terça-feira, 29 de maio de 2018

CANTINA CALABRESA

Foi nessa época que certo dia, cedinho, eu e o Kito saímos para caminhar nas Águas Santas com o propósito de desintoxicar e perder um pouco de peso que já nos rondava.
De short e tênis fizemos nossa caminhada naquele ambiente agradável do lugar.
Exaustos, entramos no carro e voltamos.
Kito morava no Edifício São João, lugar perigoso, pois lá estava a Cantina Calabresa que nos atraia com a simpatia do Ítalo e seus acepipes.
Não deu outra!
Ainda com a porta de aço semi aberta, Kito sugeriu um ovo frito para recompor as energias.
Fomos recebidos pelo Brás que nos servia sempre com muito carinho e participava das nossas conversas como irmão.
Quando um freguês deixava parte do almoço ou jantar intocável sobre a mesa, o Brás tirava o prato, ia na cozinha trocava o prato, fingia que havíamos pedido.
Essa sobra dávamos o nome de "barranco".
Era uma alegria.
Evitávamos o desperdício e o Ítalo era conivente.
Pois bem, quando chegamos naquele horário, ainda cedo da manhã.
O Brás sonolento, se assustou:
- Mas já? Ainda não terminei a limpeza do salão?
- Somos da casa. Um filé com dois ovos!
- E pra beber?
- Nos entreolhamos. Em uníssono:
- Trás um licor Strega que é digestivo. Tomamos uma garrafa!
Feita a digestão, emendamos com um litro de uísque Theacher's.
Nessas alturas a mesa já estava lotada com nossos companheiros que já haviam farejado no que ia dar.
Após detonarmos o estoque de bebidas de dose que o Ítalo mantinha num expositor de portas de vidro embutido na parede, o Ítalo com o dedo que mais parecia um martelo, bateu no balcão e tocou alto sua voz de recolher: DORMIRE!
Chegamos em casa, tropeçamos na tromba das esposas e caímos na cama.
29/05/2018


Pedro Parente

PORQUE LULA

Nasci, apesar das suas riquezas, na esquecida região Norte, precisamente em Belém – PA. Lugar de imensa floresta e água em abundância. Diferente da região Nordeste, onde, em certos lugares, a água é escassa. Onde não tem água é impossível sobreviver.
Ocorrências de profundas tristezas aconteciam naquela época de seca.
Era comum, o dono de caminhão bater na porta daquelas famílias desgraçadas, desesperadas que assistiam  à morte de seus animais e também de suas crianças e velhos. O caminhoneiro oferecia transporte gratuito para tirá-las daquela situação,  levando-as para locais menos inóspitos onde pudessem sobreviver dando de comer às crianças principalmente.
Pois bem, não sabiam do malfadado destino que os esperava. No rastro da poeira levantada pelo caminhão uma desgraça macabra os esperava. Talvez a morte fosse menos sofrida.
Viajando rumo sul, o dono do caminhão parava nas fazendas verdejantes de “coronéis” abastados e colocava a venda a sua carga.
O capataz examinava com atenção e escolhia o que lhe servia principalmente homens para trabalho escravo na lavoura.
- Quanto custa este aqui? Apontando para um chefe de família.
Depois de fechado o negócio, o condutor do “Navio Negreiro” recebia o pagamento em dinheiro e entrava na cabine para prosseguir com o séquito medonho, justamente quando mulher e filhos do homem vendido se preparavam para descer da carroceria do caminhão.
- Podem ficar onde estão! Aqui só fica o homem, não queremos mulher nem crianças em nossa fazenda!
Desesperado o pai implorava:
- Pelo amor de Deus! Trabalho de graça para o senhor a vida inteira, mas não me separe da minha mulher e dos meus filhinhos!
O caminhoneiro acelerou o carro, deixando para traz gritos de lamento daqueles retirantes numa cena hedionda.
O restante da carga tinha destino incerto: algumas mulheres viçosas iriam se prostituir para dar de comer a seus filhos, outras sem viço ficavam pelo meio do caminho. As crianças quando davam sorte, cairiam em algum orfanato o resto viraria morador de rua em alguma cidade e com tanta desdita acabariam no submundo das drogas.
Isso era fato corriqueiro provocado pela indústria da seca.
O Brasil, todos os anos, despejava dinheiro para a população afetada pela seca, por intermédio dos políticos. Nunca chegou um centavo sequer aos destinatários.
Lula acabou com isso. Com um simples cartão magnético, o dinheiro chega direto às mãos dos que sofrem.
Lula/Dilma estão inundando o Nordeste com água do rio S. Francisco beneficiando mais de 12 milhões de pessoas.
Lula/Dilma criaram mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada.
Tirou 35 milhões de brasileiros da miséria absoluta.
O Brasil levou 500 anos para criar 100 escolas técnicas. O Lula em seu mandato criou 214. Semana passada nos tornamos campeões mundiais em ensino técnico graças à criação do PRONATEC.
Apesar de o Brasil possuir 9.000km de costa marítima, nossa indústria naval estava sucateada. Nossas plataformas de petróleo eram construídas em Singapura dando emprego para chineses. Hoje nossa indústria naval é a 3ª melhor do mundo dando emprego para milhares de brasileiros. Mais de 500mil casas populares entregues aos menos protegidos pela sorte. 12 novas Universidades Federais e inúmeros novos campi. Medicamento gratuito para a população seja rica ou pobre. Descoberto o um oceano de petróleo na plataforma continental na zona do pré-sal. Enquanto o déficit público na zona do Euro gira em torno de 5% o do Brasil é de 0,5%. O dos EEUU é de 2,5%; do Reino Unido é de 5,2%; da Alemanha é de 0,6%. Mais de 16.000 corruptos presos mais de 5.000 funcionários públicos expulsos e um fato inédito: empresários corruptos presos. Nunca havia visto nenhum atrás das grades. Polícia Federal e Receita Federal equipadas e autônomas já criaram mais de 200 operações de combate a corrupção.
Nenhuma operação contra membros do PSDB, embora todos conheçamos as falcatruas dos seus membros.
Isso é governo democrático.
Hoje tenho 74 anos. Não tinha mais esperança de ver meu país mais justo. Agora é realidade.
Pedro Parente
02/09/2015

NAQUELES TEMPOS

NAQUELES TEMPOS

Naqueles tempos, anos 60, vivíamos as delicias dos "anos dourados" lá pras bandas do Leblon no Rio de Janeiro. Todos jovens e alguns jovens senhores recentemente encanecidos todos felizes
Durante a semana cada um no seu emprego, sonhando e fazendo planos para o final de semana para o nosso vólei na praia.
As coisas eram mais ou menos organizadas. Nossa rede era matriculada na prefeitura sob número 01, lá onde desemboca um dos canais da lagoa Rodrigo de Freitas.
Cedo Jorge Pena trazia a rede para ser armada e marcada a quadra. Nosso amigo Lulu Mangualde, mineirinho de Barbacena, esperto, para não participar daquela chatice, se escondia atrás da bomba de gasolina no Posto do Paulinho. Depois da rede armada e o trabalho concluído, chegava o Lulu com seu sorriso maroto e sua simpatia cativante. Em seguida Flávio Carneiro da Cunha com sua verve, formava uma roda sorridente comentando os assuntos da semana. Não ficava nada a dever ao Stanislaw Ponte Preta humorista refinado à época.
Entre sorrisos e gargalhadas jogava-se uma partida enquanto a manhã passava.Um mergulhinho no mar maravilhoso e um copinho de mate geladinho passávamos a vida lentamente sem preocuparmos se ali era o céu.
De repente, alguma das vezes, o céu mudava. O vento sudoeste acabava com a festa, expulsando os banhistas da praia e a nós consequentemente.
Para uma parte da turma não tinha problema nenhum, corríamos para o bar Cleeper na esquina da Carlos Goes que possuía a melhor serpentina de chope da zona sul. Dois lusitanos nos atendiam com o maior carinho. Segundo meu amigo João Luiz Rangel ainda estão lá até hoje.
Tira gosto maravilhoso. Pernil, carne assada recheada e um detalhe: ovo cozido uns azuis e outros vermelhos. É que na hora do cozimento o português botava na água o envólucro do cigarros Continental (azul) Hollywood (vermelho).
E o tempo passava até chegar em casa, lá para as tantas, após um samba na Cruzada São Sebastião no ap do Sabará.
Eh! Vida boa!

06/04/2017 Pedro Parente.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

LUMINOSA MANHÃ



LUMINOSA MANHÃ
Outono aqui na Colônia bairro onde moro, os dias já amanhecem friozinhos e deixar a cama é difícil. 
O céu claro e o sol ameno transmitem paz celestial ao meu velho e cansado coração.
Não tenho nada a fazer. Nenhum compromisso que não possa ser adiado, pois sou aposentado e vivo no ócio esperando minha derradeira chamada.
Enquanto não chega volto minha vista ao derredor. 
Deslumbrante a natureza que me brinda com um cenário exuberante emoldurado pela Serra São José.
Flores de outono com a singeleza da estação, cores amenas onde buganvílias se destacam com seus diferentes matizes.
Nesse clima bucólico, fui premiado com oito filhotes de minha pachorrenta vira lata. 
Aquecida pelo fogão de lenha, trata com carinho de sua pródiga prole. Não falta carinho a nenhum.
Esqueço as maldades do mundo e me introduzo no corpo de um deles para usufruir do regaço e de tanto afeto da mãe dedicada. Chego a sentir o calor e o coração ofegante daquela criatura.
Preocupa-me o destino deles. Provavelmente não se verão mais durante a vida. Uns mais e outros menos privilegiados pela sorte obedecerão ao que o destino lhes reserva. Por enquanto desfruto desse inocente quadro à minha frente com sentimento de paz.
Tanta claridade no céu. São famosos os dias e as noites de abril. Dizem que são os mais limpos. Concordo. À noite podemos destacar com clareza as constelações no firmamento. 
Aqui já foi mais calmo. Rua de terra, o gado caminhava vagarosamente e não se ouvia ninguém buzinar. Hoje já se projetam até quebra-molas. 
Agora vou passar um cafezinho fresquinho num coador de pano para egoísta, isto é, só para uma pessoa. Passo direto na caneca uma dose só para que fique bem quentinho. Acompanhado de broinha de fubá fresquinha.
Não existe condomínio de luxo que dê a tranquilidade desse momento. É o privilégio de morar no arrabalde cercado de nuanças despercebidas em outros lugares agitados.
São servidos?
Pedro Parente
24.04.2018

MAMÃE

MAMÃE.
Mais um ano sem ti.
No dia em que vim ao mundo, na minha imaginação, transporto-me para aquele momento e vejo minha querida mamãe.
Não era bela nem feia, nem rica nem pobre, era apenas a minha mãe. A mais bela a mais rica e a mais santa. A melhor.
A nossa será sempre a melhor, inigualável.
Posso ver sua serenidade e seu sorriso de anjo, sentir sua emoção de ter um filho.
Um filho saudável. Apenas, um filho.
O que eu terei representado para ela naquele momento? Sinto-me orgulhoso.
Qual dos dois era o mais feliz?
Por seu intermédio vi a luz pela primeira vez..
Que emoção terei sentido?
Após o parto, terão me colocado deitado junto ao seu coração para que me desse conta do compasso da vida. Certamente naquele momento seu coração pulsava forte de emoção por ter seu rebento, ali, em silêncio, num diálogo que somente os anjos escutaram.
Me vejo, mais tarde, com cabelos loiros cacheados, os braços roliços estendidos em sua direção a lhe pedir colo, sugar de seus seios o suco da vida, para em seguida com a cabeça apoiada em se ombro dormir o sono dos inocentes.
Alguns poucos anos a frente, com medo do escuro da noite, aproximava-me dela que cochilava, pedia-lhe que deixasse dormir agarrado à sua costa.
Muitas vezes me negava, obedecendo a determinação de psicólogos, pedagogos e outros mais, que não conhecem nada de coração de criança. Ou não tiveram mãe ou se esqueceram rapidamente concordando com seus compêndios.
Mas, mãe é sempre conivente com os filhos. Havia a noite que ela obedecendo a seu instinto, aquiescia e deixava que eu desfrutasse daquele doce regalo. Agarrado a ela dormia ao som das trombetas dos querubins e serafins. Ai eu achava até que existia Papai do Céu.
Nesse clima de paixão recíproca, fomos vivendo a vida. Não percebia que envelhecíamos.
Um dia levaram-na de mim.
Por que? Se eu a amava tanto! Não me consultaram e nem a ela, muito menos? Só porque eu queria dormir agarrado à ela? Só porque ela me amava? Eu não tinha fortuna, mas aquele era o meu tesouro.
Por que? Quantas perguntas sem resposta.
Não é justo!
Não entendo porque temos que pagar um preço tão alto por ter vindo ao mundo, se o que temos de mais precioso nos levam.
Mamãe, nunca te esqueci.
Nem que viva mil anos tua imagem jamais me sairá da retina. Fui feliz e me sinto muito mais feliz por ter te feito feliz.
Como Barrabás, aquele trocado por Cristo, o homem que não morria, apesar dos sofrimentos que lhe foram impostos eu também viveria mais cem anos miseráveis, sofrendo todo tipo de humilhação e covardia em troco de apenas poucos minutos em teu regaço.
Não desisti. Ainda te encontrarei.
Pedro Parente

HORA DE RELAXAR

Nas minhas andanças pela vida, tive vários empregos modestos, pois não tenho formação acadêmica. Parei de estudar quando me apresentaram no colégio uma nova matéria, álgebra. Talvez por dislexia ou burrice mesmo, aquilo não me entrou na cabeça, apesar da insistência.
Num desses empregos em escritório de contabilidade era meu colega de trabalho um cidadão que pelo seu temperamento afável e de humor refinado, tornei-me seu admirador.
O chefe do escritório, um senhor de certa idade era muito austero sem ser ignorante.
Tinha o costume de quando chegava à sua poltrona de trabalho, consultar a temperatura no termômetro dependurado na parede. Em seguida fazia um um breve comentário conosco.
Isso era sagrado!
Certo dia, meu amigo resolveu fazer uma brincadeira com o chefe sem que o mesmo ficasse sabendo.
O homem obedecia um horário britânico. Às 7h adentrava ao escritório.
Chegávamos todos antes dele. Não permitia que fosse diferente.
Meu amigo retirou o termômetro da parede e o colocou dentro do congelador da geladeira que ficava na sala de café anexa.
Ficou de prontidão, ouvido atento aos passos do chefe subindo a escadaria.
Ao pressentir sua chegada, o colega correu, retirou o termômetro da geladeira e dependurou na parede no lugar de sempre.
Ato continuo,obedecendo ao ritual diário, o chefe, levantando a calça pela correia para cobrir a barriga, consultou a temperatura.
- Nossa! Por isso! Nunca senti tanto frio em São João.
A preleção meteorológica naquele dia foi mais longa.
Foi difícil conter o riso.
Momento hilário!
22/05/2018
Pedro Parente

domingo, 27 de maio de 2018

BAR CLIPER



BAR CLIPER

Fim de semana chegávamos lá depois da praia e entravamos pela noite. 
A turma sentava-se nos barris de chope.  Tinha um coroa, o Ruider de cabeça raspada que havia sido dono do Siroco um bar em Copa. Já tinha falido mas era gente fina demais. Gostava da companhia dele. Chegou-se e lhes oferecemos o chope. 
Aceitou na hora. Enfrentava dificuldade para se manter. 
Foi bebendo, bebendo e a tarde findando. 
Certa altura cochilou. 
Nós continuamos, chope, chope e o pernilzinho delicioso do seu Joaquim. 
Passado um tempinho, na hora do lusco fusco quando não se sabe se é dia ou noite, despertou! 
Sem entender nada, ainda que meio dormindo, pediu uma média pingada com pão e manteiga. 
A risada foi geral, pois ele achava que o dia estava amanhecendo. 

27/05/2018
Pedro Parente

ESQUINA DO KIBON

ESQUINA DO KIBON -

Quando vim do Rio para São João del-Rei pelas mãos do meu querido amigo Raul Neves da Rocha Guimarães também conhecido na turma como Raul Baiano pois era nascido em Sento Sé - BA, passou a fazer parte da nossa rotina, passar os fins de semana em São João.
Isso foi durante os anos sessenta. O Brasil ainda estava com a população em torno de setenta milhões como escreveu Miguel Gustavo na sua música em homenagem à Seleção Brasileira de Futebol.
O trânsito ainda era calmo. Não haviam tantos automóveis e nem a proliferação das motos.
Desta forma, podíamos vir de carro, à noite sem muito risco pela sinuosa estrada União Indústria, hoje rodovia 040.
A estrada era estreita e cheia de curvas. Tinha apenas duas pistas de mão e contra mão. Se coincidisse de pegar uma carreta a sua frente era quase impossível ultrapassagem e a viagem se tornava longa e monótona.
Como é natural nos jovens certa irresponsabilidade pelo acumulo de energia, muito hormônio e adrenalina, encontrávamos no Garden Bar no Leblon por volta das 18 horas para uma boa prosa regada a chope e tira gosto.
Meia noite, entrávamos no carro, uma valente Vemaguete de três cilindros, sem esquecer de trazer conosco um litro de conhaque para matar o frio. Bafômetro era coisa de ET.
Chegávamos com o dia amanhecendo.
Na primeira vez me surpreendi, pois a comitiva de recepção era macabra. João Diabo, Judas e Demônio.
Não entendi direito e pensei:
- São João é lugas santo. Acho que me trouxeram para o inferno!
Era alcunha de ótimos amigos que tive a felicidade de conhecer.
Lugar novo, tudo parece estranho.
Esquina do Kibon? Nada a ver com a tradicional e vetusta cidade mineira.
É que ali havia um bar de esquina que foi o primeiro a instalar uma sorveteria com produtos da Kibon.
Os sorvetes servidos pelo Claudionor. Pessoa querida, amável e atenciosa. Quando se fala do "Kibon" a imagem dele está associada como uma logomarca.
Dali íamos jogar pelada num cimentado e entrar na Cachoeira da Candonga com muita cerveja e churrasco.
Exaustos, no fim da tarde, chuveiro e cama!
Dias de muita alegria!

27/05/2018
Pedro Parente.



sexta-feira, 25 de maio de 2018

O ASSSALTO

dro Parente
O ASSALTO.
Todo bar tem sua peculiaridade. Lá no bairro do Segredo o Bar do Carlito é conhecido pelo rigor de seu funcionamento, principalmente na hora de fechar. Deu a hora de fechar, não adianta insistir, o freguês recebe a conta num pedacinho de papel muito bem cortado, e fim de papo, pois não quer sacrificar sua mãe que o ajuda com seus deliciosos tira-gostos. O Carlito é uma figura correta e sistemática. A higiene é irretocável. Seu pai e sua esposa, admiráveis, formando uma família exemplar.
O bar não é grande, e é costume a todos os frequentadores que chegam cumprimentar um por um com um forte aperto de mão.
Pois bem, ali freqüenta uma turma eclética. A maioria de jovens senhores bem sucedidos amigos de longa data, tanto que há mais de dez anos criaram a Turma do Buneko que se reúne todos os meses na residência ou no sítio dos confrades, para comemoração dos aniversariantes.
Segundo “Paulo Buda” um dos decanos: “Tem dias que este bar está um verdadeiro hospício”. Impossível segredo. Todos participam das conversas.
Bar é lugar de gente alegre. Raro encontrar alguém triste e macambúzio. A ordem é alegria.
Num fim de tarde, já escuro, os circunstantes foram surpreendidos por um assalto a mão armada produzido por dois meliantes que chegaram de bicicleta de modelo obsoleto que servia de transporte para os dois. Por aí já se percebe o nível!
Colocaram o revólver na cabeça do primeiro que estava sentado à porta. Segundo o Rodrigo, pelo frio do cano, tratava-se de um “treisoitão”.
Anunciaram o assalto. Ninguém deu papo e a conversa continuou em voz alta.
Meio que desmoralizado, o pivete berrou um palavrão e repetiu que se tratava de um ASSALTO.
A turma atendeu e dedicou o merecido respeito ao ato.
O primeiro a ser assaltado puxou a carteira cheia de dinheiro e na frente do pivete tirou “cincoentinha” e passou ao coletor de espórtulas. Satisfeito dirigiu-se ao próximo. Naldinho, nosso querido amigo de idade provecta com a memória prejudicada pelo mal de Alzheimer, ao ser pressionado pelo bandido, disse: - Não vou dar mais nada. Hoje já dei esmola!
Desconfiado o cara dirigiu-se ao nosso intrépido Comandante de Longo Curso conhecido carinhosamente como Batata. Apontou o revólver e o Batata no auge das suas lucubrações, pensando tratar-se de um isqueiro, prontamente tirou um cigarro do bolso e levou-o até a ponta do cano no intuito de acendê-lo. O cara quase pirou!
Carlito sorrateiramente, esgueirando-se pelo chão arranjou um jeito de comunicar-se com sua mulher na parte de cima do bar que imediatamente, da janela, alardeou que chamaria a polícia.
Ato continuo, os moleques correram e montaram na bicicleta. O comparsa que dirigia o veículo, ainda xingou com um palavrão o garupeiro que quase o derrubara ao saltar afobado na garupa.
Saíram disparados na medida em que a velha bicicleta agüentasse.
Coisas de São João!
Pedro Parente
26/04/2014

FORO PRIVILEGIADO

edro Parente
FORO PRIVILEGIADO - Ontem diante dos holofotes e câmeras que fazem a cobertura daquele tribunal mequetrefe que é o STF com todas suas mordomias e requintes ridículos, reuniram-se seus membros empertigados com objetivo de extinguir o asqueroso Foro Privilegiado.
Simples: 11 membros votariam sim ou não.
Pois bem, numa sessão que durou a tarde inteira 10 votos foram proferidos restando apenas um para conclusão do julgamento. Por esse motivo e pelo avançado da hora 18,15h a mesma foi interrompida e adiada para outra data.
Pelos votos já proferidos, lê-se: o que seria o fim do tal Foro Privilegiado, recebeu apenas alguns retoques que atingirão meia dúzia de deputados e senadores.
Isso é um acinte!
Quanta custa uma hora de trabalho daqueles senhores empertigados que usam vestimentas requintadas, penteados rebuscados e palavrório prolixo composto de palavras raras sem acesso à interpretação de leigos?
Sem o menor constrangimento, vão destilando suas vaidades com o único objetivo de aparecer mais que o outro.
A eloquência de alguns, lembra Cícero em suas Catilinárias.
Sem o menor pudor, metem a mão nos bolsos dos contribuintes.
Tragam os votos impressos em quantas laudas quiserem para quem se interessar ler, mas sejam práticos e objetivos, digam apenas SIM ou NÃO.
Eficiência zero!
É o que eu acho!
03/05/2018
Pedro Parente

AMBIENTE DE TRABALHO

Nas minhas andanças pela vida, tive vários empregos modestos, pois não tenho formação acadêmica. Parei de estudar quando me apresentaram no colégio uma nova matéria, álgebra. Talvez por dislexia ou burrice mesmo, aquilo não me entrou na cabeça, apesar da insistência.
Num desses empregos em escritório de contabilidade era meu colega de trabalho um cidadão que pelo seu temperamento afável e de humor refinado, tornei-me seu admirador.
O chefe do escritório, um senhor de certa idade era muito austero sem ser ignorante.
Tinha o costume de quando chegava à sua poltrona de trabalho, consultar a temperatura no termômetro dependurado na parede. Em seguida fazia um um breve comentário conosco.
Isso era sagrado!
Certo dia, meu amigo resolveu fazer uma brincadeira com o chefe sem que o mesmo ficasse sabendo.
O homem obedecia um horário britânico. Às 7h adentrava ao escritório.
Chegávamos todos antes dele. Não permitia que fosse diferente.
Meu amigo retirou o termômetro da parede e o colocou dentro do congelador da geladeira que ficava na sala de café anexa.
Ficou de prontidão, ouvido atento aos passos do chefe subindo a escadaria.
Ao pressentir sua chegada, o colega correu, retirou o termômetro da geladeira e dependurou na parede no lugar de sempre.
Ato continuo,obedecendo ao ritual diário, o chefe, levantando a calça pela correia para cobrir a barriga, consultou a temperatura.
- Nossa! Por isso! Nunca senti tanto frio em São João.
A preleção meteorológica naquele dia foi mais longa.
Foi difícil conter o riso.
Momento hilário!

22/05/2018
Pedro Parente

quarta-feira, 23 de maio de 2018

MEMÓRIA RIBEIRINHA

MEMÓRIA RIBEIRINHA - À margem direita do alto Rio Guamá na confluência do igarapé Muraiateua no Pará em terras do Coronel Hilário no sítio Canta Galo, foi instalada a casa grande.
Lugar muito movimentado devido a uma taberna que fornecia e vendia gêneros alimentícios, querosene para lamparinas, café, fumo de rolo, calçados, Cibalena para dor de cabeça, Específico Pessoa contra veneno injetado por picadura de cobras e outras bugigangas mais...
Um grande trapiche de madeira adentrava ao rio. Ali atracavam as embarcações de mascates e o barco que fazia a linha, isto é, ele saía de Belém e seguia rio acima parando em cada moradia para embarcar o desembarcar passageiros. Era o nosso coletivo, pois o rio era nossa estrada.
Convivíamos todos em harmonia acompanhando a marcha serena do rio com seu movimento de enchente e vazante.
Na outra margem com aproximadamente 2km ficava o cacaual. Os frutos dele colhidos eram transportados em barcos movidos a remo. Um trabalho pesado.
Na casa grande moravam várias famílias de descendentes do coronel.
Como em todo lugar, devido a pluralidade de comportamentos, se destacava Tio Cazuza.
Sempre arrumadinho, não queria nada com serviço pesado.
Serviria bem como mestre de cerimônias ou relações públicas. Pessoa de fino trato. Incapaz de uma indelicadeza. Respeito absoluto pelo coronel. Quando pressentia a presença dele, tratava de se esgueirar entre as árvores.
Certo dia, não teve jeito. O coronel mandou chamá-lo e transmitiu-lhe uma ordem:
- Acompanhe o Saturnino até o outro lado para ajudá-lo a colher cacau.
Tio Cazuza tremeu da cabeça aos pés.
Saturnino era um rapaz vigoroso, de pouco sorriso e de um mal humor exacerbado, tanto que recebeu o apelido de "Velho".
Entraram no batelão, nome dado às canoas maiores para transporte de mercadorias e atravessaram o rio.
Tio Cazuza fingia que remava e não derramou uma gota de suor. Enquanto isso o pobre do Velho ia fomentando sua raiva. Aumentou ainda mais quando percebeu que estava colhendo os frutos praticamente sozinho.
Numa dessas levadas de mão para colher o cacau, talvez por indução do capeta, confundiu uma caixa de marimbondos com o fruto.
Foi atacado pelo enxame. Seu ódio foi tanto, desesperado, indefeso sem poder revidar, detonou um pé de pimenta malagueta mastigando-as com toneladas de ódio nas mandíbulas.
Tio Cazuza atônito, sem saber o que fazer e não ter para onde correr, se agachou atrás de uma frondosa árvore e se aliviou de uma imensa diarreia.
Mudos atravessaram de volta com a canoa lotada de cacau e de contra peso o inchaço provocado pelas ferroadas de marimbondo na pele do Velho que espumava ódio pelas ventas.
23/05/2018
Pedro Parente

terça-feira, 22 de maio de 2018

ESTIRÃO


ESTIRÃO
Nascido de famílias oriundas da Europa como a maioria dos brasileiros, trago no sangue, a raça de portugueses, italianos, espanhóis e índios.
Uma verdadeira procissão de bandeiras nacionais.
Por ter participado mais diariamente da vida dos ascendentes italianos, meus laços tornaram-se mais estreitos com a turma da “Bota” como é apelidada a velha Itália devido seu contorno geográfico.
Meu bisavô Nicola Maria Parente, nascido em Marsico Nuovo na Basilicata antiga Lucânia - IT. Chegou ao Brasil trazendo o primeiro cinematógrafo produzido pelos Irmãos Lumiére dos quais era amigo.
Era dado o primeiro passo para o cinema em movimento no Brasil saindo do modelo mudo, único naquela época.
Estabelece-se em Abaetetuba-PA após, com seu cinematógrafo, ter feito cinema itinerante de Taquari – RS até Belém – PA.
Pela proximidade com os parentes italianos adquiri deles seu jeito singular de ser. Passei a admirá-los e mantê-los vivos no coração.
As tradicionais macarronadas de domingo no casarão da Rua Manoel Barata em Belém, regada com muito queijo e vinho para os mais velhos em torno de uma imensa mesa para comportar uma imensa família.
O patriarca vovô Garibaldi sentava-se à cabeceira e vovó Marcela ao seu lado. Pais de uma prole de onze filhos, alguns já casados àquela época, era uma alegria só.
O macarrão servido em várias travessas generosas saciava o apetite e trazia para ali as lembranças e tradições do além mar. As crianças como eu se fartavam. Suco de frutas locais ou de uva para a meninada. A algazarra parava quando solicitado pelo anfitrião. Hora do almoço! Silêncio! Somente os mais velhos podiam falar de amenidades e em voz baixa.
Quantas lembranças daquele casarão. Outros tempos pé direito alto, cômodos enormes.
Guardo na minha retina a imagem de minha avó sentada tendo à sua frente um cavalete onde habilidosamente tecia renda de bilros. Meu avô já de pijama em casa a seu lado lendo livros de sua preferência. Ao fundo um jardim interno muito bem cuidado com flores tropicais e nas gaiolas pequenos periquitos australianos se acarinhavam o dia todo.
Menino de dez anos minha mãe me arrumava todo aos domingos e acanhado ia visitar meus avós.
Chegando ao casarão encontrava-me com eles. Muito tímido e sem graça era recebido pela vovó de braços abertos, reclamando:
- Tu és o único neto que não me beijas!
Meu coração aos pulos não cabia dentro do coração de tanta emoção. Sentava-me ao seu lado com uma vontade louca pelo colo dela. Continha-me e ficava admirando ela tecer suas rendas.
Fui crescendo sem saber que a cada dia perdia aqueles momentos de tanta felicidade.
Aos onze anos presenciei meu primeiro velório. Minha avozinha me deixou. Rodeada pelo carinho da família, moribunda no leito de morte pediu uma vela acesa e morreu. Dez meses depois meu avô foi juntar-se a ela.
A vida passou, mas as lembranças ficaram de duas casa que fizeram minha alegria, o do Largo da Sé de propriedade dos Barroso onde morava a Dindinha e o casarão da Manoel Barata da família Parente.  
Aqueles momentos e a convivência com o carinho e afeto da minha família, ajudaram a forjar meu caráter e admirar meu semelhante.
Vim para o Rio para voltar na semana seguinte e por aqui fui ficando e me envolvendo nas teias que eu mesmo teci.
Valeu a pena pelos amigos que tive e os filhos Lia, Nara e Pedro que amo muito.
22/05/2018
Pedro Parente