domingo, 23 de setembro de 2018

PRIMAVERA


PRIMAVERA
Hoje acordei envolto no perfume do meu manacá florido, lembrei-me da chegada da primavera.
Abri a janela para saudá-la!
Recebeu-me com seu sorriso natural e o hálito inebriado de perfume.
De roupa nova.
O arvoredo com folhagem nova e viçosa.
A passarada alvoroçada e alegre parece que se cumprimenta ao passar rasantes uns pelos outros.
Ao fundo a Serra São José começando a se recuperar de pequenos incêndios combatidos com presteza pelos responsáveis.
Felizmente este ano não houve a calamidade de outros anos.
Nesse cenário, entorpecido e levitando, o pensamento foge ao meu domínio e se solta pelo espaço trazendo consigo tempos passados quando a primavera ainda habitava meu coração romântico, vivendo os melhores momentos da minha vida de jovem destemido sem perceber que o tempo inexorável não para.
À chegada da primavera trocava as calças grossas, paletós e cachecóis por sandália e bermuda.
Finalmente podia voltar a frequentar a praia.
Tomar sol, jogar vôlei, suar bastante, beber um mate gelado, entrar no mar com seu cheiro de saúde e correr ao bar para arrematar com vários chopes na Clippers, a melhor serpentina do Leblon.
Sanduiche de pernil era a especialidade dos simpáticos portugueses que nos tratavam como filhos. Eram tão amigos que até trocavam cheques para a turma mais confiável.
À volta para casa, já com as lâmpadas dos postes acesas, era lenta, pois cada barzinho no caminho, uma meia trava para mais um gole.
Em casa um bom banho e cama.
Que delícia.
Ainda bem que tenho boas lembranças como companhias, disputam lugar na minha mente cansada ocupada de pensamentos tristes que caminham de mãos dadas com a solidão dos velhos.
Minha bela primavera me desculpe!
23/09/2018
Pedro Parente

sábado, 1 de setembro de 2018

IVO NOHRA


IVO NOHRA

Mais uma vez fui surpreendido com a morte do meu fiel amigo Ivo.
Pessoa de alma alegre que veio ao mundo com o objetivo de fazer as pessoas alegres e felizes. Alma boa e sorriso fácil. Onde parava formava-se uma roda de pessoas para escutar seus causos e piadas. Lembrava-me dele diariamente e às vezes o dia todo.
Encontramos a última vez na esquina da Primavera. Eu estava dentro do carro, ele passava distraído pelo passeio. Chamei-o. Agachou no lado do carona, colocou o rosto dentro do carro. Tentamos conversar. As lágrimas não deixaram. Talvez tenha sido o discurso mais eloquente da minha vida. Saiu sem nenhuma palavra, só soluço. Foi o adeus!
Houve época, quando eu administrava o Posto ao lado do Edifício São João que nos víamos diariamente. Foram catorze anos.
Certo dia chegou cedo e me falou de um peixe frito vendido à beira da estrada, próximo a Itaperuna – RJ.
Acabei aquilo que estava fazendo e convidei-o a entrar no meu carro para ir ali!
Toquei para Itaperuna. Sem celular parei em Barbacena para avisar à Laila sua esposa e fomos embora. Mais de 300km de distância.
Chegamos ao tal lugar. Um boteco comum na beira da estrada servia uns cascudinhos saborosos. Como eu estava amargando uma bruta ressaca, foi com sacrifício que engoli o primeiro pedaço acompanhado por uma pinga da roça. O segundo pedaço foi mais fácil acompanhado de umas cinco pingas.
Ivo era muito conhecido dos comerciantes em Muriaé. Sugeriu que fossemos visitar um turco amigo dele forte comerciante naquele local, pois sabia que eu levava no porta-malas um mostruário de cobertores fabricados em São João. Talvez salvássemos a gasolina da viagem.
Muriaé fazia um calor infernal a ponto de o asfalto derreter.
Apresentou-me um turcão de dois metros de altura que parecia um guarda roupas. Trajava uma jardineira com alpercata de pescador. O suor escorria que até suas calças estavam molhadas.
Quando tirei da maleta o mostruário e o Zé da Bahdra viu que era cobertor, falou:
- Moço vender cobertor em Muriaé é a mesma coisa que vender geladeira no polo!
Chegamos à casa de madrugada.
Ganhei um dia desfrutando da companhia de meu querido amigo.
Requiescat in Pace!
01/09/2019
Pedro Parente