segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

SANDUBA

SANDUBA -

28/01/2019
Naquela época na aldeia do Leblon, precisamente no Edifício dos Jornalistas na Ataúlfo de Paiva no Jardim de Alah havia uma turma imensa da qual tive a felicidade de pertencer, presenciando e participando de muitas histórias.
Num sábado de sol de dezembro, encontramos na praia após uma sexta feira mal dormida eu e o Maurício Arruda.
O Arpoador era o "top", pois até a Brigitte Bardot havia andado por lá.
Cheios de si, partimos pra vermos as moças com "audaciosos maios duas peças".
Sem dinheiro nenhum, nem o do mate gelado, nos pusemos a andar.
Parecia que o Arpoador era mais longe!
Mergulhamos, paqueramos ou enfaceiramos, mergulhamos, porém a fome começou apertar.
Naquela idade era insuportável!
Voltamos para casa!
A pé com o sol castigando, Maurício sugeriu voltar por dentro, isto é, pela Visconde de Pirajá.
Ali tinha mais sombra e poderia surgir algum tira-gosto.
Próximo a Pça. NS. da Paz tinha a padaria de um português pródigo que deixava as baguetes fresquinhas num cesto sobre o balcão.
Pensamos juntos: cada um pegou uma e saímos correndo pela rua afora.
Na esquina da Garcia D'Avila havia uma casa antiga que fora adaptada para a Lanchonete Bob"s que tornou-se super badalada.
Ela tinha uma peculiaridade, os atendentes eram lusitanos que caprichavam no sotaque e o pedido era feito em voz alta quase aos berros:
- Sai um "ramenegui"! (presunto com ovo)
Ali numa janela baixa que dava para a rua, ficavam em exposição uns lindos salsichões rolando numa máquina própria sem nenhuma proteção.
Com as baguetes já devidamente furadas, juntos, ao mesmo tempo, enfiamos a mão e cada um pegou uma salsicha quente e enfiamos no pão com rapidez pra evitar queimadura.


Uma pequena corrida e o regalo do gostoso sanduba.

Pedro Parente

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

O LOTAÇÃO


O LOTAÇÃO
Naqueles tempos quando o Rio ainda não tinha tanta gente, o Leblon era uma aldeia. Todos se conheciam pelo nome e não pelo CPF.
A vida passava lentamente. Sem pressa e com muito glamour.
Nossa turma do Edifício dos Jornalistas, no Jardim de Alah era muito grande e se reunia todas as noites, madrugada a dentro, alguns, até o raiar do dia. A alegria era contagiante.
Sem ter o que fazer para matar o tempo, alguns ficavam imaginando que tipo de molecagem se faria àquela hora.
Do transporte urbano participavam os terríveis Lotações como eram conhecidos por sua peculiaridade. Eram micro-ônibus com apenas vinte lugares e com uma porta só. Seus condutores eram pagos por comissão. Quando completava o número de passageiros (lotação) fechava-se a porta e se ninguém tocasse a campainha para descer, só parava no ponto final da linha.
O último lotação passava à meia noite e levava o apelido de Cristo. Depois só às cinco da manhã.
Maneco bem dotado fisicamente parecia uma estátua de ébano esculpida por Da Vinci, de sorriso fácil era a simpatia personificada. Deu a ideia.
A linha Leblon/Estrada de Ferro tinha duas opções via Lagoa ou via Copacabana. A ideia era a turma se colocar no ponto e encher o lotação. O último a entrar perguntava ao motorista:
- Passa na Lagoa? O motorista responderia não este é Copacabana.
Aí descia todo mundo.
E assim foi feito.
Lá vem o lotação vagarosamente com motorista sonolento atento pra ver se “pescava” algum passageiro.
A turma atravessou a rua e se colocou no ponto. Quando o motorista viu aquela quantidade e passageiros apressou-se em parar no ponto já com a porta aberta, largo sorriso e um cortês “bom dia”.
A turma foi entrando lentamente e sentando em seus lugares. Coube ao Maneco fazer a pergunta. Foi um erro estratégico, pois o Maneco ria até de enterro. Entre gargalhada ainda perguntou:
- Passa na Lagoa?
Não aguentou de tanto rir e pulou fora do estribo do ônibus, sacaneando com a turma que estava lá dentro sentada.
O motorista percebeu que se tratava de molecagem, fechou a porta e pisou fundo no acelerador. A turma em polvorosa queria descer, mas não teve jeito. O homem só parou no final da Rua Visconde de Pirajá atendendo ao sinal de um cidadão que estava aguardando no ponto.
Desceram todos com cara de cachorro que cai do caminhão de mudança e se puseram andar alguns quilômetros até o Jornalista.
Maneco sumiu e mais uma madrugada entrou para história.
11/01/2019
Pedro Parente.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

MADRUGADA PERIGOSA


MADRUGADA PERIGOSA
Certa madrugada quando saí do Garden Bar encharcado de chopes, acompanhado pelo Paulo Meninão e Gilberto Gaúcho nos encaminhávamos para nossas casas no Edifício dos Jornalistas no Leblon.
Na esquina em frente ao bloco A1 um cidadão não percebeu que chegávamos, sacou de uma pistola rendendo um casal de jovens muito bem vestidos que saia de um baile no Monte Líbano.
Anunciou o assalto e ordenou que o rapaz deixasse o relógio de pulso no chão.
Tempos românticos como no Velho Oeste!
O casal ficou petrificado e sem cor diante da situação.
O rapaz obedeceu e quando se preparava para tirar o relógio do pulso, cheguei nele aos berros e batendo palmas como se espantasse um cachorro.
Não deu outra, o cara mudou a mira. Virou a arma em minha direção e falou:
- “Agora é tu que vai morrer intrujão”.
- Na frente da minha casa não vais assaltar ninguém!
De repente eu estava sozinho na mira do delinquente.
Percebi que o cara não era profissional, se o fosse eu estaria morto.
Contou que estava num samba na Cruzada e deram uma surra nele.
Fui dando papo e de costa para o prédio passei pela muretinha pensando em sair correndo entre as pilastras. Minha chance seria grande. Ele teria que ser muito bom para me acertar. Mas ele foi acalmando e o assalto acabou quase com um aperto de mão.
Dias depois o casal descobriu meu endereço e foi até o apartamento que eu morava no B2 agradecer pelo meu ato.
Eu não estava. O casal foi recebido pela minha tia.
Ele contou que era cadete da Aeronáutica e que naquela noite havia escapado do quartel para encontrar com a moça no baile. Se algo desse errado seria punido.
O tempo passa. A fila anda.
Um dia, pela manhã, fui à padaria do Luso em baixo do Bloco A2 percebi que havia trocado o atendente.
Uniformizado e sorridente, mandou:
- Lembra-se de mim?
- Claro!
Era o meliante que resolvera mudar seu modo de vida ingressando no exército dos trabalhadores honrados.
Vida que segue!
08/01/2019
Pedro Parente



segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

ROTINA BOÊMIA


ROTINA BOÊMIA
TURMA DO JORNALISTA – Assim era conhecida a turma da qual eu participava quando morava no Rio de Janeiro, Leblon.
A turma era enorme e passava a noite conversando fiado debaixo da janela do Vasco um cidadão amigo a quem eu admirava. Jornalista trabalhava de noite numa Agência de Notícias, me parece a United Press, assim sendo chegava muito tarde, já com os alvores do dia. Diziam que além de sair tarde do trabalho ainda dava uma esticada no carteado. Claro que esse detalhe a patroa desconhecia. Quando o aglomerado era grande a conversa subia o tom atrapalhando o sono do nosso bom amigo que chegava à janela e com cortesia pedia que a turma conversasse mais baixo. No que era prontamente atendido.
Detalhe: esse cidadão chamava-se Raimundo Vasco, mas pelo amor de Deus, nunca o chamasse pelo seu primeiro nome. O xingamento com palavrão vinha na hora.
- Meu nome é Vasco!
Nesse clima de harmonia a vida passava feliz, boêmia, romântica e sensual. O Rio era glamoroso na época dos Anos Dourados.
A vida da rapaziada era difícil. Não existia policiamento intelectual nem o tal assédio sexual. Namorava-se respeitosamente e se o cidadão tentasse ser mais ousado levando a mão aonde não devia, corria o risco de levar uma tapa e no dia seguinte seu nome ser tachado como tarado. Não conseguia mais ninguém.
Dessa maneira o ritual era um cineminha, beijinhos, abraços e 22 horas deixava-se a moça em casa. Nessas alturas quem levava vantagem eram as domésticas, pois era a hora que acabavam de arrumar tudo nas casas e após um bom banho, todas cheirosas descerem para a paquera. Aí os moços iam deitar-se na areia da praia e “apreciar o luar”.
Na avenida beira-mar tinham umas profissionais que faziam ponto por ali. Eu, Maurício Arruda e mais um, nos tornamos amigos delas. Dinheiro curto, tanto nosso quanto delas, em algumas noites comprávamos numa lojinha do posto de gasolina, um litro de rum, Coca-Cola e mortadela. No banco da praia fazíamos nossa farra.
A ronda noturna na praia era feita por policiais à cavalo. Já éramos conhecidos e algumas vezes algum deles filava nosso rum. Tudo civilizadamente como manda o bom costume.
Certa noite substituíram a dupla de cavaleiros e em seu lugar colocaram dois novatos desconhecidos. Nosso amigo que descontraidamente namorava próximo à água, foi surpreendido por eles que o enquadraram em “atentado ao pudor”.
Deu-nos trabalho para provar que nariz de porco não é tomada!
07/01/2019
Pedro Parente


sábado, 5 de janeiro de 2019

O BONDE


ALDEIA DO LEBLON


Edifício dos Jornalistas – Naquele tempo, o Bairro do Leblon no Rio de Janeiro, era uma pacata e bucólica aldeia. Lá por volta de 1956 o IAPC – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários resolveu construir três edifícios para vender a seus associados, privilegiando a categoria dos jornalistas. Daí seu nome. São três prédios de doze andares com dois blocos cada um. Uma construção tão imponente que servia como orientação aos navios que adentravam a barra do Rio de Janeiro.
Depois de ocupados, devido ao grande número de apartamentos, formou-se uma nova comunidade formada por pessoas vindas de bairros aleatórios de todos os recantos do Rio trazendo consigo um grande número de jovens adolescentes.
Sem ninguém determinar nada, aquela rapaziada escolheu um ponto para o bate-papo, em frente ao primeiro prédio.
A turma não era pequena e logo surgiram as lideranças pela espiritualidade e genialidade de alguns que possuíam o dom do bom humor.
Eram vários, mas tenho na memória um em especial. Acho que não dormia porque ficava matutando qual seria a pegadinha do dia seguinte. Por sua semelhança fisionômica com “O Corvo” apelidaram-no de “Lacerda”. Esse cara era genial!
Num desses dias resolvemos ir à praia do Arpoador já famosa pela frequência de celebridades e o mais importante, já usavam “maiô de duas peças”.
Na volta, entramos na Rua do Bar 20. Naquele ponto havia uma manobra nos trilhos do bonde para que retornassem como determinava sua linha.
Pois bem, era comum o motorneiro, aquele que dirigia o bonde, saltar e ir até o boteco fazer um lanche ou tomar um cafezinho. Tirava o manete que acelerava o bonde, colocava em seu bolso e desligava a lança, peça que faz o contato com a rede elétrica, puxando uma corda amarrada na traseira.
Esses cidadãos trabalhavam uniformizados inclusive de quepe parecendo até um guarda civil. A firma era inglesa. Não precisa falar mais nada.
Naquele dia, o motorneiro era meio displicente e deixou tudo ligado. Foi fazer seu lanche sossegado exatamente na hora em que a turma chegava.
Sorrateiramente um dos nossos assumiu o comando do bonde. Todos pularam dentro e o piloto improvisado acelerou. O trilho já estava na posição para voltar e assim foi.
O pobre do motorneiro quando viu a cena, desesperado, largou tudo e saiu disparado atrás do bonde. O quepe foi o primeiro que caiu da sua cabeça em seguida para alegria da molecada, moedas em profusão voaram dos bolsos do seu dólmã.
Nosso heroico motorneiro parou o bonde em frente ao Edifício dos Jornalistas e desaparecemos entre as colunas com o coração saindo pela boca.
Haja adrenalina!
Pedro Parente
05/01/2019