuro é hoje pois a areia da parte superior da minha ampulheta, está se esgotando.
Peço licença aos meus amigos para dividir seus ombros e repousar minha cabeça num abraço conivente de tempos felizes vividos em suas companhias.
Hoje faz parte da minha rotina, antes do almoço junto com minha amiga inseparável, sorvê-la lentamente em “pequenas dozes repetidas vezes” como dizia meu amigo Carlinhos Aguiar.
Vou caminhando consciente e resignadamente rumo ao cadafalso inevitável pelos “morituri”.
Ates, porém, dedico a vocês um brinde com a taça da minha companheira neste meu ritual diário.
Tim tim!
27/06/2020
Pedro Parente

quarta-feira, 24 de junho de 2020

FRAGILIDADE

FRAGILIDADE
Numa dessas manhãs geladas com o sol ainda tímido, aqui onde moro no arrabalde da cidade, meu filho guiado pelo ganido frágil de cachorro novo, foi até a rua e debaixo de uma touceira de capim, encontrou dois filhotes de pouca idade.
Assustados, molhados pelo orvalho, tremendo de frio com olhar de súplica, foram recolhidos pela piedade do Pedro.
Entrou em casa com os bichinhos no colo, agasalhando-os com sua blusa e os olhos cheios d’água.
Deu-lhes de comer e beber, enxugou-os e cobriu-os com uma mantinha de lã.
Lindos os animaizinhos!
O cão é um animal diferente, reconhece imediatamente a quem lhe faz bem. Aqui não foi diferente. Em recíproca, todos da casa ficaram embevecidos com a singeleza e a simpatia dos bichinhos.
Problema!
Tenho duas cadelas. Opção pelas fêmeas porque não abandonam a casa. Os machos, se sentem o cheiro de uma cadela no cio, somem.
A mais velha está cega, diabética chegando ao final.
Não tenho como criar os recém chegados. De coração partido e com muita dificuldade encontrei um lar para uma delas, mas ficou a outra.
Pedro teve que viajar e sabendo que iriamos doar a pequenina, despediu-se aos prantos.
Hoje estou pesaroso! Arrumei um lar para a outra.
Fica a tristeza por perde-la, mas a certeza de que não sofrerá maus tratos.
Que Deus tenha piedade daquele que cometeu a covardia contra essas criaturas indefesas.
VIVA SÃO JOÃO!
24/06/2020
Pedro Parente


domingo, 21 de junho de 2020

DIGNIDADE

DIGNIDADE
Em 1981 arrendei um Posto de Gasolina para administrar. É uma prática comum nas empresas de petróleo, quando sentem que o administrador está desmotivado, passar para outro sem prejuízo do fundo de negócio.
No meu caso peguei o Posto vendendo 80 mil litros de combustível e consegui levar até os 300 mil/mês. Gostei do trabalho que se refletiu no sucesso.
Oriundo de fábricas de tecidos e time de futebol me sentia muito bem lidando com pessoas das mais diferentes personalidades. Por esses lugares que passei fiz grande amigos e se deixei algum inimigo, desconheço. Tanto que nos 14 anos no comando do Posto, não tive nenhuma reclamação trabalhista contra a firma.
No Posto não foi diferente é um emprego de alta rotatividade. Normalmente jovens iniciando a vida. Logo em seguida arranjam serviço melhor.
Entre os funcionários hoje quero destacar um pelo fato que aconteceu.
Vindo do sertão pernambucano, interiorzão brabo me apresentaram um cidadão chamado Antônio que necessitava de emprego pois havia constituído família aqui na cidade.
Era um homem forte, embrutecido pelas intempéries daquela terra seca. Mãos calejadas e pele sulcada na face aparentando idade além da que tinha.
Tenho admiração por pessoas daquela região. A maioria tem caráter íntegro. Alguns degeneram.
Coloquei-o como vigia.
Numa madrugada do mês de julho, num daqueles invernos rigorosos, tive necessidade de sair de madrugada para ir a Texaco em Betim.
Quando cheguei no Posto para pegar meu carro, o pobre coitado estava embrulhado da cabeça aos pés na pista e não me viu sair.
Quando voltei me deram a notícia de que ele, com vergonha de não ter me visto sair, não voltaria mais ao trabalho.
Fiquei penalizado e incomodado. Pedi que o gerente fosse à sua casa para convencê-lo.
Não adiantou, mandou pedir desculpa e que não tinha coragem de olhar na minha cara.
Tive que mandar seu acerto de contas em sua casa.
Lamentável, perdi um funcionário de caráter.
21/06/2020
Pedro Parente

sábado, 20 de junho de 2020

AMIGO ALBERTO






AMIGO ALBERTO 

Hoje abraçado às minhas duas companheiras cachaça e solidão, resolvi voltar há tempos passados. Pus pra tocar músicas de outrora com Roberto Silva, Nelson Gonçalves, Altemar e outros fantásticos da velha guarda. Não pude deixar de lembrar um grande amigo seresteiro exímio tocador de violão que se chamava Alberto, ou chama-se, pois infelizmente perdi o contato com ele há muitos anos. Gostaria de abraça-lo novamente e brindá-lo com um lá menor e ouvi-lo dedilhar seu pinho com a maestria de sempre. Quando me acompanhava nas minhas cantorias boêmias, me entusiasmava fazendo eu cantar com o coração, tal era a maneira que me agradava enaltecendo minha voz. Ele, por sua vez, ficava emocionado e esmerava-se nos acordes. Grande tocador de violão! Éramos companheiros de serviço. Faturistas no Mercado São Sebastião na Av Brasil – RJ. Pegávamos às 7h e parávamos às 16h. Uma noite, ao sairmos duma comemoração de final de ano oferecida pela empresa, fomos parar no Bar das Pombas lá na Muda – Tijuca. Barzinho bacaninha e aconchegante com uma cascata dentro do bar. Não tinha ninguém nas mesas. Somente um negro de terno branco com violão à mão conversava com o balconista iluminado por uma luz difusa às suas costas. Já estávamos calibrados! Embalado pelo som da cascata e os acordes do Alberto, abri a voz! O negro, que mais parecia uma estátua de ébano, aproximou-se humildemente e pediu para participar com seu violão em dupla com o Alberto. Boêmio é um tipo diferente. Todos são solidários. Com grande alegria o receemos com carinho. Fez uma dupla com o Alberto inesquecível. Quando o acompanhamento é bom as músicas vão surgindo em borbotões. A noite avançando não tínhamos a menor intenção de parar, porém teríamos que pegar o último lotação da noite e no dia seguinte estar às 7h no serviço. Ao despedirmos quis encontrar novamente com aquela figura sensacional e na conversa perguntei seu nome e como encontrá-lo. Para surpresa minha passamos a noite na companhia de Synval Silva que acompanhou e compôs várias músicas para Carmem Miranda. Minhas pernas tremeram! 20/06/2020 Pedro Parente

segunda-feira, 15 de junho de 2020

SARAU DA PANDEMIA

SARAU DA PANDEMIA
Ao meu amigo, irmão e companheiro Cláudio Lopes.
Nestes dias de pandemia e clausura nos reunimos Cláudio, Luiz e eu aqui em casa como se fôssemos pássaros fugidos da gaiola.
Iniciamos como três senhores comportados obedecendo o ritual imposto pela OMS Organização Mundial de Saúde. Distanciamento, máscara e outros adereços mais.
Eu e Luiz optamos pelo tradicional vinho lembrando nossas origens da “Bota”. O Cláudio trouxe sua cerveja pois tem preferência pela mais leve comunicando que seu “alvará” seria somente até as 16h.
Até o término da primeira garrafa, foram mantidas todas as formalidades. Pela metade da segunda a máscara já estava protegendo a nuca e o distanciamento parecia ter ido pro brejo. Tudo indicava que a confraternização exigiria um grande tríplice abraço fraternal.
Inexplicavelmente mantivemos a distância!
Numa explosão de alegria viramos um bando de maritacas, todos falando ao mesmo tempo e quem falasse mais alto, ficava com a palavra.
Justificável! Mais de três meses conversando em monólogo com o computador;
Velhos amigos, velhas histórias! 
Deixamos os momentos tristes de lado e nos atiramos às lembranças de momentos felizes e alegres! Foi quando o Luiz Casano se lembrou de um almoço em Belo Horizonte num restaurante especialista em carnes exóticas. 
Para nós era fato corriqueiro comer carne de animais silvestres, pois nossos pais tinham o hobby de caçar. Não era proibido e era um hábito vindo de nossos ancestrais. Como consumidores conhecíamos a anatomia e o sabor das carnes desses animais. Nossa preferida é a carne da paca.
Fomos salivando a manhã inteira pensando em saciar a vontade com uma bela paca.
O restaurante muito aconchegante e bucólico com mesas espalhadas sob árvores frondosas e uma parte coberta devassada e muito arejada. Lugar ideal para nosso almoço que nunca demorava menos de quatro horas.
Os garçons numa correria disputavam os pedidos dos fregueses e aos berros informavam ao homem do caixa.
Em cinco minutos já havíamos feito nosso pedido e o garçom gritou:
- Sai uma paca, duas pingas e uma Brahma!
O prato veio muito bem servido e saboroso, porém nos entreolhamos e falamos em uníssono: 
- Isto não é paca é coelho!
Como determina o manual dos boêmios: “o bom cabrito não berra.”
Chamei um outro garçom que estava mais próximo e pedi:
- Traz outro coelho!
O garçom que não sabia de nada, inocentemente berrou o pedido para o homem do caixa:
- Sai mais um coelho!
Aí o tempo fechou entre os dois garçons. O primeiro que havia servido a “paca” um prato muito mais caro e por tanto representava uma comissão maior, veio voando pra cima daquele último.
- Eles comeram foi paca e não coelho! 
O bate boca esquentou e para acabar com a discussão pedimos que servissem mais uma paca.
MAS QUE ERA COELHO ERA!
Concluímos nosso convescote com o Cláudio, com seu alvará já estourado em mais de quatro horas, ao violão cantando velhas canções italianas na voz do nosso Caruso - Luigi!
Detonamos cinco garrafas de um bom vinho Chileno em homenagem também ao Deus Baco!
Já mais calmos e tontos, nos entregamos a Morfeu.
15/06/2020
 
Pedro Parente
 




quinta-feira, 11 de junho de 2020

SONHO

SONHO
Hoje acordei cheirando carne queimada de churrasco tal intensidade do meu sonho.
Imensas peças de carne gorda. Contrafilés, alcatras, maçãs do peito e outras preciosidades.
Grande festa!
A turma do Morro da Forca estava toda! Mortos, vivos e vivos mortos.
Confraternizei-me com todos.
As esposas na cozinha e os convidados chegando a movimentação era intensa.
Autoridades estiveram presentes até meus amigos Lalado, Juarez, D’Ângelo, Alemão, Marcinho, Antônio José e muitos outros.
A festa foi intensa que durou a noite inteira.
A casa era na subida do morro próxima ao “Militrinta”.
Tive que me desdobrar em dois ambientes. Hora faltava carvão, outra hora a carne acabava, o fogo sumia ou crescia.
Exausto tentando atender a todos satisfatoriamente, sentei-me e tentei comer um pedaço de churrasco, quando de repente, me cutucaram no ombro.
Virei-me e deparei com a figura do nosso saudoso “Nonô Baixinho”. Figura simpática.
O único sapateiro que conheci que botava meia-sola em tênis e com seu 1 metro de altura desfilava nas procissões de semana santa caracterizado de “Centurião Romano!”. Nos bares no meio da batucada subia na mesa empunhando o paliteiro como chique chique e perseguia o ritmo da hora.
No sonho me deu uma bronca por não o ter convidado.
Sentido pela bronca do Nonô, felizmente acordei.
Tive que trocar toda minha roupa de dormir e tomar um bom banho devido a murrinha de carne com gordura.
Já recuperei.
11/06/2020
Pedro Parente




domingo, 7 de junho de 2020

DESCULPEM

DESCULPEM
Tenho publicado aqui no Face alguns fatos pitorescos da minha memória.
Minha intenção, aproveitando esta fase de isolamento social imposta pela pandemia é de levar aos meus amigos um pouco de alegria e distração.
Peço desculpas pelos textos, pois não tenho formação acadêmica e estudar nunca foi meu forte.
Mais tarde descobri que era disléxico. Fiz muitos professores perderem a paciência comigo.
Fui prosseguindo meus estudos primários a duras penas até chegar ao ginasial quando me foi apresentada na aula de Matemática a tal da Álgebra.
Aí, desisti de vez!
Fechei o livro e fui para a rua jogar sinuca, uma das poucas distrações da época na qual eu tinha certa habilidade.
O jogo era apostado e andava sempre com dinheiro no bolso. Muito mais divertido do que aturar as caras feias e o mau humor dos mestres.
Por isso peço desculpas por eventuais "escorregadas" no castiço.
Só me atrevo a escrever pela facilidade do corretor de texto do computador que tira minhas dúvidas.
Valeu!
07/06/2020
Pedro Parente

sábado, 6 de junho de 2020

MORRO DA FORCA

MORRO DA FORCA
É um bairro agradável que leva o nome também de Bonfim.
Não discuto o contraste entre os nomes, porém não me parece ter um bom fim quem morre enforcado.
Detalhe a parte, trata-se de um simpático bairro de nossa cidade. Uma comunidade muito solidária onde todos se conhecem pelo próprio nome ou de um membro da família. Por exemplo: Binho da Guita (apelido da mãe do Binho) logo todos identificam.
A praça do morro tem vários bares muito aconchegantes com os proprietários amigos e invariavelmente parceiros na pinga e o barbeiro tradicional o Lalado faz alegria da turma com seus casos ultra engraçados. A barbearia serve a todos como um sanatório. Quando vou lá, saio de alma leve, cabelo cortado e tonto, pois debaixo da sua mezinha tem sempre um garrafão da “marvada”.
Há tempos lá existia um verdureiro que funcionava também como bar. No fundo um balcão de madeira tradicional com vidraças para expor chicletes e outras guloseimas para as crianças quando saiam da escola.
Seu proprietário era um homem bom prestativo e solidário que se chamava Tunico. Era dos poucos que possuía carro próprio, uma Rural Willys.
Era frequentador do bar, um cidadão de cabelo vermelho e olhos azuis que ficava encostado no balcão, não puxava conversa com ninguém, talvez por timidez, mas que prestava atenção a tudo em sua volta, percebia-se logo que se tratava de um homem do campo principalmente quando pedia uma pinga. O sotaque era inegável.
Numa certa manhã, entra lá esbaforido um cidadão, implorando ao Tunico que levasse a mãe dele na Santa Casa, pois estava passando mal.
O Tunico concordou e falou que ia buscar o carro.
Aí, aquele “sapo” de sotaque da roça, intrigado perguntou:
- UAI TUNICO! OCÊ TAMBÉM DIREGE?
- Tô indo!

06/06/2020
Pedro Parente



quinta-feira, 4 de junho de 2020

LOTO ZOOLÓGICA

LOTO ZOOLÓGICA

O bar da Dª Ester era nossa catedral e ela nossa padroeira.
Naquele ambiente todos os dias era uma festa, algumas efêmeras outras duravam o dia inteiro, enquanto o bar permanecesse aberto.
Ali conheci um cidadão que me encantou à primeira vista.
Moreno escuro de carapinha branca faces sulcadas pelas marcas severas testemunhas das lutas da vida imposta aqueles menos aquinhoados pela sorte. Voz frágil pelo peso da idade, humilde, permanecia calado no seu canto e só respondia o que lhes perguntavam. Tinha muita dificuldade em caminhar, para ajudá-lo apoiava-se em duas muletas de madeira sob os braços. Aquilo o maltratava muito. Penalizados, nos cotizamos e lhes doamos uma cadeira de rodas. Retribui-nos com um tímido sorriso inibido pela falta de dentes.
Cravei no fundo do meu coração a imagem daquele homem como o símbolo da bondade e resignação. Nunca procurei saber se tinha virtudes e defeitos.
Para sua manutenção e despesas caseiras tornou-se “cambista” do inocente “jogo do bicho” escrevendo apostas aos que lhe procuravam.
Era praxe, principalmente aos sábados vários “cambistas” passarem no bar porque sabendo que eu e Dudu estávamos ali, uma apostinha sairia aumentando suas comissões.
Foi aí, num desses sábados, seu Juca como o chamávamos, estava lá sentadinho na sua cadeira de rodas esperando que os operários na hora do almoço fossem fazer sua fezinha jogando uma moedinha ou fração aventurando a sorte, entrou um policial fardado conhecido de todos nós e com a arrogância peculiar à maioria, humilhou aquela criatura.
- Não jogo na sua mão. Você não paga!
Aquilo nos revoltou. Levantei-me e para rebater a afronta do policial, enfiei a mão na carteira e tirei a maior cédula que tinha e entreguei ao seu Juca.
- Jogue 561 na cabeça!
O policial me olhou raivoso e saiu pisando duro. Nossa mesa comemorou.
A conversa continuou animada. Acompanhando o delicioso mocotó pinga e cerveja desciam uma após outra. Em seguida passou lá o “Bigode” cambista amigo que vinha de bar em bar recolhendo apostas do “bicho.”
Direto na nossa mesa.
O Dudu já era manjado, jogava sempre 047 e eu 561. Fizemos nossas apostas e subimos para o Centro. Paramos no Kibon e veio o “Jacaré” também cambista, e com ele apostamos.
Separei-me do Dudu, pois tinha compromisso com a pelada de sábado e fui jogar.
Após o jogo, no bar do Nonô Barbeiro, comemorávamos o resultado da pelada, não sei se vitória ou derrota, com um pernil assado rodeado dos “atletas”.
De repente parou um taxi. Todos voltaram a atenção para o carro. Lá de dentro salta o Dudu, vermelho empolgadíssimo com um jornal dobrado à mão, e aos berros:
- Pedrão estamos ricos! 561 na cabeça!
Receemos aquele monte de dinheiro. Aos cambistas demos um bom agrado. Seu Juca não queria receber. Insistimos e levou um “pacotinho” de grana.
Uns quinze dias passados estávamos eu e Dudu na nossa catedral comentando que estávamos duros. Onde iríamos arranjar um empréstimo?
Pela primeira vez seu Juca intrometeu-se na conversa:
- O dinheiro que vocês e deram está guardado pra vocês lá em casa!
Absolutamente!
04/06/2020
Pedro Parente



terça-feira, 2 de junho de 2020

PELADA DE SÁBADO

PELADA DE SÁBADO.

A turma do bar tinha também seu dia de atleta, com objetivo nobre de exercitar os músculos e tentar manter um preparo físico razoável, embora o objetivo principal seria o após jogo, claro que ninguém é de ferro e nem tanto atleta assim, mirávamos mais o copo do que a bola.
Durante a semana nosso amigo e companheiro de fábrica Nonato era o responsável de arrumar o adversário para o próximo encontro futebolístico. A convocação dos nossos atletas era fácil, feita ali na mesa do Bar da Dª Ester onde a maioria se reunia.
Num desses sábados, Nonato combinou que a pelada seria num campinho que funcionava precariamente, pois não estava concluído. O campo de pequena dimensão era a medida exata para os nossos atletas que não gostavam de correr muito atrás da bola.
Numa das laterais havia alguns detalhes relevantes e inseguros. Para que a linha do quadrilátero pudesse ser traçada, foi necessário escavar o morro manualmente com o auxílio da mão de obra da comunidade. A outra metade da mesma lateral era mais perigosa, um desbarrancado sem proteção nenhuma e logo a baixo havia uma singela moradia da Dª Rosa. Uma senhora simpática e muito solidária. Morava sozinha e tinha dificuldades em manter a casa com a pensão do marido já falecido.
Nosso heroico lateral direito escalado naquela tarde foi o impagável Mijoleta. Baixinho, invocado, falava grosso que nem besouro e quando chapava um copo liso da “marvada” suava que nem panela de pressão. Fazia a alegria quando debulhava as cordas do seu surrado violão sobrevivente de longas noitadas.
O jogo seguia muito bem num compasso de procissão, quando lançaram uma bola alta nas costas do Mijoleta. A bola vindo e ele recuando de costas para o desbarrancado, quando percebeu que não tinha jeito de parar, deu um salto mortal de costa e caiu em pé se esborrachando no telhado da Dª Rosa que tranquilamente preparava sua janta.
Foi um “Deus nos acuda!”
Dª Rosa apavorada achando que havia caído um avião na sua cabeça, abriu a porta da casa e desceu o morro berrando pedindo socorro.
Acabou o jogo deixamos o campo. Nosso time e a torcida cabiam num fusca.
Segunda feira pedimos desculpas a Dª Rosa, mandamos reparar o telhado destruído pela queda do Mijoleta e já entramos em concentração para o  jogo do próximo fim de semana.
Vida de atleta é sacrificada!
02/06/2020
Pedro Parente


segunda-feira, 1 de junho de 2020

BAR DA Dª ESTER


BAR DA Dª ESTER
Em 1970 quando deixei o Rio de Janeiro e vim morar definitivamente em São João del-Rei, fui trabalhar numa fábrica de tecidos de grande porte.
Logo fiz amizade com meus companheiros de escritório. Todas excelentes pessoas, entre eles tornou-se meu companheiro inseparável o contador chamado Dudu que tínhamos a mesma idade e os mesmos defeitos, entre eles de gostar de uma boa pinga.
Para nossa alegria, em baixo do escritório, havia o bar da Dª Ester. Uma senhora simpática de sorriso fácil, gentil que com suas filhas trabalhavam arduamente para ganhar o suado pão de cada dia.
Sempre tive uma grande atração por bar, onde tudo se discute e nada se resolve, assim sendo, claro que me tornei frequentador assíduo. Sempre muito bem tratado com alegria e os saborosos tira-gostos feitos ali, quentinhos, na hora.
Certo dia estávamos na nossa mesinha numa conversa animada, quando entrou um cidadão conhecido nosso que estava fazendo sucesso no futebol, vestindo uma roupa estravagante, relógio de pulso, cordão de ouro e já arrastando uma certa marra.
Nos cumprimentou, encostou-se no balcão e falou:
- DONA ESTEU ME DÁ UM ROLABEL!
Fez-se silêncio sepulcral em nossa mesa e uma grande interrogação para a pedido do rapaz.
Que será?
Prontamente Dª Ester foi lá para dentro e nós ficamos na expectativa.
Pensei com meus botões:
- Dª Ester é moradora antiga e já conhece o dialeto do freguês!
Finalmente ela vem lá de dentro empunhando uma garrafa do uísque ROYAL LABEL.
Solucionado o enigma, nos entreolhamos num sorriso maroto enquanto o Dudu com a boca cheia de cerveja, engasgou-se e explodiu numa chuveirada de Brahma na turma.
Fecha a conta!
01/06/2020
Pedro Parente