sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A CORDA

A CORDA

Antigamente quando o Rio ainda era uma cidade pequena, serena, mas já muito romântica e boêmia. Poucas pessoas pelas ruas e podiam-se identificar os cidadãos pela hora que estavam nela. Quer dizer os da madrugada eram os notívagos, gigolôs e prostitutas e entre estes se misturavam alguns padeiros e guardas noturnos.
Pois bem, o bonde parava à meia noite. O último era chamado de “cristo”. Depois daquel
e horário, os boêmios de bairros mais afastados não tinham como voltar para casa. Como fazer?
Havia no centro do Rio lá pela Gamboa um bairro próximo à zona boêmia onde resistiam umas construções antigas que davam o nome de “cabeça de porco”. Normalmente essas construções possuíam um corredor muito comprido contíguo a casa. Sempre habitado por portugueses de bigodes grossos, tamancos, camisetas e a calça enroladas até o meio das pernas, prontos para a lida.
Para defenderem um dinheiro extra, colocavam um “banco corrido” de tábuas compridas com dois suportes de ferros fincados no chão, um de cada lado,  uma corda que ia de um ao outro e  alugavam para aqueles que perderam o “cristo” passarem o resto da noite.
O cidadão entrava, sentava-se no banco e debruçava na corda que passava à sua frente. O próximo que chegava o fazia com sutileza para não balançar a corda e despertar os outros que ali descansavam.
Pela manhã o português, sem qualquer cerimônia, desatava o nó falso e berrava: Chega de dormir! Está na hora de trabalhar vagabundos!
A moçada desprevenida tomava aquele susto e alguns iam de cara ao chão.
O português recebia a estadia e oferecia um tanque de cimento para a moçada lavar o rosto. Alguns, mais sofisticados, tinham um pente amarrado em um barbante e um caco de espelho para o freguês poder retocar a maquiagem.
Eram tempos felizes!
Segundo nosso querido amigo Arthur – o Tutuca - era freguês de “carteirinha” da corda.
Pedro Parente

25/11/14