segunda-feira, 24 de abril de 2023

EXTRASSENSORIAL

 EXTRASSENSORIAL

Corria o ano de 1965 eu trabalhava no Banco Irmãos Guimarães no Rio de Janeiro, precisamente na Rua Sete de Setembro com a Gonçalves Dias, próximo a famosa Confeitaria Colombo.

Com 25 anos de idade carregava comigo a beleza e o vigor da juventude. 

Tudo alegria.

Os amigos de trabalho eram irmãos queridos, mas como a felicidade nunca é completa tinha um sub gerente (sub é um qualificativo não recomendável) que destoava.

A noite, em casa, recebi um telefonema de uma senhora com quem mantinha pouco convívio. Explicou-me que desenvolvia mediunidade numa “mesa branca” kardecista em Ipanema e que meu nome havia sido citado naquele local. 

Pedia minha presença numa certa terça feira a tarde.

Fiquei preocupado! 

Era dia de trabalho. Não poderia faltar, mas como sou muito preocupado, não poderia deixar de atender aquela senhora e também à minha curiosidade.

Tomei coragem e fui ao gerente Dr. Mário pessoa de fino trato e lhe contei o meu problema. Coincidentemente ele era praticante daquela seita. Concedeu-me a licença de faltar ao expediente da tarde e lá eu fui

Ressabiado entrei por um corredor estreito até um grande salão térreo uma mesa redonda com sete senhoras de guarda-pó em sua volta. Na minha vez todas se levantaram e de mãos dadas invocaram suas entidades. 

Tomei um susto!

Das sete senhoras, cinco incorporaram, uma delas uma velhinha baixinha com deformidade no osso do peito proeminente (peito de pombo) pulava feito sapo. 

Atônito observava aquilo com o coração disparado. 

Daquelas senhoras, duas permaneceram serenas. Uma segurava minha mão direita e a outra a esquerda.

Fui surpreendido pela voz da minha vó italiana que morava em Belém.

Voz de vó nunca se esquece, principalmente da minha com seu sotaque italiano.

Disse-me que estava em bom lugar, respondendo à minha pergunta se precisava de algo. Aconselhou-me à continuar ser o menino bom que era.

A outra da direita descreveu meu quarto de dormir e mandou que mudasse de cama, pois a que eu dormia estava me trazendo maus sonhos.

De fato, meu sono era muito agitado. Após sua recomendação passei a dormir melhor.

Uma experiência inusitada que carrego comigo. sem explicação!

Mais uma pergunta sem resposta que a vida me impôs,

24/04/2023

Pedro Parente




sexta-feira, 21 de abril de 2023

EFÉMERIDE

 EFÉMERIDE

Os anos passaram. Me aproximo dos oitenta e três anos em outubro, consequentemente a vida mudou.

Alguns tentam disfarçar tratando a velhice como “melhor idade”.

Triste engano! 

Nos resta apenas tristeza, desengano e a solidão é nossa companheira.

Quarta feira, recebi a visita de velhos amigos e quero registrar aquelas horas felizes que passamos juntos.

Cláudio e Regina; Francisco, Luiz e nosso menestrel Edmar trouxeram muitas alegrias ao meu cansado coração que insiste em me manter vivo.

Sob os acordes de melodias próprias do meu  repertório Cláudio e Edmar me fizeram viajar pelo passado,

Incrível!

Como velho boêmio que sou, não faltaram lágrimas de emoção, não de tristeza.

Voltaram na minha cabeça muitas lembranças de grandes momentos que vivi inclusive com o Aldo no Bar do Antônio José

Atualizamos nossas prosas sobre os tempos pretéritos e o assunto só amenidades,

Todos com um grande sentimento pela música que é a melhor maneira de se conversar, já dizia o poeta Chico Buarque a noite passou rapidamente num clima de confraternização e carinho.

Pena que nessas horas o ponteiro do relógio gira na velocidade de um ventilador.

Fim de noite, copos vazios e alma cheia.

Vi meus companheiros irem embora fiquei com a esperança de tê-los de volta para nova efeméride!

21/04/2023

Pedro Parente


PARAFUSO FROUXO

  PARAFUSO FROUXO

Numa prole de cinco irmãos, fui o último. Todos homens. Tempos felizes da infância saudável. 

Como não poderia deixar de ser, cinco meninos juntos as traquinices eram constantes. 

Quando minha mãe se encontrava com as “comadres sempre lhes perguntavam sobre o comportamento daquela pirralhada e ela respondia: 

- Um é um santo, dois são dois diabos! 

Para o mais endiabrado dizia que “tinha um parafuso frouxo”.

Assim fomos criados com esse linguajar coloquial sem preconceitos.

A mim parece que todos nós tínhamos um parafuso solto, tal as peraltices! 

Nesse caso, nossa casa era uma verdadeira oficina devido a grande quantidade de parafusos soltos.

O tempo passou! 

As regras de linguagem hoje são rígidas para alguns. Não podemos usar expressões do passado sob pena de sermos execrados.

Recentemente o Presidente Lula, referiu-se a pessoas portadoras de deformidade cerebral (não sei nem como digo são tantas exigências). 

Lula foi reprovado e achincalhado pela forma com que se referiu aqueles deficientes.

O Lula é Presidente do Brasil e não da Academia Brasileira de Letras. 

Pelo coração que tem, não quis ofender nem humilhar ninguém, pois é responsável pela Lei que dá direito à mãe de uma pessoa com deficiência, de ter certos privilégios na educação da criança.

Recentemente aquele que perdeu a eleição para Presidente do Brasil, deixou o cargo com a responsabilidade do assassinato de uma vereadora, mais de quatrocentas mil mortes por negligência na vacinação contra a pandemia e inúmeros outros crimes e no entanto é aplaudido por uma grande parte da sociedade fanática que apoia essa excrecência e outras mais. 

Exemplo: 

Vendeu a Refinaria Landulfo Alves na Bahia pela metade do preço e a diferença recebeu em propina, joias preciosas valiosíssimas.

Prefiro ficar com as atitudes do Lula em prol das crianças deficientes do que condenar seu palavrório.

Tem muito crédito!

21/04/2023

Pedro Parente


terça-feira, 11 de abril de 2023

BRASIL GIGANTE

 BRASIL GIGANTE! 

Anos setenta, fui visitar minha terra, a querida Belém.

Morando em Minas Gerais teria que percorrer 3.000 km. Escolhi o “caminho de dentro” como chamávamos a opção de sul a norte pela Brasília/Belém.

Viagem longa, porém, naquela época de “vacas gordas”, meu carro era um Ford – Landau cinza e teto vinil. Não lembro o ano, talvez 76, desta forma a viagem não se tornava cansativa, embora a monotonia das retas infindáveis daquela rodovia.

Após um mês em Belém, peguei um inverno tropical muito chuvoso, deu apenas para saborear a culinária deliciosa que me enchia a boca de água, porém a praia ficou sacrificada. Não que a chuva incomodasse, pois lá na linha do Equador até a chuva é morna.

Depois de me fartar de açaí, tacacá, tapiocas, pato no tucupi, ventrecha de filhote, cupuaçu, bacuri e outras delicias mais, decidi voltar pelo litoral. 

Peguei a Rodovia do Sol (BR 101) que vai do Maranhão ao RG do sul.

Ótima viagem de lindas paisagens. 

Eta! Brasil bonito!

Na medida que fui descendo nosso litoral, a paisagem foi modificando, deixando para trás aquele mundaréu de água por todos os lados, dando lugar para a seca causticante.

Quanto mais para o sul notava-se a seca mais severa. Até que cheguei ao sul da Bahia.

Ali meu coração apertou. 

Meninos espertos cobriam de terra os buracos no asfalto, que eram muitos, na expectativa de algumas moedas que os caminhoneiros jogavam generosamente em retribuição pelo seu trabalho.

Mais adiante, uma velhinha com uma garrafa vazia na mão.

- Moço não quero dinheiro quero água!

Atendi seu pedido e segui em frente envolto nas minhas reflexões.

Logo adiante, uma cena inesquecível. 

Um casal, parecia irmãos. Pequeninos, pés descalços, sem blusas apenas um calção roto e sujo. Manchados pela poeira e com os narizes escorrendo, marcavam suas faces com rastro das lágrimas escorridas de seus olhos tristes.

Voltei. Não me contive. Aquelas expressões atormentam meus pensamentos até hoje.

Entre lágrimas, dei-lhes meus refrigerantes e sanduiches que levava num isopor. 

Surpresos, não sabiam o que fazer. Saíram correndo pra dentro do mato ralo, talvez levando aqueles alimentos para os que ficaram em casa famintos sem saber o que fazer e sem ter para onde ir.

Este é o nosso Brasil gigante que leva em sua bandeira essa pecha da fome e da miséria de seus filhos que não pediram para nascer.

Um dia tudo acaba levando o sofrimento embora!

11/04/2023.

Pedro Parente