sexta-feira, 11 de março de 2011

AJUDA AO PLANETA

AJUDA AO PLANETA

Nasci em 1940.

De lá para cá muitas coisas mudaram. Umas para melhor e, a maioria, para pior.

A rua era lugar de criança brincar, jogando pelada com bola de meia, soltando pipa, bolinha de gude e, como disse Ataulfo Alves na sua linda melodia Tempos de Criança: “jogo de botões pelas calçadas/ eu era feliz e não sabia”.

Hoje isso é impossível.

Não existe mais terreno baldio onde a garotada dava preferência para suas peladas. Ali ficavam protegidas, pois a pelada não era interrompida para passagem de ciclistas, carroças ou algum raro automóvel.

As coisas eram mais simples.

Na ida à taberna comprar alguma mercadoria para casa, tínhamos que levar nossa sacola de pano onde se agasalhavam os produtos normalmente embrulhados em “papel de açougue”.

Na taberna as mercadorias como açúcar, sal, arroz e feijão, eram guardados em um grande depósito de madeira, com tampa e eram pesadas à vista do freguês numa balança de dois pratos.

Havia figuras românticas que faziam parte do nosso cotidiano, hoje algumas extintas. Quem não se lembra do funileiro, aquele que consertava panelas de alumínio; do amolador de facas, tesouras e outros utensílios domésticos; do carvoeiro que entregava carvão a granel na porta de nossas casas; o leiteiro que entregava leite em casa no vasilhame próprio, um vidro de 1 litro e de boca larga; o sapateiro, o alfaiate, o padeiro.

Na minha velha Belém, lá na Cidade Velha, havia uma figura lendária com o apelido de Ioiô.

Era um vendedor ambulante. Vendia mingau de farinha de tapioca e de milho branco, chamado lá para aquelas bandas de munguzá. Transportava duas enormes panelas em um carrinho de mão. Levava, também, uma lata d’água onde lavava as cuias que servia o mingau.

Passava sempre à noite por volta das 21 horas.

Não me sai da memória sua voz suave e melancólica dentro da noite anunciando:

- VAI PASSANDO O IOIÔ!

As pessoas corriam com suas vasilhas para comprar suas delícias.

Nada disso gerava lixo. O planeta agradecia.

Quanta saudade!

A vida seguia mansamente.

Ninguém tinha pressa.

A herança desses hábitos me parece ter sido assimilada de nossos ancestrais europeus, especialmente dos portugueses.

O tempo passou.

O Brasil deixou de ser um país europeizado.

Ao abdicar dessa maneira sensata de viver, nos entregamos aos desvairo do consumismo praticado pelos estadunidenses.

Hoje é tudo descartável.

As gerações futuras morrerão asfixiadas pelo lixo, principalmente pelo lixo plástico.

Protestando com essa situação e dando vazão ao meu inconformismo, hoje quando compro alguma coisa que posso carregar sem uso da maldita sacola plástica, o faço.

Não me conformo, por exemplo, com os barbeadores descartáveis feitos de plástico.

A fim de fazer minha parte ajudando o planeta, estou me barbeando com meu antigo aparelho que troca somente a lâmina de aço, facilmente absorvida pela natureza.

Convoco as pessoas de bom senso que o façam.

A natureza agradecerá.

Pedro Parente

pedroparentester@gmail.com