segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NICOLA MARIA PARENTE - BISAVÔ

ACADEMIA PARAIBANA DE CINEMA

Acadêmicos
VIDA E OBRA DE SEUS INTEGRANTES

CADEIRA Nº 1
PATRONO - NICOLA MARIA PARENTE
Foi o responsável pela primeira exibição de cinema na Paraíba, fato ocorrido em 01/08/1897 na
casa nº 2 da atual av. Gal. Osório, durante a realização da tradicional Festa das Neves.
Conforme o jornal “A União” da época, com seu ”cinematrógrapho”, Parente “exibiu cinco
surpreendentes vistas que deslumbraram pela maturidade de movimentos”.
Esse exibidor itinerante era italiano de nascimento. Durante muitos anos morou na França e
em vários Estados do Brasil. Na Paraíba, montou o estúdio “ Vesúvio”, situado na Rua da
Areia, nº 73. Fez exibições em Natal, Recife e Salvador. Em 1904 mudou-se para a pequena
cidade de Abaeté, PA, a fim de chefiar uma firma de que um de seus filhos era sócio.
Morreu no dia 19/02/1912 vítima da explosão de um gerador de oxigênio por ele inventado.

domingo, 6 de dezembro de 2009

NICOLA MARIA PARENTE

NICOLA MARIA PARENTE

OS FILMES FORAM ESCOLHIDOS PELA IMPORTÂNCIA NA HISTÓRIA LOCAL , REPERCUSSÃO DE PÚBLICO OU SUA QUALIDADE ARTÍSTICA. ENTRE PARÊNTESIS O NOME DO EXIBIDOR E DATA DE EXIBIÇÃO EM FORTALEZA

DANÇA DO VENTRE

1897

  • DANÇA DO VENTRE - 1896, Thomas A. Edison, EUA; com a bailarina Fatima, sensação na Feira Mundial de Chicago (Kinetoscope Edison / Comendador Acton e A. Ferreira Braga: 19.09.1897).
  • A CHEGADA DO TREM (Arrivé d'un Train), 20 m, Star Film, França diretor: Georges Méliés (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • O MINUETO DE LUIZ XV (Menuet Louis XV), 20 m, Pathé, Méliès (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • VISÃO D'ARTE (Vision d'Art), 15 m, Pathé, França (Méliès (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • O REGIMENTO DE CAVALARIA EM MARCHA - França (Méliès (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • O BEIJO - França (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • ENGRAÇADA DANÇA DE UMA EGÍPCIA NUM HOTEL - França (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • OS ESPANTOSOS BANHOS DA ALVORADA EM MILÃO (Les Basins Découverts à Milan -ou- Bains de Diane), 1896, Societé Lumière, filmado por Giuseppe Filippi, França (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • GRACIOSAS CORRIDAS EM SACOS (Cours en Sacs), 1896, Societé Lumière, França (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).
  • O TRAJETO DO CASAMENTO DO PRÌNCIPE DE NÁPOLES (Cortège au Mariage du Prince de Naples), 1896, Societé Lumière, filmado em Roma por Charles Moison, França (Dionísio Costa e Nicola Maria Parente: 13.11.1897).

  • 13 de novembro de 1897


O Cinematographo Lumière é lançado em Fortaleza pelos exibidores Dionísio Costa (farmacêutico de profissão) e Nicola Maria Parente, com apoio do capitalista cearense Alfredo Salgado. As sessões do projetor dos irmãos Lumière são realizadas à rua Formosa, 89, próximo do Hotel de France e do Passeio Público. Os exibidores procediam de Belém do Pará e, pelo menos Dionísio Costa, segue para a Bahia, onde faz apresentações no Polytheama Bahiano, a partir de dia 4 de dezembro de 1897. Nicola Maria Parente faz sua temporada baiana entre 9 de julho e 1o de outubro de 1898. Os filmes da estréia do cinematógrafo na Bahia, certamente os mesmos vistos no Ceará, foram: "O Minueto de Luiz XV" (Menuet Louis XV, Pathé, 20m), "Visão d'arte" (Vision d'Art; Pathé, 15 m), "A chegada do Trem" (Arrivé d'un Train; Star Film, 1896, 20m, de Georges Méliès), "O Regimento de Cavalaria em Marcha", "O Beijo", "Engraçada dança por uma egípcia num Hotel" e "Os espantosos banhos de alvorada em Milão" (Les Bains Découverts à Milan -ou- Bains de Diane, 1896, Société Lumière, filmado por Giuseppe Filippi).

segunda-feira, 20 de julho de 2009

CONTRASTES

CONTRASTES



Após anos de luta, ora galgando degraus, ora descendo-os, buscando sempre mais vitórias e, principalmente, ser feliz, estou chegando ao meu ocaso de maneira melancólica, cheio de dúvidas e de perguntas, talvez mais até do que quando iniciei minha jornada.
Foram momentos de profunda tristeza aqueles, quando me despedi de meus companheiros de regata. Eles voltavam para minha terra natal e eu ficava no Rio de Janeiro, naquela época, uma terra estranha cheia de gente estranha.
Dezenove anos, recém saído da adolescência, cheio de temores, abdiquei do regaço de minha mãe, da convivência com meu pai e meus quatro irmãos para tentar ganhar a vida, sozinho.
Um caminho muito difícil aquele que escolhi para trilhar. Inóspito, muitas vezes asqueroso. Resistindo ao assédio de homossexuais e das drogas, das mulheres infelizes, coroas mal-amadas com contas bancárias recheadas, compradoras de amores. Quem compra amor colhe tristeza e quem dá amor colhe carinho. Felizmente, não me prostitui. Resisti às tentações do vício. Tive disciplina. Nos empregos que trabalhei nunca perdi a hora. Meus alicerces foram calcados em sólida rocha, composta por uma família simples e bem estruturada, a quem devo meu berço e educação.
Falar de si próprio é perigoso. A vaidade, inerente ao ser humano, induz enaltecer nossas virtudes e omitir nossas fraquezas, erros e defeitos. Procuro me vigiar para não cometer esse engano. Pecados, erros e defeitos, possuo-os em demasia, porém o maior deles é amar demais. Amar intensamente a vida, a mesa farta, as mulheres e os amigos. Após sessenta anos, pode-se imaginar quantas derrotas, desilusões e desenganos vivi. Não foram poucos. Espero que não cessem. Mesmo assim é viver. A pergunta é: valeu a pena? O contraste que apaga todo sacrifício está na alegria de ter gerado meus filhos, Lia, Nara e Pedro. Por eles faria tudo outra vez, mesmo que fosse penalizado com mais espinho. O amor deles compensa qualquer outra falta de carinho ou de amor.
Envelhecemos. Embora ainda tenhamos nossas fantasias, os afagos e carinhos vão sendo substituídos pela indiferença e os galanteios, por insultos e rabugices. Em uma de suas célebres canções, o poeta Lupicínio Rodrigues disse: “Esses moços, pobres moços...” e eu diria: “pobres velhos!...” O desprezo e a indiferença tornam-nos verdadeiros e incômodos trastes. Um dia, certamente tudo cessará. Aqueles que deixam grandes heranças serão lembrados de forma efêmera com farras perdulárias e extravagantes. Aos humildes e fiéis, restará o pranto emocional e a eterna lembrança de quem com eles dividiu a miséria. Parece que a necessidade consolida o caráter, enquanto a riqueza em excesso leva à leviandade. São contrastes que a vida nos reserva.

P.S.: Saudades do sempre elegante e solícito dr. Cid Rangel que nos deixa. Tive a honra e o privilégio de gozar da sua amizade. À dona Ruth e filhos, meus sentimentos. Em nossa memória ficarão lições de caráter, profissionalismo e simpatia.

O SEXAGENÁRIO

O SEXAGENÁRIO



Fui mortalmente atingido por esta marca provecta. Numa reflexão, me dei conta de que no lugar dos sorrisos da minha face, surgiram sulcos provocados por uma já constante expressão sisuda decorrente de pensamentos mórbidos, de uma expectativa de vida cada dia menor. Não tenho mais o brilho nos olhos igual ao daqueles que amam a vida. Os braços cansados não têm a mesma força de outrora, quando praticava o remo de competição. Os passos titubeantes e claudicantes acusam o envelhecimento dos ossos do meu corpo e uma dolorosa artrose destrói meus joelhos. Muitas coisas que me causavam alegria hoje me aborrecem. As freqüentes gargalhadas deram lugar a um sem graça sorriso amarelo e as parcas lágrimas de outrora tornaram-se freqüentes.
Obeso, tornei-me alvo da ganância: o esteticista olha para mim e vê um cifrão; o cardiologista também e por último o dono da funerária. Faço parte do discriminado grupo dos gordos. Nessa idade em que os prazeres vão se tornando escassos, não devo e não posso me privar daquele que sempre coloquei à frente de quase todos, o prazer da boca, o prazer da mesa, do bom beber e do bom comer. Foi assim que adquiri meus 120 quilos e esta vasta barriga, que, segundo Seu Alain, é um “tesouro”. De fato, alguns milhares de calorias e de reais foram consumidos para cultivá-la. De bebida nem se fala, talvez uma piscina olímpica tenha sido ingerida nesses sessenta anos. “Quem envelhece é a matéria, o espírito continua jovem!”, exclamam alguns com ares de sabedoria. Quem gosta de espírito são os campos-santos, onde vivem os bem-aventurados. Eu vivo da matéria e se ela envelhece, eu feneço. Morrendo, nada mais me interessa, pois não verei mais minha família, meus filhos e os amigos que amo. Não verei mais as montanhas verdejantes desta terra, os rios serenos serpenteando mansamente entre seus vales, o sol brilhante das Minas Gerais, as chuvas generosas que encharcam a terra, revigorando a relva e o verde num espetáculo de renovação da vida que nos é oferecido por nossa mãe natureza e que, para muitos, passa despercebido.
Infelizmente, só vamos dar atenção à singeleza de uma flor, quando já não tivermos mais tempo para admirá-la. A competição pela sobrevivência na lida diária não nos permite parar para apreciar as perfeições, os fantásticos alvoreceres e crepúsculos à nossa volta. “Os desenganos vão conosco à frente e as ilusões vão ficando atrás”, dito pelo poeta que tem o dom de expressar com palavras aquilo que sentimos e não sabemos falar. Há muito não tenho mais de quem tomar benção. Meus ascendentes todos já se foram. Vou caminhando em meio a uma tempestade de raios sem ter abrigo. Volta e meia um companheiro de jornada é atingido. Mais recentemente meu inseparável amigo Salvador foi o alvo de um desses raios. Deixou uma lacuna profunda no meu coração. Pessoa de fino trato, educação esmerada, solícito. Pensar que não o verei mais me causa imenso pesar e não dou conta de evitar as lágrimas. Não sei se o Salvador havia combinado com o Remo, mas tudo faz crer que está havendo uma grande festa no céu, pois seu sepultamento foi exatamente no dia do aniversário do Artur. Ainda bem que o “Leréia” não me convidou.

A FLOR DO GUAMÁ

A FLOR DO GUAMÁ

Lá para as bandas do rio Guamá, rio caudaloso que banha a cidade de Belém do Pará, meu pai possuía uma grande quantidade de terras, advindas das sesmarias de meu avô materno “Coronel da Guarda Nacional”.
Ali havia um casarão com dependências comuns a todo tipo de residência com um enorme trapiche onde os barcos atracavam e um pequeno comércio dirigido pelo meu pai e seu fiel escudeiro seu Feliciano.
Esse era o sítio “Canta Galo” de onde trago saudosas memórias.
Os caminhos da Amazônia eram feitos apenas de hidrovias e picadas abertas rusticamente a golpes de facões.
Meu pai encomendou a um dos seus empregados, chamado Adélio, carpinteiro naval de grande prática, um barco a vela.
Adélio conhecia quase todos os segredos da floresta.
Procurou e encontrou a árvore que queria uma maçaranduba de seus 20 metros de comprimento.
Aquela era a madeira ideal para fazer a quilha, devido a sua robustez e quanto ao peso e resistência.
Os nativos da floresta sabem como ninguém o manejo das árvores.
Num dia determinado pela fase da lua, tomando todo cuidado na derrubada, a fim de não ofender outras espécies de árvores preciosas e mais novas, promoveram a queda daquele monstro secular.
Após um ano com a madeira já curtida, começou o trabalho de entalhar e dar forma a madeira, tudo de maneira muito rudimentar, porém com muito carinho. As ferramentas eram: machados, terçados e enxós.
Aquela peça enorme e pesada foi arrastada sobre roletes de madeira até a beira do rio, onde foi construído um estaleiro para conclusão da obra.
Após calçada, escorada e aprumada a quilha, foi sendo encaixado o cavername, aquelas peças que dão forma ao barco e que recebem as falcas.
Muito trabalho árduo, de sol a sol, num calor escaldante e o tormento dos mosquitos picando e zunindo ao seu ouvido.
Isso é a floresta úmida tropical. Poucos resistem. Devido tantas intempéries, a expectativa de vida daqueles caboclos é muito baixa.
Finalmente Adélio e seus ajudantes concluíram a primeira etapa. Agora era calafetar o casco com mechas de pano embebido em breu derretido no fogo com ajuda de talhadeira e marreta, iam cunhando entre as falcas.
Agora a expectativa se o barco ao flutuar não pendia para nenhum dos lados, o que seria um grave erro de construção e um grande demérito para o mestre Adélio.
Na preamar da maré de lua cheia, finalmente o casco foi “lançado ao mar” termo de marinharia, pois ali a água é doce.
Sucesso! Permaneceu flutuando no prumo, isto é, não pendeu para nenhum dos lados, nem para bombordo nem para boreste.
Agora é colocar a tolda, o leme, o mastro, as enxárcias, os moitões, as vergas: superior e inferior, colocar a vela mestra e a bujarrona; a escota, pintar e batizar.
Recebeu uma vela estilo grega, de lona, tingida com casca de jatobazeiro que lhe deu uma tonalidade marrom escuro.
É uso naquelas bandas pintar o nome da embarcação na ilharga da tolda, e como era desejo do velho aquela obra de arte recebeu o nome de Flor do Guamá.
Tornou-se famosa. Ninguém a vencia. Deixava para trás todas aquelas outras embarcações a vela que tentassem porfiar.
Pilotar um barco daquele tamanho, com uma área de vela imensa, na cana do leme, teria que ter habilidade e muita força.
Era linda aquela vigilenga!
Enfrentava o Guamá encapelado com galhardia e destemor.
Pilotada pelas mãos calejadas e firmes do Coló, João Marinho ou do Nicolau fazia as viagens entre Belém e o Canta Galo sempre que a carga estava completa. Durante a safra não tinha descanso. Trazia de tudo, especialmente farinha, cacau, arroz e frutas que era vendido na feira do Ver-o-Peso.
Passaram-se os anos, meu pai envelheceu e a Flor do Guamá também. Passou a não ser tratada com o carinho que papai lhe dava. Talvez por isso e também paixão, numa dessas viagens com o vento geral soprando com toda força, carregada de farinha, não resistiu. A verga inferior juntou-se a superior numa refrega mais forte do vento e ela partiu-se ao meio perdendo toda a carga. Com vento forte, é perigoso navegar de “vento em popa” é preferível com o vento de través.
Eu preferia quando praticava barco a vela.
Felizmente nossos heróis tripulantes foram salvos após ficarem a deriva agarrados a pedaços de destroços durante toda noite.
Daquele dia em diante notei mais tristeza no semblante do meu velho que nunca mais quis falar da Flor do Guamá.
Pedro Parente
pedro.parente@oi.com.br

sábado, 7 de março de 2009

O FUNERAL

O FUNERAL

Há tempos passado, numa pequena cidade do interior, habitava um cidadão chamado Joca Nonato. Homem sisudo, de pouco riso, temente a Deus, daqueles que não precisava assinar qualquer tipo de documento, bastando apenas um fio de seu bigode; cumpridor de suas obrigações e por isso mesmo, muito respeitado por sua probidade.
Com todos esses predicados, invariavelmente seu Joca era convidado a batizar crianças nascidas no local.
Certo dia, não fugindo a regra, convidaram-no a batizar uma linda menina nascida naqueles dias e que seria levada a pia batismal para ser ungida com os santos óleos dos catecúmenos.
Ao término da cerimônia, seu Joca fez questão de presentear o padre com sua espórtula. Abraços de confraternização entre os compadres e presentes, aquela menina saiu dali com o nome de Francisca de tal e que logo em seguida seria conhecida pela alcunha de Francisquinha.
Francisquinha tornou-se uma menina ativa e no colégio só tirava notas ótimas, mostrando destarte sua admiração e abnegação pelos estudos.
Assim foi que logo concluiu com louvor o segundo grau na escola local que era o ensino máximo que existia.
Seus pais percebendo a necessidade de sua filha em prosseguir nos estudos, fizeram um sacrifício e a levaram para concluir seu curso em uma grande cidade, próxima ao vilarejo onde moravam.
Francisquinha progrediu e conseguiu se formar em odontologia.
Por uma fatalidade do destino, Francisquinha foi vítima de um mal súbito e veio a falecer.
Seu Joca, cumpridor de suas obrigações, recebeu a notícia já em cima da hora. Não titubeou. Chamou o filho e pediu-lhe que o levasse até o velório da afilhada.
Quando chegou ao cemitério, o enterro já seguia, rumo à sepultura, com o caixão sobre uma pequena carreta, sendo empurrado por parentes contritos em profundo silêncio.
Sem pestanejar seu Joca interrompeu o séqüito, pedindo que abrissem o caixão, pois queria prestar sua última homenagem ao morto.
Aqueles que empurravam a carreta, atenderam seu Joca, emocionados.
Quando o caixão foi aberto, seu Joca surpreso e a moda do bom mineirinho, colocou a mão esquerda sob o braço direito e a mão direita no queixo e exclamou:
- Uai! Eu não sabia que a Francisquinha estava usando bigode!
Esclarecida a confusão, soube-se que a Francisquinha já havia sido sepultada e aquele que ali jazia era outro defunto do sexo masculino.
Pedro Parente
pedro.parente@oi.com.br


PS . Os moradores da rua Luiz Giarola, da Colônia, não sabem ainda em quem votar na próxima eleição para Prefeito de São João, porém já têm certeza em quem não votarão, em protesto as autoridades municipais pelo descaso com aquela rua. Nem operação tapa-buraco foi feita. Estão juntando dinheiro na seca para jogar fora na época das águas. Que decepção...

CAUSOS DO SALÃO - Lalado

CAUSOS DO SALÃO



No final dos anos quarenta, aconteceu um fato com meu pai “Zé do Cercadinho”.
Ele gostava de se fantasiar nos carnavais e sair com a “Turma do Zé Pereira”, grupo de fantasiados que circulavam pelas ruas do centro de São João.
Papai gostava de caprichar na indumentária, e naquele ano pegou um mantô preto e comprido, de pelos brilhantes, grosso e quente pacas. Colocou uma peruca feita com cabelos de milho, óculos escuros, um par de botas pretas e, com a ajuda de minha mãe ele se fantasiou e saiu.
As recomendações de sempre:
- Cuidado! Não beba muito e não faça igual aos outros anos. Volte hoje!
- Pode deixar que eu não vou virar a noite, não!
O que minha mãe não imaginava, é que uma hora depois, papai chegou em casa danado da vida, dizendo que ia trocar a fantasia. Sem explicar muito ele disse que tinham posto um apelido que ele não gostou e, como tava virando gozação ele resolveu voltar.
Arrumando um lençol fez um turbante tipo árabe, colocou os óculos pretos, um outro paletó, também preto, calção branco sapato e meia ¾ e tornou a sair. Mas como ele não havia dito o apelido recebido, mamãe, curiosíssima perguntou:
- Qual foi o apelido José, que te deram?
Ele com a maior cara de cínico, disse:
- Me chamaram de parteira e eu não gostei.
Ai foi a vez de minha mãe, dando boas risadas dizer:
- Então vai pra farra seu URUBU-REI.
Lalado
CAUSOS DO LALADO

No bairro do Bonfim aqui em São João del-Rei, existe uma barbearia de um mestre no ofício de cortar cabelos e, também contar “causos”.
Aconselho àqueles que sofrem de depressão ou de tristeza que experimentem um corte de cabelo ou uma barba com o Lalado.
Tenho certeza que o cidadão sairá de lá, muito mais leve, não só aparentemente com o corte do cabelo, como sairá leve por dentro ao ouvir um causo contado por esse especialista em retratar as figuras do cotidiano.
Num desses dias, fui lá acertar as pontas daquilo que restou da minha cabeleira e contou-me que, em outros tempos, havia um verdureiro na Praça do Bonfim.
Seu estabelecimento era simples, porém muito sortido. Tinha uma peculiaridade, a pinga era da melhor qualidade. Com isso, tinha uma freguesia cativa.
Numa manhã de inverno, uma rapaziada da pesada, filinhos de papai, começou a beber e tirar o gosto com tomate, outros com laranja e mexerica.
Lá pelas tantas quando o consumo da marvada pinga já era exagerado, iniciaram uma guerra de frutas, uns contra os outros.
A coisa tomou grandes proporções e foi parar no meio da rua destruindo o estoque do pobre verdureiro.
O Zé Honorato, um cidadão negro e sestroso, motorista de profissão, pois dirigia um caminhão velho que de tão velho a carroceria tinha somente o assoalho, as laterais e o fundo não existiam mais. O capô não tinha as travas, de maneira que quando o caminhão andava, o capô levantava e caia dando-nos a impressão que aquilo era a boca de um enorme jacaré, ainda mais que a boléia era verde surrado pelo tempo.
Zé Honorato conservava o sotaque de carioca e exagerava nos xis. Isso era sua marca registrada.
Naquele dia subia o morro a pé com destino à sua casa para “traçar uma mistura”, olhou aquela confusão: melancia, laranja, mamão, tomate, tudo voando. Não se fez de rogado e continuou seu caminho dentro de sua calça de linho e blusa branca social.
Ao aproximar-se daquele tumulto, levou um tomate maduro no peito, manchando sua blusa branca de vermelho.
Correu em direção à barbearia do Lalado e lá entrou esbaforido. Sentou-se numa cadeira, pos a mão na mancha vermelha na altura do peito e falou:
“-Lalado , essssssstou ferido, levei um tiro nosssssss peito”. Caprichando no sotaque.
O Lalado muito velhaco, a fim de testar o Zé, disse-lhe:
- Agüenta mão que vou chamar a ambulância.
Zé Honorato deu um salto da cadeira e falou:
- Não precisa meu amigo, a patroa é enfermeira ela faz o curativo com essssssparadrapo.

Pedro Parente
pedroparente@oi.com.br

Causos do salão

Causos do salão
Lalado

Arlindo um servente de pedreiro, homem sisudo de poucas palavras. Morava no alto do Morro da Forca próximo à igreja do Bonfim.
Certo dia, quando subia o morro com um pesado feixe de retalhos de madeiras no ombro, perto do filtro que distribuí água para a cidade, passa por ele, o caminhão em que é Zé Honorato trabalhava.
Um Chevrolet velho,..., que não tinha buzina e nem arranque. Para entrar na cabine, só se fazia pela porta do motorista, pois a outra não funcionava. Quando chovia, a água entrava direto para a cabine, pois não tinha vidros, porém não causava nenhum problema, do jeito que entrava por cima, saia por baixo o assoalho era que nem tábua de pirulito, isto é, todo furado. Naquele caminhão o que o Zé tratava com o maior cuidado eram os freios. Morando no alto do morro tinha consciência que sem eles estaria pondo em risco a integridade física dele, dos pedestres e dos postes de iluminação. Seu caminhão era movido a gasolina e seu abastecimento não era feito direto na bomba e sim com um conta-gotas. Volta e meia via-se o Zé com uma latinha carregando combustível para o caminhão.
Zé Honorato parou o caminhão no bar que ficava em frente ao filtro, como Arlindo era seu vizinho, Honorato ofereceu carona para o amigo:
- Arlindo tu vais pra casa? Joga esse feixe ai na carroceria e vem tomar umas e comer um tira gosto.
Sexta-feira, a grana do Arlindo só saia no Sábado, ele não pensou duas vezes e fez o que Honorato propôs. Beberam umas e outras boas, até esquecer.
Seis e meia da noite entraram no “velho” (caminhão) como era tratado por Honorato que quando bebia exagerava nos “efes e erres”.
- Arrrlindooo, vou ter que darr um tranco para fazer o pau velho pegar.
O caminhão não possuía motor de arranque e eles estavam cerca de cem metros de distância das suas casas, no topo do Morro da Forca. Engrenou uma marcha a ré. E foi dando tranco descendo o morro, passando pela Praça, Rua Ribeiro Bastos, Largo de São Francisco e a Rua da Prata. O pau velho parou próximo ao convento. Ali não tinha mais inclinação para o caminhão descer e não pegou no arranque.
O Arlindo p. da vida, virou para Honorato e disse:
- E agora Zé como que fica? .
Zé Honorato respondeu, curto e grosso:
- Eu vou ficar aqui. Põe a lenha no ombro e sobe o morro novamente.
Arlindo arrependido de ter aceitado a carona, não teve outra alternativa, jogou feixe no ombro, tonto das pingas e p. da vida, refez todo o caminho pela segunda vez, depois de um dia de trabalho pesado.
Chegou em casa as tantas da noite, com o ombro sangrando e ainda por cima tomou uma bronca da mulher:
- Isso é hora de um chefe de família chegar em casa com a cara cheia de cachaça?