terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

MEMÓRIA

Memória, essa nossa companheira inseparável que nos acompanhará na nossa trajetória de vida. As vezes amena, em outras severa, porém, sempre melancólica e triste.

A medida que o tempo passa, nosso arquivo da memória aumenta.

Quando menino, nossa memória não ultrapassa os dez anos, mas na velhice ocorre o contrário. São dezenas e dezenas de anos acumulados cheios de recordações e principalmente de saudades.

Infeliz do homem sem memória.

Pensava Marcel Proust, romancista francês: “ O mundo é a idéia que cada qual tem dele, e, assim a vida tem que ser vivida através da memória, pois só no passado é que se encontra a essência da personalidade. A memória funde a experiência do passado, que não está morto, mas apenas em estado latente, e precisa ser reacordado, unido-se ao presente.” ( Enciclopédia Barsa ).

Pois é.

Concordo plenamente com Proust, e assim é que sempre estou fazendo incursões pelo labirinto da minha memória em busca de respostas no passado para problemas do presente.

É intuitivo sempre buscarmos lembranças alegres, deixando as mais tristes em um arquivo separado num cantinho do inconsciente.

Todos têm uma concepção do fato de envelhecer.

Eu, particularmente, não tenho dúvida, de que o maior tesouro que levamos no decorrer dos anos é a nossa própria memória, que alguns preferem chamar de experiência.

Por esses meandros, voltei até 1959.

Dia de regata na baia de Guajará em Belém do Pará.

Festa.

A baia enfeitada de pequenas embarcações engalanadas, decoradas com bandeiras multicolores.

Nas grandes barcaças vindas do Mississipi, e de propriedade da Port of Pará, impulsionadas por aquelas imensas rodas traseiras, muito conhecidas nos filmes de New Orleans, ali aconteciam grandes bailes durante a realização da regata. Cada clube alugava a sua.

Tudo com muito glamour, com direito ao suave balanço da maré e à brisa vinda do leste.

Não imaginava o que me esperava, naquela manhã festiva.

Minha guarnição de remo, composta de quatro remadores e um timoneiro, correria dois páreos, sendo que num deles o troféu vinha sendo disputado haviam 19 anos. A posse definitiva só aconteceria no caso de três vitórias consecutivas, que era o caso daquela manhã.

Eu estreava na posição de voga, aquele que sob a orientação do timoneiro, comanda o ritmo das remadas. Nossa guarnição estava muito bem preparada. Nosso forte era a remada picada, rápida.

Alinhamos. A baia estava revolta. Foi dada a partida e eu caí num ritmo lento de remada para reservar as forças para o final.

Nosso timoneiro não orientou corretamente, porém quando percebi que não havia mais ninguém atrás de nós, alterei o ritmo.

Já era tarde. Perdemos o páreo. Foi a maior decepção da minha vida no esporte.

No páreo seguinte, com os mesmos concorrentes, ganhamos com sobra.

De um páreo para o outro já estava mais maduro. Havia aprendido a lição que minha memória me ensinou.

O esporte é, sem dúvida, um grande conselheiro. Com ele aprendemos a conviver pacificamente com sucesso e derrota.

Uma parte da minha personalidade e do meu caráter foi fundida com a prática do esporte, que exigindo muito do físico, não abre espaço para outros caminhos que degeneram a juventude, principalmente as drogas.

Pedro Parente