sexta-feira, 28 de outubro de 2016

LEBLON PROVÍNCIA.

Naqueles tempos, quando o Leblon ainda era uma província e todos nos conhecíamos pelo nome próprio, decorriam mansamente os glamorosos "Anos Dourados".
Nossa turma do Edifício dos Jornalistas no início da Ataúlfo de Paiva, por ser muito grande, havia bate-papo até o dia clarear. Se quiséssemos tomar um cafezinho tínhamos que caminhar o Leblon inteiro até o ponto final do lotação Estrada de Ferro/Leblon.
A vida se arrastava inocentemente.
No início da Visconde de Pirajá, havia um cinema enorme pouco frequentado que deu lugar à TV EXCELSIOR de grande sucesso com o início das alegres Tardes de Domingo, com Roberto Carlos e sua turma.
Fazia parte da grade de programação, um que chamava-se A PALAVRA É...apresentado pelo discutido e temperamental Flávio Cavalcante.
Consistia do seguinte: o apresentador falava uma palavra e imediatamente aqueles que estavam na brincadeira, apertavam um botão com uma cigarra estridente e então, lhe era dado a possibilidade de continuar cantando a música com a palavra sugerida. Mas era obrigatório constar a palavra na letra da música.
Fez grande sucesso. Nas reuniões, nos bares só se brincava disso. Acho que a emissora não era a mesma, já havia trocado de dono mas o sucesso continuava.
Eu frequentava um bar no Jardim de Alah que chamava-se Garden Bar. Ali reunião-se intelectuais principalmente jornalistas que me permitiam sentar com eles. Fiz grandes amizades.
No segundo quarteirão da Ataúlfo de Paiva funcionava um outro bar o Alvaro's. 
Lá era reduto de uma intelectualidade mais alta e refinada. Dela fazia parte meu amigo Dr Almir. Compunham a mesa Paulo Mendes Campos, Santiago Sabino, Chico Buarque, Oranice Franco e outros. 
A brincadeira também era a da TV, A Palavra é...
Numa daquelas noites, durante o programa, ao vivo do qual participava o Chico Buarque, gozador de berço. O Flávio Cavalcante mandou lá no microfone: - A palavra é...PROFUNDO.
O Chico foi mais rápido e apertou o botão antes dos outros. Então o Flávio lhe passou o microfone para que continuasse a música.
Entre risos o Chico cantou: "O peixe é pro fundo da rede/ segredo é pra quatro paredes/ primeiro é preciso julgar/ pra depois condenar." (Acho q é do Lupicínio).
O Flávio expulsou-o do jogo enquanto a platéia se deliciava.
Numa dessas noites, Dr Almir chegou ao Garden e sentou-se à minha mesa.
Sabedor de que eu era conhecedor de inúmeras letras de músicas, contou-me que lá na mesa deles, não conseguiram achar uma música com a palavra QUADRO.
Na hora cantei: Aquele quadro que ornamenta nossa sala de jantar/ Naquele quadro minha fé depositei/ É de São Jorge junto dele toda noite vou rezar/ Agradecendo tudo que realizei/ O nosso lar, nosso teto, nosso amor/ eu devo a ele que é meu santo protetor/... 
Na hora pediu que copiasse no guardanapo do bar.
Voltou correndo para a mesa do Alvaro's com a música nas mãos (se não me engano de autoria do Blackout).
E assim pude participar para enriquecer o conhecimento intelectual daquela plêiade.
kkkkkkkkkkkkk