quarta-feira, 9 de agosto de 2017

AVENTURA

Lá por volta de 1968, trabalhava no cais do Rio. Resolvi comprar a prestação, um fusca 64 com bateria de 6 volts e ir à Belém visitar minha família. Tinha um porém: a rodovia Belém-Brasília só tinha asfalto no início, até a cidade de Ceres. Quase 2.000km de terra.
Combinei com o Rubinho meu conterrâneo na mesma situação que a minha, muita saudade mas os bolsos vazios.
Às seis da manhã de um certo domingo, saímos rumo a Belém. O Rubinho não dirigia, mas prestava uma atenção enorme. Não largava um suporte que apelidaram de pqp e não tirava os olhos da estrada.
Rodamos o dia inteiro até chegarmos a Brasília. Já de noite.
Pegamos  um quartinho num hotel de beira de estrada, os famosos "cama-quente"; quando uma pessoa deita, ainda sente o calor daquela que levantou-se. O travesseiro guarda a marca da cabeça do ocupante anterior. Tomamos umas e outras, comemos um prato feito e deitamos.
De madrugada, ao amanhecer do dia, levantamos e partimos para Anápolis. De lá começa a Belém-Brasília. Dois mil e alguns quilômetros.
Postos de gasolina, ainda eram raros. Levávamos um galão cheio, no banco de trás.
Uma mão na direção, outra na alavanca de câmbio pra não soltar as marchas devido as "costelas" da estrada de chão. Cigarro no canto da boca e pé atolado no acelerador. A estrada larga recém aberta, era só reta. Não tinha nenhuma curva para quebrar a monotonia.
Com a vibração, a primeira coisa que caiu foram os faróis de milha. Daí por diante, foi um tal de cair sem fim. Faróis, faroletes, para-choques tudo foi caindo. Juntávamos e colocávamos dentro do carro.
Lá pelo meio do Estado de Goiás que ainda não era repartido, o carro parou. Nem levantar o capô do motor levantei, pois não entendia nada de carro. O trânsito era muito pouco. Raros se atreviam a enfrentar àquele ermo. Até que um caminhão cegonheiro apareceu. De dentro da boleia o motorista diagnosticou:
- Foi o cabo da bobina que partiu!
Já desceu com uma faquinha na mão, raspou o fio, emendou e acionou o motor.
Bendita alma.
Muita coisa aconteceu, mas isso é outro capítulo.
Finalmente chegamos a Belém.
Inclusive sem cano de descarga, fazia um barulho ensurdecedor a ponto do guarda de trânsito querer nos multar e ainda me xingou de“porco”, pois o carro e nós dois, éramos pura poeira.
Isso era uma quinta feira bendita.

Pudemos tomar banho, botar roupa limpa, jantar e usufruir do colo da mamãe.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

SINECURA


Naqueles tempos - Ah! Quanta saudade! Eu trabalhava na Pça da Bandeira no Rio de antigamente. O romantismo impregnava o Rio de Janeiro. A cada rosto feminino na rua, o coração disparava com a possibilidade de uma nova conquista. Coisas de jovem recém saído da adolescência. Ainda podia sentir-se o cheiro da feijoada de domingo na casa das "Tias" logo adiante, no bairro da Gambôa onde a moçada reunia no fundo do quintal para uma boa roda de samba.
Todas as manhãs passava por um casarão alugado pela Prefeitura que ali ocupava uma de suas repartições.
Numa das janelas baixas que dava para a rua, sentado à uma pequena mesa e uma maquina de datilografia estava o exímio virtuose do violão Dilermando Reis fazendo jus ao seu salário de funcionário público.
Ficava sem saber. Meu ídolo e de milhões de brasileiros, ali modestamente fazendo uma "intera" de salário.
Isso foi antigamente! Outros tempos!