sábado, 31 de outubro de 2020

A REDE

  


A REDE.

Entre as relíquias do nosso tradicional Edifício dos Jornalistas no Leblon – RJ, recebi do meu amigo Carlinhos Raposo essa foto de pessoas queridas que faziam parte, fundadores, da rede de vôlei montada no canal da praia do lado do Leblon.

De pé: 

THOMPSON DO ABIAHI CARNEIRO DA CUNHA – Banco do Brasil (SUMOC) Morador do C1/10 and. Paraibano dos bons. Dedilhava o violão com maestria.

PINGA e seu filho – Exímio jogador de vôlei. Morador do Humaitá. Paraibano dos bons. Ótimo interprete do Altemar Dutra. 

LULU – Luís Mangualde – Fundador da PETROBRÁS – Atuava na área de Desenho Industrial e Mapas Topográficos. Morador da Visconde de Pirajá. Frequentador do Amarelinho no Centro. Ficava escondido no Posto Esso do Paulinho até que a rede estivesse armada, para chegar de mansinho.

SÉRGIO VELHO – Sérgio Sparnazi – O mais ranzinza. Só faltava ter um enfarto quando jogava ao lado do Maneco ou do Turquinho, pois os dois faziam tudo para errar e ver o Sérgio irritado. Grande amigo. Morava no redondo da Gal San Martin. Companheiro de noitadas.

MAZÔ – Era seu apelido – O nome complicado não lembro. Nasceu num dos países baixos. Engenheiro da Wella Cosméticos.

TIO JORGE – Jorge Pena – Nosso líder. Foi técnico de futebol tendo atuado no exterior A rede ficava guardada em sua casa no Jardim de Alah próximo a praia. A rede foi matriculada por ele na Prefeitura com o número 1.


Agachados:

VASCO – Raimundo Vasco – Jornalista da United Press. Morador do A1 exatamente em cima donde a turma reunia pra bater papo. Havia noite que ele não aguentava e pedia para diminuirmos o volume. Sem problema. Todos o adoravam. Um detalhe: se o chamasse pelo primeiro nome, nossa mãe seria exaltada pejorativamente onde estivesse!

SABARÁ – Carlos Nascimento – Motorista da Vale e trabalhou muitos anos com o Carlinhos Raposo. Morador da Cruzada São Sebastião. Adorava o samba na sua casa e os tira gostos da Dona Ana. As cortadas dele no vôlei faziam buracos na areia.

FLÁVIO – Flávio Carneiro da Cunha. Advogado, porém, preferiu ser representante comercial. Morava ao lado do Bar do Veloso na Prudente de Moraes. Meu guru. Extraordinário. Sem ele a rede ficava sem graça. Casado com a Violeta Cavalcanti cantora da Rádio Nacional. Passava a noite tomando cafezinho ou Coca Cola enquanto a Violeta enfiava o pé no conhaque. Dura na queda!

REUBEM – Morador do A1. Grande amigo. Amigo de emprestar dinheiro! Acho que se tornou funcionário da Receita Federal. Numa determinada época fazíamos revezamento com a namorada.

Esses eram alguns dos participantes assíduos da rede, porém havia domingo de ter mais de 50 pessoas que iam ali somente para assistir, prosear e eventualmente morrer de rir da brigalhada “dos velhos”. 

A praia podia estar lotada em dias de sol no verão, mas percebia-se um imenso clarão vazio em torno da rede. As senhoras e suas crianças ficavam longe para que os meninos não aprendessem novos palavrões.

No verão brabo, a gente tinha que enfiar os pés na areia esperando o saque pra não queimar. Nariz descascado. Cabelo queimado ficava louro que nem palha de milho.

Normalmente a última dupla éramos, eu com o Sabará versus Sérgio Velho e Fávio.

Ganhar dos dois era impossível! Flávio metia a mão na rede e não acusava. O Sabará tinha que se matar pra fazer pontos dobrados. Se o Flávio errasse um passe para o Sérgio, danou-se. Tirava o boné, jogava no chão, pisava em cima e esculhambava o Flávio, que quebrava o Velho com seu simpático sorriso.

Nessas alturas já eram 15 horas. Debaixo daquele sol, a língua virava gravata. 

Eu dava um mergulhinho na água fria e nem olhava pra trás, corria para a Clipper. Pedia dois chopes. Seu Joaquim não entendia: 

- Dois “Pidrinho”?

Um pra agora, outro pra depois! Que delícia! O chope gelado descia de uma vez trincando a mucosa da garganta. O outro descia civilizadamente com uma porção do tradicional pernil ou carne assada.

Até completar o tanque, a turma já tinha ido em casa tomado banho e trocado de roupa, ai eu me sentia deslocado, com vergonha ia embora para o bar do Seu Antônio no Jorna. 

As vezes tinha um violão perdido por lá com o Nerthan irmão do Thompson e a farra continuava.

Nossa aldeia era uma festa! Todos se amavam!

31/10/20

Pedro Parente.



quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O GÊNIO

 O GÊNIO

Na nossa turma do Edifício dos Jornalistas no Leblon haviam as figuras mais diferentes umas das outras. Raramente nos desentendíamos. 

Naquele tempo que o leiteiro trazia o leite – Vigor - dentro de uma garrafa de vidro com a boca larga e a colocava na porta de cada apartamento. A mesma coisa era feita pelo padeiro. 

Alta mordomia!

Algumas vezes os produtos não chegavam aos destinatários, sendo interceptados por algum boêmio sonolento e cheio de “larica”.

Entre vários tipos diferentes um se destacava pela sua inteligência e era reverenciado como bruxo. Não sem motivo! 

Chamava-se Murilo, irmão do Carlos Átila moradores do C1.

Diziam que era câmera man. da TV Globo e profundo conhecedor de eletrônica.

Desenvolveu um aparelho, acho que se chamava giroscópio, que representava o drone atual.

Da sua janela botava a geringonça para voar, ia até próximo a Cruzada do D. Elder deixando os moradores encucados. Retornava e pousava suavemente sob seu comando.

Isso acontecia sempre a noite e não eram poucas as histórias inventadas. Muitas senhoras pegavam no terço suplicando pelo sumiço daquela coisa do mal e obra do coisa ruim o cramunhão.

Os papos dez tiravam de letra: “Tô sabendo! É os tar de ovinis”.

Murilo se divertia.

Certo dia na Prudente de Moraes bateu em um poste e quando sua mulher saia do carro desceu um pedaço de concreto que estava solto e atingiu-a deixando-a hemiplégica.

Detonou a vida deles e não tive mais contato.

Lamentável!

28/10/2020

Pedro Parente


terça-feira, 27 de outubro de 2020

SALVITO

 

SALVITO

Quando cheguei a São João del-Rei, não imaginava encontrar tanta gente boa, alegre e feliz. Na força dos meus trinta anos, não foi difícil me adaptar. Comecei a frequentar a esquina do Kibon onde a moçada se reunia.

Ali encontrei joias raras. Um destaque especial para meu amigo SALVITO.

Espanhol de Salamanca, Espanha, me chamou atenção por sua educação refinada e sua alma generosa. Nos tornamos irmãos pela recíproca empatia. Adorava sua companhia, nas minhas festas e empreitadas ousadas ele era o primeiro a ser chamado. Nunca obtive um não.

Contou-me que ao chegar ao Brasil com 8 anos de idade pelas mãos de seu pai, ao subirem a serra de Petrópolis rumo a São João, seu pai entusiasmou-se com as bananas ouro vendidas em profusão naquele local. Parou o carro e juntos detonaram um cacho inteiro. Bem verdade que as bananas são pequenas e o cacho também.

Vivíamos um tempo de bonança. Quando terminava o mês, sobrava dinheiro. Hoje sobra mês e falta dinheiro.

Aproveitando a fase, o lazer era fundamental, de modo que surgiam entretenimentos de toda forma e todos os dias.

Tínhamos uma pelada tradicional no sábado a tarde no campo do Siderúrgica na vila Santa Terezinha, pretexto para a festa após o jogo, quando Nonato nos levava até sua casa para saborearmos os quitutes de sua esposa Dª Clarisse pessoa afável e generosa. O Miltinho representante da Skol gostava, pois reservava em sua câmara frigorífica um barrilzinho de chope com 30 litros e nos cedia a bomba para servirmos.

As pescarias tornaram-se corriqueiras a ponto de compramos um ônibus usado. Juntamos com mais dez amigos. O Guilherminho tirou alguns bancos do “grisu”, colocamos um freezer, as traias e os instrumentos musicais. Da turma fazia parte “nossa orquestra”: Asa Quebrada, Nô Carbajal, Murilo Capacete e Dadá.

De motorista levamos o Waldemar, profissional que puxava gasolina para o Posto do Pedrão. Levava o ofício a sério e não bebia. Para ele um suplício, vendo a turma enchendo a cara e ele de cara limpa.

Salvito ia sentado no primeiro banco ao lado do motorista e quando cruzávamos com outro caminhão, levava a mão na boca num gesto tradicional da comunicação entre profissionais do volante que significa “beleza” “trânsito limpo”.

Uma graça!

Passamos uma semana em São Romão. Não pescamos nada, porém, o dono da vendinha ficou boquiaberto com a quantidade de garrafões de pinga vendidos.

Ora éramos a seleção brasileira de consumo do precioso líquido. Uns mais outros menos, porém, os mais, sai de baixo: Hélio Barreto, Bolão, Dadá, Nô Carbajal, Asa Quebrada.

Salvito, Claro, eu, Guilherminho, Umberto, Erick, Vitorino, Judas, Rubinho, Zé Vitorino, Capacete, Cafezinho éramos mais moderados, alguns dando preferência à cerveja que também serviu para desovar o resto do estoque do moço da venda.

O Erick, na nossa para em Pirapora, contratou uma moça para servir de cozinheira na nossa estada. Chamava-se Rosa. Foi muito prestativa manteve a casa asseada e a cozinha em ordem. De origem muito pobre, ao retornarmos, fomos deixa-la em sua casa.

Um lugar na periferia no limite da extrema pobreza.

Encontramos seus velhos pais emocionados, às lágrimas, pois não sabiam de seu paradeiro.

Voltávamos com um estoque substancial de alimentos que haviam sobrado pelo exagero das compras.

Descarregamos tudo ali para aquela família.

Embarcamos no ônibus! Silêncio sepulcral!

Ouvia-se apenas o som do nariz aspirando o líquido da mucosa produzido por quem chora. Aquele bando de homens emocionado.

Por instantes nosso trajeto transformou-se em séquito silencioso e constrangido.

Mais uma lição que a vida nos impôs!

Nossa rotina continuou até que a vida em seus desígnios, nos foi envelhecendo e a alegria diária foi dando lugar a fisionomia carrancuda de sobrancelhas crispadas reflexo de problemas oriundos de emaranhados das teias que nós mesmos tecemos.

Salvito dividia comigo confidências e muitas vezes eivadas de tristeza. Era uma pessoa reservada e evitava transmitir suas tristezas aos amigos, porém em determinado momento ia até as lágrimas lembrando-se de sua mãe.

Construiu sua família deixando um retrato seu, de sua bondade e simpatia na filha Manuela que tenho a felicidade de ser seu amigo.

Precocemente, certo dia, recebi um telefonema do Judas aos prantos, comunicando que ele havia falecido.

Naquele momento fiquei sem chão! Aquele com quem dividi meus momentos de euforia havia me deixado! Foi como um punhal no meu coração. Dali para a frente, a Cantina onde nos reuníamos, passou a ser um mausoléu.

Espero encontra-lo brevemente num jardim florido com uma grande mesa sentados à seu lado muitos amigos que também já se foram. Aí minha tristeza recôndita dará lugar a uma alegria esfuziante.

Aguarde-me Dodô!

27/10/2020

PedroParente

 

 

 

 

 

 


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O ENGRAXATE

 Nos idos de 60 quando a esquina do Kibon em São João del-Rei era o ponto de encontro da rapaziada de várias tribos, idades e matizes, haviam figuras populares que faziam parte daquele glamuroso cenário. Entre elas havia uma que me chamava atenção, o engraxate.

Naquele tempo não se usava tênis no dia a dia, os calçados eram de couro e quem não estivesse com os seus brilhando era considerado desmazelado.

Menino experto de voz grossa com sua caixinha de engraxate, talvez fabricada pelo próprio. Tinha acabamento de principiante e material de terceira categoria, resto de embalagem de maçãs.

Por ser pequena e portátil engraxava os sapatos das pessoas em qualquer lugar, na rua ou dentro dos bares onde os proprietários permitiam em virtude do admirável esforço pela sua sobrevivência.

Todos o acarinhavam e era comum pagar-lhe um lanche. Educado, alegre e feliz, agradecia.

A vida foi caminhando cada um cumprindo seu mister.

Anos passaram e encontrei-o novamente. Não cresceu tanto. Sua voz continuava mais rouca e forte, porém percebi que havia mudado de vida para melhor pelo estampado do seu traje.

Dê-lhe um abraço saudoso e me contou que, a “duras penas” conseguiu formar-se em advogado já inscrito na OAB vinha conquistando seu espaço no Fórum da cidade, já tendo obtido sucesso em várias causas.

 Havia construído um patrimônio razoável para iniciante e tornou-se defensor dos oprimidos advogando gratuitamente.

Não sei, nasci cheio de perguntas, obtive poucas respostas e acumulei mais perguntas.

Uma delas é sobre a vida do meu amigo Sérgio.

Após tanta luta, quando começou a recolher os frutos da sua persistência, perdeu a vida num acidente idiota no qual foi vítima fatal.

Prefiro guardar na minha lembrança a imagem do menino engraxate que alegrava a “Esquina do Kibon!” 

23/10/2020


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

TREVO NA AV. LUIZ GIAROLA.

 TREVO NA AV. LUIZ GIAROLA.

O Capitalismo selvagem tornou as pessoas insensíveis no respeito ao cidadão e passou a usar do dinheiro como arma para promover atos de selvageria urbana.
Moro na Av Luiz Giarola 3570. Aqui vai meu endereço sem nenhum receio de retaliação, quer seja de parte do poder público, quer por parte dos administradores de um condomínio construído com objetivos unicamente financeiros preterindo o bem estar e modus vivendi da comunidade pacífica do bairro das Águas Santas.
Quando comprei o terreno onde hoje é minha casa, optei pelo lugar silencioso em frente a uma floresta com bioma próprio e com grande reserva de árvores nativas, surgidas de uma antiga plantação de eucaliptos há muitos anos desativada após seu terceiro corte.
Ali viviam vários tipos de animais silvestres como tatu, lagartos, macacos, cobras e vários tipos de aves como tucanos, gaviões: pernaltas como seriemas e saracuras.
Isso tudo desapareceu sob a esteira de assassina de tratores poderosos que em pouco tempo destruiu aquilo que a natureza levou séculos para construir.
O dinheiro e a avareza não tem sensibilidade e nem coração.
No lugar dessa obra da natureza está sendo construído um condomínio moderno, daqueles que aquartelam a sociedade diferenciada dita elitizada.
Muros altos que nem olhar dos mais humildes podem devassá-lo, enfim, tudo indiferente e artificial.
Paralelo a todas essas aberrações, não se sabe a que custo? Em frente ao portão da minha residência, exatamente em frente, construíram um trevo de acesso ao monstrengo de asfalto e concreto.
Sei que meu direito é do portão da minha casa para dentro, porém não concordo com a conivência e leniência do poder público permitir uma agressão ao patrimônio de quem sofre a taxação pesada de Imposto Territorial anualmente.
Com uma frente quilométrica para a avenida Luiz Giarola o condomínio escolheu fazer o monstrengo do trevo em frente à minha porta quando tinha opção de faze-lo em outros locais.
Vai aqui meu protesto e minha indignação, mesmo sabendo que num país sem lei temos que concordar com a "força do progresso".
Espera que tenham sucesso no empreendimento, pois minha tristeza acabará brevemente no meu descanso derradeiro.
22/10/2020

domingo, 18 de outubro de 2020

O CANTOR

 O CANTOR

Nas minhas andanças por este mundo sem fronteiras, sempre fui chegado ao botequim. Ali todos se abraçam, se beijam, se respeitam ou não respeitam, algumas vezes saem no tapa, enfim, um lugar ultra democrático, mas tem uma coisa muito respeitada e que acaba com qualquer discussão e todos o reverenciam que é o violão.
Quando entra o violão na conversa, o tom e o som do barulho diminuem drasticamente e o tocador se torna figura respeitável no boteco.
Minha relação com esses menestréis sempre foi admirável, como diziam os antigos "amizade de trançar pratos".
Normalmente oriundos da periferia das cidades, tem uma vida difícil e fazem do seu dom em tocar violão, uma forma de angariar algum dinheirinho para sua manutenção e suas pingas, como participante quase diário de suas vidas de necessidades, sempre os ajudo a divulgar seus trabalhos.
Assim foi que uma pessoa de certa posse, sabendo da minha intimidade com esses tocadores, pediu que levasse um deles à sua residência, pois adorava serestas e que remuneraria seu trabalho.
Pensei logo no mais necessitado dos violonistas e levei-o até o local previsto.
Uma boa e confortável casa que abrigava naquela noite, muitos amigos do anfitrião que havia feito propaganda do "fulano", famoso na cidade, iria fazer uma "tocada" lá.
Quando chegamos, muito bem recebidos,alguns aplaudiram e encheram os copos.
Fiquei feliz com a recepção e por ter encontrado entre os comensais, vários amigos de minhas relações boemias.
Nosso violonista, possuidor de ótima voz, para esconder sua inibição, deu um acorde no violão e anunciou que cantari ADEUS uma composição da época da morte do Francisco Alves ou Chico Viola.
Empunhou o violão e mandou:
- " ADEUS, ADEUS, ADEUS O I T O LETRAS QUE CHORAM!"
Passou despercebido pela maioria, no final, como gozava de grande amizade do amigo, após ter recebido a remuneração pelo seu trabalho, discretamente dentro do carro, informei-o de que ADEUS se escreve com cinco letras e não oito!
Agradeceu-me e paramos num boteco pra tomar mais duas "chavetadas" como dizia o nosso querido "Mangão".
18/10/20
Pedro Parente

terça-feira, 13 de outubro de 2020

DOMINGO DE SOL.

 Domingo de sol

Certo domingo num “sol de quase dezembro”, Violeta precisava se concentrar para executar para o almoço no fogão de seu apartamento, uma de suas delícias que deveria ser saboreada de joelhos. Maçã ácida, fettuccine e molho de camarão.

Para não se distrair, pediu ao Flavio que levasse suas duas princesinhas à praia.

Flávio relutou um pouco, pois amava jogar seu vôlei na praia nos finais de semana. Pensou e chegou a conclusão que o sacrifício era justo, afinal as meninas estavam a fim de um banho de mar e o almoço seria uma comunhão, porém sabia que não poderia se descuidar das crianças.

Quando Flávio chegava à rede de vôlei com toda sua simpatia e o sorriso cativante, a turma parava e muitas vezes aplaudia.

Naquele domingo não foi diferente! Todos o queriam do seu lado, no seu time.

Percebi a situação de indecisão do meu querido amigo e me prontifiquei a levar as meninas para o mar enquanto ele jogava.

Tomei as meninas Flávia e Renata pelas mãos e fomos até o mar que naquele dia estava calmo. Ficamos brincando na beirinha numas poças comuns naquele trecho da praia.

Foi então que notei a presença de um monumento de mulher de pé com água nos tornozelos com um olhar embevecido em nossa direção. Não demorou para que estivesse fazendo parte de nossa rodinha nadando de mãos dadas conosco.

Linda moça! Seus olhos verdes pareciam muito com os da Renatinha. Porte elegante, cabelos louros naturais e bem tratados.

Meu coração bateu a mil. Disse-lhe alguma coisa bonita r fui recompensado com um belo sorriso.

Já sai da praia acompanhado e com o programa feito para a noite.

Encontramos em frente ao edifício dos Jornalistas. 

Apresentou-se num traje tão exuberante que me senti um andrajo.


terça-feira, 6 de outubro de 2020

LAMBRETAS

 

 


 LAMBRETAS

Naqueles “Anos Dourados” o Rio de Janeiro era um charme e o Hotel Copacabana Palace cobiçado pela maioria do “Jet Set” internacional.

Por lá passaram reis, rainhas, atores de Holywood, play boys internacionais e etc...

Copacabana tornara-se a “Princesinha do Mar” na voz de Dick Farney, Lúcio Alves e Cil Farney fazia sucesso no cinema contracenando com Fada Santoro.

Havia um bar famoso na NS de Copacabana em frente à rua Inhangá que vendia (na moita) calças contrabandeadas Lewis, azul; branca, Lee. Só para aqueles que tinham bala na agulha ou papai rico.

Os sapatos masculinos eram fabricados de couro cru sob medida por um sapateiro habilidoso chamado Mota que se instalou em uma lojinha na NS de Copacabana próximo ao Cinema Bruni. Conquistou tanto sucesso que teve que expandir seu negócio e trocou de nome para Loja do Motinha e posteriormente Motex, já mais sofisticada.

Copacabana não dormia, tanto que o Bar Bico no Posto 6 não tinha portas. Durante a noite servia chopes e salgados, quando amanhecia mudava o cardápio e virava para “média com pão e manteiga” fresquinhos.

Acompanhando o clima charmoso do Rio, surgiram as Lambretas importadas da Itália. Verdadeiras joinhas cobiçada por toda juventude, porém usada por poucos moços abastados.

Tornou-se uma febre!

Não demorou muito tempo para que os rapazes proprietários dessas cobiçadas motonetas passassem a se reunir no bar Snack na rua Sá Ferreira. Ficavam ali fazendo pose de artistas. Uns de sapatos do Motinha, calças Lee, jaqueta de couro e todos com os cabelos emplastrados de brilhantina Glostora.

A noite saiam em bando e iam exibir suas máquinas e seu charme pessoal, desfilando pela avenida beira-mar. Iam até o final da Av Delfim Moreira no Hotel Leblon e voltavam pela outra pista.

Aquilo foi aguçando a curiosidade na “Turma do Jornalistas” edifício famoso na Av Ataulfo de Paiva 50.

A turma não era menos famosa, pois na 14ª DP no Jóquei, havia um mapa dependurado na parede com o contorno da jurisdição da mesma. Lá um X vermelho marcava as turmas de esquina comuns à época. No caso da turma do Jornalistas ao invés de um insignificante X havia uma enorme bola vermelha.

Não era para menos, a turma era muito grande, pois compunha a rapaziada que habitava o conjunto de três prédios compostos por dois blocos com dezesseis andares cada um.

Um dos líderes dessa imensa turma, Sérgio “Lacerda” (devido a semelhança fisionômica com o Corvo) era uma das pessoas mais espirituosas e molecas que já ouvi falar. Sempre pensando em fazer “arte” nada que prejudicasse alguém. De bom caráter e ótima cultura.

Numa noite de verão, muita gente na roda, o “Lacerda” convocou a turma para ir à beira mar.

Chegando lá, na hora dos motoqueiros passarem, expos o plano. Distribuiu a turma, metade na calçada da praia e a outra no jardim central que divide as pistas.

Tudo combinado, lá vem os boys. Passaram na direção do final do Leblon e a rapaziada fingindo que “não tô nem ai”, na verdade morrendo de inveja se preparou para a volta.

Não deu outra.

Lá vem os caras! Faróis acesos numa velocidade de passeio, vieram se aproximando e a turma posicionada, metade de um lado outra metade do outro.

Quando estavam bem próximo o “Lacerda” gritou:

- AGORA!

E os dois lados fizeram menção de puxar uma corda imaginária entre eles, esticando-a no meio da pista.

Foi um tal de meter o pé no freio, uns desviando dos outros que se tocavam.

Quando perceberam que não havia nenhuma corda, ficaram com cara de tacho. Alguns quiseram encarar, mas pelo volume da turma, desistiram e aceleraram o que puderam saindo dali no limite da máquina.

Acabou o corso de Lambretas no Leblon!

06/10/20

Pedro Parente

 

 

 

domingo, 4 de outubro de 2020

80 ANOS


Os ponteiros do relógio estavam juntinhos indicando meia noite, eis que de repente o maior deixou o menor para trás e com isso mudou a data chegando ao dia 5 de outubro.

Há precisos 80 anos eu nascia na Santa Casa da Misericórdia em Belém do Pará.

Foram muitas derrotas e vitórias efêmeras, porém valeu a pena, deixo no mundo três filhos maravilhosos.

Os espinhos que pisei descalço para lhes dar a vida, não provocaram nenhuma dor, pelo contrário, foram insignificantes pelo troféu que representam para mim.

Tenho certeza que terão muitas saudades de mim mas não chegará perto da que sentirei deles.

Além desse presente tenho também os amigos queridos que essa peste nos afastou.

Sinto muito!

Me fizeram felizes durante todos os anos que vivi.

Eram muitos, porém a morte não nos deixa acumular tantos e nos arranca sem pedir licença.

A ampulheta que mede o tempo da vida, no meu caso, está se esvaindo.

Não quero envelhecer mais, apesar de não ser eu que determino, tenho receio de me tornar um incômodo aos que me querem bem.

O idoso é um problema. Por onde ando, ouço muitos comentários nefastos.

Os mais novos e sadios tem sua vida para viver. Todos tem que enfrentar os problemas diários e suas rotinas inadiáveis é natural que não tenham o dia todo para dar atenção a quem não responde mais a seus próprios comandos.

Logo mais, em torno de uma modesta mesa quero receber meus filhos e netos para lhes abraçar, não sei se ano que vem estarei presente.

Antecipadamente agradeço a todos meus queridos amigos e amigas pelo bem querer.

05/10/20
Pedrão

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