Lá por volta de 1968, trabalhava no cais do Rio. Resolvi
comprar a prestação, um fusca 64 com bateria de 6 volts e ir à Belém visitar
minha família. Tinha um porém: a rodovia Belém-Brasília só tinha asfalto no
início, até a cidade de Ceres. Quase 2.000km de terra.
Combinei com o Rubinho meu conterrâneo na mesma situação que
a minha, muita saudade mas os bolsos vazios.
Às seis da manhã de um certo domingo, saímos rumo a Belém. O
Rubinho não dirigia, mas prestava uma atenção enorme. Não largava um suporte
que apelidaram de pqp e não tirava os olhos da estrada.
Rodamos o dia inteiro até chegarmos a Brasília. Já de noite.
Pegamos um quartinho
num hotel de beira de estrada, os famosos "cama-quente"; quando uma
pessoa deita, ainda sente o calor daquela que levantou-se. O travesseiro guarda
a marca da cabeça do ocupante anterior. Tomamos umas e outras, comemos um prato
feito e deitamos.
De madrugada, ao amanhecer do dia, levantamos e partimos
para Anápolis. De lá começa a Belém-Brasília. Dois mil e alguns quilômetros.
Postos de gasolina, ainda eram raros. Levávamos um galão
cheio, no banco de trás.
Uma mão na direção, outra na alavanca de câmbio pra não
soltar as marchas devido as "costelas" da estrada de chão. Cigarro no
canto da boca e pé atolado no acelerador. A estrada larga recém aberta, era só
reta. Não tinha nenhuma curva para quebrar a monotonia.
Com a vibração, a primeira coisa que caiu foram os faróis de
milha. Daí por diante, foi um tal de cair sem fim. Faróis, faroletes,
para-choques tudo foi caindo. Juntávamos e colocávamos dentro do carro.
Lá pelo meio do Estado de Goiás que ainda não era repartido,
o carro parou. Nem levantar o capô do motor levantei, pois não entendia nada de
carro. O trânsito era muito pouco. Raros se atreviam a enfrentar àquele ermo.
Até que um caminhão cegonheiro apareceu. De dentro da boleia o motorista
diagnosticou:
- Foi o cabo da bobina que partiu!
Já desceu com uma faquinha na mão, raspou o fio, emendou e
acionou o motor.
Bendita alma.
Muita coisa aconteceu, mas isso é outro capítulo.
Finalmente chegamos a Belém.
Inclusive sem cano de descarga, fazia um barulho
ensurdecedor a ponto do guarda de trânsito querer nos multar e ainda me xingou
de“porco”, pois o carro e nós dois, éramos pura poeira.
Isso era uma quinta feira bendita.
Pudemos tomar banho, botar roupa limpa, jantar e usufruir do
colo da mamãe.