sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Sábado no Rio.


Em 1960, cheguei ao Rio de Janeiro para disputar o Campeonato Brasileiro de Remo, defendendo meu Estado, o Pará.
Encantei-me com o Rio, pois vivia-se os "Anos Dourados". Firmei posição: não volto mais. 

Envolto em saudades da minha família, pai, mãe e mais cinco irmãos e ajudado por um  conterrâneo, primo de minha mãe, arrumei um emprego de office boy. 

Servicinho manso, lavar  o sanitário, nos dias de reunião servir o cafezinho para aqueles milionários da indústria do gás de botijão. Minhas mãos tremiam de imaginar que se entornasse café no terno de algum, seria decapitado.
Na ânsia de   conseguir o emprego, na entrevista, falei mentira quando perguntado se conhecia bem o Centro do Rio, respondi afirmativamente. 
Na verdade, o desconhecia completamente.
Isso me custou um grande constrangimento, pois no dia seguinte após uma assembleia, foi redigida a ata a qual passei num mimeógrafo, uma máquina primitiva rodada a mão e tive que fazer a entrega pessoalmente em cada uma das empresas signatárias da ata.
Aí, foi o problema.
Eram em torno de 20 correspondências. 
Meu primo , pacientemente desenhou os mapas detalhando os endereços.
Fui a campo!Seja o que Deus quiser!
Na primeira virada de esquina perdi o norte e o mapa transformou-se em complicador. Amassei-o e joguei no lixo.
Ao primeiro cidadão que passou perguntei o endereço da carta em mãos.- "Praça Mauá" -respondeu-me o cidadão indicando a direção.
Aí estabeleceu-se o caos. 
Como não conhecia a ordem das ruas fiquei completamente perdido. Apertei o passo e  em alguns momentos, até corria. De terno, gravata os bolsos cheios de cartas estava uma figura bizarra.
Não almocei e continuei no meu mister. Ao final da tarde, finalmente consegui entregar a última.
Dirige-me ao escritório suado, descabelado, envergonhado, porém com a sensação do dever cumprido. 
Será que vou perder o emprego?
Encontrei Dª Iracema que era responsável pelo escritório, preocupada comigo.
Entre as desculpas que lhe dei, admiti que havia mentido quando lhe disse que conhecia bem o Centro do Rio e que na verdade aquele havia sido meu primeiro contato com ele.
Ela me perdoou e orientou meus passos pelo Rio, conquistando minha admiração e meu respeito. Passei a ser um membro de sua família.
Trabalhávamos somente nós dois e aos poucos fui conquistando a confiança daqueles que ali se reuniam. Homens austeros de pouco sorriso mas muito educados.
Fiquei lá por algum tempo, até que outras portas foram se abrindo e fui tocando em frente, porém a lição ficou para a vida toda.









































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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Mr Money

Rio de Janeiro, década de 60 - Cidade Maravilhosa! A boemia comandava o Rio. Ali no Centro da cidade havia um prédio que abrigava a Galeria Cruzeiro, rua São São José com Avenida Rio Branco, onde no final da tarde a alta boemia tinha encontro marcado com o autores e intérpretes da música popular brasileira. Ali havia um mercado entre compositores e compradores de músicas. Normalmente, sambistas de alta categoria porém desconhecidos, desciam o  morro e se dirigiam para lá a fim de vender sua música àqueles intérpretes que estavam em evidência. Contam que Francisco Alves, o Rei da Voz, era o maior comprador.
Então a Galeria Cruzeiro era o point onde se tropeçava em talentos da alta sociedade até os mais humildes boêmios e prostitutas. Embora da Lapa, algumas vezes aparecia por lá o temido Madame Satã. Famoso homossexual que era imbatível na porrada. Envelheceu na cadeia. No final da sua pena obteve a liberdade. Voltou e preferiu morrer na cadeia, pois segundo ele, o mundo aqui fora perdera a graça e ele não tinha mais ninguém. Os amigos que restavam, estavam como ele: velhos e encarcerados.
Vida que segue.
Ante a força avassaladora do progresso na capital da república, demoliram o prédio da galeria Cruzeiro e levantaram um arranha céus de 30 andares.
Construção belíssima de muito bom gosto. Muitas novidades da arquitetura moderna. As lojas, um primor.
Como não poderia deixar de ser, um grande espaço reservado à boemia e boêmios. No sub solo, criaram os famosos pianos-bar.
Ambiente requintado, aconchegante, pouca luz música da melhor qualidade executada em piano de cauda por profissional de primeira linha. Bebidas de toda espécie, mas o chope capitaneava. Para mim foi o que de melhor aconteceu. O Rio, sempre foi "Cidade Maravilhosa" e será sempre, porém com suas mazelas. Uma delas os alagamentos quando chovia. Ora, eu morava no Leblon. A Voluntários da Pátria inundava, sobrecarregando Copacabana. Conclusão o trânsito movia-se às polegadas. Principalmente na hora de sair do emprego.
Encontrava com meu amigo Carlos Alberto, hoje decano, entrávamos no Mister Money às 17 horas, e deixa chover lá fora.
Quando saíamos, já estava tudo calmo, próprio das madrugadas.Podíamos ir para casa, confortavelmente em paz.
Era tão bom que pedia para chover todas as tardes. Numa dessas noites, no Mr Money, o piano me chamou atenção. Carlos Alberto, logo esclareceu: quem estava ali a executá-lo era nada mais nada menos do que Antonio Maria, o rei do samba canção. Suas músicas fizeram grande sucesso na voz de Nora Ney e Ninguém Me Ama chegou a ser gravada por Nat King Cole. Grande pessoa. Poeta, compositor, jornalista comentarista esportivo dos bons. Naquela noite quem o fazia companhia era Sérgio Cabral, jornalista do Jornal do Brasil. Enquanto tive no Rio lia suas crônicas diariamente. De tanto encontrarmos na boemia, já nos cumprimentávamos. Homem íntegro a quem dedico grande admiração e simpatia. Me parece que se elegeu deputado, porém um dia leu um companheiro de trabalho duvidando da sua honestidade. Magoado desistiu da carreira política. Imagino hoje o que lhe passa pela cabeça ao ver o filho encarcerado.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

POVO FROOUXO

Nunca pensei assistir a notícia divulgada por esse primor de imprensa brasileira.
Um pai desesperado, acho que matou suas duas crianças e abandonou-as em um terreno baldio com um papelão escrito:
"CANSEI DE VÊ-LOS PASSAR FOME".
Enquanto isso uma besta de deputado ofende trabalhadores chamando-os de vagabundos.
1 - Ser aposentado é um direito adquirido após contribuir para a Previdência Social durante muitos anos com dinheiro, sangue, suor e lágrimas;
2 - O idiota do Deputado não sabe que seu patrão pagador de seus honorários, são aqueles mesmos operários que produzem ou produziram riquezas para o país.
3 - Esse canalha deveria ser linchado em praça pública.
4 - POVO FROUXO.